sábado, 31 de maio de 2014

A ética dos “homens bons”


31 de maio de 2014 | 12:49 Autor: Fernando Brito
bankgters
Num mundo dominado por um pensamento que coloca o lucro como a razão suprema da  vida social, não é estranho que, ao se pensar no que é ter razão, imagine-se que mais razão tem quem mais dinheiro ganha.
E quem mais razões supremas pode ter senão aqueles que, neste mundo sem razões que não a grana, que os grandes banqueiros internacionais?
Eles são os que dizem, com seus “ratings”, suas “boas práticas” e seus critérios sobre que economias são viáveis e quais são “populismo” insustentável.
Os governos devem, em lugar de ouvir os povos que os elegem, ouvir o mercado, porque é de lá que vem a virtude.
Afinal, o lucro é sempre bom e santo, e os impostos são perversos.
O Estado é mau, ineficiente, perdulário, corrupto.
Mauro Santayana, em seu blog, traz um pequeno relato, abafado por nossa valorosa imprensa, muito ocupada em vasculhar a honradez de todo e qualquer um que defenda um regime de mínimos controles do capital, limitando seus apetites pantagruélicos.
Afinal, os banqueiros são homens bons, diferentes desta camorra política,  à qual, infelizmente, tem-se de suportar, por causa desta coisa miserável chamada voto, que bem podia ser substituída por um conselho dos ricos, porque são eles que, afinal, têm razão porque têm dinheiro.

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Dilma entrega 147 máquinas a 115 municípios de Minas Gerais



Tenho orgulho da parceria com municípios mais pobres do país, afirma Dilma

Presidenta Dilma durante entrega de 147 máquinas a 115 municípios do estado de Minas Gerais. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
Presidenta Dilma durante entrega de 147 máquinas a 115 municípios do estado de Minas Gerais. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
A presidenta Dilma Rousseff afirmou que se orgulha de investimentos do governo federal nos locais com menos recursos no Brasil. Nesta sexta-feira (30), em Poços de Caldas (MG), na entrega de 147 máquinas e equipamentos do Programa de Aceleração do Crescimento 2 (PAC) para 115 municípios de Minas Gerais com até 50 mil habitantes, ela reforçou que os prefeitos beneficiados terão autonomia para obras, por exemplo, em estradas vicinais.
“A parceria com municípios, em especial com os mais pobres, os que têm menos recursos, os menores do país. Tenho orgulho disto porque, de fato, lá se encontra uma parte da população do país que deve ser atendida, ter serviços públicos. Tenho feito grande esforço para atender os prefeitos, e espero anunciar, até o fim do ano, novas medidas que vão beneficiar os prefeitos, em especial dos pequenos municípios”, afirmou.
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, também participou da cerimônia e entregou algumas das chaves das máquinas aos prefeitos. Ele listou números do PAC Equipamentos, e considerou importante o programa para ajudar os agricultores no escoamento da produção.
“Minas Gerais tem crescido muito, uma agricultura que se organiza, investe e produz cada vez mais. Tão importante quanto produzir bem são as condições para escoar a produção. A reivindicação era por boas estradas, e essa luta foi atendida. Com essa entrega, Minas Gerais já recebeu 2.468 máquinas distribuídas para 792 municípios com menos de 50 mil habitantes. (…) Que estas máquinas sejam mais que aço e borracha, que elas sejam felicidade e prosperidade para todos vocês”, desejou Rossetto.


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A Copa do Mundo não é a fonte de nossos problemas

Blog da Boitempo

A Copa do Mundo pode ser criticada por uma série de razões, mas ela não explica a qualidade da saúde e da educação pública.


O estudante americano Silvester Allan, de 21 anos, se prepara para a Copa do Mundo do Brasil desde 2012. Nas férias, procurou emprego para juntar dinheiro e apelou para os parentes para engordar as economias. Não se abalou nem com as notícias que leu de violência nos protestos de rua durante a Copa das Confederações, no ano passado. Assim que a FIFA abriu sua bilheteria eletrônica, comprou os ingressos pela internet. Depois, cuidou da reserva nos hotéis. No começo de junho desembarca no Brasil e pretende acompanhar a Seleção dos Estados Unidos nos três jogos da primeira fase, contra Gana, Portugal e Alemanha, sem muita esperança de ir às oitavas de final, mas já decidido a ficar por aqui mais uns dez dias para conhecer melhor o país.
 
