segunda-feira, 31 de agosto de 2015

O Globo demite funcionários e amplia a crise do jornalismo no Rio


Da Redação
Principal empregador de jornalistas no Rio de Janeiro, o Infoglobo, que congrega profissionais de O Globo, Extra, Expresso e outros veículos de comunicação do Grupo Globo, iniciou nesta segunda-feira um dos mais profundos cortes de postos de trabalho da imprensa carioca. Há seis meses, 160 profissionais de vários setores foram demitidos. Especula-se que este mês o número será ainda maior.

A onda de demissões nas empresas cariocas coincide com a crise no setor. O Dia, único diário a fazer frente aos jornais do Grupo Globo, agoniza e há notícias de que poderá encerrar definitivamente sua atividade. Há um mês demitiu dezenas de repórteres. Brasil Econômico, do mesmo grupo empresarial, encerrou sua atividade há um mês.

Com isso, o número de jornalistas demitidos só no Estado do Rio chega a mil profissionais no período de um ano. Recentemente houve cortes nos sites Terra, R7, Grupo Bandeirantes (onde até um jornalista, Maurício Vefer, em tratamento de câncer foi demitido) e na Agência Estado.

Entre os profissionais demitidos alguns que integram a nata do jornalismo do Rio, como Marceu Vieira, Pedro Dória e Luciana Fróes. 

Com a crise na atividade profissional surge também um modelo de controle da atividade patronal poucas vezes vista. Há meses, após o Sindicato dos Jornalistas conquistar na Assembleia Legislativa o piso salarial da categoria - inexistente há 20 anos - um grupo de jornalistas da Rede Globo se mobilizou para atender a uma demanda patronal - a redução do piso em 30%. A questão foi parar na Justiça.

Ampliação da mídia alternativa, através da Internet, e a pluralidade dos recursos hoje destinados exclusivamente para as empresas das grandes corporações são medidas urgentes a serem adotadas para estimular o mercado. Desde o governo Lula a chamada velha mídia recebeu o equivalente a R$ 16 bi em recursos do governo a título de publicidade oficial 


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Café Filosófico: Ética e vergonha na cara! - Mario Sergio Cortella e Cló...





Para reflexetirmos

As bobagens sobre o corte dos ministérios


Por José Augusto Valente, no site Carta Maior:

Esse assunto, volta e meia, reaparece no debate nacional. Geralmente, de forma torta, como tentarei demonstrar a seguir.

A primeira pergunta, que quase ninguém se faz é: qual o número adequado de ministérios, empresas, autarquias, cargos, funções e funcionários públicos?

A resposta a essa pergunta é óbvia: depende!

Se o projeto vencedor nas eleições fosse o do Aécio ou o da Marina, a ideologia do “estado mínimo”, que eles defendem, teria como consequência o enxugamento da máquina pública.

Entretanto, o projeto vencedor, em 2014, foi o liderado por Dilma. Este projeto é o que dá resposta à sociedade sobre mais educação, mais saúde, mais saneamento, mais infraestrutura, mais direitos humanos. O mesmo projeto vencedor das eleições de 2002, 2006 e 2010. Exige um estado muito maior que o mínimo de triste lembrança (FHC).

Não houve aumento de ministérios – ou de Secretarias com status de ministério – em relação aos governos exitosos de Lula e Dilma. O que nos permite dizer que houve eficiência e eficácia na condução dos programas e nas políticas de governo. Deste governo!

Leio gente escrevendo que é preciso dar mais “racionalidade” à gestão, constituindo superministérios, num total de 20, no máximo. O que pode ser mais racional do que uma estrutura vencedora, com uma infinidade de programas que mudaram a cara do país?

Leio também que o motivo dessa redução de ministérios, cargos e funções é para reduzir gastos, uma sinalização de que o governo está “cortando na própria carne”!

Já vimos que não se sustentam os motivos políticos e de “racionalização”. Vamos ver como fica o argumento de “redução de gastos”.

A imprensa e a oposição não cansam de repetir a falácia de que Lula e Dilma aparelharam a máquina pública federal, nomeando petistas para os 25 mil cargos comissionados disponíveis. Teve candidato a presidente que afirmou que cortaria mais da metade desses cargos, direcionando mais recursos para o interesse dos usuários.

A vantagem que leva a oposição é que a imprensa não está aí para checar essa informação. Assim, podem repetir qualquer coisa "ad nauseam", sem precisar provar nada e sem ser confrontada.

1. Se a imprensa fosse verificar a informação, de cara descobriria que o ex-presidente Lula, em 2005, através do Decreto no. 5.497/2005, considerou exclusiva dos servidores de carreira a ocupação de 75% dos cargos em comissão DAS níveis 1, 2 e 3 e 50% dos cargos DAS nível 4.

2. Vale dizer que esses 4 primeiros níveis de cargos em comissão representam quase 95% do total dessas vagas. Isso mesmo, 95%! O que significa que a imensa maioria desses cargos é ocupada por servidores públicos de carreira. Quem conhece a Esplanada dos Ministérios sabe que são muito poucos os funcionários públicos de esquerda.

3. É importante destacar ainda que o número de cargos em comissão aumentou proporcionalmente menos que o total de servidores. Em 2002, haviam 19 mil cargos comissionados. Em 2014, haviam 23 mil. Entretanto, a relação cargos comissionados/total de servidores em 2002 era de 3,8% e em 2014 caiu para 3,7%. Caiu pouco mas, ao contrário do que diz a oposição, não aumentou.

A imprensa gosta de insinuar que esses cargos comissionados são remunerados com salários muito altos. Falso ou verdadeiro? Falso!

4. Diferentemente do salário da grande maioria do funcionalismo federal, fortemente valorizado durante os governos de Lula e Dilma, os salários médios dos cargos em comissão ocupados por pessoas sem vínculo com o governo caíram em termos reais, passando de um salário médio real (em valores de 2013) de R$ 6.155,00, em 2002, para R$ 4.296,00, em 2014. Esse é o salário médio das pessoas que dirigem políticas como o Bolsa Família, o Luz para Todos, a Saúde, políticas que envolvem a aplicação de bilhões de reais e que impactam positivamente a vida de todos os brasileiros.

A oposição finge não saber que os cargos comissionados requerem elevado nível de responsabilidade e conhecimento técnico, e por isso, a maioria dos que os ocupam é altamente capacitada, mesmo com esse salário médio.

