segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Cobiça e anarquia especulativa provocaram crise, afirmou Lula

“A euforia dos especuladores transformou-se em angústia dos povos”, declarou na ONU

No pronunciamento feito na abertura da 63ª Assembléia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, o presidente Lula apontou os especuladores como os principais responsáveis pela grave crise que se abate hoje sobre a economia dos Estados Unidos. “A ausência de regras favorece os aventureiros e oportunistas, em prejuízo das verdadeiras empresas e dos trabalhadores”, denunciou. “É inadmissível, dizia o grande economista brasileiro Celso Furtado, que os lucros dos especuladores sejam sempre privatizados e suas perdas, invariavelmente socializadas”, acrescentou.

“O ônus da cobiça desenfreada de alguns não pode recair impunemente sobre os ombros de todos”, afirmou Lula, enfatizando que “a economia é séria demais para ficar nas mãos dos especuladores”. Ele ressaltou que organismos supranacionais – como Banco Mundial e o FMI – não têm autoridade, nem meios, para impedir a “anarquia especulativa”: “Devemos reconstruí-los em bases completamente novas”, defendeu. “Dado o caráter global da crise, as soluções que venham a ser adotadas deverão ser também globais, tomadas em espaços multilaterais legítimos e confiáveis, sem imposições”, propôs.

Lula chamou a atenção para a gravidade do momento e para as conseqüências nefastas da especulação financeira americana para o resto do mundo. Ele convocou a ONU a liderar as soluções para a situação. “Das Nações Unidas, máximo cenário multilateral, deve partir a convocação para uma resposta vigorosa às ameaças que pesam sobre nós”, disse. “Esta Assembléia realiza-se em um momento particularmente grave. A crise financeira, cujos presságios vinham se avolumando, é hoje uma dura realidade. A euforia dos especuladores transformou-se em angústia dos povos após a sucessão de naufrágios financeiros que ameaçam a economia mundial”, acrescentou.

Lula frisou que a crise que derrubou gigantes financeiros, como o Lehman Brothers, contrariou “os fundamentalistas do mercado”. Para o presidente brasileiro, “as indispensáveis intervenções do Estado, contrariando os fundamentalistas do mercado, mostram que é chegada a hora da política”. “Somente a ação determinada dos governantes, em especial naqueles países que estão no centro da crise, será capaz de combater a desordem que se instalou nas finanças internacionais, com efeitos perversos na vida cotidiana de milhões de pessoas”. “Uma crise de tais proporções não será superada com medidas paliativas. São necessários mecanismos de prevenção e controle, e total transparência das atividades financeiras”, sublinhou.

“O muro de Berlim caiu. Sua queda foi entendida como a possibilidade de construir um mundo de paz, livre dos estigmas da Guerra Fria. Mas é triste constatar que outros muros foram se construindo, e com enorme velocidade”, denunciou Lula. “Muitos dos que pregam a livre circulação de mercadorias e capitais são os mesmos que impedem a livre circulação de homens e mulheres, com argumentos nacionalistas, e até fascistas, que nos fazem evocar, temerosos, tempos que pensávamos superados”, prosseguiu.

O presidente abordou também outros temas de importância para a população mundial e frisou que “há outras questões igualmente graves no mundo de hoje”. “É o caso”, disse ele, “da crise alimentar, que ameaça mais de um bilhão de seres humanos; da crise energética, que se aprofunda a cada dia; dos riscos para o comércio mundial, se não chegarmos a um acordo na Rodada de Doha; e da avassaladora degradação ambiental, que está na origem de tantas calamidades naturais, golpeando sobretudo os mais pobres”.

O presidente defendeu a unidade dos países sul-americanos e falou da criação da Unasul (União das Nações Sul-Americanas). “Em meu continente, a Unasul, criada em maio deste ano, é o primeiro tratado – em 200 anos de vida independente – que congrega todos os países sul-americanos”, informou. “Com essa nova união política vamos articular os países da região em termos de infra-estrutura, energia, políticas sociais, complementaridade produtiva, finanças e defesa”, prosseguiu. Ele ressaltou “a capacidade de resposta rápida e eficaz da Unasul frente a situações complexas, como a que vive a nação-irmã boliviana”. “Respaldamos seu governo legitimamente eleito, suas instituições democráticas e sua integridade territorial e fizemos um apelo ao diálogo como caminho para a paz e a prosperidade do povo boliviano”, acrescentou.

Em entrevista coletiva, após o discurso de abertura da Assembléia Geral, Lula analisou o discurso do presidente dos EUA, George W. Bush, que ignorou olimpicamente a crise: “Achei que ele ia fazer um discurso de despedida e falar um pouco da crise econômica, o que o governo americano pretende fazer. Mas ele fez a opção por voltar a falar de terrorismo. Obviamente que, como sou defensor da autodeterminação dos povos e da soberania dos discursos dos presidentes, fui obrigado a ficar quieto”.
v

terça-feira, 23 de setembro de 2008


EUA consomem sozinhos 45% da cocaína do planeta, revela Informe da ONU sobre Drogas
O Informe Mundial sobre Drogas 2008, publicado recentemente pelo Escritório das Nações Unidas Contra a Droga e o Delito (UNODC, sigla em inglês), revelou que os Estados Unidos são responsáveis pelo consumo de 45% de toda a cocaína do planeta, ainda que sua população corresponda a apenas 4,5% da população mundial.
Mesmo sendo o maior consumidor mundial de cocaína, esta droga ocupa apenas a segunda posição entre o consumo de ilícitos nos EUA, com 31,6% de preferência. Em primeiro lugar encontra-se a maconha, com 35,3% do total de consumidores de drogas. As anfetaminas são a terceira, com 12,4% e os derivados do ópio (como heroína), em quarto, com 9,8%.
O Informe das Nações Unidas também anunciou que a Colômbia continuou na liderança da produção mundial da cocaína, sendo responsável por 60% da droga produzida no mundo e que o Afeganistão é responsável por 92% da produção dos opiáceos (especialmente heroína).
Em comum, os dois países sofrem ingerência direta dos norte-americanos. Desde 2000, os EUA atuam no país sul-americano através do ‘Plano Colômbia’, com presença militar e com a injeção de bilhões de dólares, sob o suposto argumento de ‘combater o narcotráfico’. Porém, o que se observou nesses anos foi o aumento da produção da cocaína no país.
No Afeganistão, a produção de heroína atingiu a liderança mundial após a ocupação norte-americana iniciada em 2001. Antes da invasão dos EUA, a plantação de ópio havia sido banida pelo governo afegão.
Apesar de todo o envolvimento político, financeiro e militar com o mercado das drogas, Bush usou o informe da ONU para dizer que a “Bolívia, a Venezuela e a Birmânia falharam nos últimos 12 meses em cumprir suas obrigações na luta contra o narcotráfico”.
Em resposta, o presidente boliviano Evo Morales, afirmou que “o governo dos EUA não tem nenhuma moral para falar de drogas. Quer nos impor uma lei de cerco aos produtores de coca, mas não faz nada para cercear o consumo das drogas entre os norte-americanos
”.
Os censos da URSS e a fraude do "holocausto ucraniano" (2)





