sábado, 30 de julho de 2011

Mantega anuncia medidas que não enfrentam câmbio predatório

“O problema do câmbio, a hipervalorização artificial do real, que encarece os produtos internos e barateia as importações, destruindo a indústria com esse dumping cambial às mercadorias externas, é uma consequência dos juros inteiramente absurdos estabelecidos pelo Banco Central”
CARLOS LOPES

A consideração mais original no anúncio das novas medidas econômicas, na quarta-feira, foi a do ministro Mantega sobre suas medidas anteriores: “se não tivéssemos tomado todas essas medidas, o câmbio estaria sabe-se lá aonde”. Todos pensavam que as novas medidas eram porque o câmbio está sabe-se lá aonde... Mas, não deve ser, porque elas resolvem tanto o problema quanto as outras.

Um dia após o relatório sobre o setor externo do Banco Central (BC) revelar que em junho o capital estrangeiro que entrou (US$ 5,314 bilhões) foi inferior, em mais de US$ 2,5 bilhões, às remessas para o exterior (US$ 7,838 bilhões), mostrando o risco de depender do dinheiro externo para fechar as contas do país, o sr. Mantega estabeleceu uma taxação de fancaria no mercado futuro de dólar.

Em resumo: quem estiver apostando mais na queda do que na alta do dólar terá a diferença entre o dinheiro aplicado numa e noutra aposta taxado em “até 25%” - o que quer dizer apenas 1%, pois a assim é a matemática da Fazenda: uma taxação de 25%, na prática, é 1%.

O problema verdadeiro, os juros que atraem ondas e ondas de dólares, hipervalorizando o real e tornando o câmbio um cadafalso para a economia nacional, continuou intocado.

Quanto à ameaça de chegar a 25% de taxação sobre as apostas dos bancos, se Mantega tivesse essa coragem já teria resolvido o problema, baixando os juros e acabando com esse regime cambial (nisso o professor Delfim está certo: o câmbio é um preço da economia nacional - e a nação deve estabelecê-lo, dentro de certos limites, de acordo com seus interesses, como, aliás, faz qualquer comerciante, já que a mercadoria é sua, assim como a mercadoria do mercado de câmbio, a moeda, é nossa).

No mesmo dia, propalou-se que teria havido uma espetacular alta do dólar - de R$ 1,5345 para R$ 1,5639. Como dizia uma personagem de comédia: “francamente!?”.

O economista Júlio Gomes de Almeida, professor da Unicamp e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, resumiu, com um travo castiço, a situação depois do anúncio de Mantega: “Não há viv’alma que não ache que a moeda vai se valorizar”.

O problema do câmbio, a hipervalorização artificial do real, que encarece os produtos internos e barateia as importações, destruindo a indústria com esse dumping cambial às mercadorias externas, é uma consequência dos juros inteiramente absurdos estabelecidos pelo BC.

Bancos e demais especuladores estrangeiros invadem o país com vagões e vagões de dólares (hoje virtuais, tanto os vagões quanto os dólares), que obtiveram devido às superemissões dos EUA, para ganharem cornucópias & cornucópias monstruosas de dinheiro com esses juros.

Exemplificando: a taxa real dos juros básicos nos EUA está em -3,2% (menos 3,2%) ao ano. Com isso, em junho, as taxas de juros para empréstimos variaram entre -0,8% (menos 0,8%) e 0% (zero) ao ano, segundo o “The Wall Street Journal” do último dia 22.

Um especulador (um banco, em geral) toma emprestado a 0% ou menos nos EUA e entra no Brasil com o dinheiro, comprando títulos do Tesouro que rendem juros pela taxa do BC, que está em 12,5% nominais ao ano (ou 6,8% reais, descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses).

No momento, o país já está invadido por US$ 612 bilhões – o estoque atual de capital estrangeiro especulativo – que ganham com o tremendo diferencial de juros em relação aos países centrais e ainda ganham com o câmbio, ao reconverter o dinheiro em dólares.

No entanto, esses US$ 612 bilhões não são aplicados apenas em títulos que rendem os juros do BC. Eles não ganham apenas auferindo os juros básicos. Se fosse assim, já seria um saque descomunal, que deixaria o falecido Tamerlão com a estatura de um trombadinha. Mas é pior: esse dinheiro especula com um sem número de papéis, com um retorno médio calculado em 16,5% ao ano pela corretora japonesa Nomura Securities – mas isso foi antes dos últimos três aumentos de juros.

Assim, com essa invasão de dólares inevitavelmente atraída por esses juros, não há câmbio que resista, pois não há como evitar que o real seja mais e mais hipervalorizado, enquanto a cotação do dólar cai – e só um capadócio chamaria isso de “câmbio flutuante”.

Provavelmente, o leitor sabe disso tudo. Porém, Mantega inventou uma nova teoria: segundo ele, o problema do câmbio é o mercado futuro de dólar, aquele cassino onde se aposta na alta ou na queda do dólar em relação ao real.

Que ele tenha usado, ainda que obliquamente, o perigoso resultado das contas externas de junho para tentar mostrar que o problema não são os juros nem a invasão de dólares, somente demonstra que a adesão ao mundo dos estupidamente ricos, apesar das suas vantagens, traz consequências sérias para a saúde mental das pessoas.

O nó reside, precisamente, em que a política de Mantega é atrair dólares, inclusive dólares especulativos. Caso contrário, não consegue cobrir o rombo nas contas externas causado por essa própria política, ao desnacionalizar irresponsavelmente a economia. Ao declarar que prefere o “investimento direto” do que o dinheiro especulativo estrangeiro, apenas confessa a sua irresponsabilidade.

Com o aumento nas remessas para o exterior e nas importações, ambos provocados pela desnacionalização, e postulando ainda mais desnacionalização, não há como dispensar o dinheiro especulativo para fechar as contas. De janeiro a novembro de 2010, o país somente cobriu esse rombo com a entrada de capital especulativo (cf. BC, “Relatório do Setor Externo”, Quadro XXV, Saldo de transações correntes e necessidade de financiamento externo, julho/2011).

A situação não melhorou neste ano. Apenas, o capital especulativo passou a ser registrado como “investimento direto”. Assim, não aparece na tabela do BC como “financiamento externo”.

A consequência imediata é que Mantega não quer tomar decisões que toquem no problema do câmbio, pois sua política implica em acirrar o fator que explode o câmbio – a entrada de capital especulativo, atraído pelos juros altos.