Fala-se também do "inchaço" da máquina por Lula e Dilma, insinuando que haveria uma contratação desenfreada de servidores públicos. Cabe então a pergunta: E os gastos com pessoal, estão descontrolados?

5. No período 2002-2014, a população aumentou quase 20%, o PIB cresceu uns 40% e as despesas com funcionalismo reduziram, como percentual do PIB. Era 4,8% em 2002 e chegou, em 2014, a 4,3%. Apesar do total de servidores ativos ter passado de 486 mil para 607 mil, nesse mesmo período.

Bom lembrar, como já disse antes, que servidores públicos é que garantem o funcionamento das principais políticas públicas pelas quais a população demanda e que tiveram grande aumento nos últimos 12 anos. 

6. Por exemplo, na educação o número de servidores aumentou de 165 mil, em 2002, para 260 mil, em 2014. A grande maioria deles como técnicos e professores, porque foram criadas mais de 400 novas escolas de educação profissional, científica e tecnológica, mais que triplicando o número de unidades existente em 2002. 

7. Além disso, foram criadas 18 novas universidades em 152 novos campi, mais que dobrando o número de matrículas e de municípios com instituições federais.

E onde essas informações podem ser checadas? Aqui.

Penso que fica razoavelmente demonstrado que a presidenta Dilma pode e deve fazer alguns ajustes em relação a Ministérios, Autarquias, Empresas, etc. Mas tendo como objetivo o aumento da eficácia das políticas públicas e não a conversa fiada de redução de gastos ou “maior racionalidade na gestão”. 

Cortar ou fundir ministérios, para reduzir o número total, é tudo o que a oposição quer que Dilma faça: dar um tiro no pé!

MUJICA

“Faz 20 anos que a esquerda só pensa em eleição”, alerta João Pedro Stedile

Em entrevista ao portal Sul 21, o coordenador nacional do MST questiona: “Qual é o programa que essa classe média apresenta para sair da crise? Golpe na Dilma! Mas isso não é programa, não resolve nenhuma das três crises.” 
24/08/2015
Por Marco Weissheimer,
Do Sul 21

 
 “Até agora, só foram para a rua os militantes" | Fotos: Guilherme Santos/Sul 21
Há alguns meses, ou mesmo anos, João Pedro Stédile, uma das principais lideranças do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), vem repetindo algumas advertências dirigidas à esquerda brasileira, relacionadas à evolução da conjuntura política nacional e internacional. Um dessas principais advertências consiste em alertar sobre a importância de não resumir a luta política à luta eleitoral e de não sucumbir às armadilhas da política tradicional, como abraçar o financiamento privado de campanhas como um método natural de fazer política. A crise política iniciada após a reeleição de Dilma Rousseff e a ofensiva da oposição e dos setores mais conservadores do país com o objetivo de derrubar a presidenta eleita pelo voto popular recolocou essas advertências na ordem do dia.
Na última sexta-feira, Stédile esteve em Porto Alegre para participar de um debate na abertura do 14º Congresso Estadual da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Em entrevista ao Sul21, ele falou sobre a conjugação de três crises no presente – econômica, política e social –, sobre as movimentações de seus principais protagonistas e seus possíveis desdobramentos. E apontou aquele que considera ser o principal desafio da esquerda neste período: “Construir força popular organizada. A esquerda desaprendeu a fazer trabalho de base, de conscientizar o povo, de fazer pequenas reuniões. Faz 20 anos, que a esquerda só pensa em eleição”, disse Stédile.
Sul21: Na última semana, tivemos uma nova série de manifestações contra e a favor da presidenta Dilma Rousseff e a denúncia oferecida contra o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Na tua opinião, como esses eventos influenciam no atual clima de instabilidade política que marca a conjuntura nacional?
João Pedro Stédile: O Brasil está vivendo um período muito confuso e complexo onde, a cada semana, surgem fatos que complicam mais ainda a leitura da conjuntura na qual inserem esses dois episódios que citou na tua pergunta. Essa complexidade, na avaliação do MST e dos movimentos sociais como um todo, deve-se ao fato de estarmos vivendo um período que conjugou três crises.
Temos uma crise econômica, que afeta a economia brasileira que não cresce há dois anos e deve ficar ainda mais uns dois sem crescer, com um forte processo de desindustrialização que já se reflete inclusive na classe trabalhadora, com aumento do desemprego e diminuição do salário médio. Temos também uma crise social, cuja ponta do iceberg apareceu nos protestos de junho de 2013. O governo adotou uma retórica de diálogo, porém, todos aqueles problemas sociais que eram substrato para as mobilizações de junho, nenhum deles se resolveu, pelo contrário. Os problemas da moradia, do transporte público, do acesso à universidade, todos eles se agravaram. Essa crise social ainda não eclodiu, está latente, mas existe. E, por fim, temos uma crise política cuja origem é o sequestro da democracia brasileira feito pelos capitalistas por meio do financiamento privado das campanhas eleitorais. As dez maiores empresas do país financiaram cerca de 70% dos parlamentares, processo este que gerou os Cunha da vida e os seus 300 aliados. Hoje, a população não se reconhece nos políticos. Diversas pesquisas de opinião apontam os políticos com o menor índice de credibilidade. Então, temos uma dicotomia aí. O que acontece na política não reflete na sociedade, ou só reflete negativamente.
Todos os dias nós temos evidência dessas três crises. Se lermos o Valor Econômico, por exemplo, veremos os reflexos da crise econômica. Se consultarmos os movimentos populares ouviremos relatos de todos eles sobre os problemas sociais que vem se avolumando. E, na política, é o que você citou. Todo dia temos fatos novos.
 