Mais de 81 mil americanos fizeram como ele e já reservaram passagens aéreas para o Brasil durante o mundial. Outros 290 mil turistas fizeram o mesmo pelo mundo todo, de acordo com levantamento da Forward Keys e da Pires & Associados que não registra voos chartersnem quem vai entrar no país por via marítima ou rodoviária, como argentinos e uruguaios. Os hotéis de cidades como o Rio de Janeiro registravam a vinte dias da copa uma taxa de reserva de 88%, com perspectiva de crescer mais dez por cento até o início da competição. "Se violência assustasse, americano não saia de casa. Acho que, apesar dos problemas, o Brasil vai perceber que a Copa do Mundo não é a fonte de seus problemas e fará uma grande festa para o mundo", diz Silvester Allan.

A menos de 15 dias da solenidade de abertura, que terá um show de bailarinos e Jennifer Lopez e Cláudia Leite cantando a música-tema 'We are one' na Arena Corinthians, em São Paulo, o brasileiro parece finalmente ter decidido trocar o choro dos erros na organização para se entregar à festa da paixão pelo futebol. Afinal, além do desfile dos maiores craques do planeta, os gargalos de telecomunicações, aeroportos e hospedagem parecem ter sido exagerados. O governo federal reforçou a segurança com modernos centros de operações nas doze cidades-sede e 20 mil homens das Forças Armadas nas ruas. Os novos estádios ficaram caros, mas enfeitam os olhos do torcedor. Quatro de cada dez brasileiros que viajavam para o exterior nesta época do ano adiaram os planos para acompanhar a festa aqui. Inacreditável: a previsão inicial de que o evento atrairia mais de 600 mil turistas estrangeiros e movimentaria outros três milhões de brasileiros, sem falar nas 73 mil horas em que o país estará em exposição para três bilhões de pessoas durante um mês inteiro, pode se tornar um gol de placa.

"É hora de o Brasil esquecer o complexo de vira-lata e celebrar a Copa do Mundo", disse a empresária Jeanine Pires, ex-presidente da Embratur, em um seminário sobre turismo realizado segunda-feira no Rio de Janeiro. O sentimento apontado pelo escritor Nelson Rodrigues diante dos fracassos futebolísticos nacionais antes de o Brasil conquistar a Copa do Mundo de 1958 parece ter batido no fundo do poço quando o ex-jogador Ronaldo Fenômeno, que ironicamente é integrante do Comitê Organizador Local (COL) da Copa, declarou, depois de posar para uma foto com Aécio Neves, candidato do PSDB à Presidência da República, estar envergonhado pelos atrasos e problemas enfrentados pelo país às vésperas da competição.
 
"É preciso examinar o que foi feito sem os preconceitos e mitos de que a Copa do Mundo do Brasil será a mais cara de todas, porque inclui investimentos para infraestrutura que só foram antecipados por causa do mundial. Contabilizar esses investimentos como custos da copa é um equívoco. O custo dos estádios do Brasil está no mesmo patamar da média praticada na Copa da Coreia do Sul e do Japão, em 2006, e da África do Sul, em 2010, e é mais barato do que os estádios que estão sendo construídos para a Eurocopa", disse o secretário-executivo do Ministério dos Esportes, Luiz Fernandes, em resposta às críticas veementes feitas em um seminário realizado pela Rádio CBN.

A Copa do Mundo pode ser criticada por uma série de razões, como os custos dos estádios, as privatizações mal explicadas, as remoções forçadas e os desmandos da FIFA, mas ela não explica a qualidade da saúde e da educação pública. Entre 2000 e 2010, o gasto público per capita por ano com saúde passou de US$ 107 para US$ 466, de acordo com dados do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde.
 
No mesmo período, a porcentagem do orçamento público destinado à saúde foi de 4,1% para 10,7%. Se todo o dinheiro dos novos estádios fosse para o setor o gasto per capita com saúde passaria para US$ 506. Se todos os recursos investidos em tudo o que a Copa antecipou também fossem destinados à saúde a despesa per capita chegaria a U$S 606. O problema é outro. Os Estados Unidos despendem US$ 3,7 mil ano com a saúde de cada americano. A Noruega chega a US$ 6,8 mil ano por cada norueguês. O dilema que a matemática não resolve é se um aumento agora de cerca de U$S 150 por ano para a saúde de cada brasileiro seria melhor ou pior do que a aposta de uma injeção extra na economia de R$ 142 bilhões e a criação de 3,63 milhões de empregos-ano conforme a previsão não desfeita pela Erns & Young e pela Fundação Getúlio Vargas com a realização do mundial.