Naturalmente, como a aventura da dupla Franco/FHC demonstrou, os especuladores não são filantropos. Não entram aqui porque o sr. Mantega está precisando cobrir o rombo que causou com a desnacionalização da economia. E, sobretudo, não deixam de sair por causa disso.

Assim, na medida em que os problemas cambiais não são resolvidos, em que se aumenta o rombo nas contas externas e se atraem dólares com juros altos, a economia fica mais vulnerável. Essa é a escalada em direção ao abismo – vamos ser claros – que é preciso frear.

O resultado de junho é, ainda, uma oscilação – mas uma oscilação significativa. Somente este ano, a entrada líquida total de capital estrangeiro foi de US$ 70,922 bilhões, com US$ 612 bilhões de estoque de capital estrangeiro especulativo. As reservas estão em US$ 343 bilhões. Nem que elas fossem nossas – e não são, pois são compostas pelos dólares dos especuladores trocados por reais, sem base no saldo comercial – esse montante conseguiria cobrir uma fuga em massa de dinheiro estrangeiro, se os bancos externos sentissem qualquer perigo para eles na situação do país. Nunca, aliás, aconteceu uma situação onde fluxos de capitais (ou de dinheiro) para países periféricos não fossem, em algum momento, revertidos – isto é, se tornassem fluxos para os países centrais.

Quanto ao mercado futuro, é mais jogo do que economia, sem as desvantagens que a Delegacia de Costumes impõe aos praticantes dessa atividade ilegal. A questão, na verdade, é: por que os jogadores estão apostando mais na queda do dólar (isto é, na hipervalorização do real) do que em sua alta? Porque querem ganhar dinheiro.

Com essas taxas de juros e sem nenhum controle cambial, sem nenhum controle do governo sobre o movimento de dinheiro ou de capitais, eles sabem perfeitamente que a invasão predatória de dólares continuará, e cada vez pior - pois, em apenas seis meses, o BC conseguiu aumentar a taxa real dos juros básicos de 4,8% para 6,8%.

Certamente, depois de apostar, eles pressionam para que o dólar caia. Assim são os jogadores, ainda mais os que jogam a economia do país na mesa verde. Porém, basta baixar os juros que, rapidamente, eles vão se livrar das apostas antigas em cima do primeiro pato que aparecer (por alguma razão, sempre há vários) e fazer apostas noutra direção.
Juiz indicado para investigar os grampos fequentava festas da família de Murdoch

O deputado trabalhista, Chris Bryant declarou que as revelações de que Brian Leveson, juiz indicado para presidir o inquérito sobre os crimes do jornal de Rupert Murdoch, frequentara festas na residência da filha deste “colocava sob questionamento a confiança pública” neste juiz como comandante das investigações.

Leveson foi indicado por David Cameron para presidir a comissão de inquérito sobre o escândalo dos grampos ilegais montados pelo jornal News of The World, de propriedade do barão da mídia inglesa.

Segundo foi denunciado nos jornais ingleses Daily Mail e Evening Standard o juiz esteve em festas na casa da filha de Murdoch em pelo menos duas ocasiões, 29 de julho de 2010 e 25 de janeiro de 2011. Leveson também jantou com o marido de Elizabeth Murdoch, Mathew Freud, que por sua vez é dono da Freud Communications, a maior empresa de Relações Públicas da Inglaterra e teria oferecido a Leveson uma consultoria gratuita (sic) sobre como melhorar a imagem do sistema judiciário inglês.

O juiz Leveson declarou que David Cameron sabia destes contatos antes de havê-lo indicado e que o jantar com Freud foi “por acaso”. Os deputados seguiram questionando o por quê da indicação de Cameron: se há tantos juizes no país por que o mais indicado seria um que tinha revelado relações sociais com familiares do principal suspeito?

Tais questionamentos surgiram ao mesmo tempo em que foi informado que o próprio primeiro-ministro tivera, desde a sua posse, 26 encontros particulares com representantes de Murdoch, em um período de 15 meses.

Além disso, também foi recentemente revelado que Cameron hospedava a ex-editora do News of the World, Rebekah Brooks e o filho de Murdoch, James, presidente do conglomerado de mídia News International, em sua casa de campo. E, mais ainda, também houve encontros particulares com os ministros de Finanças e da Cultura do governo Cameron.

O das Finanças, George Osborne, encontrou-se, desde a posse de Cameron, com integrantes do grupo de Murdoch em 16 ocasiões e da Cultura, Jeremy Hunt, em pelo menos três ocasiões. Sendo que Hunt era o responsável pela liberação da licença para aquisição da rede de TV BSkyB, na mira do conglomerado News International.

Segundo o editorial do jornal Página 12, A hora do chá era com Murdoch, “O secretário de Cultura, Jeremy Hunt, havia afirmado previamente que pensava aprovar o acordo [compra da BSkyB por Murdoch] sem uma ampla verificação das autoridades competentes”.

A compra, já inteiramente encaminhada, foi rejeitada por decisão do parlamento inglês depois que o escândalo dos grampos veio à tona.

Quanto aos entrelaçamentos entre a News International e a Scotland Yard já foi extensamente abordado, mas, com certeza, muito podre ainda vai surgir, pois a declaração da Scotland de que a morte não esclarecida do jornalista que denunciara os grampos estava fora de qualquer suspeita, antes mesmo de concluída a autópsia e com o exame toxicológico ainda por concluir, está engasgada na garganta do público inglês
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ONG britânica denuncia: WWF recebe dinheiro de desmatadores

ONG estrangeira arrecada US$ 19,3 milhões em projeto com empresas que continuam a extrair madeira em áreas de proteção de animais

Uma das principais organizações na oposição aos projetos de reforma do Código Florestal e de construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, a ONG britânica World Wildlife Foundation (WWF), recebe dinheiro e confere credibilidade a empresas que extraem madeira de “fonte indesejável”. Relatório divulgado recentemente por outra ONG britânica, a Global Witness, afirma que Rede Global de Comércio e Florestas (Global Forest and Trade Network - GFTN), com a qual a WWF amealha US$ 19,3 milhões anuais, “não está funcionando” para o seu devido fim.

“Quando o ponto de referência do esquema em nome da sustentabilidade e conservação tolera que uma de suas companhias membro destrua o habitat dos orangotangos, alguma coisa está seriamente errada”, afirmou Tom Picken, da Global Witness.

“A GFTN tem orgulho de seus sucessos, mas este relatório mostra que alguns foram super dimensionados e outros na verdade não são sucessos. A Global Witness acredita que as regras da GFTN são fracas, as estruturas de incentivo são falhas e as penalidades e monitoramento inadequados”, afirma o documento. Em bom português, é um programa para inglês ver.