O principal engodo foi apontado por Barbara Anderson e Brian Silver, dois demógrafos muito respeitados: ao estabelecer uma taxa de natalidade superfaturada, omitindo o decréscimo dessa taxa durante a década de 30, Mace conta os que nunca nasceram como se fossem mortos. Os "mortos" são fabricados pelo truque de estabelecer uma falsificada taxa de natalidade
CARLOS LOPES
Depois que Reagan, em 1983, tirou o "holocausto ucraniano" do museu das fraudes históricas, coube a Robert Conquest a tentativa de dar a ele alguma credibilidade. Fez isto através de seu livro "The Harvest of Sorrow" (1986), um prolixo panfleto de mais de 400 páginas segundo o qual Stalin premeditou e provocou, contra o seu próprio interesse como líder da URSS, uma gigantesca fome para eliminar o povo ucraniano nos anos 1932-1933.
Na primeira parte deste artigo, vimos como, diante da insustentabilidade da história - na qual, sem fatos, sem testemunhas e sem vestígios, teriam morrido de fome de 1 milhão a 15 milhões de ucranianos (haja rigor!) - passou-se a um novo método de "cálculo" dos mortos, baseado na manipulação de números dos censos soviéticos: estabelecia-se uma taxa de natalidade irreal, superestimada, para o período entre os dois censos soviéticos anteriores à II Guerra Mundial (1926 e 1939) e, assim, fabricavam-se os mortos com a diferença entre a estimativa fantasiosa, inflacionada, e a população real que havia na URSS em 1939.
O problema é que seu inventor, como mencionamos, não era nada respeitável – um colaborador dos nazistas, terrorista, condenado na Ucrânia e abrigado nos EUA, Walter Dushnyck. Porém, já em 1984 (ano seguinte à da publicação do livreto de Dushnyck), os parasitas da invenção nazista do "holocausto ucraniano" - Robert Conquest, James Mace e outros – pareciam ter descoberto a pólvora. Mas tomaram o cuidado de escantear o verdadeiro autor do método, citando-o marginalmente, ou simplesmente evitando citações. Foi então que se pretendeu dar dignidade acadêmica ao que não era mais do que uma charlatanice de fugitivos dos tribunais para criminosos de guerra.
O aproveitamento acadêmico da tecnologia Dushnyck de manipulação dos censos soviéticos coube ao "pesquisador contratado" de Conquest, James Mace, da Universidade de Harvard.
O motivo de ceder a primazia à Mace, que já vinha fazendo tentativas nesse campo específico da fraude histórica, é que Conquest não sabe lidar com números, exceto quando se trata de dólares. A aritmética extra-monetária nunca foi o seu forte. Em "O Grande Terror" (1968) ele inflou tanto o número dos atingidos pela repressão soviética à sabotagem e conspiração pró-nazista de antes da II Guerra Mundial, que até o fundador da "sovietologia", Alexander Dallin, autor de "Political Terror in Communist Systems", fez questão de declarar que nada tinha a ver com os números de Conquest. Mal sabia Dallin, que tentava dar foros de ciência ao que era apenas propaganda servida em forma de protocolo acadêmico, que em breve (1981) teria que suportar Conquest dentro de seu próprio departamento, na Universidade de Stanford...
Depois da abertura dos arquivos da URSS, então, o livro tornou-se perfeitamente ridículo – exceto em algumas revistas e jornais que pouco se distinguem de uma casa de prostituição.
É verdade que, além da lambança que fez com os números de "vítimas" e na análise dos censos soviéticos, Conquest contribuiu bastante para seu próprio ridículo ao publicar, em 1984, um manual sobre o que os americanos deveriam fazer quando os russos invadissem o país ("What To Do When the Russians Come: A Survivor's Guide" - "O Que Fazer Quando os Russos Chegarem: Um Guia de Sobrevivente"). A intenção era contribuir para a histeria insuflada por Reagan e caterva contra a URSS, faturando uns cobres na onda. Mas, como disse um resenhista norte-americano isento de pendores para a esquerda, foi a propaganda anti-comunista mais hilariante da Guerra Fria.
Voltando aos números, em 2007, no prefácio à uma nova edição de "O Grande Terror", Conquest diminuiu em nada menos do que 7 milhões o número de "vítimas" na URSS durante o período de Stalin, em relação à edição de 1968 - com o mesmo critério com que antes incluiu esses 7 milhões, isto é, nenhum, e com a abertura dos arquivos soviéticos desmentindo o velho e o novo número.
DEMOGRAFIA
Por sua ignorância em aritmética, Conquest cedeu o papel principal na manipulação estatística a James Mace. E, convenhamos, este se esmerou.
Já nos referimos ao seu artigo "Famine and Nationalism in Soviet Ukraine" (1984), publicado pelo órgão da United States Information Agency (USIA), "Problems of Communism". Agora, vamos ao seu conteúdo.
Diz Mace:
"Se subtraímos nossa estimativa da população [ucraniana soviética] pós-fome da população [ucraniana soviética] pré-fome, a diferença é 7.954.000, o que pode ser tomado como uma estimativa do número de ucranianos que morreram antes da sua hora [died before their time]".
O absurdo maior não está nesse perspicaz conceito de "morte antes da sua hora" (não morreu ninguém de velhice na Ucrânia nos 13 anos entre os censos de 1926 e 1939? E, por outro lado, quem morre, por exemplo, num acidente - teve "morte antes da sua hora"? E quem morre jovem de uma doença para a qual, na época, não existia tratamento? Em suma, não há significado em "morte antes da sua hora", exceto atribuir aos comunistas qualquer morte que aconteça – ou mortes inexistentes).
O principal engodo foi apontado por Barbara Anderson e Brian Silver, dois demógrafos muito respeitados, ainda que sejam do tipo que acha científico fazer cálculos sobre o "excesso de mortes" na URSS. Apesar disso, por não serem ignorantes em seu campo de estudos, não querem sua reputação profissional atirada na mesma vala de Mace, Conquest, Dushnyck e outros.
Exatamente como Dushnyck, ao estabelecer uma taxa de natalidade superfaturada, omitindo o decréscimo dessa taxa durante a década de 30, Mace conta os que nunca nasceram – isto é, a inexistente população fabricada por sua falsa taxa de natalidade - como se fossem mortos (cf. Barbara Anderson e Brian Silver, "Demographic Analyis and Population Catastrophes in the USSR", Slavic Review, 44, Nº 3, 1985, págs. 517 a 519).
Resumindo: o "déficit" populacional ucraniano de Mace (quase 8 milhões de pessoas) foi forjado por ele mesmo, ao usar uma taxa de natalidade falsa.
Os resultados de Barbara Anderson e Brian Silver tinham outro inconveniente para a dupla Conquest/Mace: eles eram coerentes com os resultados alcançados por um de seus alvos de difamação, o estatístico e demógrafo Frank Lorimer, que em 1946, em Genebra, publicou, sob o patrocínio da ainda existente Liga das Nações, o livro "The Population of Soviet Union: History and Prospects".