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A lição que o Brasil está prestes a dar ao mundo


não vai ter copa
Publicado originalmente no site Manual de Ingenuidades. O autor, Adriano Silva, é blogueiro e consultor digital. Antes, trabalhou na Abril e na Globo.
Há um pensamento em voga entre nós: devíamos sabotar a Copa, torcer contra, colaborar para que “não haja” Copa. Isto seria a coisa cívica e correta a fazer – usar a Copa do Mundo no Brasil não para vender ao mundo uma imagem boa do país, mas, ao contrário, para revelar nossas mazelas, para admitir nossas iniquidades diante do planeta.
Isto seria um levante contra “tudo isso que está aí” – o maldito padrão Fifa que não conseguimos alcançar e que nos humilha; nossa incapacidade histórica de fazer qualquer coisa honestamente, sem cobrar ou pagar propina; a economia que não anda; nossa ineficiência estrutural e nossa leniência crônica que nunca cumprem o que promete, que perdem prazos e desrespeitam contratos; nossa falência como nação que não consegue andar para frente em tantos aspectos essenciais; nossa incompetência em superar essa fenda social profunda que nos divide há séculos em duas castas que se odeiam, às vezes em silêncio, às vezes nem tanto.
Mas sabotar a Copa funcionaria também como uma espécie de autoexpiação pública e mundial, transformando nossas questões nacionais, internas, num inesquecível fiasco global. Como se a Copa do Mundo deixasse de ser uma festa para virar uma chibata. Como se o maior evento do planeta, que nos foi confiado e que nós brigamos para receber, não representasse um momento de alegria mas sim uma oportunidade de gerar constrangimento, vergonha, decepção e má publicidade.
Sorrir virou uma assunção de cretinice. Torcer pelas cores nacionais na Copa virou um crime. Exercer o gosto pelo futebol, um traço nacional, virou coisa de gente pusilânime.
O autor
O autor
Ao mesmo tempo, ver o Brasil mal retratado na imprensa de outros países virou uma alegria. Passamos a gostar da ideia de esfregar nossos aleijões na cara da audiência internacional – tendo especial regozijo ao ver a classe média do resto do mundo virar de lado e tampar o nariz. Adoramos jogar lama no próprio rosto. E convidamos os outros a nos enlamear também. Estamos torcendo para que as coisas funcionem mal, e para que tudo dê errado, e para que não consigamos fazer nada direito, para que tragédias aconteçam, para que tudo mais vá para o inferno.
Estamos vibrando com a derrocada daquilo que mais odiamos. E o que mais odiamos parece ser o Brasil. Como se o Brasil não fôssemos, tão e simplesmente, nós mesmos.
Tenho muita dificuldade de entrar nessa onda de autoimolação. E na inconsequência juvenil dessa postura “quanto pior, melhor”. Há um niilismo contido nesse pensamento, e um masoquismo meio piegas e vazio nessa proposta, um espírito de porco oco e doentio, que me desagradam profundamente. Talvez porque haja muita destruição aí – e eu seja um construtor. Talvez porque haja muita coisa prestes a ser posta abaixo, indiscriminadamente, e eu seja um criador que gosta de erguer obras. Não sou um demolidor de paredes. Então não consigo achar que botar fogo no circo com todo mundo debaixo da lona possa ser uma boa ideia. Talvez por já ter vivido fora do país, e visto o Brasil lá de fora. E por ter dois filhos brasileiros, que terão seu futuro próximo acontecendo por aqui. E por já estar vivendo meu 43. ano de vida. Já estou muito velho para achar que arrasar a terra possa facilitar o nascimento de alguma outra coisa sobre ela.
Fico imaginando esse mesmo pensamento noutros países. Cito apenas alguns. Você completa o quadro.