“A esquerda desaprendeu a fazer trabalho de base, de conscientizar o povo" 
Sul21: E quais são, na sua avaliação, os possíveis desdobramentos dessa conjugação de crises?
A dificuldade para sair dessa crise geral é que as classes ainda não se puseram de acordo sobre o que fazer. Seria preciso criar um novo bloco histórico e social que se constituísse numa maioria capaz de encontrar a saída. Isso, em geral, se materializa em períodos eleitorais. O problema é que nós acabamos de sair de uma eleição. Então, nós vamos levar quatro anos, durante todo o governo Dilma, para encontrar essa maioria. Essa é a dificuldade.
Nessas tentativas de saída de crise, o que está sendo mais ou menos sinalizado? A burguesa, no sentido clássico do termo, mais conhecida como os empresários ou o poder econômico, já apresentou a sua proposta de saída. Não é um programa formalizado, mas vem sendo apresentado em suas reuniões e discursos. Essa proposta consiste em realinhar a economia brasileira aos Estados Unidos, que foi um pouco o que aconteceu em 1964. A ideia é que os americanos venham para cá, invistam e tirem a economia da crise, ampliando o mercado para as empresas brasileiras que entrariam de maneira subalterna numa relação com a economia industrial norte-americana. Em segundo lugar, consiste em diminuir o papel do Estado, que hoje se expressa nas propostas de cortar gastos sociais, de diminuir o número de ministérios, de diminuir os gastos com a Previdência, etc. Tudo isso é firula para voltar a velha tese de que o mercado é que resolve. Em terceiro lugar, é diminuir o custo da mão de obra. Esse é o programa deles, que ainda não pode ser explicitado, pois, em sua essência, esse programa é o neoliberalismo, que foi derrotado nas últimas quatro eleições. Eles não podem simplesmente apresentá-lo de novo. Precisam dourar a pílula.
Então, a burguesia está fazendo esse movimento para tentar construir uma maioria em torno do seu programa. Como fazem isso? Pautando essas propostas no Congresso Nacional. Todas as iniciativas do bloco do Eduardo Cunha caminham na direção desse programa: diminuir custo, diminuir Estado, privatizações, abrir a economia e reaproximá-la com os Estados Unidos. Além disso, também pautaram o Judiciário e a grande mídia comercial, da qual a Globo é a grande porta-voz. Esse movimento representa o maior grau de unidade que eles conseguiram até agora, com manifestações da Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro), do Renan Calheiros, presidente do Senado, e com setores do PSDB. Tenho absoluta convicção, pela recente entrevista do Mendonça de Barros, que Serra e Alckmin, embora não possam aparecer publicamente, concordam com esse programa. Mas eles não podem aparecer.
Sul21: Você referiu o movimento que vem sendo articulado pelo grande empresariado e seus braços políticos para a superação da crise. E quantos aos demais setores da sociedade, é possível vislumbrar alguma movimentação que busca saídas para os atuais impasses?
Nós temos outro segmento, que é a chamada classe média, ou pequena burguesia como denominava Marx. Estamos falando aqui daquela classe média que o Marcio Pochmann menciona no Atlas da Exclusão Social, que, pela renda que tem, representa entre 5 e 10% da população e que sonha um dia em virar burguesia. Qual é o programa que essa classe média apresenta para sair da crise? Golpe na Dilma! Mas isso não é programa, não resolve nenhuma das três crises. Por isso que a burguesia, que é mais esperta, está dizendo para eles: Calma, vocês podem ficar latindo aí na Paulista, em Copacabana, mas isso não é saída para a crise.
O próprio Temer disse isso para eles quando afirmou que não adiantava colocá-lo no lugar da Dilma, pois a crise tem outras raízes. Pelo contrário, se houvesse um golpe institucional, se criaria uma quarta crise, uma crise institucional, que levaria os movimentos sociais e populares para as ruas. Isso desarrumaria todas aquelas regras do Estado burguês que, apesar da crise política, todo mundo segue respeitando. Se isso acontecesse, por que não poderíamos, por exemplo, pedir o impeachment do Sartori ou do Alckmin, cujas campanhas também foram financiadas por empresas privadas. Então, a saída dessa classe média é burra. A nossa sorte, e a deles também, é que representam uma parcela muito pequena da sociedade. É por isso que as mobilizações deles não aumentam. E tem que ser feitas sempre no domingo, né? É muito mais um festival, ao qual eles têm direito, do que propriamente uma luta política.
Do lado de cá, temos a classe trabalhadora, que não está conseguindo apresentar um programa de saída para a crise. Neste momento, as direções de organizações como CUT, UNE, MST, os movimentos de luta pela moradia, estão tentando unificar uma agenda. O que conseguimos construir de unidade até aqui é um programa defensivo contra o golpe, em defesa dos direitos, contra o neoliberalismo, ou seja, é uma defesa do passado, não é avançar como nós queremos. Então, para a classe trabalhadora também está sendo difícil construir um programa propositivo capaz de retomar a ofensiva na direção das mudanças que defendemos. Essa é uma dificuldade real e é neste ponto em que nós estamos.
Sul21: Quais as perspectivas de superar essa dificuldade?
Espero que, nos próximos meses consigamos avançar na direção desta unidade da classe trabalhadora para construir um programa, não defensivo, mas que apresente propostas para a saída das crises econômica, política e social. Talvez já tenhamos uma maior unidade no tema da crise política, com a defesa de uma Reforma Política construída por meio de uma Assembleia Nacional Constituinte. Este Congresso não fará essa reforma e os partidos não têm força para aprová-la no cenário atual. No fundo, a saída de um programa construído pela classe trabalhadora vai depender de um componente que ainda não está no cenário, que é a classe trabalhadora se mobilizar e ir para a rua. Até agora, só foram para a rua as mediações, os militantes. A grande massa segue sentada em casa assistindo tudo pela televisão. Por isso que as nossas mobilizações também têm mantido o mesmo tamanho.
Contudo, essa massa e as nossas mediações têm uma arma potente que ainda não foi usada: a greve geral, que afeta diretamente o lucro dos capitalistas. A perspectiva de parar a produção um dia, dois dias, uma semana, coloca em pânico a burguesia. No fundo, esse é o maior medo que eles têm. Por isso não querem ver o circo pegar fogo, pois a lona cairia também sobre as suas cabeças.
Sul21: Você mencionou algumas organizações há pouco que estão tentando unificar uma agenda comum e não mencionou nenhum partido político entre elas. Considerando que o partido que vem governando o Brasil há 13 anos atravessa uma série crise política e os demais partidos de esquerda parecem não ter força para apresentar uma alternativa, a conjuntura está convocando os movimentos sociais a assumir um maior protagonismo, a exemplo do que ocorreu na Bolívia há alguns anos?
É evidente que os partidos políticos no Brasil, tanto os da burguesia quanto os da esquerda, estão em crise. Os da burguesia foram substituídos pela Globo. Quem dirige ideologicamente as ideias da direita no Brasil é a Globo. Os dirigentes partidários da direita brasileira estão completamente desmoralizados. Estão aí os Eduardo Cunha, os Ronaldo Caiado da vida. E a esquerda precisa fazer uma autocrítica séria porque caiu só no eleitoralismo e, mesmo nesta esfera, não se preocupou em defender uma reforma política. Ao invés disso, fez o jogo da burguesia, abraçando o financiamento privado das campanhas e caindo na arapuca que a Lava Jato expressa. Se não mudarmos as regras políticas, não vai ser de dentro dos partidos que virá a solução. Os partidos já estão enlambuzados. Uma reforma política rejuvenesceria os partidos mas estes não têm força para colocar massa na rua em defesa dessa reforma. Então, isso só poderá ser feito por meio de uma ampla coalizão de todas as forças populares, com todas as formas de mediação de que a classe trabalhadora dispõe, sejam pastorais, sindicatos, movimentos populares, partidos, etc.
Agora não é o momento de discutir quem vai ser protagonista, mas sim de juntar todas as forças para fazer um debate na sociedade e junto às nossas bases sobre quais são as saídas para a crise que está posta e é inegável. Eu não sei como será essa saída. Isso dependerá da correlação de forças e da dinâmica da luta de classes. Acho muito ruim queremos copiar algum exemplo. Tenho visto algumas pessoas dizendo que temos seguir o exemplo do Podemos, da Espanha, ou do Syryza, da Grécia. A história da Espanha é outra e o Tsipras durou apenas três meses. Então, cada país tem a sua dinâmica e nós, brasileiros, teremos que inventar a nossa. A ousadia que nos cabe é inventar. Quando quisemos copiar, erramos. Quisemos copiar o modelo do financiamento privado de campanhas. Deu no que deu. O componente principal da ousadia que precisamos ter é que precisamos levar esse debate para as massas e fazer com elas se mobilizem e decidam ir para as ruas, criando uma efervescência, um novo dinamismo na política brasileira. No meio dessa efervescência, também vão surgir novos líderes. Não adianta ficar olhando para trás e procurando onde estão os líderes do passado. A dinâmica da luta de classes vai forjar novas lideranças e novas formas de organização também.
 