Lorimer era um homem de imensa notoriedade em sua área de trabalho – quase sempre, justificada. O problema de Conquest e Mace era (e é) que os resultados de Lorimer tornam impossível que houvesse 14,5 milhões - ou 10 milhões, ou 5 milhões, ou mesmo 3 milhões - de mortos de fome somente na Ucrânia entre 1932-1933, porque ele calculou para toda a URSS um "excesso de mortes" entre 3,2 milhões e 5,5 milhões entre 1926 e 1939.
É justo observar, como fazem Barbara Anderson e Brian Silver, que Lorimer diz, em seu livro: "Há, naturalmente, muitas outras fontes de possível erro em todas essas computações. Conseqüentemente, estes resultados devem ser aceitos com muitas reservas" (Frank Lorimer, "The Population of Soviet Union: History and Prospects", Liga das Nações, Genebra, 1946, pág. 240, citado por Anderson e Silver, art. cit.).
Era inevitável que Conquest e Mace tentassem difamar Lorimer – que já havia falecido quando Conquest publicou "The Harvest of Sorrow".
Entretanto, como observou um comentarista, escrevendo no "Challenge", de Nova Iorque, o estudo de Silver e Anderson é ainda pior para o "holocausto ucraniano" (e para Conquest e Mace) que o de Lorimer:
"De fato, Anderson e Silver dão a impressão de acreditar que o número total [das 'mortes em excesso' para toda a URSS] é, de longe, menor do que isso. Usando sua [Taxa de] Alta Mortalidade Presumida, que 'aproxima as taxas de mortalidade que Lorimer pensou que efetivamente prevaleciam na URSS como um todo em 1926-27, mais altas do que aquelas oficialmente relatadas', das [taxas de mortalidade] de 1939, pode ter havido somente 500 mil 'mortes em excesso' entre as pessoas vivas em 1926" (Challenge, New York, ed. de 04/03/1987).
Em meio à maior luta de classes da História, isso é menos do que os mortos admitidos oficialmente na Guerra Civil dos EUA (620 mil mortos). Com a diferença de que a Guerra Civil norte-americana durou 4 anos (1861-1865) - menos que um terço dos 13 anos de História da URSS aqui considerados (1926-1939).
NEO-MANIPULAÇÃO
Até agora, não há novidades em relação a Dushnyck. O que James Mace faz é apenas plagiar o ex-terrorista e ex-colaborador dos nazistas, que, provavelmente, não imaginou que o seu método pudesse fazer tanto sucesso em Harvard e Stanford. Aliás, nem deve ter percebido que era um método.
Porém, Mace resolveu dar o seu toque pessoal: "provar" a existência do "holocausto ucraniano", através do censo soviético de 1959, ou seja, mais de três décadas depois do censo de 1926.
Diz ele:
"Nós podemos achar traços da fome procurando [no censo de 1959] por regiões onde o número de camponesas (o segmento menos móvel da população) nas faixas de idade que teriam nascido imediatamente antes ou durante a fome é anormalmente pequeno. Estas regiões existem na Ucrânia Soviética, uma nação de tradições ferozmente independentes; nas regiões habitadas por grandes populações cossacas, também ferozmente independentes; e nas áreas dos alemães do Volga" (carta de Mace ao professor Jaroslaw Rozumnyj, 04/02/1984, citada por Douglas Tottle, "Fraud, Famine and Fascism", Toronto, 1987, pág. 72. A nota de Tottle – pág. 149 – para esse trecho é a seguinte: "Uma cópia desta carta enviada por Mace ao Comitê Canadense Ucraniano – UCC – foi apresentada em uma reunião do Conselho Escolar de Winnipeg em 14 de fevereiro de 1984, para apoiar a campanha do UCC de incluir o tópico da "fome-genocídio" no currículo escolar").
Com essa novidade, Mace conseguiu superar Dushnyck com vários corpos de distância. Pelo menos, Dushnyck se limitou aos censos de 1926 e 1939. Assim, não teve que ignorar, como faz Mace, que entre 1933 (o início da suposta "fome") e 1959 houve um acontecimento histórico denominado II Guerra Mundial – que foi decidido, precisamente, na URSS, e que teve na Ucrânia algumas das suas batalhas mais sangrentas, assim como alguns dos maiores massacres de toda a História humana. Por falar em genocídio, segundo a Larousse, o maior de todos os tempos foi, exatamente, o realizado pelos nazistas na URSS, onde 15% da população, comprovadamente, morreu durante a invasão alemã.
Douglas Tottle observa, por exemplo, que, entre 1941 e 1943, a região ucraniana da cidade de Kharkov foi terreno de quatro das maiores batalhas da II Guerra – e que somente sobreviveram metade dos habitantes da cidade.
Da mesma forma, Mace omite que 600 a 700 mil dos "alemães do Volga" (colônias alemãs que existiam às margens desse rio) foram deslocados da região pelo governo soviético em 1941, quando os nazistas se aproximavam, por motivos óbvios (aliás, os alemães do Volga já haviam sido base das hordas "brancas" e estrangeiras durante a Guerra Civil, logo após a Revolução).
"Além de ignorar aqueles que residiam [nessas regiões] nos anos 30 que morreram ou foram deslocados devido à guerra, Mace também ignora o vasto número que partiu para outras áreas e repúblicas durante o período de reconstrução em massa do pós-guerra. Em resumo, o censo de 1959, como o próprio Mace sabe, revela padrões demográficos atribuíveis primariamente aos desenvolvimentos pós-1941. (....) Pode-se concluir que qualquer admissão da [ocorrência da] II Guerra Mundial foi vista por Mace como um fato em detrimento de seu caso – ele não trata do genocídio nazista, buscando somente convencer os leitores do 'genocídio comunista'" (Tottle, op. Cit.).
Resta dizer apenas que com essa manipulação dos números do censo de 1959, Mace, ao omitir o efeito da II Guerra Mundial sobre a população ucraniana e russa, inocentou os nazistas dos hediondos crimes que praticaram na URSS – todos os que morreram na guerra e nos massacres de civis, todas as vítimas do nazismo, foram, através desse embuste, atribuídas a Stalin. O que, provavelmente, era mesmo a intenção.
Os censos da URSS e a fraude do “holocausto ucraniano” (1)
Na falta de fatos e de lógica, a partir de 1983, a manipulação de números dos censos soviéticos passou a ser o principal método dos mercenários, fascistas e outros desclassificados para tentarem colocar em pé a fraude do “holocausto ucraniano”
A fraude do “holocausto ucraniano” não é afirmar que houve fome na Ucrânia em 1932-1933. Nas localidades em que, durante a coletivização da agricultura, os “kulaks” (os camponeses ricos) conseguiram destruir plantações e rebanhos, é óbvio que houve dificuldades – e as próprias fontes soviéticas da época relatam escassez localizada de alimentos devido à sabotagem “kulak”. Lembremos que no início da coletivização havia, na URSS, 10 milhões de “kulaks” (para uma população camponesa total de 120 milhões de pessoas) - e 1 milhão e 800 mil deles, por sabotagem, foram condenados a mudar de localidade.