Na Copa de 2002, o Japão deveria, logo na abertura, fazer menção a seus crimes de guerra, que não foram poucos, pelos quais jamais se desculpou. Ou então alertar para o tratamento discriminatório até hoje imposto aos burakumin – pessoas  que exercem profissões “impuras”, como coveiros e açougueiros. Ou protestar contra a xenofobia, e o sentimento de isolamento (quando não de superioridade) racial que ainda hoje permeia a sociedade japonesa.
A Coréia, no mesmo ano, deveria denunciar seu patriarcalismo opressor e a violência doméstica contra mulheres que é uma espécie de direito adquirido dos homens por lá até hoje – quase 60% das esposas afirmam sofrer algum tipo de abuso dentro de casa.
Os Estados Unidos deveriam ter encerrado a Copa de 1994 com uma apoteose em forma de perdão pela barbaridade das duas bombas atômicas que atiraram covardemente sobre a população civil de duas cidades, em nome de um teste científico (afinal, gente amarela não é gente, né?) e de um aviso nuclear aos novos inimigos. Foram 250 000 mortos, entre crianças, mulheres, bebês, velhos, gestantes, recém nascidos. Ou então a apoteose deveria representar uma elegia às populações indígenas americanas massacradas. Ou aos mortos de todas as ditaduras que os Estados Unidos apoiaram ao longo de décadas, inclusive ensinando as melhores técnicas para “prender e arrebentar”, para vigiar e punir e esganar. Os Estados Unidos também poderiam se retirar da Copa, e também das Olimpíadas, bem como de todas as competições internacionais em que costumam brilhar, em protesto contra o fato de serem a maior economia do mundo e até hoje não terem tido a capacidade de oferecer um sistema público de saúde universal aos trabalhadores que produzem essa riqueza toda – quase 50 milhões de americanos simplesmente não tem a quem recorrer se ficarem doentes.
A África do Sul, em 2010, deveria ter alardeado sua liderança mundial em estupros – 128 estupros por 100 000 habitantes. (Ah, sim. Na Nigéria, que receberemos esse ano, o estupro marital não é considerado crime. A delegação nigeriana, composta de maridos, deveria entrar no Itaquerão empunhando essa bandeira?)
A Itália e a Espanha, as duas últimas campeãs mundiais, nem deveriam vir à Copa. Na Itália, o desemprego entre os jovens é de 38,5% – no Sul, a região mais pobre do país, a taxa é de 50%. Ano passado, 134 lojas fechavam diariamente na bota – mais de 224 000 pontos já fecharam no varejo italiano desde 2008. Na Espanha, o desemprego está batendo em 30% na população em geral. Entre os jovens, já encostou também nos 50%.
Ou seja, se fossem países sérios, Espanha e Itália não perderiam tempo e recursos participando de um evento da Fifa, essa corja internacional, e se dedicariam com mais a afinco a resolver seu problemas, que são muito graves. Trata-se de países à beira da bancarrota. (Só para comparar, a taxa de desemprego no Brasil, esse fim de mundo em que vivemos, é de 4,9%). Os americanos, se merecessem os hambúrgueres que comem, deveriam usar a visibilidade da Copa, já que nem gostam de futebol mesmo, para chamarem a atenção para a tremenda injustiça e para o absurdo descaso que enfrentam em seu sistema público de saúde. E, se tivessem um pingo de vergonha na cara, espanhois e italianos se recusariam a vir para a Copa, a torcer por suas seleções na Copa, e se postariam de costas para os televisores e sairiam quebrando vitrines (das lojas que ainda lhes restam) a cada gol de Iniesta ou de Balotelli. Mais ou menos como estamos planejando fazer por aqui em represália aos êxitos de Neymar e cia.
Eis a lição que o Brasil está prestes a dar ao mundo.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Os órfãos de Joaquim Barbosa


Órfão da toga justiceira, Aécio Neves tenta vestir uma fantasia de justiceiro social, esgarçada pela estreiteza dos interesses que representa.

STF

Joaquim Barbosa deixa a cena política como um farrapo do personagem desfrutável que se ofereceu um dia ao conservadorismo brasileiro.

Na verdade, não era  mais funcional ter a legenda política associada a ele.

Sua permanência à frente do STF  tornara-se insustentável.

Vinte e quatro horas antes de comunicar a aposentadoria,  já era identificado pelo Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, como um fator de insegurança jurídica para o país.

A OAB o rechaçava.

O mundo jurídico manifestava constrangimento diante da incontinência autoritária.

A colérica desenvoltura com que transgredia  a fronteira que separa o sentimento de  vingança e ódio da ideia de justiça, inquietava os grandes nomes do Direito.

Havia um déspota sob a toga que presidia a Suprema Corte do país.

E ele não hesitava em implodir o alicerce da equidistância republicana que  confere à Justiça o consentimento legal,  a distingui-la dos linchamentos falangistas.

O obscurantismo vira ali, originalmente, o cavalo receptivo a um enxerto capaz de atalhar o acesso a um poder que sistematicamente lhe fora negado pelas urnas. 
Barbosa retribuía a ração de holofotes e bajulações mercadejando ações cuidadosamente dirigidas ao desfrute da propaganda conservadora.

Na indisfarçada  perseguição a José Dirceu, atropelou decisão de seus pares pondo em risco  um sistema prisional em que 77 mil sentenciados desfrutam o mesmo semiaberto subtraído ao ex-ministro.

Desde o início do julgamento da AP 470  deixaria  nítido o propósito de atropelar o rito, as provas e os autos, em sintonia escabrosa com a sofreguidão midiática.

Seu desabusado comportamento exalava o enfado de quem já havia sentenciado os réus  à revelia dos autos, como se viu depois,  sendo-lhe  maçante e ostensivamente desagradável submeter-se aos procedimentos do Estado de Direito.

O artificioso recurso do domínio do fato, evocado como uma autorização para condenar sem provas, sintetizou a marca nodosa de sua relatoria.