A Rede Global de Comércio e Florestas é um programa da WWF que afirma reduzir o uso de madeira extraída de “forma indesejável” ou seja, “ilegal, que contribua para conflitos armados ou que sustente abusos de direitos humanos”. Começou há 20 anos e, segundo a ong, tem atualmente 288 empresas-membros que movimentam 16% do comércio internacional de produtos florestais. Confere às empresas um selo de “práticas sustentáveis” mas, a Global Witness relata pelo menos três casos de abusos que não foram informados pela WWF. 

Um deles é o da empresa malaia Ta Ann Holdings Berhad, que retirou madeira de uma área equivalente a 20 campos de futebol por dia na floresta virgem de Borneo enquanto era membro do esquema WWF. “Investigações conduzidas pela Global Witness mostram-na [a Ta Ann] trabalhando legalmente nas fronteiras de um projeto de conservação da WWF anunciado como ‘crucial para a sobreviência de espécies ameaçadas, incluindo orangotangos e leopardos’”, diz notícia publicada no jornal inglês “The Guardian”.

As empresas, diz o relatório, pagam em média US$ 3.500 por ano para entrarem no esquema que, entre 2002 e 2006 “expandiu-se dramaticamente” com o aporte de quase US$ 10 milhões da agência norte-americana para o desenvolvimento (USAID), braço do Departamento de Estado dos EUA para a ingêrencia em outros países, seguido por doações dos governos da Inglaterra, Espanha, Alemanha, Suíça, Itália, França e Holanda que, como se sabe, são grandes conservadores da natureza dos outros mas não da sua própria.

“Doações de governos e agências representaram a maior fonte isolada dos fundos [do projeto], com 27% dos US$ 19,3 milhões em custos operacionais para o período de três anos terminados em 2010. Doações corporativas (17%), a rede central da WWF (16%) e a taxa dos participantes (14%) são as outras maiores fontes de recursos no mesmo período”, informa o relatório.

Brasil

No Brasil, a WWF é uma das principais opositoras aos projetos de desenvolvimento do governo em áreas florestadas. É co-autora de uma cartilha que afirma, entre outras coisas, que a reformulação do Código Florestal brasileiro vai causar a “extinção de espécies de plantas e animais”. Mesmo sabendo que áreas de diversidade biológica e animais em risco são protegidos por leis e mecanismos institucionais. 

Também é apontada pela Agência Brasileira de Informação (Abin) como uma das militantes contra a construção da Usina de Belo Monte a serviço dos interesses de seus doadores. “Segundo o relatório anual da WWF-Brasil de 2009, menos de 9% do orçamento da instituição provém de doadores nacionais. Em 2008, a rede internacional WWF respondeu por 76% do orçamento da WWF-Brasil, acrescido de doações da Agência de Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos – USAID (R$ 2,5 milhões), da União Europeia (R$ 1,8 milhão), da embaixada da Holanda no Brasil (R$ 6 mil) e da embaixada britânica no Brasil (R$ 4 mil)”, descreve a Abin.

Sobre o esquema da WWF de conservação de madeira em florestas tropicais, a conclusão da Global Witness é que “nem as florestas nem os consumidores estão mais sendo beneficiados”.
MARIANA MOURA

O talento de Amy Winehouse e a hipocrisia da mídia

A jovem e talentosa cantora e compositora britânica Amy Winehouse morreu no sábado (23) aos 27 anos deixando uma imensa quantidade de fãs e admiradores surpresos e tristes nos quatro cantos do mundo. Ela foi cremada no dia 26 em Londres em uma cerimônia restrita à família e alguns amigos.

As características de cantora de jazz, herança da avó que também gostava do gênero, fizeram de Amy se não a melhor, uma das melhores cantoras da atualidade.

Uma voz negra, sincera, verdadeira num corpo de menina irrequieta, inconformada com um mundo errado que não sabia como mudar. E ela só “precisava de um amigo”. Cantava esse sentimento. Daí sua empatia com a juventude em todo o mundo e os milhões de discos vendidos num mercado fonográfico onde era uma das raras cantoras atuais de talento a vender muitos discos.

Sua morte não foi exatamente uma surpresa. A entourage que a cercava não parecia se preocupar com sua saúde; a dependência de drogas e álcool gerava manchetes sensacionalistas espertamente utilizadas como marketing.

O álcool e as drogas que ingeria eram considerados “aceitáveis” pelos que lucravam com sua fragilidade. Ainda que isso significasse que sua vida estava por um fio e que o pior poderia acontecer.

Assim tentava-se anular o que havia de melhor, de mais profundo e de mais verdade no cantar de Amy que se entristecia a cada dia. Isso a confundia e torturava. Isso a destruía. Fugir dessa engrenagem tornou-se difícil.

O carinho demonstrado por fãs, por todos que sentiram sua morte por que compreenderam sua vida, nos dá a certeza de que Amy morreu, mas não se entregou à farsa e a hipocrisia que a rodeava. Não se dobrou aos padrões estabelecidos pelos que hegemonizam no mundo o poder reacionário sempre em busca do lucro máximo.

A verdade de Amy não saiu na mídia que se nutre dos escândalos que ela própria fabrica e que agora “chora” sua morte prematura. Mas seu canto viverá, imortal, nos corações dos jovens e das pessoas sensíveis no mundo inteiro.
ROSANITA CAMPOS
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O tempo dos líbios e o terrorismo dos EUA: um povo determinado a vencer

Na Líbia há mais democracia que nos EUA, afirma MBA de Harvard


“Os líbios estão armados, prontos para defender seu país contra os invasores porque Kadafi forneceu dois milhões de armas a civis, mais do que suficiente para derrubá-lo, se quisessem. Mas eles não o fazem!”, diz Stephen Lendman.


Obama despreza os valores democráticos. Os líbios, maciçamente unidos atrás de Kadafi, lançam sua mensagem a outras vítimas imperiais: não desistir


STEPHEN LENDMAN*

A 14 de julho, a matéria principal da DEBKAfile, agência de notícias ligada ao Mossad, era “Termina a guerra da Líbia. Obama faz de Moscou o mediador da paz”, e dizia:

“… a guerra na Líbia terminou virtualmente na quinta, 14 de julho, pela manhã, quando o presidente dos EUA, Barack Obama, ligou para o presidente russo, Dmitry Medvedev, para entregar a Moscou o papel de liderança nas negociações com Muammar Kadafi para terminar o conflito – com a condição única de que o governante líbio se demita em favor de um governo de transição”.