A fabricação do “holocausto ucraniano” não é, portanto, a existência de fome em tal ou qual lugar, mas a de que Stalin, deliberadamente, provocou uma fome artificial para eliminar o povo ucraniano. Por que Stalin – que nem russo era – queria eliminar o povo ucraniano, estando a URSS à beira da invasão e da guerra, previstas por ele desde 1930, é coisa que os inventores dessa infâmia não se deram, até hoje, ao trabalho de explicar. Evidentemente, projetava-se sobre Stalin o plano de limpeza étnica de Hitler, anunciado por este em 1926, com menção explícita à Ucrânia, no “Mein Kampf” – e parcialmente executado durante a II Guerra Mundial, com ajuda dos traidores ucranianos, quando o país foi ocupado pelos alemães.
O MÉTODO
Na falta de fatos e de lógica, a partir de 1983, a manipulação de números dos censos soviéticos passou a ser o principal método dos mercenários, fascistas e outros desclassificados para tentarem colocar em pé a fraude do “holocausto ucraniano”. O método é simples: atribui-se uma determinada taxa de natalidade à Ucrânia soviética e comparam-se os dois censos nacionais soviéticos anteriores à II Guerra (1926 e 1939), subtraindo-se a população real de 1939 da que existiria se a taxa de natalidade fosse verdadeira – e não morresse ninguém. A diferença são os “mortos de fome” durante o inventado “holocausto ucraniano”.
O pioneiro do método foi Walter Dushnyck, um colaborador dos nazistas e terrorista da “Organização Militar Ucraniana” que refugiou-se nos EUA após a II Guerra (cf. seu obituário em “Ukrainian Weekly”, cit. por Douglas Tottle, “Fraud, Famine and Fascism”, Progress Books, Toronto, 1987, pág. 67).
Dushnyck é autor de “50 Years Ago: The Famine Holocaust in Ukraine” (New York, 1983), um panfleto repleto de referências nazistas – inclusive a capa (uma caveira branca sobre uma foice e um martelo vermelhos: um dos temas favoritos dos posters hitleristas), as fotos da “fome ucraniana” publicadas originalmente no jornal de Hitler, o “Völkischer Beobachter” (e nos de seu apoiador americano, William Randolph Hearst), e as citações de livros nazistas sobre o mesmo assunto.
Depois da incursão de Dushnyck pela alucinose estatística, o método se tornou generalizado entre os anti-comunistas mais inescrupulosos: Robert Conquest, que, para escrever seu livro sobre o assunto, teve como ajudante James Mace, um dos seguidores do método estatístico de Dushnyck, o adotou, assim como o debilóide Nicolas Werth, organizador do infame “livro negro do comunismo”.
[Nicolas Werth, pela mediocridade, merece uma observação à parte: trata-se do filho de Alexander Werth, correspondente da BBC na URSS durante a II Guerra, autor de livros muito valiosos, em especial “Russia at War” e “Moscow 41”, e um caso raro de anti-comunista: aquele que luta para que sua objetividade seja pouco afetada por seus preconceitos, como se pode ver por suas reportagens sobre as batalhas de Leningrado e Stalingrado; sua confirmação, através de fontes não soviéticas, do complô pró-nazista de Tukachevsky; sua denúncia das atrocidades nazistas na URSS e no Leste europeu; e a desmoralização a que submeteu os “números de vítimas” que Soljenitsyn atribuiu a Stalin. Alexander Werth era russo de nascimento, tendo emigrado após a Revolução, aos 16 anos, acompanhando a família, para a Inglaterra. Infelizmente, o filho puxou apenas ao anti-comunismo do pai, sem qualquer das suas qualidades].
Voltando ao método de Dushnyck, ele pode ser avaliado pelo seguinte trecho de seu livro: “tomando os dados do censo de 1926 e os do censo de 1939 e a média de aumento [da população] antes da coletivização (2.36% ao ano), podemos calcular que a Ucrânia perdeu 7 milhões e 500 mil pessoas entre os dois censos”. Logo, esses seriam os mortos de fome entre 1932 e 1933...
Dushnyck, portanto, pressupõe que a taxa de natalidade permaneceu constante durante os 13 anos em que na URSS ocorreu a mais extraordinária transformação da História – com a industrialização pesada, a coletivização da agricultura, a preparação da defesa do país para a guerra e a construção do socialismo. Em suma, a URSS, que em 1926 era um país agrário, tornou-se uma potência industrial, mas, pelo “cálculo” de Dushnyck, isso não teria afetado a taxa de natalidade - o que é impossível, como sabe todo brasileiro, principalmente se for nordestino e vier trabalhar em São Paulo.
A conseqüência é que aqueles que jamais nasceram foram considerados mortos por um genocídio. Pois a taxa de natalidade, evidentemente, caiu entre 1926 e 1939 – e caiu significativamente.
Além disso, Dushnyck pressupõe que ninguém morreu de outra causa que não a fome entre 1926 e 1939, apesar de, além da morte por velhice, terem eclodido na URSS, durante esse período, duas grandes epidemias – tifo e malária, ambas sem tratamento conhecido na época.
Como disse o sociólogo Albert Szymanski (“Human Rights in the Soviet Union”, Londres, 1984), para que o “cálculo” de Dushnyck tivesse algum sentido era necessário que o número de mulheres no auge da fertilidade fosse o mesmo antes e depois de 1932-1933. Mas, naturalmente, isso também é impossível, pois as mortes na guerra e o decréscimo de natalidade entre 1914 (início da I Guerra Mundial) e 1921 (fim da Guerra Civil) trouxe, necessariamente, um decréscimo no número de mulheres aptas a procriar durante a década de 30 (como lembrou o demógrafo S.G. Wheatcroft, anti-comunista, mas com escrúpulos, mulheres que nascessem em 1914 teriam apenas 16 anos em 1930).
No “cálculo” de Dushnyck se omite, também, que uma parte da população que no censo de 1926 era classificada como ucraniana – cerca de 2 a 3 milhões de cossacos – foi reclassificada, no censo de 1939, como russa, pela simples razão de que viviam da Rússia e não na Ucrânia. Esses 2 a 3 milhões, no censo de 1926, estavam inflacionando indevidamente a população ucraniana.
Apesar disso tudo, entre os censos de 1926 e 1939, a Ucrânia aumentou sua população em 3 milhões e 339 mil pessoas. Porém, os adeptos desse método não consideram a população real, mas uma projeção fantasiosa – e muito interessada - de qual “deveria ser” o número de habitantes.
Já voltaremos a esses gênios da estatística. Antes, veremos os motivos que levaram a esse tipo doido de numerologia.
“HOLO-EMBUSTE”