A expedição de mandatos de prisão no dia da República, e no afogadilho de servir à grade da TV Globo,  atestaria a natureza viciosa de todo o enredo.

A exceção inscrita no julgamento reafirmava-se na execução despótica de sentenças sob o comando atrabiliário de quem não hesitaria em colocar vidas em risco.

O  que contava era  servir-se da lei. E não servir à lei.

A mídia isenta esponjava-se entre o incentivo e a cumplicidade.

Em nome de um igualitarismo descendente que, finalmente, nivelaria pobres e ricos no sistema prisional,  inoculava na opinião pública o vírus da renúncia à civilização em nome da convergência pela barbárie.

A aposentadoria de Barbosa não apaga essa nódoa.

Ela continuará a manchar o Estado de Direito enquanto não for reparado o arbítrio a que tem sido submetidas lideranças da esquerda brasileira, punidas não pelo endosso, admitido, e reprovável, à prática do caixa 2 eleitoral.

Igual e precedente infração cometida pelo PSDB, e relegada pela toga biliosa, escancara o prioritário sentido da AP 470:   gerar troféus de caça a serem execrados em trunfo no palanque conservador.

A liquefação jurídica e moral de  Joaquim Barbosa nos últimos meses tornou essa estratégia anacrônica e perigosa.

A toga biliosa assumiu, crescentemente, contornos de um coronel Kurtz, o personagem de Marlon Brando, em Apocalypse Now, que se desgarrou do exército americano no Vietnã para criar  a sua própria guerra dentro da guerra.

Na guerra pelo poder, Barbosa lutava a batalha do dia anterior.

Cada vez mais, a disputa eleitoral em curso no país é ditada pelas escolhas que a  transição do desenvolvimento impõe à economia, à sociedade e à democracia.

A luta se dá em campo aberto.

Arrocho ou democracia social desenham  uma encruzilhada de nitidez crescente aos olhos da população.

A demonização do ‘petismo’ não é mais suficiente para sustentar os  interesses conservadores na travessia de ciclo que se anuncia.

Aécio Neves corre contra o tempo para recadastrar seu  apelo no vazio deixado pela esgotamento da judicialização da política.

Enfrenta dificuldades.

Não faz um mês, os centuriões do arrocho fiscal que o assessoram –e a mídia que os repercute--  saíram de faca na boca após o discurso da Presidenta Dilma, na véspera do 1º de Maio.

Criticavam acidamente o reajuste de 10%  aplicado ao benefício do Bolsa Família.

No dia seguinte, numa feira de gado em Uberaba, MG, o tucano ‘não quis assumir o compromisso de aumentar os repasses, caso seja eleito’, noticiou a Folha de SP (02-05). 

‘De mim, você jamais ouvirá uma irresponsabilidade de eu assumir qualquer compromisso antes de conhecer os números, antes de reconhecer a realidade do caixa do governo federal", afirmou Aécio à Folha, na tarde daquela sexta-feira.

Vinte e seis dias depois, o mesmo personagem, algo maleável, digamos assim, fez aprovar, nesta 3ª feira,  na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado, uma medida que exclui limites de renda e tempo para a permanência de famílias pobres no programa (leia a reportagem de Najla Passos; nesta pág)

A proposta implica dispêndio adicional que o presidenciável recusava assumir há três semanas.

Que lógica, afinal, move as relações do candidato com o Bolsa Família?

A mesma de seu partido, cuja trajetória naufragou na dificuldade histórica do conservadorismo em lidar com a questão social no país.

Órfão da toga justiceira, Aécio Neves tenta vestir uma inverossímil fantasia de justiceiro social, desde logo esgarçada pela estreiteza dos interesses que representa.

 A farsa corre o risco de evidenciar seus limites  tão rapidamente quanto a anterior.

A ver. 

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Tenha fé em nosso povo que ele assusta





Caminhando pela noite de nossa cidade

Acendendo a esperança e apagando a escuridão
Vamos caminhando pelas ruas de nossa cidade
Viver derramando a juventude pelos corações
Tenha fé no nosso povo que ele resiste
Tenha fé no nosso povo que ele insiste
E acorda novo, forte, alegre, cheio de paixão
Vamos caminhando de mãos dadas com a alma nova
Viver semeando a liberdade em cada coração
Tenha fé em nosso povo que ele acorda
Tenha fé em nosso povo que ele assusta
Caminhando e vivendo com a alma aberta
Aquecidos pelo sol que vem depois do temporal
Vamos, companheiros, pelas ruas de nossa cidade
Cantar semeando um sonho que vai ter de ser real
Caminhemos pela noite com a esperança
Caminhemos pela noite com a juventude

Milton Nascimento - Tudo o que você podia ser





Com sol e chuva você sonhava

Que ia ser melhor depois
Você queria ser o grande herói das estradas
Tudo que você queria ser
Sei um segredo você tem medo
Só pensa agora em voltar
Não fala mais na bota e do anel de Zapata
Tudo que você devia ser sem medo
E não se lembra mais de mim
Você não quis deixar que eu falasse de tudo
Tudo que você podia ser na estrada
Ah! Sol e chuva na sua estrada
Mas não importa não faz mal
Você ainda pensa e é melhor do que nada
Tudo que você consegue ser ou nada

Janio a Eduardo Campos: “qual foi o crime de seu avô?”