Mais, sobre a exigência de Obama, abaixo. Por enquanto, o bombardeio terrorista dos EUA à Líbia continua inabalável, apesar do comunicado do Gabinete do Secretário de Imprensa da Casa Branca, a 13 de julho, dizendo que Obama agradeceu “os esforços da Rússia para mediar uma solução política na Líbia, enfatizando que (Washington) está preparada para apoiar negociações que levem a uma transição democrática... tão logo (Kadafi) seja excluído”.

Na verdade, Obama despreza os valores democráticos tanto no exterior quanto em casa, noções intoleráveis que ele não aceita, nem a paz, travando, sem parar, múltiplas guerras imperiais. Na Líbia, além disso, a questão não é Kadafi. A questão é colonizar outro país, controlar seus recursos, saquear suas riquezas e explorar seu povo - o objetivo de sempre dos EUA.

A 15 de julho, Washington e cerca de 30 países europeus e do Oriente Médio reconheceram ilegalmente os líderes revoltosos como governo legítimo da Líbia – o assim chamado Conselho Nacional de Transição (CNT). Reunidos em Istambul (sem a China e a Rússia), o Grupo de Contato da Líbia emitiu uma declaração, dizendo:

“De agora em diante, e até que uma autoridade interina seja constituída, os participantes concordaram em tratar o CNT como a autoridade governamental legítima na Líbia”.

Foi acrescentado que Kadafi não tem mais legitimidade e deve deixar a Líbia com sua família.

Explicando o que é claramente ilegítimo, a secretária de Estado Clinton disse:
“Nós ainda temos de trabalhar vários aspectos legais (em outras palavras, evitá-los totalmente), mas esperamos que este passo no reconhecimento capacitará o CNT a ter acesso a fontes adicionais de financiamento”, incluindo US$ 30 bilhões dos acima de US$ 150 bilhões roubados da riqueza da Líbia, e, além disso, seus abundantes recursos em petróleo, gás e água, que têm um valor multiplicado por muito mais.

Ao mesmo tempo, a frustração cresce após quatro meses de impasse nas operações terrestres e aéreas. Como resultado, apesar de dizer que Kadafi deve sair, alguns parceiros da OTAN parecem dispostos a deixá-lo ficar, embora não com seu poder atual.

Kadafi, na verdade, promete nunca deixar a Líbia ou render-se aos insurgentes ou a OTAN. Em comunicado ouvido pelo rádio em 16 de julho, ele disse aos que o apoiam:

“Eles estão me pedindo para deixar o país. Isto é uma risada. Eu nunca vou deixar a terra dos meus ancestrais ou as pessoas que se sacrificaram por mim. Depois de termos dado nossos filhos como mártires, não podemos recuar ou nos render ou desistir ou nos mover um centímetro”.

Os líbios o apoiam esmagadoramente, mobilização registrada em imagens (e relatórios) que a grande mídia suprime, mas pode ser acessada através do seguinte link: http://globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=25630.
ttp://globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=25630.

Ninguém os chamou. Ninguém exigiu apoio a Kadafi. Eles vieram por si próprios, o que geralmente acontece quando as nações são atacadas ilegalmente. As pessoas reúnem-se esmagadoramente atrás dos líderes contra os agressores estrangeiros. Os líbios conhecem Washington e a OTAN, não é Kadafi o seu inimigo.

Além disso, eles estão armados, prontos para defender seu país contra os invasores porque Kadafi forneceu dois milhões de armas a civis, mais do que suficiente para derrubá-lo, se quisessem. Mas eles não o fazem!

DEBKA também disse que:
“A partir de 9 de julho, fontes militares relataram que a OTAN interrompeu seus ataques aéreos contra alvos pró-governo em Trípoli e em outros lugares. A suspensão, embora não anunciada, foi, apesar disso, uma admissão de que 15 mil missões de vôo (na verdade 15.308 até 15 de julho) e 6.000 (na verdade 5.767 até 15 de julho) bombardeios de alvos de Kadafi fracassaram em atingir seu objetivo”.

De fato, o site da OTAN (http://www.aco.nato.int/page424201235. Aspx) afirma o seguinte:
9 de julho: 112 voos de reconhecimento efetuados, incluindo 48 missões de ataque;

10 de julho: 139 voos de reconhecimento efetuados, incluindo 54 missões de ataque;

11 de julho: 132 voos de reconhecimento efetuados, incluindo 49 missões de ataque;

12 de julho: 127 voos de reconhecimento efetuados, incluindo 35 missões de ataque;

13 de julho: Nenhum dado publicado. O padrão acima provavelmente continuou.

14 de julho: 132 voos de reconhecimento efetuados, incluindo 48 missões de ataque.

15 de Julho: 115 voos de reconhecimento efetuados, incluindo 46 missões de ataque.

Informando de Trípoli em 17 de julho, Mahdi Nazemroaya, analista de Oriente Médio/Ásia Central, escreveu por e-mail que “a primeira noite foi muito ruim aqui. Eles bombardearam como loucos e tudo estava tremendo”.

Ele elaborou um artigo no Global Research, que pode ser acessado através do seguinte link: http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=25658.

Classificando-a como uma noite de “blitzkrieg”, ele mencionou “grandes explosões... ouvidas à distância. Múltiplas áreas urbanas foram bombardeadas simultaneamente esta manhã”.

De acordo com testemunhas, cerca de 60 a 75 bombas acertaram Tajura (14 km a leste de Tripoli), área da cidade de Seraj. Continuando um padrão regular, alvos civis foram atingidos, incluindo áreas residenciais. A 16 de julho, a televisão estatal Líbia informou que a maioria das vítimas foram civis, sem citar números específicos.

Até agora, de fato, para cada combatente morto, 10 civis foram mortos como resultado de bombardeios sobre localidades não-militares, incluindo comunidades residenciais.

Durante a noite, perto das áreas bombardeadas, “foi como um terremoto. Grandes edifícios tão distantes como na rua Al-Fatah... estavam tremendo”.

A 16 de julho, no entanto, os ataques foram diferentes dos anteriores. O cheiro de queimado e “uma estranha fumaça tomou conta do ar” - e não foi embora. “Ele (o cheiro) ainda permaneceu na pele depois dos bombardeios... Os sons (e colunas de fumaça) eram diferentes”.

