quarta-feira, 22 de junho de 2011

Possessões econômicas no Ministério da Fazenda

Com todo respeito à presidente Dilma (afinal, o ministro é dela, e sempre é bom a gente ser educado com as autoridades - e com as mulheres), o atual titular do Ministério da Fazenda é um alucinado. Não, leitor, não estamos xingando o Mantega.

Apenas, não conseguimos dizer outra coisa diante de suas declarações de que a economia brasileira “está crescendo em velocidade de cruzeiro” (é difícil, porque navio não tem freio); de que “nos acostumamos mal com crescimento de 7% ao ano” (esse Lula faz um mal...); que a elevação do rating dos títulos especulativos pela Moody’s é um sinal de “robustez da economia brasileira” (parece até que a Moody’s, que avalia a segurança para os especuladores, está preocupada com algo mais do que isso); que “na China, a inflação em 12 meses alcançou 5,5%. Portanto, há países que ainda não conseguiram debelar esse ciclo inflacionário” (legal esse ciclo inflacionário de 5,5% - com 10% de crescimento); que “o crescimento está se dando com uma consolidação fiscal, em que estamos aumentando o primário” (como se não fosse isso o que está travando o crescimento); e, se o leitor ainda tem paciência para nos seguir, “continuaremos fazendo esses ajustes de modo a melhorarmos a condição fiscal ainda mais” (ou seja, é preciso derrubar mais a economia para pagar mais aos bancos); e nem vamos falar no preço de um derivativo vagabundo, o Credit Default Swap (CDS), que, por estar mais baixo que os norte-americanos, fez Mantega declarar: “estamos muito felizes, porque mostra a solidez da economia brasileira e a confiança dos mercados sobre a economia brasileira” (os CDS da Colômbia, no momento, também têm preços mais baixos que os dos EUA, e até que os do Brasil – donde se conclui que a produção de cocaína deve ser muito boa para a solidez econômica e para conquistar a confiança dos mercados...).

O ministro vive em outro mundo, aquele onde se faz uma festa de arromba (só pode ser de arromba) porque o superávit primário - o confisco orçamentário para pagar juros - está 77% acima da meta (na nossa conta, 79% acima, porém, não vamos brigar por dois pontos percentuais), como se isso não fosse uma desgraça para o país, para a população.

De janeiro a abril, a meta “do primário” (como diz o ministro) era R$ 22,7 bilhões; mas ele conseguiu, em quatro meses, atingir R$ 40,7 bilhões, metade do previsto para o ano (R$ 81,7 bilhões) – com a única finalidade de repassá-los aos bancos e demais especuladores, que não acrescentam um prego nem uma estopa ao país.

É difícil para as pessoas mais ou menos normais conceberem porque o cidadão fica tão satisfeito em ter menos dinheiro para investimentos produtivos, para obras, para a Saúde, para a Educação, para tudo e qualquer coisa que tenha alguma utilidade - e ainda enche a paciência da Petrobrás para que corte seus investimentos, como fez na sexta-feira.

Da mesma forma, subir no “rating” da Moody’s ou de qualquer outra porcaria semelhante, significa mais invasão de dólares desvalorizados, mais hipervalorização do real, mais importações, menos produção interna e menos empregos.

Como será que alguém é capaz de festejar essas calamidades, sem lembrar que esses números são crianças sem atendimento, famílias na rua ou idosos em aflição? Realmente, leitor, não sabemos.

Note-se que todos os investimentos do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), no mesmo período, somam R$ 7,5 bilhões, isto é, mais de cinco vezes menos (precisamente: 5,4 vezes menos) do que o montante separado para juros (todos os dados são da Secretaria do Tesouro Nacional).

Diz Mantega que falou com a presidente Dilma e ela ficou muito satisfeita com o “crescimento de 4,5%”. A presidente disse, várias vezes, que sua intenção é atingir pelo menos 5% este ano. Portanto, até prova em contrário, não acreditamos que ela ficou satisfeita. Entretanto... que crescimento de 4,5%? É assim que ele informa à presidente?

No primeiro trimestre, o crescimento ficou em 4,2%, com tendência de queda. Diz o BC, no último Relatório de Inflação, que não passa de 4% - sinal de que estão prevendo, se tanto, 3,5%. O ministro, que confia tanto no mercado, sabe que “o mercado” não aposta nem em 4%. O famigerado Boletim Focus, também do BC, já rebaixou a previsão para 3,9%; o Itaú e o Bradesco, para 3,7%. Acima de 4%, só o FMI (4,1%), mas todo mundo sabe como são dinâmicas as previsões do FMI.

Isso quer dizer que essas “previsões” vão se realizar ou que não há interesses embutidos nelas? Obviamente, não, até porque não pode existir mais que um PIB. Mas as previsões de crescimento estão caindo porque ninguém sabe onde vai parar a derrubada promovida por Mantega. Nem ele.

CARLOS LOPES

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