29 de maio de 2014 | 08:38 Autor: Fernando Brito
arraes
A pergunta cortante é do mestre Janio de Freitas, sobre a prática contumaz da hipocrisia em que vem se especializando o candidato do PSB, Eduardo Campos, que danou a dizer só o que agrada o conservadorismo.
Poderia, sem dificuldade, ter dito que essa é uma decisão que a Justiça terá de tomar, sobretudo agora que lhe são apresentados, concretamente, casos escabrosos como o da tortura, morte e ocultação do cadáver do deputado Rubens Paiva e do atentado do Riocentro.
Mas preferiu se lambuzar dizendo que é contra o reexame das responsabilidades por crimes de lesa-humanidade.
O discurso do “revanchismo” é apenas dos que o usam para ocultar, também, a verdade.
Atividade na qual Campos vem se mostrando dedicado aprendiz.

Muito à vontade

Janio de Freitas
A definição de Eduardo Campos contra qualquer mudança na Lei da Anistia, para possível punição legal de criminosos da repressão, divide-se em duas partes bem distintas. Na primeira, o pré-candidato à Presidência adota o chavão dos militares acusados de tortura, assassinatos e desaparecimentos: “Acho que a Lei da Anistia foi para todos os lados. O importante agora não é ter uma visão de revanche”. Na segunda, Eduardo Campos reforça, por um dado pessoal, a sua identificação com aqueles militares: “Falo isso muito à vontade porque a minha família foi vítima do arbítrio”.
Uma das maiores vítimas imediatas do golpe em 1964 foi Miguel Arraes, então governador de Pernambuco. Retirado do palácio sob a mira de armas, Arraes foi preso e, depois dos maus-tratos esperáveis, deportado para a ilha de Fernando Noronha como prisioneiro sem condenação e sem prazo. Quando, afinal, pôde voltar ao continente e à vida civil, a iminência de nova prisão levou-o a asilar-se e daí ao exílio.
Eduardo Campos é neto de Miguel Arraes. Por isso diz estar “muito à vontade” quando subscreve o pretexto da “anistia para os dois lados”. Nas duas condições, está, portanto, desafiado a indicar os crimes de que seu avô foi anistiado. Os crimes cuja anistia justifica, no que lhe cabe, a anistia do lado dos que o prenderam depois de o derrubarem do governo conquistado pelo voto e exercido com o que sempre se achou ser impecável dignidade.
No exterior, residente na Argélia e depois na França, Arraes integrou a oposição ativa à ditadura brasileira. É possível que, do ponto de vista de Eduardo Campos, oposição ao regime dos generais ditadores fosse prática criminosa, como os próprios consideraram. A identificação de Eduardo Campos com o pretexto usado pelos militares reforça tal hipótese. A ser assim, porém, sua pretensão a concorrer à Presidência de um regime democrático não poderia ser vista senão como farsa. Farsa perigosa, como sugerem as identificações que exibe.
Não menos sugestivo é que esse mesmo Eduardo Campos integra, com os seus conceitos, o Partido Socialista Brasileiro. Vê-se que aprecia essa coisa de “para todos os lados”. Mas, se não tem fatos a narrar que justifiquem a anista de Arraes como compensação para a anistia do “outro lado”, então Eduardo Campos está manchando a história de um homem honrado. Da qual e do qual até agora só tirou proveito: sem ambas, não se sabe o que seria, mas por certo não teria sido o que já foi e não seria o que é.
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A conversa fiada do FMI


Por Mauro Santayana, em seublog:

Na falta do que fazer com relação a certos países, o pessoal do FMI tergiversa como é o caso do economista-chefe da instituição, Olivier Blanchard. Blanchard anunciou, em palestra proferida na semana passada, em Nova Iorque, que os “investidores” estão preocupados com o Brasil, e os países emergentes irão “crescer menos” nos próximos anos, enquanto as “nações desenvolvidas” farão exatamente o contrário.

Por essa lógica peculiar, que costuma ser repetida à exaustão por certos meios de comunicação e revistas internacionais, projetam - em previsões que quase nunca coincidem depois, com os números reais - que os EUA vão crescer 2.9% este ano, e a China, 7.5%, ou seja, quase o triplo dos norte-americanos - e são os emergentes que estão deixando de crescer e os “desenvolvidos” que os estão ultrapassando.