Depois dos bombardeios anteriores, a fumaça subia verticalmente “como um fogo, mas nesta noite ela era branca e horizontal.... e ficou sobre Trípoli”.

Uma explosão causou “uma enorme nuvem em forma de cogumelo, apontando para o possível uso de bombas (nucleares) contra bunkers”. Num raio de 15 km em torno dos alvos, “as pessoas experimentaram ardência nos olhos, dores lombares, dores de cabeça” inexplicados sintomas, não sentidos anteriormente.

Na semana passada, de fato, o procurador-geral da Líbia, Mohammed al-Zikri Mahjoubi, acusou o secretário geral da OTAN, Anders Fogh Rasmussen, de crimes de guerra, dizendo que ele será criminalmente acusado de:

“Agressão deliberada contra civis inocentes, assassinato de crianças, bem como tentar derrubar o governo líbio... responsável por atacar pessoas desarmadas, matando 1.108 pessoas e ferindo outras 4.537 no bombardeio de Trípoli, outras cidades e aldeias”.

Ele também o acusou de tentar assassinar Kadafi.

A 14 de julho, Rasmussen tentou dois caminhos ao mesmo tempo, “encorajando todos os aliados que têm aeronaves à sua disposição a tomar parte na operação”, enquanto apelava para uma solução política pró-ocidental, que os líbios não aceitarão, nem devem aceitar.

Um comentário final.

Garantir o controle imperial é a questão, um objetivo que coloca os EUA em conflito com milhões de líbios, decididos a resistir e a vencer.

De fato, a estratégia de Washington pode ter saído pela culatra. A maioria dos líbios uniu-se atrás de Kadafi, junto com aliados regionais e outros, incluindo a China e a Rússia (devido a seus próprios interesses estratégicos), contra a exploradora “libertação” pelo Ocidente.

Embora nenhum fim para o conflito seja iminente, talvez desta vez o poder do povo possa triunfar. Se assim for, a mensagem para outras vítimas imperiais é não desistir. Lutando tempo suficiente para vencer, por vezes, conseguem. Talvez seja este o tempo para os líbios.

* Nascido em Boston, com graduação e MBA nas universidades de Harvard e Wharton, analista de pesquisas de marketing, empresário hoje aposentado, Stephen Lendman, desde 2005, aos 71 anos de idade, tem sido um dos mais penetrantes críticos da política e da economia dos EUA. Reside atualmente em Chicago.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Governo arranha os agiotas financeiros

Por Altamiro Borges

Depois de várias medidas que penalizam os trabalhadores – como os quatro aumentos consecutivos das taxas de juros e as duras restrições ao crédito –, o governo Dilma finalmente resolveu intensificar o ataque aos agiotas financeiros, os verdadeiros culpados pelos entraves ao desenvolvimento do país. Não dá nem para chamar de ataque, foi mais um pequeno arranhão, mas ele pode sinalizar uma mudança de comportamento diante das incertezas que atormentam a economia capitalista mundial.

“Vamos tirar a rentabilidade” dos rentistas
Na tarde de ontem, o Ministério da Fazenda anunciou um pacote de medidas para inibir a especulação com o dólar e a artificial valorização do real, que prejudicam a produção brasileira. A iniciativa afeta o chamado mercado de derivativos, um instrumento utilizado pelos agiotas para auferir altos lucros com as vantajosas taxas de juros do país. O impacto imediato da medida foi a contenção da queda do valor da moeda ianque, que subiu ontem 1,3% e atingiu R$ 1,557. Foi a maior alta observada em um ano.

O governo anunciou que cobrará 1% de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) nas negociatas nos mercados de derivativos, que exigirá o registro público de todos os contratos e que poderá impor limites de quantias e prazos às transações. “Vamos tirar a rentabilidade da especulação”, explicou o ministro Guido Mantega. Ele também garantiu que o governo poderá adotar outras medidas contra os ataques especulativos, inclusive com novos aumentos do IOF.

Chiadeira dos agiotas e da mídiaO anúncio incomodou os agiotas financeiros, que criticaram o “intervencionismo” do governo e renderam homenagens ao deus-mercado. “A medida autoriza uma ampla intervenção no mercado”, reclamou Sidnei Nehme, diretor da corretora NGO. A mídia rentista também não gostou, já lamentando a fuga do capital estrangeiro. “Muitos investidores se assustaram com o poder que as medidas dão ao governo para intervir de maneira agressiva nos negócios com derivativos”, concluiu a Folha.

Toda essa gritaria visa evitar que o governo adote medidas ainda mais duras contra a especulação. Nos últimos meses, ações ainda mais tímidas, como as pequenas taxações das aplicações financeiras e de empréstimos de curto prazo, tiveram pouco impacto na economia e não conseguiram evitar a valorização artificial do real em relação ao dólar. Os reflexos negativos se avolumaram, com o encarecimento das exportações e o aumento das importações – prejudicando a produção industrial e o emprego no país.

“Mundo de pernas para o ar”
Com o agravamento da crise capitalista nos EUA e Europa, o Brasil fica ainda mais vulnerável diante da gula dos especuladores. A presidente Dilma Rousseff, antes envolvida na “faxina” em seu governo, parece agora mais atenta aos rumos da economia. Em recente reunião, ela teria manifestado temor diante do risco de calote da dívida nos EUA, afirmando que “o mundo está de pernas para o ar”. Daí a idéia de conter a especulação financeira e mesmo a alta dos juros, como indica a recente ata do Banco Central.

O pacote anunciado por Guido Mantega ontem pode até aliviar a tensão, mas não resolve o problema. Sem outras ações, como a redução da taxa de juros e medidas mais duras de controle do fluxo de entrada e saída de capitais, os especuladores continuarão surfando na libertinagem financeira. Não dá para tratar os rentistas com arranhões. É preciso atacá-los de frente. Do contrário, com um solavanco maior na economia mundial, aí que o Brasil vai ficar mesmo de “pernas para o ar”.
http://altamiroborges.blogspot.com/

Os efeitos do jornalismo de esgoto



Por Luis Nassif, em seu blog:

Um dos pontos centrais das políticas de direitos humanos é o chamado direito à privacidade. Desde que não afete a vida de terceiros nem desrespeite as leis, toda pessoa tem o direito à sua privacidade.

O caso Murdoch expôs uma das características mais repelentes do jornalismo-espetáculo e do jornalismo "partido político": a exposição da vida de pessoas, os ataques pessoais, os chamados assassinatos de reputação como ferramentas não apenas para aumento de audiência, mas como arma política.