 “A dificuldade para sair dessa crise geral"
Sul21: Na tua opinião, há um avanço de ideias e valores conservadores no Brasil, de uma direita mais orgânica e extremada, ou é muita fumaça o que está aparecendo nas ruas?
 Eu acho que é muita fumaça. Nas raízes do povo brasileiro há energias muito saudáveis. O povo brasileiro é solidário, trabalhador e digno. Agora, essa fumaça é resultado da hegemonia ideológica da burguesia nos meios de comunicação. A Globo é a principal responsável pela projeção desses falsos valores, desse negativismo que afirma que todo mundo é corrupto. Ela projeta essas ideias e valores todos os dias, em suas novelas, em seus noticiários. Aí devemos buscar a causa dessa fumaça que esconde a realidade. E nós não temos meios de comunicação de massa alternativos. Ficamos lutando em trincheiras, com uma página aqui, um boletim ali. Não temos um meio de comunicação nacional que consiga fazer esse debate com a sociedade. O que está faltando na sociedade brasileira é debate sobre os seus problemas e suas possíveis soluções.
Sul21: Neste momento, há vários grupos se reunindo e discutindo a necessidade de formação de novas frentes de esquerda e de setores progressistas da sociedade. Esses grupos vêm conversando entre si?
Do ponto do vista do diagnóstico, todo mundo está com a mesma leitura, ou seja, que a crise é grave, complexa e vai demorar. Mas não há unidade quanto às possíveis saídas. Não tem um programa. Como estão se movendo as forças, acredito que teremos várias frentes. Nós estamos colocando energia na construção de uma que já tem nome, a Frente Brasil Popular, que junta partidos tradicionais, movimentos populares, a UNE, o Levante Popular da Juventude, as pastorais, entre outras organizações. Nós vamos fazer uma conferência nacional dia 5 de setembro em Belo Horizonte para ver se avançamos em nosso programa. Mas acredito que outros grupos de esquerda vão formar outras frentes, alguns porque tem uma vocação mais eleitoral e querem tirar proveito dessa crise do PT.
No entanto, não creio que uma frente de esquerda limitada em sua base social, por mais clareza ideológica que tenha, consiga acumular força. Agora, mais do que saber para onde tu tem que ir, é preciso ter força social acumulada. E, em períodos de crise, para ter essa força social acumulada, é preciso contar com todos os que querem mudanças, sem exclusão ideológica. No caso da Frente Brasil Popular, o espectro de forças com que estamos trabalhando é quem votou na Dilma no segundo turno, que não são poucos. Se conseguirmos aglutinar numa frente cerca de 54 milhões de brasileiros, teremos uma força suficiente para impulsionar mudanças dentro do governo e se preparar para o pós-Dilma.
Sul21: Uma última questão. Se fosse possível definir numa frase o principal desafio que a esquerda brasileira tem hoje, qual seria ela na tua opinião?
Construir força popular organizada. A esquerda desaprendeu a fazer trabalho de base, de conscientizar o povo, de fazer pequenas reuniões. Faz 20 anos, que a esquerda só pensa em eleição. Temos que parar um pouco de pensar em eleição. Não que a eleição não seja importante. Claro que é importante, pois faz parte da democracia. Nós temos feito bons diálogos com o Tarso (Genro) no sentido de que a esquerda precisa recuperar mais o Gramsci. Como viveu num momento de crise do movimento operário italiano, ele tem reflexões que são apropriadas para o período que estamos vivendo. Entre as várias contribuições de Gramsci, uma delas é essa visão de que na luta por mudanças sociais, a luta de classes se manifesta em todos os espaços da vida social. Aparece numa rádio comunitária, num sindicato, num bairro, numa igreja, num jornal, numa fábrica, no comércio, numa praça. Todos são espaços de disputa. E nós, no passado recente, reduzimos tudo isso à disputa eleitoral.
Precisamos preparar a classe trabalhadora para que ela possa disputar, com as suas ideias, todos os espaços da vida social, pois tudo isso é poder político, não só o governo. Para isso, precisamos também recuperar o trabalho de formação de militantes, que a esquerda abandonou. Há uma juventude aí que está a ver navios. A formação política é o casamento permanente entre luta de massas e formação teórica. E a esquerda não fez nenhuma das duas coisas neste último período. A luta de massa foi reduzida à eleição e a formação teórica foi abandonada. Felizmente, a direita está recolocando em nossa pauta a importância da luta de massa. Se não formos para a rua disputar com eles, eles vêm pra cima de nós.
http://brasildefato.com.br/

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

EU SÓ PEÇO A DEUS - PRECE DE GANDHI





Eu só peço a Deus

Que a dor não me seja indiferente
Que a morte não me encontre um dia
Solitário sem ter feito o qeu queria

Eu só peço a Deus
Que a dor não me seja indiferente
Que a morte não me encontre um dia
Solitário sem ter feito o que eu queria

Eu só peço a Deus
Que a injustiça não me seja indiferente
Pois não posso dar a outra face
Se já fui machucada brutalmente

Eu só peço a Deus
Que a guerra não me seja indiferente
É um monstro grande e pisa forte
Toda fome e inocência dessa gente


Eu só peço a Deus
Que a mentira não me seja indiferente
Se um só traidor tem mais poder que um povo
Que este povo não esqueça facilmente


Eu só peço a Deus
Que o futuro não me seja indiferente
Sem ter que fugir desenganando
Pra viver uma cultura diferente

terça-feira, 25 de agosto de 2015

O AMOR.