Quanto ao Brasil, o economista afirma que os investidores estão “preocupados com o país”, citando problemas como a inflação – que está dentro da meta; as contas externas e as contas fiscais; e o superávit primário, que continua sendo cumprido. E não dá a mesma atenção ao fato de que importantes recursos, vindos de fora, voltaram ao Brasil, atraídos pelo aumento dos juros e pela Bolsa.

A mesma lógica diz que o México vai bem, e o Brasil vai mal, quando tivemos superávit no comércio com a China, no ano passado, os mexicanos amargaram um déficit de 51 bilhões de dólares com os chineses, e nós crescemos 2.3% e eles, 1.2%.

É certo que temos tido problemas, principalmente em relação ao comércio exterior. Mas Olivier Blanchard se esquece de que o FMI é mais relevante para os países que lhe devem dinheiro, do que para os que lhe emprestam, como é o caso do Brasil, credor da instituição desde a crise da Grécia em 2008; detentor da sexta maior reserva monetária do mundo; e quarto maior credor individual externo do Tesouro dos Estados Unidos.

O FMI já foi importante para o Brasil quando, na condição de credores - e de sétima maior economia do mundo - ainda tínhamos paciência e esperança nas reformas destinadas a dar maior peso aos países emergentes na organização.

Com o provável anúncio da constituição do banco dos BRICS, na cúpula presidencial que reunirá os presidentes do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, em Fortaleza, em julho, o Fundo vai ficar, para o Brasil, ainda menos relevante.

Demagogia de Aécio com Bolsa-Família não dá direitos. Tira direitos dos pobres



bolsa
A Ministra Teresa Campelo  dá no Blog do Planalto uma série de explicações sobre a inconveniência do projeto do senador Aécio Neves que estende por seis meses o benefício do Bolsa-Família aos beneficiários que obtiverem uma fonte de renda, independentemente de seu valor.
Ao final, reproduzo o vídeo da Ministra.
Mas há algo que precisa ser mostrado para que as pessoas entendam como o projeto de Aécio é ruim e tem, apenas, o objetivo de apresentá-lo como “amigo” do Bolsa-Família e dos pobres.
É que receber o Bolsa-Família nada tem a ver com o fato de a pessoa estar ou não desempregada.
Não é um seguro-desemprego.
Tem a ver com a renda por pessoa da família ser inferior a R$ 140 por mês.
Um trabalhador de salário-mínimo com mulher desempregada e três filhos, por exemplo, tem direito ao Bolsa-Família porque a renda da família (R$724) dividida pelos seus membros (5) é R$ 144,80, menos que o limite de R$ 154 per capita do programa.
Mas se  aquele cidadão conseguir um emprego de R$ 1.000,  perde o benefício?
Não, o beneficio continua por mais dois anos – e não os seis meses previstos no projeto de Aécio.
Hoje, existem1,26 milhão de família que se beneficiam desta regra, chamada de “regra de permanência, como você pode ver no quadro acima) e 80% delas  não teriam direito caso a permanência fosse universal, como previsto no projeto, por seis meses apenas.
Agora imaginemos que o mesmo trabalhador conseguisse um emprego de R$ 1,.900.
Aí, sim, ele pararia de receber o Bolsa-Família, porque este salário (com a renda per capita de meio salário mínimo) não é mais considerado dentro de um universo de pobreza no Brasil.
Mas ele não vai ficar com medo de aceitar o emprego, ser demitido pouco tempo depois e ficar sem o Bolsa-Família?
Não, porque existe o Desligamento Voluntário/Retorno Garantido um possibilita que as famílias que tiveram aumento de renda  peçam o desligamento voluntário do programa, mas que possa voltar imediatamente, no caso de sua renda coltar a variar para baixo.
Pelo projeto de Aécio, em tese, seria possível uma família ter renda de 3, 4, 5 mil reais  ou ainda mais poderiam receber por seis meses ainda o diinheiro do Bolsa-Família, numa situação inconcebível para qualquer um que leve a sério programas de transferência de renda.
Quanto a exigir curso de qualificação profissional para todos os adultos que estiverem recebendo Bolsa-Família, é uma sandice sem tamanho. São 20 milhões de pessoas e onde se vai achar vaga para qualificar tanta gente, perto de suas casas (sem gerar, portanto, gasto de transporte), com combatibilidade de curso e horário. Sem falar nas pessoas que querem os curtos oferecidos agora no Pronatec e que não estão entre os beneficiários do Bolsa-Família, os desempregados que já tem de cursar para manter o seguro desemprego, etc…
Falta seriedade ao Senador, que pratica sua ojeriza aos programas sociais com aquela máxima do tempo da minha avó: o melhor inimigo do bom é o ótimo…
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Barack Obama e seu falso pacifismo


Editorial do site Vermelho:


O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou nesta quarta-feira (28) o que a publicidade da Casa Branca apresentou como as “novas linhas” da política externa dos Estados Unidos. 