Numa declaração ao semanário “Village Voice”, de Nova Iorque, Eli Rosenbaum, então consultor legal do Congresso Mundial Judaico, fez uma observação aguda sobre as tentativas de fabricação de um “holocausto ucraniano”: “eles estão sempre aparecendo com um número [de mortos] maior do que seis milhões, para fazer o leitor pensar: ‘Meu Deus, é pior que o Holocausto [judaico]” (Jeff Coplon, “In Search of a Soviet Holocaust”, Village Voice, 12/01/1988).
Rosenbaum, depois diretor do Office of Special Investigations (OSI) – a divisão do Departamento de Justiça dos EUA encarregada de investigar criminosos de guerra nazistas em território norte-americano – sabia do que estava falando.
Jeff Coplon, o articulista do Village Voice, nota que foi depois da instituição do OSI que a campanha do “holocausto ucraniano” se tornou mais intensa. A primeira ação relevante do OSI foi, precisamente, a prisão do ucraniano, naturalizado norte-americano, John Demjanjuk - que era, na verdade, o nazista “Ivan, o Terrível”, um dos mais atrozes carrascos do campo de extermínio de Treblinka.
Assim, não é uma coincidência que boa parte dos fabricantes do “holocausto ucraniano” sejam os mesmos que negam a carnificina de Hitler sobre milhões de judeus e eslavos. No Village Voice havia um contundente exemplo:
“No último catálogo da Noontide Press, filiada ao Liberty Lobby do exuberante fascista Willis Carto, ‘The Harvest of Sorrow’ [o livro de Robert Conquest que exumou a fraude do “holocausto ucraniano”] é listado lado a lado com tomos revisionistas tais como ‘O Mito de Auschwitz’ e ‘Hitler ao Meu Lado’. Para propagandear o livro de Conquest e sua fome-terrorista, o catálogo nota: ‘O ato de genocídio contra o povo ucraniano foi escamoteado [sic] até recentemente, talvez porque um holocausto real pode competir com um holo-embuste’. Para os que não são habituados com o jargão da Noontide, o ‘holo-embuste’ refere-se ao massacre de seis milhões de judeus” (Village Voice, art. cit.).
Voltaremos, num próximo artigo, às observações de Coplon. Por ora, basta a sua descrição do recrudescimento da campanha nos EUA:
“Pressionando cada pedal, mexendo todos os pauzinhos, está um lobby nacionalista ucraniano, esforçando-se em puxar para debaixo do tapete sua própria história de colaboração com os nazistas. Pela revisão de seu passado, esses emigrados ajudam a apoiar um mais ambicioso revisionismo: uma negação do holocausto de Hitler contra os judeus”.
REAGAN
Após a publicação, em 1987, de “Fraud, Famine and Fascism”, do pesquisador canadense Douglas Tottle, o “holocausto ucraniano” se tornou, para usar uma expressão chegada ao assunto, um caso historicamente liquidado.
Na verdade, ele jamais se sustentou em pé, apesar de vários obcecados – e bem pagos – elementos. A principal razão era a sua total falta de lógica. Não somente não interessava a Stalin que a população ucraniana decrescesse, como essa jamais foi a política do governo da URSS. Pelo contrário, sua política era de estímulo ao aumento da população.
Além disso, em 1932 a coletivização foi completada. Se nesse ano ainda persistiam dificuldades, a colheita de 1933, na qual a participação da Ucrânia foi decisiva, foi um recorde na história do país, o que teria sido impossível sem a semeadura do ano anterior - que certamente não foi realizada pelos fantasmas dos que morreram de fome...
O fato é que, na década de 30, o “holocausto ucraniano” havia sido desmascarado como uma fraude nazista. No pós-guerra, apesar da CIA ter recrutado apoiadores entre os nazistas ucranianos e financiado outra campanha em torno dele, acabou caindo em completo descrédito na segunda metade da década de 60.
Sua última aparição de alguma importância, nessa época, foi em 1964, quando um certo professor Dana Dalrymple publicou um artigo onde pretendia descobrir o real número de mortos da fome: simplesmente, como o leitor poderá verificar nesta página, em que reproduzimos a tabela de Dalrymple, ele fez a média entre as mais estapafúrdias estimativas – incluindo as dos nazistas. Para que ficasse de acordo com os conformes, Dalrymple deu um toque pessoal à invenção: estendeu a “fome de 1932-33” até 1934 (cf. Dana Dalrymple, “The Soviet Famine of 1932-1934”, Soviet Studies, janeiro, 1964).
Sem essa prorrogação da fome por mais um ano, Dalrymple não poderia aproveitar as histórias de Thomas Walker, aliás, Robert Green - o foragido de uma cadeia do Colorado que o magnata da imprensa americana W.R. Hearst contratou para escrever sobre a “fome na Ucrânia”. Walker/Green, apresentado como “testemunha ocular” da fome, jamais esteve na Ucrânia, como confessou quando foi recapturado, mas esteve alguns dias na URSS – porém, somente em 1934. Portanto, só poderia ter sido testemunha ocular da fome se ela fosse estendida até esse último ano...
Depois da década de 60, a fraude somente foi retirada do baú em 1983 – por Ronald Reagan, então em campanha acirrada contra a URSS e contra qualquer “distensão”. Três anos depois, no dia 7 de setembro de 1986, uma carta de Reagan dirigida à viúva de Yaroslav Stetsko - criminoso de guerra, colaborador dos nazistas durante a ocupação da Ucrânia e um dos cabecilhas da mal chamada “Organização Nacionalista Ucraniana” - foi lida pelo general John Singlaub, numa conferência da Liga Anti-comunista Mundial.
Disse Reagan à viúva de Stetsko: “A coragem e dedicação de seu marido à liberdade servirá como uma continuada fonte de inspiração para todos aqueles que lutam pela liberdade e auto-determinação” (Village Voice, art. cit.).
MACE
O novo método estatístico, introduzido por Dushnyck, fez sucesso entre os mercenários do anti-comunismo porque o antigo método – o chute descarado, puro e simples – estava desmoralizado, depois da tentativa de rejuvenescê-lo através de uma simples média aritmética, feita por Dalrymple em 1964.
Assim, depois de Dushnyck, o parceiro de Conquest, James Mace, usou o mesmo método em 1984, num artigo intitulado “Famine and Nationalism in Soviet Ukraine”. O artigo foi publicado pela revista “Problems of Communism” (edição de maio-junho de 1984). Essa revista (hoje rebatizada para “Problems of Post-Communism”) é o órgão da United States Information Agency (USIA), a mesma agência do Departamento de Estado que, como lembra Douglas Tottle, é responsável pela “Voz da América”, pela “Radio Marti”, tendo organizado a missão de espionagem do KAL 007 (o uso de um avião de passageiros sul-coreano para sobrevoar a URSS, com o resultado de que foi abatido pela defesa aérea soviética), entre outras aventuras.
Na próxima edição, examinaremos em detalhes o caso Mace/Conquest e sua manipulação dos censos soviéticos.
O Ike financeiro