O amor entre duas pessoas é de difícil compreensão também porque se manifesta nos campos concreto, abstrato e etéreo, já que ele mobiliza corpo, mente e espírito. Assim, percebo esse amor como um encontro de corpos, mentes e almas. Um encontro eterno porque, uma vez sentido, ele é inesquecível e irremovível da energia cósmica. Entretanto, entre duas pessoas o amor só vive, e não apenas existe, se ele for manifestado! Se ele transpuser os limites do sentir e se mostrar pelo agir. Entre duas pessoas não basta sentir o amor. Ele precisa estar em ação: é preciso amar! Prossigo sem definir o amor entre duas pessoas, mas reafirmo que amar é o amor em ação, é o gesto do sentimento, é o agir do sentir.”


Golpe de Classe: Fortuna de ricos brasileiros não paga Imposto de Renda (São mais de R$ 200 bi por ano isentos)

Ricos não pagam Imposto de Renda
Ricos não pagam Imposto de Renda
Lei de 1995 beneficia 71 mil brasileiros ricos que não pagam Imposto de Renda. Fim da isenção renderia meio ajuste fiscal.
André Barrocal, via CartaCapital e reblogado do Blog Limpinho e cheiroso
O leão do Imposto de Renda mia feito gato com os ricos, como atestam dados recém-divulgados pela própria Receita Federal. Os maiores milionários a prestar contas ao fisco, um grupo de 71.440 brasileiros, ganharam em 2013 quase R$200 bilhões sem pagar nada de Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF). Foram recursos recebidos por eles, sobretudo, como lucros e dividendos das empresas das quais são donos ou sócios, tipo de rendimento isento de cobrança de IRPF no Brasil.
Caso a bolada fosse taxada com a alíquota máxima de IRPF aplicada ao contracheque de qualquer assalariado, de 27,5%, o País arrecadaria R$50 bilhões por ano, metade do fracassado ajuste fiscal arquitetado para 2015 pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Detalhe: os 27,5% são a menor alíquota máxima entre todos os 116 países que tiveram seus sistemas tributários pesquisados por uma consultoria, a KPMG.
A renda atualmente obtida pelos ricos sem mordidas do IRPF – R$196 bilhões em 2013, em números exatos – tornou-se protegida da taxação há 20 anos. No embalo do Consenso de Washington e do neoliberalismo do recém-empossado presidente Fernando Henrique Cardoso, o governo aprovou em 1995 uma lei instituindo a isenção.
O paraíso fiscal foi criado sob duas alegações. Primeira: as empresas responsáveis por distribuir lucros e dividendos aos donos e sócios já pagam IR como pessoa jurídica. Segunda: com mais dinheiro no bolso, os ricos gastariam e investiriam mais, com vantagens para toda a economia. Argumentos com cheiro de jabuticaba, sendo que o segundo foi recentemente derrubado pelo Fundo Monetário Internacional em um relatório sobre o qual pouco se falou no Brasil. Na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), organismo a reunir 34 países desenvolvidos, só a Estônia dá a isenção.
Marcio_Pochman01
“No Brasil, quem mais reclama são os que menos pagam impostos”, diz Marcio Pochmann, ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). “A Receita é uma mãe para os ricos, o Ministério da Fazenda é o ministério social dos ricos.”
A boa vida garantida pelo fisco aos donos e sócios de empresas ajuda a explicar algo curioso. O Brasil tornou-se uma pátria de empresários nos últimos tempos. Possui mais gente nesta condição (7 milhões apresentaram-se assim na declaração de IR de 2014) do que a trabalhar como empregado do setor privado (6,5 milhões). É a famosa terceirização, com profissionais contratados na qualidade de PJ, não via CLT.
A transformação de trabalho em capital é um fenômeno mundial, mas parece ainda mais “disseminada” e “impetuosa” por aqui, diz o economista José Roberto Afonso, professor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas e autor do estudo Imposto de Renda e Distribuição de Renda e Riqueza no Brasil. Para ele, é urgente debater o assunto.
“O governo comemorava uma redução da concentração da renda, mas só considerava a de salários e a declarada nas pesquisas censitárias”, afirma Afonso. “Se formos considerar também o declarado ao Imposto de Renda, se descobre que daquelas pesquisas escapam parcela crescente e majoritária das rendas de brasileiros de classe média e alta, que passaram a receber como pessoa jurídica.”
O fim da isenção de IRPF sobre lucros e dividendos, conta um ministro, era uma das medidas no bolso do colete de Dilma Rousseff para ajudar no ajuste fiscal. O problema, diz este ministro, é o provável boicote do Congresso contra qualquer tentativa de taxar mais o “andar de cima”. O Palácio do Planalto não quer comprar briga em vão.
Repleto de políticos ricos e devedores de gratidão a empresários financiadores de suas campanhas, o Congresso tem uma resistência histórica a corrigir as injustiças do sistema tributário brasileiro. A Constituição de 1988 previu, por exemplo, a cobrança de um imposto sobre grandes fortunas, mas até hoje a nação espera pela aprovação de uma lei a tirar a taxação do papel. FHC chegou a propor tal lei. Mas foi como senador, antes de chegar ao Planalto.
Vez ou outra, algum parlamentar anima-se a propor tal lei. No início do ano, foi a vez da deputada carioca Jandira Feghali, líder do PCdoB, com a preocupação de direcionar os recursos só para a saúde. Com seis mandatos seguidos, ela não se ilude com a chance de aprovação de ideias como esta ou a taxação de jatinhos e iates com IPVA, outra proposta dela. “Esse é um dos Congressos mais ricos e mais influenciáveis pelo poder econômico da nossa história”, diz.
Os dados recém-divulgados pela Receita Federal sobre o IRPF talvez possam ajudar a contornar tal resistência. Neste trabalho, o fisco separou os contribuintes em onze faixas de renda, variáveis de meio salário mínimo a 160 salários mínimos mensais. Em cada categoria, podem ser vistos o número de pessoas ao alcance do Imposto de Renda da pessoa física, seu patrimônio, renda, benesses e tributação efetiva. É a mais completa e detalhada compilação de dados já feita pelo leão.
Em 2014, houve 26,5 milhões de declarações de IRPF. Aquelas 71.440 pessoas com renda isenta de quase R$200 bilhões estão no topo da pirâmide, faixa de renda superior a 160 salários mínimos por mês. Juntas, elas detêm 29% do patrimônio e 22% da renda nacionais. É como se cada uma tivesse salário mensal de R$341 mil e bens de 17,6 milhões. Apesar da riqueza, o IRPF pago por elas em 2013 somou míseros R$6,3 bilhões. Ou só 5,5% da arrecadação com IRPF.
Dados deste tipo são apresentados pelo economista francês Thomas Piketty no livroO capital no século 21, bíblia para os interessados em saber mais sobre a concentração de renda pelo planeta. O Brasil ficou de fora da obra justamente porque a Receita não tinha os dados de agora para fornecer antes. Espera-se que os acadêmicos possam estudá-los daqui para a frente.
Um dos interessados no tema é diretor de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, André Calixtre. No fim ano passado, o economista concluiu um estudo chamadoNas fronteiras da desigualdade brasileira, no qual sustentava que a distância entre ricos e pobres no País era bem maior em termos patrimoniais do que em termos de renda. E que esse padrão histórico havia se mantido apesar da distribuição de renda vista na década passada. O trabalho partia das declarações de bens entregues por candidatos a prefeito à Justiça Eleitoral em 2102.
Em uma primeira análise sobre os dados da Receita, Calixtre viu sua hipótese se confirmar. Entre 2007 e 2013, diz ele, o número de declarantes de IRPF a ganhar até cinco salários mínimos caiu de 54% para 50%, enquanto os que recebem acima de 20 mínimos permaneceu em 8,4%. Ao mesmo tempo, o estrato intermediário, a receber entre 5 e 20 mínimos mensais cresceu de 37,2% para 40,8%.
O rendimento tributável pela Receita detido por cada segmento sofreu a mesma alteração no período de 2007 a 2013. O pessoal de renda baixa morde agora uma fatia maior (de 20,9% para 21,9%), o pelotão do meio idem (de 44,2%para 47,8%), enquanto a turma do topo fica com um pouco menos (de 34,9% para 30,4%).
O problema, diz Calixtre, é que em termos patrimoniais praticamente nada mudou neste período de seis anos. As pessoas a receber até cinco salários mínimos ainda ficam com 14% do valor dos bens declarados ao fisco, aquelas situadas entre 5 e 20 têm os mesmos 27% e o andar de cima (mais de 20 mínimos) segue com 57%. “Democratizamos a renda, falta democratizar a propriedade privada no Brasil”, afirma.
luizmullerpt.wordpress.com