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Ocorreu nas eleições de Barack Obama. Comentaristas da Fox News, acumpliciados com redes anônimas de internautas, espalhavam que Obama não teria nascido nos Estados Unidos, que seria muçulmano, uma liderança infiltrada na política norte-americana visando destruir o país.

Esse mesmo modelo foi utilizado na campanha eleitoral do ano passado. Em qualquer escola de São Paulo, crianças eram contaminadas pela versão de que a candidata Dilma Rousseff "assassinou pessoas", que seria a favor do aborto. Ao mesmo tempo, havia ataques destemperados contra nordestinos. Na outra ponta, o preconceito contra qualquer pessoa que pertencesse à classe média para cima.

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A intolerância global foi particularmente feroz contra muçulmanos e árabes em geral, especialmente após o episódio terrorista que derrubou as Torres Gêmeas. Proliferaram sites e analistas preconizando o fim da civilização ocidental, com a invasão da Europa pelos muçulmanos.

Na França, proibiu-se o uso da burka. Diferenças culturais foram apontadas como desvios morais. Em um mundo cada vez mais globalizado, e enfrentando o fantasma da crise econômica, essa pregação espalhou-se como um rastilho, especialmente pelos países europeus. Da mesma maneira que a intolerância que se seguiu ao crack de 1929 da Bolsa de Nova York.

Por aqui, a pregação limitou-se ao chamado Foro de São Paulo - que, segundo alguns alucinados, visaria tomada do poder na América Latina pelos esquerdistas.

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O massacre de Oslo foi conseqüência direta de um clima de intolerância que teve em Murdoch o ponto central de disseminação, o exemplo no qual se espelharam grupos de mídia pelo mundo afora. Esse movimento foi facilitado pela ampliação da Internet, com o caos inicial que marca a entrada de novas mídias - especialmente uma descentralizada e onde é possível a prática dos ataques anônimos.

Nesse ambiente, houve o oportunismo de muitos comentaristas de mídia, explorando a intolerância que se manifestava na classe média - acossada, de um lado, pela tributação pesada, de outro, pela ascensão das novas massas consumidoras.

Abriu-se espaço para um modismo repelente, o "politicamente incorreto", que tornou de bom tom zombar das minorias, dos defeitos físicos, da feiura.

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O episódio Murdoch-Oslo deve servir de reflexão não apenas na Inglaterra, mas sobre a comunicação de massa em geral, sobre o respeito às diferenças, sobre os direitos individuais, sobre a responsabilidade na hora de se atacar pessoas ou grupos.

El Pais chamou a esse jornalismo de Murdoch de "cloaca". Por aqui, tornou-se comum a expressão "jornalismo de esgoto" para definir esse estilo.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Um estrondo na Noruega: quando o diabo bate à porta


Quando em 1933, através de mil intrigas e manipulações politicas, Franz Von Papen [2] , velho político do Partido do Centro Católico, aliado a industriais e banqueiros alemães, convenceu o velho Marechal Von Hindenburg, presidente da Alemanha e empedernido militarista e oligarca, a nomear Adolf Hitler chefe do governo alemão encerrava-se um ciclo na história alemã. Era o “Kampfszeit”, os tempos de luta dos nazistas pelo poder. Desde 1920 o partido nazista alemão – DNSAP – promovera atentados, tentativas de golpe de Estado, arruaças de rua e homicídios políticos. Contudo, a elite política alemã – homens “respeitáveis” como Von Papen e Hjalmar Schacht [3] , o chamado “mago das finanças” – acreditavam que poderiam controlar o nazismo visando atingir seus próprios objetivos: a derrubada da democracia e a instauração de um regime reacionário estável e duradouro. Os nazistas, por mais desagradáveis que fossem, seriam apenas uma ferramenta para atingir seus fins. O resultado foi a maior catástrofe da história alemã e a maior tragédia bélica da história da humanidade.

A DIREITA TRADICIONAL EM FACE DOS FASCISMOS
Ao longo da história dos fascismos históricos (isso mesmo, fascismos, no plural: conjunto de movimentos antidemocráticos, ultranacionalistas e racistas surgidos desde os anos de 1920, incluindo aí o nazismo, o franquismo, o salazarismo e, claro, o fascismo italiano. Este, por ser o primeiro a fazer sua estreia no cenário europeu, acabará por denominar o conjunto dos movimentos de extrema direita) podemos reconhecer um padrão de relacionamento entre os partidos de Direita [4] tradicionais e constitucionais e as organizações fascistas.

Os grandes partidos da Direita constitucional hoje – como no exemplo clássico dos católicos, dos conservadores e dos liberais em 1933 - assumem uma postura comum: negação de identificação direta e unilateral com os movimentos fascistas. Contudo, mantém uma relação ambígua e “compreensiva” da agenda extremista de cunho fascista. Assumem vários dos temas da agenda fascista – xenofobia, anti-multiculturalismo, anti-Estado Social, luta contra os impostos que incidem sobre ricos e empresas, identificação entre criminalidade e estrangeiros e entre desemprego e imigrantes. Da mesma forma, apoiam uma crítica violenta, cheia de ódio, aos quadros intelectuais e políticos da Esquerda, apontados como traidores da civilização e da raça branca. Por fim, permitem nos seus quadros de base e associações um amplo “intercâmbio” de pessoal com a (sub)cultura politica fascista, em especial no cyberspace e nas suas associações juvenis.

Embora partidos estabelecidos, constitucionais, como os Republicanos, nos EUA; o Likud, em Israel; a CSU/CDU, na Alemanha; o Partido Progressista, na Noruega; a Liga Norte na Itália entre outros, mantenham-se na esfera constitucional, aproveitam-se da pregação de ódio das entidades fascistas para enfraquecer e encurralar os partidos trabalhistas e socialistas, caracterizados como fracos e antinacionais, no limite traidores, como no caso do assassinato de Yitzhak Rabin em 1995 por extremista de direita (no bojo de uma violenta campanha do direitista Likud contra o ex-premiê israelense). Da mesma forma, a violenta campanha do “Tea Party” nos EUA, endossada pelo Partido Republicano, não é estranha a matança de janeiro de 2011 de seis pessoas numa reunião em Tucson do Partido Democrata local.

Notem bem: embora a imprensa internacional queira sempre caracterizar tais ataques como produto da “loucura” de um desiquilibrado isolado, os ataques são sempre dirigidos a um alvo político que se opõe à Direita local: contra o líder trabalhista em Israel, contra os democratas em Tucson ou os trabalhistas na Noruega. Até a loucura possui um sentido.