As notícias de hoje pela tarde não têm desperdício:“Bush cancelou todas as atividades. Tinha previsto viajar ao Alabama e à Flórida para participar em atos de arrecadação de fundos eleitorais.”
“Disse na quinta-feira que estava preocupado pela situação dos mercados financeiros e da economia estadunidense…”
"Os mercados têm desmoronado”... - continuam informando os despachos informativos -, “o governo se viu obrigado a nacionalizar a seguradora gigante American International Group (AIG), e o Federal Reserve, numa ação coordenada com outros bancos centrais, injetou 180 bilhões de dólares nos mercados financeiros.”“O presidente assegurou que seu governo está tomando medidas agressivas e extraordinárias ‘para acalmar os mercados’.”
“As autoridades de toda a Ásia buscam frear a queda de suas moedas, bolsas e valores, para evitar que a crise de Wall Street atinja a região.”
“O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, culpou hoje a especulação da crise financeira internacional, e admitiu que está preocupado pelos riscos de uma recessão nos Estados Unidos.
“Também se compadeceu da situação dos grandes bancos dos Estados Unidos, que no passado criticaram o Brasil e outros países emergentes, e questionou o sistema financeiro internacional.
“Há uma crise nos Estados Unidos, uma crise muito forte, que levou a maior economia do mundo a sobressaltos extraordinários”, disse.“Não é que não estejamos preocupados. Os Estados Unidos são a maior economia do mundo e o maior importador.”
Concluiu suas palavras afirmando: “Vejo com certa tristeza bancos importantes, muito importantes, que passaram a vida dando conselhos sobre o Brasil e sobre o que tínhamos que fazer ou não, e que agora estão quebrados ou entraram em bancarrota.”
Os ventos violentos do Ike financeiro também ameaçam a todas as “províncias” do mundo. O prognóstico meteorológico é incerto; vem-se falando dele há semanas, e rajadas de mais de 200 quilômetros por hora se fazem sentir. Como diz Rubiera, de uma categoria a outra seu poder de destruição se eleva ao quadrado.
É muito difícil acompanhar de perto e compreender as fabulosas cifras de dinheiro fresco que são injetadas na economia mundial. São grandes quantidades de papel moeda, que conduzem inevitavelmente à perda de valor e capacidade aquisitiva.O crescimento dos preços é inevitável nas sociedades consumistas e desastroso para os países emergentes, tal como o assinala Lula da Silva. Se o maior importador do mundo deixa de importar, atinge ao resto; se sai para competir, atinge aos demais produtores.
Os grandes bancos dos países desenvolvidos - destaca - imitam e tratam de coordenar com os dos Estados Unidos; se os deste quebram, os daqueles também, e devoram uns a outros.
Os paraísos fiscais prosperam; os povos sofrem. Por acaso assim poderia se garantir o bem-estar da humanidade?