Bolsas: Queda mundial aponta possível agravamento da crise capitalista


Nesta segunda-feira (24) a Bolsa de Xangai caiu 8,46%, a maior queda desde 2007, influenciando as bolsas de todo o mundo. O índice FTSEurofirst 300 (principal índice europeu de ações) fechou com queda de 5,44% e perdeu cerca de 450 bilhões de euros (R$ 1,8 trilhão) em valor de mercado - pior performance desde novembro de 2008. 


  
No Brasil, após chegar a cair 6,5% durante o dia, o Ibovespa (principal índice da Bolsa brasileira) reduziu as perdas e encerrou o dia com baixa de 3,03%, a 44.336,47 pontos. É a menor pontuação de fechamento desde 8 de abril de 2009. O dólar fechou em alta de 1,62%, a R$ 3,553 na venda, o maior valor de fechamento desde 5 de março de 2003.

A coleção de más notícias, no entanto, é maior. O movimento de queda do petróleo, que já dura algumas semanas, também se acelerou nesta segunda-feira, com os preços caindo mais de 5%. Em menos de um ano, preços do petróleo caíram mais de 60%, derrubando ações de todas as petroleiras globais. Outras commodities exportadas pelo Brasil, como o minério de ferro, também enfrentam mínimas históricas.

Quando o governo, especialmente a presidenta Dilma, situava a crise brasileira no quadro de uma crise global, quase todos os comentaristas econômicos da mídia empresarial diziam que o discurso era “mera desculpa”.

Com os acontecimentos desta segunda, diversos analistas já consideram que podemos estar assistindo a um recrudescimento da crise capitalista, talvez ainda mais grave ainda do que a de 2008.
 
 

Do Portal Vermelho, com agências 

Crise nas bolsas: China pode estar mandando um recado ao mundo

 

O médico e economista Sergio Barroso, membro do Comitê Central do PCdoB, analisando para o Portal Vermelho os acontecimentos que abalaram, nesta segunda-feira (24), as bolsas de valores ao redor do mundo, chama a atenção para alguns aspectos desta crise. 


  
Em primeiro lugar, Barroso lembra que não se pode colocar a China como a deflagradora desta turbulência: “A verdade é que o capitalismo está em crise. Há vários anos que a realidade econômica mundial é de estagnação ou baixo crescimento. Diante disso, a especulação financeira, através da ultra valorização de ações, bônus e títulos, só fez aumentar, nos EUA e na Europa. E mais: todas as propostas de regulamentação da ciranda financeira, que surgiram logo após a crise de 2008, foram engavetadas”. Sérgio Barroso recorda ainda que a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) já havia apontado em maio deste ano, que a economia americana estava em plena desaceleração, “ou seja, a realidade da economia americana, ao contrário do que dizem alguns, continua sendo a de uma economia em desaceleração”, diz o dirigente comunista.

China: Movimentos conscientes

Quanto à política econômica da China, Barroso analisa que os movimentos chineses são conscientes e atendem a objetivos específicos: “a China tem o controle quase completo de sua economia. As duas desvalorizações cambiais promovidas pelos chineses buscam, em primeiro lugar, através do estímulo às exportações, garantir a meta de crescimento de 6,5% a 7% em 2015, crescimento excepcional diante do quadro mundial”. Barroso ressalta que a China tem excelentes condições para enfrentar solavancos como os de hoje, pois conta com uma reserva de aproximadamente 4 trilhões de dólares, sendo 1,7 trilhão em títulos do tesouro americano.