OS FASCISTAS EM FACE DA DIRIETA TRADICIONAL
As entidades fascistas, por sua vez, aproveitam-se do oportunismo dos grandes partidos da Direita constitucional, para ampliar seu “auditório” e para por em debate suas ideias generalistas e equivocadas sobre, por exemplo, desemprego versus imigração ou criminalidade versus estrangeiros.

A crise econômica, desde 2008, teve um papel relevante no acirramento das tensões internas e no debate sobre a distribuição social do ônus das medidas de “salvação” . A maioria dos países avançados – EUA, RU, Espanha, Itália – e os chamados “novos” países capitalistas do leste europeu optaram, após uma paralisia inicial, em “investir” grandes somas de dinheiro público em bancos, seguradoras e montadoras de automóveis para debelar a crise.

Assumiam, assim, a responsabilidade do passivo gerado pela má gestão dos negócios, pela especulação e pelas consequências da “bolha imobiliária” ( o chamado “subprime” ). Seguiu-se, então, um abandono seletivo do fundamentalismo liberal: intervenções salvadores em empresas irresponsáveis e o abandono de inúmeros programas sociais ( como educação e saúde na Inglaterra ) e corte nas políticas de crescimento e de emprego ( como na Espanha, Portugal e Grécia ).

Para a grande parte da população, na maioria das vezes sem quaisquer iniciação ou militância política, os estados surgiam como arrecadadores vorazes, injustos e perdulários dos impostos públicos. Haveria uma maior sensibilidade para salvar as grandes empresas e os empregos milionários de gerentes irresponsáveis do que com a garantia do emprego dos trabalhadores contribuintes.

Assim, não é de estranhar que uma parcela importante das populações nos países avançados - em especial pequenos empresários, fazendeiros, lojistas e funcionários das empresas privadas ( todos eles contribuintes diretos e indiretos ) se rebelassem contra o Estado “devorador e insensível”. Estes mesmos segmentos sociais voltam sua frustração diretamente contra estrangeiros, muitos deles concorrentes no pequeno comércio ou em empregos menos remunerados, abrindo caminho para a xenofobia e o ódio racial, estopim do processo de fascistização.

Campanhas anti-impostos e pelo Estado mínimo – cortando programas das classes trabalhadoras, vistas como privilegiadas nas suas relações com o Estado e ações afirmativas voltadas para minorias – são abraçadas com fervor, em especial pelo” Tea Party”, a Liga Norte, Front National ( França) e o Partido Progressista ( Noruega ).

A LUTA CONTRA O ESTADO SOCIAL
Os partidos da Direita constitucional, no mais das vezes profundamente imbricados com o mundo dos negócios, acabam por ver na crise uma oportunidade para desinvestimentos, cortes de programas sociais e de ajuda humanitária, configurando forte convergência com as associações fascistas. Tais medidas, para além de serem um programa de aprofundamento da recessão – como na Grécia, Espanha e Portugal – implicam em legitimar a plataforma fascista, gerando ainda mais desemprego e mal-estar social.

Os partidos da esquerda constitucional, por sua vez, emparedados entre a crise e as acusações de fraqueza perante a “invasão de estrangeiros” e de ações de antinacionais, vacilam e abrem mão de plataformas progressistas e reformistas, aceitando vergonhosamente ( como em Portugal, Grécia, França ) a distribuição socialmente injusta do ônus da crise econômica gerada pelo fundamentalismo neoliberal.

As preocupações com a inflação e o equilíbrio fiscal sobrepõem-se às políticas de emprego e de crescimento econômico. Neste contexto, os partidos de esquerda ficam incapazes de apresentar alternativas nas áreas sociais, mantendo-se exclusivamente no âmbito do debate sobre quem seria o melhor gerente da crise. Da mesma forma, a Esquerda falhou miseravelmente em assumir um papel de condutor, esclarecedor, das razões da crise e dos interesses da sociedade.

No momento em que o neoliberalismo entrava em crise, a Esquerda assumiu a sua gerência. A população revoltada – os “Indignados” - em Atenas, Madrid ou Lisboa, em especial os jovens, não enxergam alternativas viáveis nos grandes partidos socialistas. Numa linguagem gramsciniana, a Esquerda estabelecida renunciou ao seu papel de “Príncipe moderno”.

Foi desta forma, que os pequenos grupos fascistas - imbuídos de raiva, frustração e inveja – emergiram com respostas tão fáceis e diretas quanto incorretas. Apontar para os imigrantes, para os estrangeiros ou para uma conspiração judia mundial era fácil. E, além disso, de grande capacidade de aderência popular.

A MARÉ NEONAZI
Desemprego= a imigração; crise econômica= a estrangeiros; recessão= a dirigismo estatal; carestia= a euro. Tudo simples, direto e sem questionamentos muito complicados. Foi neste contexto que se desenvolveu uma ampla (sub)cultura política fasciscizante: ocupou o cyberspace ( são 12 sítios eletrônicos na Noruega fazendo propaganda nazista! ), as rádios e os temas televisivos cotidianos. Bandas de rock, de tipo “Black Metal”, desenvolveram signos, canções e atitudes neonazi na Alemanha, Inglaterra, Suécia e Noruega. Alusões ao satanismo e ao ocultismo proliferaram, com o uso de runas e de ícones nazistas, como a suástica e a runa “SS” em pretensos cultos que vandalizam cemitérios e antigas igrejas. Em outros casos emergiu um forte neopaganismo, como nos grupos “Viking” sueco e “Vigrid” norueguês, ambos intimamente associado ao grupo de supremacia branca norte-americano “National Alliance”. Na própria Noruega emergiu uma “Sociedade Aasatru” ( denominação da mitologia nórdica), de culto pagão e adoração a runas nazistas. Tais organizações negam a existência histórica do genocídio dos judeus na Segunda Guerra Mundial, falando odiosamente de um “Holocash” – uma impostura judia para arrancar dinheiro dos países germânicos. Ao lado disso, uma velha mentira, como o livro “Protocolos dos Sábios de Sião” foi reeditado e vendido publicamente na Noruega. Em outros casos, como é o caso do atirador Anders Behring Breivik, desenvolveu-se um forte e intolerante fundamentalismo cristão, profundamente anti-muçulmano e anti-socialista. Estes são elementos comuns da cena fascista contemporânea.