Fidel Castro Ruz 18 de Setembro de 2008
Bush anuncia US$ 700 bilhões a mais para os especuladores


Para as necessidades do povo, o “Estado Mínimo”. Para os banqueiros falidos, o “Estado Máximo” e a socialização dos prejuízos na farra das hipotecas
O governo de W. Bush, seu secretário do Tesouro, Henry Paulson, e o presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, anunciaram seu plano de salvação da bancarrota de meia dúzia de famílias de magnatas banqueiros e da coorte de aventureiros e espertalhões associados, e pediram ao Congresso urgência na votação. A doação de US$ 700 bilhões, a serem pagos pelos contribuintes americanos, isto é, pelo povo, em troca de um aterro sanitário na Ilha de Manhattan constituído com os papéis podres agora em mãos desses banqueiros e especuladores.
CASSINO
Como se vê, os arautos do “Estado Mínimo” acreditam piamente na tese, desde que seja para impedir que os preciosos recursos estatais sejam malbaratados com a população e para evitar que fique mal acostumada com atendimento médico, educação, programas sociais e outras irresponsáveis benesses. Mas quando, após exorbitarem na especulação, levam um tombo no cassino, banqueiros e magnatas aderem entusiasticamente ao “Estado Máximo” – como a já citada socialização de prejuízos de US$ 700 bilhões. E que foi apontada pelo economista Michael Hudson como a maior transferência de riqueza da história dos EUA, desde a doação de terras aos barões das ferrovias no século XIX.
Observe-se que a socialização de prejuízos proposta no novo “fundo” de Bernanke, Paulson e Bush é ainda mais deletéria que a “troca” de bilhões dos contribuintes por 79,90% das ações das agências de refinanciamento hipotecário Fannie Mae e Freddie Mac, e da seguradora AIG. No novo modelo, não precisa nem de ações, tudo o que os banqueiros e especuladores necessitam é trazer seus títulos-lixo, para saírem com os cofres estufados de verdinhas.
Possivelmente por razões de marketing, Bernanke, preferiu chamar seu aterro sanitário de “Fundo de Resgate”, enquanto o ex-presidente do órgão nos anos Reagan, Paul Vocker, preferia classificá-lo de “Mãe de Todos os Resgates”. Note-se que no “plano de salvação” de Bush, Bernanke e Paulson só há lugar para os banqueiros e especuladores que inflaram a hiper-bolha das hipotecas e derivativos. Já para os milhões de norte-americanos que perderam suas casas, nada. Foram sumariamente excluídos.
Seguramente, o dolaroduto proposto será muito maior do que esses US$ 700 bilhões, pois até imediatamente antes do anúncio o Fed já havia torrado US$ 1 trilhão com os bancos abalroados, entre empréstimos de curtíssimo prazo - em troca de papéis podres-, para mantê-los à tona, e os US$ 314 bilhões para os casos mais críticos. US$ 200 bilhões com Fannie Mae e Freddie Mae; US$ 85 bilhões para a maior seguradora dos EUA, AIG; e US$ 29 bilhões para os Morgans e Rockefellers absorverem o falido Bear Stearns.
Fora o que, por baixo dos panos, foi canalizado para o Bank of America se fundir com o rombo do Merrill Lynch, o terceiro maior banco de investimento do país. E tem muito banqueiro na fila: o Lehman Brothers, ao pedir a proteção da Lei de Falências dos EUA, apontou o Citibank como um dos seus maiores credores, com US$ 138 bilhões a descoberto. Os dois maiores bancos de investimento, os remanescentes, o Goldman Sachs e o Morgan Stanley, correm contra o relógio tentando sobreviver.
“BANKSTERS”
Apropriadamente, o economista Michael Hudson retomou outro termo usado na época de Franklin Roosevelt: “banksters” (um amálgama de banqueiros com gângsters). E que outra classificação mereceriam aqueles que induziram pessoas a fazer hipotecas de que sequer precisavam, ou acima das suas possibilidades; que fizeram apostas em cima de apostas com base nessas hipotecas; que embaralharam papéis ruins, com outros péssimos e mais outros pior ainda, tudo isso “fatiado”, repassado a outros apostadores, e travestido de título triplo-A (equivalente a um título do Tesouro dos EUA) graças ao aval fraudado de agências de classificação de riscos, do “hedge” de seguradoras como a falimentar AIG,e das contra-partidas de outros especuladores; e que para cada dólar de verdade, apostaram 30, 40,70, 80 dólares; até irem ao chão?