A China também luta para que a sua moeda seja internacionalizada, e para isso pleiteia a inclusão do yuan na cesta de moedas do “Direito Especial de Saque”, do FMI, coisa que até agora não foi alcançada por pressão dos EUA. Assim, Barroso não descarta inclusive que a China esteja lembrando a todos sobre seu atual peso e influência: “A China pode estar dizendo: quando eu fico gripada, o mundo pega pneumonia”.


 Da Redação
http://www.vermelho.org.br/

A China e o cemitério das nações


Por Saul Leblon, no site Carta Maior:

A ideia de que o Brasil não tem mais jeito é poderosa, conta com avalistas de peso.

Interesses antipopulares, em qualquer época, acalentam esse horizonte sem ponto de fuga, onde se possa acuar qualquer iniciativa que desafie a lógica conservadora. 

Essa por exemplo: dar a Moro o que é de Moro; e devolver à sociedade brasileira a prerrogativa de organizar o seu desenvolvimento, recapacitar suas empreiteiras, resgatar projetos estratégicos, descongestionar o futuro, o investimento, o emprego e a renda.

‘Não, não, não , isso não pode, é pênalti’, apita o bandeirinha José Serra.

Do camarote cativo que lhe concede o jornalismo isento, o tucano crocita como se fora ave de outra cepa.

Não há esperança, insiste, os dedos longos estendidos como bisturis a lancetar o futuro. 

‘No governo Jango, o Brasil ao menos estava dividido’, recorda, testemunha ocular daquele golpe. 

‘Hoje a rejeição é total’, constata agora do outro lado da mesa, onde passou a ocupar o papel de embaixador da Chevron nesse tratado de Viena em gestação, no qual preconiza transformar poços do pré-sal em reparações de guerra servidas aos mercados.

Quando? Assim que a saturação do 'consenso' virar outra coisa.

Talvez aquela que os editoriais de março de 1964 exprimiam em garrafais exclamativas, do tipo ’Basta!’; ‘Fora!’

Serra viveu aquilo; ele sabe que consensos são construções transitórias. 

Não raro postiças.

Caso da rendição incondicional que se exige hoje da sociedade, em agendas que magnificam os desafios da nação para desmantelá-la.

Os imperativos de ontem, assim como os ajustes e hoje, viram fumaça porém quando o futuro ganha a largueza de uma outra lógica, que redefine a correlação de forças e a alocação dos recursos, pavimenta pactos e linhas de passagem para destravar o desenvolvimento.

O economicismo veta (‘não, não há saída antes de piorar’). 

Mas o economicismo é a soberba da razão e não o motor da história.

Política é economia concentrada. 

Os exclamativos alardeados em 1964 demonizavam os conflitos do desenvolvimento como ameaças à democracia.

Dados coletados pelo Ibope então mas não divulgados (e hoje armazenados na Unicamp), mostravam uma realidade distinta da ira consensual sentenciada pelas aves de agouro da época.

Nos dias 20 e 30 de março de 1964, quando a democracia já era tangida ao matadouro pelos seus paladinos, pesquisadores constatavam nas ruas que 59% dos brasileiros apoiavam as medidas anunciadas pelo Presidente João Goulart para enfrentar a crise.

Uma parte delas seria oficializada na famosa sexta-feira, 13 de março.

Em comício na Central do Brasil, ‘Jango’ assinaria então vários decretos que expropriavam terras às margens das rodovias para a reforma agrária, nacionalizavam refinarias, sinalizavam a reforma urbana, fiscal e educacional.

Tudo o que era demonizado pelo jogral golpista como se fora a voz da sociedade era apoiado pela parcela majoritária da população.

Estamos falando de 1964 ou de 2015?

Dos dois.

Um aparato midiático interliga os calendários com a mesma determinação de ocultar elementos da encruzilhada econômica, exacerbar adversidades, manipular o debate e interditar as reformas requeridas nas transições de ciclo de desenvolvimento.

Foi assim que se modelou a opinião pública para o golpe em 64, mesmo contra o discernimento majoritário da população sobre as ‘reformas de base’.

O martelete da corrupção e do comunismo imobilizou esse discernimento.

Em grande medida foi assim também que se logrou convencer o governo reeleito em 2014 de que nada mais restava do que renunciar ao seu programa para adotar o do adversário.

Caso contrário, um meteoro atingiria o país para desintegrá-lo.

Um pouco como a fatalidade crocitada por Serra, que não informa o que nos reserva o day after de seu vaticínio.

Mas há pistas.

Siga o dinheiro. 

Ou as entrevistas do ex-presidente do BC, no governo Fernando Henrique Cardoso, Armínio Fraga

Cogitado para comandar a economia em qualquer governo conservador, sua receita –reiterada no Valor, na semana passada, é tão peremptória quanto os imperativos de 64.

O país precisa de uma faxina econômica – ‘como a que fizemos em 1999’, diz ele.

O que eles fizeram em 1999?

Lançaram as fundações daquilo que debitam agora exclusivamente à lista de pecados de Lula e Dilma.

Valorizaram a moeda artificialmente para criar a pretensa bonança do Real forte, com base em importações baratas. 

Essa foi a pré-compra da reeleição. 

Perto disso, os R$ 200 mil do deputado Ronivon foi troco de pinga.

A desindustrialização alçou voo aí para não mais aterrissar.

A decolagem abriu um buraco nas contas externas equivalente a 4,3% do PIB no ano seguinte ao da reeleição.

A purga veio na forma de uma maxidesvalorização que se pretendia ‘controlada´ em 8%.

Isso era o que se dizia em 1º de janeiro de 1999.

No dia 29 ela já havia batido em 60% (fatiando assim o poder de compra da famílias assalariadas).

A taxa de juro foi calibrada então para segurar o rebote dos preços desprovidos da âncora dos importados.

Armínio deu ao mercado financeiro local e global uma Selic real (acima da inflação) de 22% . Hoje está perto de 8% e Serra, distraído, diz que isso é uma calamidade.

É mesmo, mas o passado a relativiza.

O salário mínimo (ajustado p/ efeito de comparação aos preços de 2011) despencaria de R$ 414 reais em 1990 para R$ 287 reais após a purga.

Juros em alta, dívida pública em escalada sideral, salários pelo ralo.

Foi isso que ‘fizemos’ em 1999.

O país só escapou do precipício porque havia um vento à favor no mercado mundial.