Simbolicamente, o pronunciamento foi feito durante a formatura dos cadetes da Academia Militar de West Point, mesmo cenário em que 12 anos atrás o ex-presidente George W. Bush proclamou a política externa belicista que tantos danos provocou à paz mundial e à segurança internacional. Em jogada de sentido eleitoral, Obama tentou encenar que fazia o oposto.

Foi mais uma tentativa de apresentar sua visão sobre o papel dos Estados Unidos no mundo, num quadro em que externamente crescem a resistência anti-imperialista dos povos e a oposição de forças emergentes que não toleram o exercício da hegemonia estadunidense. No plano interno, Obama defronta-se com uma oposição das forças mais reacionárias, representadas pelo Partido Republicano, que o acusam de fraqueza nas relações com países rivais, como a Rússia. Sintomaticamente, o chefe da Casa Branca disse aos cadetes que a nação a que eles estavam sendo chamados para servir procuraria evitar “desventuras militares no exterior”, ao mesmo tempo em que enfrenta um novo conjunto de “ameaças terroristas do Oriente Médio para a África”.

Obama enalteceu o multilateralismo, o papel da ONU, reiterou a retirada de tropas do Iraque e Afeganistão e chegou mesmo a dizer que “nem todo problema tem solução militar”. E comemorou a “chance real” de chegar a um acordo nuclear com o Irã. 

O discurso de Obama não significa propriamente uma mudança na orientação da política externa, mas uma adaptação a uma realidade em que a política intervencionista e militarista não só é contestada, como sofre derrotas. Seu ponto de partida e essência é a centralidade dos interesses dos Estados Unidos nos assuntos globais, ou seja, a reafirmação da primazia dos Estados Unidos e de sua liderança imperial.

O militarismo e o intervencionismo constituem orientações permanentes da política externa estadunidense, observando-se quando muito uma mudança de ênfase em função de circunstâncias muito peculiares. O fato é que as guerras da chamada era Bush desgastaram ainda mais as posições norte-americanas no mundo e acrescentarem elementos de decadência e crise. 

Até o ano passado, o governo de Obama se preparou ativamente para intervir militarmente na Síria, mas foi obrigado a recuar. A tenaz resistência popular e nacional, o repúdio internacional, a posição da Rússia e da China contrária à intervenção e a evidência de que os Estados Unidos e seus aliados se enfileiravam ao lado dos mesmos terroristas que diziam combater, levaram-no a recuar. Na atual crise no Leste europeu, que tem por epicentro a Ucrânia, deparou-se com uma posição firme da Rússia, decidida a não permitir a continuidade da expansão Ocidental para seus domínios. 

Ao mesmo tempo em que defendeu platitudes sobre o multilateralismo e o papel da diplomacia, Obama reiterou a “guerra ao terrorismo”. “Temos que desenvolver uma estratégia que corresponde a esta ameaça difusa; uma estratégia que expande nosso alcance sem enviar forças (...) Precisamos de parceiros para lutar ao nosso lado contra os terroristas (...) Para o futuro próximo”, disse ele, "a ameaça mais direta para a América em casa e no exterior continua a ser o terrorismo”. Tais afirmações embasaram o anúncio de um Fundo de Parcerias Contraterrorismo, de US$ 5 bilhões, para organizar operações em países tidos como “vulneráveis”, como o Iraque, o Líbano e a Turquia, todos os vizinhos da Síria.

Mesmo diante do fracasso da intervenção direta na Síria, Obama reafirmou a estratégia de subverter a ordem interna no país árabe e continuar investindo recursos e instrumentalizando forças para derrocar o presidente Bashar al-Assad. 

Não é a primeira vez que Barack Obama faz semelhante discurso sobre política externa, semeando a ilusão de que a paz está pendente da ação do seu governo. 

A ofensiva para derrocar o governo sírio; a intervenção militar na Líbia; a estratégia militar voltada para a Ásia; o novo papel da Otan; a posição militarista na Península Coreana; as ameaças de desestabilização da Venezuela; a interferência direta na crise ucraniana, fomentando um golpe de Estado e instrumentalizando forças fascistas, em atos de provocação aberta contra a Rússia, demonstram o quanto são falsas as promessas multilateralistas e pacifistas dos Estados Unidos.