terça-feira, 2 de setembro de 2008

General Armando Félix afirmou a Lula que Abin não está envolvida
O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Jorge Armando Félix, disse ao presidente Lula, na reunião da coordenação política do governo, realizada na tarde da segunda-feira, estar "convencido de que a Abin não participou de grampo". O ministro do GSI ainda disse que Daniel Dantas pode ser o responsável pelo suposto grampo da conversa .
O general Jorge Félix já havia determinado a realização de uma sindicância interna para apurar a suposta responsabilidade da Abin em escutas e solicitou à Polícia Federal a abertura de inquérito. Essas medidas foram referendadas pela reunião da coordenação do governo.
Durante a reunião em que ficou decidido o afastamento provisório da direção da Abin, até que seja apurado o caso, o general Jorge Félix colocou seu cargo à disposição, mas o presidente Lula recusou o pedido de demissão
Delegado Lacerda é afastado da Abin até fim das investigações
Decisão saiu na reunião da coordenação do governo
A transcrição da conversa, publicada pela "Veja" no fim de semana, do atual presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, com o senador Demóstenes Torres pode ser qualquer coisa. Até o fim desta edição, nem mesmo aparecera uma gravação. Somente o que "Veja" publicou.
Mas, admitindo-se que houve o grampo, e que a conversa não foi uma encenação de dois maganos, qual a prova de que teria sido a Abin a operá-lo? Por que não poderia ter sido a Kroll, fachada da CIA que é a favorita de Daniel Dantas, elemento conhecido pela obsessão grampeadora? Ou até, diretamente, a CIA ou o FBI, que não são fãs do diretor-geral da Abin, Paulo Lacerda, desde que este, quando chefe da instituição, acabou com a rede de subornos em dólar na PF, mas são muito chegados à "Veja"? Ou, por que não poderia ter sido algum outro picareta, desses que pululam nas hostes da oposição? Sem provas, qualquer dessas possibilidades é tão válida quanto dizer que foi a Abin.
No entanto, Mendes disse ao presidente Lula que tinha certeza de que era um grampo da Abin. Como é possível essa certeza sem provas, tão imprópria a um magistrado? Será vontade de derrubar o diretor da Abin, Paulo Lacerda, tal como é evidente na cruzada de "Veja"?
O presidente Lula afastou a direção da Abin até que se concluam as investigações. Esperemos que elas acabem rápido e que Paulo Lacerda e seus colegas voltem aos seus postos.
Entretanto, notemos algumas coisas: se a transcrição for realmente o resultado de um grampo, é o primeiro caso, como já disse alguém, de um grampo a favor - os dois grampeados se saem tão bem na conversa, como dois cidadãos muitíssimo preocupados com o cumprimento da lei, com o combate à pedofilia e outras moléstias sociais, que parecem dois clones de Salomão. Será que o objetivo do grampo era mostrar como Gilmar Mendes e Demóstenes são ínclitos, impolutos e de caráter sem jaça? Nisso, há algo muito parecido com o dossiê Álvaro Dias, em que tentou-se chicanear o governo com uma fabricação que promovia os próceres da oposição a relicários de quase todas as virtudes republicanas.
O diálogo entre Mendes e Demóstenes é exatamente o que eles dizem em público sobre os mesmos assuntos. Trata-se de um grampeador que, além de puxa-saco, é inútil, pois não revela nada, exceto a pantomina que todos já se cansaram de ver. Sobre a Abin, existe apenas a palavra do notório Policarpo Júnior, o poodle de rabo mais saliente entre os confeccionadores de factóides do Civita. Portanto, nada em que se possa confiar.
Mas vamos aos fatos: há mais de um ano "Veja" tenta emplacar a história de um suposto "grampo" no STF. O motivo é usar o Judiciário contra o governo, já que o golpismo foi derrotado no Legislativo.
Na primeira vez ("Veja" de 22/08/2007) havia capa acusando o governo e um título, "A sombra do estado policial", do mesmo Policarpo Júnior, prontamente desmentido pelos ministros do STF citados, com exceção de um: Gilmar Mendes. Uma frase deste é a única sustentação do texto: "A Polícia Federal se transformou num braço de coação e tornou-se um poder político que passou a afrontar os outros poderes".
A polícia é sempre um "braço de coação" do Estado sobre quem infringe as leis. Se a polícia não "coagisse" os criminosos, isto é, se não contrariasse a sua vontade, como poderia prendê-los? Ou será que Mendes é a favor de somente prender aqueles que estão com vontade de ser presos? A reclamação de que a PF está sendo "um braço de coação" parece revelar, portanto, que há aqueles a quem Mendes não admite que sejam presos. Realmente, ele não gosta que a PF seja "um braço de coação" sobre Daniel Dantas e outros da cepa.
Há um ano, Mendes acusava a PF; hoje, acusa a Abin. Podemos apontar duas coincidências: a primeira é que o diretor da PF quando Mendes a acusou chamava-se Paulo Lacerda. O diretor-geral da Abin até a última segunda-feira era o mesmo Paulo Lacerda. A outra coincidência é que ambas as acusações carecem de provas.
O que a "Veja" e Mendes, esta duradoura parceria, têm contra o delegado Paulo Lacerda? Naturalmente, que Lacerda não goste de ver a PF – ou a Abin – submetida a um outro poder político, este estrangeiro. Logo, consideram que a PF se tornou um outro poder porque não se submeteu ao mesmo poder que eles. Além disso, o delegado tem a opinião de que bandidos como Daniel Dantas devem estar na cadeia. Não é a mesma opinião de "Veja". Ou de Gilmar Mendes.
Mais de um ano depois da primeira tentativa, "Veja" traz o diálogo entre Gilmar Mendes e o senador Demóstenes Torres. Em meio ao texto do poodle, uma frase de Mendes: "Não há mais como descer na escala da degradação institucional".
Certamente, ele não achou que havia degradação institucional quando Fernando Henrique liquidou a preço de xepa, e debaixo de subornos, o patrimônio público. Nem quando a Constituição foi rasgada, várias vezes, pelo mesmo Fernando Henrique. Pelo contrário, Mendes era o advogado-geral dessa sórdida promiscuidade.
Porém, se "não há mais como descer na escala da degradação institucional", forçoso é chegar à conclusão de que ele está propondo – ou, pelo menos, gostaria – de uma virada de mesa. Ou será que quer convivência pacífica com a "degradação institucional" e o "regime totalitário"? Certamente, não seria patriótico, nem cívico, nem republicano. Só sendo golpista para ser patriótico, cívico e republicano... E pensar que Mendes está na cadeira onde já se sentou o grande Orozimbo Nonato!