O dólar forte levaria os EUA às compras; a fome chinesa por commodities ganhava corpo; os saldos comerciais incentivariam a América Latina a importar manufaturados do Brasil.

Esse mundo acabou.

E o que começou será fortemente modelado por aquilo que a China anuncia como sendo o seu ‘novo normal’.

A saber: esgotamento do ciclo puxado por taxas de investimento de 45% do PIB (Brasil, 17,5%) e menor demanda por matérias primas.

Não só.

A transição chinesa vem se fundir à longa convalescença da desordem neoliberal inaugurada em 2008 e sem prazo para acabar.

Os impactos já são palpáveis.

A anemia do comércio mundial emparedou as economias emergentes, tirou o canal de recuperação da Europa e rebateu nas vendas da China.

A resposta de Pequim adicionou lava vulcânica à fervura com uma desvalorização cambial que pode contagiar o mundo.

Só na semana passada, o rublo sofreu uma depreciação de 5,3%; o peso colombiano, de 4,1%, o peso mexicano, 3,2% e a lira turca, quase 3%.

Em contrapartida, o dólar valorizado derrubou as exportações norte-americanas em quase 3% no 1ºsemestre.

E as importações não escaparam de uma retração de 2,2% evidenciando (ademais do fator petróleo) o calcanhar de Aquiles que impede Obama de ser um Roosevelt : a corrosão estrutural do poder de compra das famílias assalariadas e da classe média antes afluente.

O maior mercado capitalista do planeta arfa com os pulmões do consumo comprometidos.

Obama paga a fatura de quatro décadas de ventos neoliberais em que a pujança econômica se dissociou da oferta de empregos de qualidade, realocados com a indústria para o desfrute dos custos asiáticos.

No momento em que o dínamo chinês patina, o mundo percebe as estreitas interações do metabolismo capitalista, agora desprovido de qualquer ponto de apoio dinâmico.

Tudo o que é sólido se desmancha no ar.

Na semana passada, a indústria chinesa crescia ao ritmo mais baixo desde 2009; a dos EUA, no mais baixo dos últimos dois anos. 

A correia sino-americana que puxava o mundo travou.

Entre 15% e 20% do faturamento global das múltis dos EUA ocorrem na China (e Japão). Se essa endogamia entra em litígio, o que sobra?

O 'novo normal'.

A China cresce menos, o comércio global encolhe, os EUA patinam , a Europa desidrata, o mundo emergente regride e a guerra cambial se impõe.

Pergunta aos Armínios e Levys:

--Esse miserável mundo novo recomenda a adoção de uma ajuste baseado em arrocho fiscal, esfarelamento do poder de compra interno, desemprego, juros recessivos e retração do investimento público?

Como ‘fizemos’ em 1999?

E se não der certo agora no mundo contraído de 2015?

Como de fato já não deu o lacto purga de Levy. Esse que acentuou a recessão, elevou a inflação, derrubou a receita fiscal e vitaminou o déficit público que se pretendia reduzir.

Arroche-se ainda mais –‘como fizemos em 1999’, insiste o perseverante Armínio no seu parlatório no Valor.

Até? 

Até emergir o milagre da contração expansiva. Essa fé ortodoxa na ressurreição que sanciona catástrofes sociais e humanas em nome de um equilíbrio endógeno que o capitalismo simplesmente não pode satisfazer.

Há oito anos a população grega espera pelo milagre. Seu metabolismo econômico e social em carne viva suporta a salmoura de ajustes sucessivos.

Igual terapêutica prescreve-se agora para uma economia brasileira pecadora, ‘envenenada’ pela criação ‘voluntarista’ –dizem FHC, Armínio, Aécio e assemelhados...-- de 20 milhões de empregos em 12 anos, ademais das pressões de um mercado de massa de 100 milhões de pessoas.

Esse Brasil não cabe no orçamento.

É o que sibila o cerco à Constituição de 1988.

O recado que unifica as redações mostra que o tanquinho de areia de Kim Catupiry é coisa séria: despesas obrigatórias consagradas pela Carta Cidadã proclamada pelo digno brasileiro Ulysses Guimarães estão na alça de mira de uma curetagem conservadora

Com que finalidade?

‘Transformar direitos universais em serviços pagos’, adverte a professora Marilena Chauí em suas aulas públicas.

Ou para dizer a mesma coisa em uma chave política: abortar exemplarmente a ousadia de se construir uma democracia social na sétima maior economia do planeta e principal referência da luta pelo desenvolvimento, depois da China.

Passados seis meses da festejada terapia, impôs-se ao governo, felizmente, a constatação de que o aperto no crédito e no investimento –com corte de gastos e elevação de juros, jogou a economia num buraco mais fundo do que já se encontrava.

O fracasso favorece a retificação de curso?

Em parte sim

Mas o país só se libertará da lógica conservadora, de fato, se as fileiras progressistas conseguirem superar sectarismos e hesitações para promover uma verdadeira repactuação democrática do futuro brasileiro.

Não se trata de um jogo do tipo o vencedor leva tudo.

É uma negociação.

Implica desenhar linhas de passagem ordenadas por metas, concessões, salvaguardas e escalonamentos de perdas e ganhos.

As opções são duas: crise permanente à moda grega; ou o desassombro de politizar as escolhas do desenvolvimento.

A pá de cal jogada por Serra não é uma fatalidade, mas um ingrediente do acirramento da luta de classes.

Na margem do rio em que ele se encontra interessa dizer, à moda Thatcher, ‘there is no alternative’.

Há. Mas precisa ser pavimentada com a construção dos sujeitos dotados de força e consentimento para renegociar alternativas.


Erra o tucano ao não conceder à Presidenta Dilma uma base de apoio histórica.


Ela existe, objetivamente; mas aguarda a agenda que lhe dará a identidade subjetiva que a ação política requer.


O colapso da receita ortodoxa abre a oportunidade para esse resgate.

Precisa ser acionado, porém, antes que o país, seu povo e o desenvolvimento sejam mastigados pelo miserável mundo novo esboçado no novo normal do capitalismo.

Passa da hora de uma agenda que fale ao futuro de toda a sociedade.
Que dê a Moro o que é de Moro.

E à democracia a prerrogativa de contrapor o investimento à ruína. 

Devolver à sociedade o comando do seu destino era como Celso Furtado definia a essência do desenvolvimento. 

É preciso ir à essência para escapar aos coveiros que recusam ao Brasil outro destino que não o cemitério das nações.