Uma temática especial mereceu a atenção dos novos fascistas: a revisão positivada dos fascismos históricos, recuperando uma memória construída sobre os imaginados “bons tempos” dos anos de 1930 e da própria ocupação nazista durante a guerra. Ao lado do revisionismo histórico, desenvolveu-se também o negacionismo, a recusa em aceitar o genocídio de judeus, ciganos, doentes mentais, testemunhas de Jeová e gays pelos nazistas. Isso já havia acontecido entre 1991 e 1996, numa primeira vaga revisionista/negacionista. Agora ressurge uma segunda vaga visando passar a Segunda Guerra Mundial à limpo. Na França, Itália, Alemanha, Espanha, Noruega e Suécia vários grupos buscam negar a realidade histórica do holocausto e reabilitar os velhos fascistas nacionais, como é o objetivo do pretenso “Norwegian Occupation History Institute”.

Ao mesmo tempo políticos, intelectuais e celebridades – como Jorg Haider[5] , Gian Franco Fini [6], o estilista John Galliano e o cineasta Lars von Trier – fazem declarações desculpando e “entendendo” personagens como Mussolini e Hitler, numa clara banalização da maior tragédia da história contemporânea.

Os governos europeus, e os EUA, por sua vez, fecham os olhos frente a contínua fascistização das instituições do estado liberal, em especial da polícia e das autoridades aeroportuárias. A promiscuidade da grande imprensa, como o império Murdoch ( na Inglaterra, EUA e Austrália ) com as lideranças conservadoras, como o Tea Party nos EUA e a polícia, oculta o montante da maré neonazi. A polícia, sob instigação da “luta antiterrorista” mata inocentes e brutaliza oponentes antifascistas, como na Inglaterra, França e Espanha. Nos estádios de futebol multiplicam-se as manifestações abertamente racistas contra atletas negros e árabes, tudo isso em face da leniência das autoridades e das instituições ditas culturais e esportivas.
É a multiplicação dos microfascismos no interior do próprio estado liberal.
Mais uma vez a sociedade e o estado comportam-se como Franz von Papen e seus seguidores católicos, conservadores e liberais. Negam-se a ver a ameaça nazista que bate à porta. Com estrondo.

NOTAS
[1] Devo a inspiração desse título ao livro “Lucifer ante portas”, de Rudolf Dihls (Interverlag, Zurique, 1950), “Oberführer” da Gestapo entre 1933 e 1934, quando então se afasta do nazismo.

[2] Franz von Papen ( 1879-1969 ) político reacionário alemão, membro do primeiro gabinete de Hitler e político que viabilizou o governo de Hitler junto aos empresários e militares alemães.

[3] Hjalmar Schacht ( 1877-1970) político, banqueiro e empresário alemão responsável pela adminsitração financeira no gabinete Hitler.

[4] Embora se fale muito no fim das oposições “direita versus esquerda” continuo achando válida, e mesmo imprescindivel, a díade. Utilizo aqui as noções de “esquerda” e de “direita” conforme proposta de Norberto Bobbio no livro “Direita e esquerda: razões de uma diferença” ( São Paulo, Edusp, 1999 ).

[5] Jorg Haider ( 1950-2008), lider do abertamente fascista partido FPÖ ( Partido Austríaco da Liberdade ).

[6] Gianfranco Fini ( 1952) lider do partido dito pós-fascista italiano Aliança Nacional e depois ministro de Berlusconi no Partido Povo da Liberdade.

(*) Professor de Relações Internacionais/UFRJ.
“Fantástico” coloca um caluniador no ar para justificar agressão norte-americana à Líbia
 
“Você já imaginou o que é viver em um país mergulhado no caos?”, pergunta com ingenuidade a apresentadora do Fantástico. Ao seu lado, o apresentador complementa, com ar sério: “Esse país é a Líbia”.
 
Nem nesse momento, nem em nenhum posterior os verdadeiros responsáveis por “mergulhar o país no caos”; os EUA, juntamente com agressores, velhos colonialistas na África, (Itália, França e Inglaterra), são sequer citados.
 
Ao invés disso, a demonização de Kadafi a la Globo, corre por conta da própria e da narração de um imigrante líbio, Sadegh Giamal, segundo ele próprio, há 25 anos no Brasil. Ele posa ao lado da “bandeira que os rebeldes querem que seja o símbolo de uma Líbia pós-Kadhafi”, sem que se diga que ela é, na verdade o símbolo da monarquia que entregava o petróleo líbio às potências coloniais, a do rei Ídris.
 
Em uma suposta ‘reportagem jornalística’, Giamal mente sem que o lado ofendido pelos ataques estrangeiros tenha chance de contestar: “Kadafi controla todos. Controla tudo. Pobreza. Não tem saúde, não tem educação. Não tem escola. Não tem nada”, diz o achado da Globo.
 
A esse respeito, vejam o que afirma o articulista australiano, Stephen Goodson: “Com os ingressos petroleiros, Kadafi gerou um país sem desemprego, o PIB per capita mais alto da África e a expectativa de vida de 75 anos, 10% mais alta do que a média mundial e uma taxa de alfabetização de 82%”.
 
Gerald A. Pereira, em artigo publicado no site African Newswire, destaca que a Líbia, em 1951, considerado o país mais pobre do mundo, chegou a um patamar em que todos têm tratamento médico-hospitalar de alto nível. Pereira afirma que a distribuição de casas pelo governo Kadafi resolveu o problema de falta de moradia no país.
 
Aliás, a Líbia, em 2010, teve o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano - taxa utilizada pela ONU) , mais alto na África e mais alto entre os países árabes.
Além disso, a ‘reportagem’ da Globo é uma avalanche de falsidades que não resistem à apreciação, um pouco mais atenta.  Em um filme que afirmam ter recebido de Giamal, tudo filmado em Misrata (como se sabe ocupada parcialmente pelos mercenários) “durante a retomada pelas forças de Kadafi”. A primeira cena mostra um sujeito recebendo tiros a queima roupa sem que o mesmo sequer se mova. Nem os piores trashs norte-americanos conseguiram tal nível de imperfeição.
 
Toda a filmagem é feita de tal forma a demonstrar que o cinegrafista está na maior tranqüilidade. Imaginem... a porrada comendo solta, uma cidade sendo disputada à bala e o cinegrafista - do lado dos rebeldes - filmando com a maior segurança as supostas atrocidades das tropas legais.
 
A apresentadora segue repetindo, como verdade tudo que o líbio dissera. Diz ela: “o vídeo mostra o momento em que um rebelde é obrigado a dizer ‘viva Alah, viva Kadafi...’ o rebelde se recusa... ouve-se um tiro”. Porém, não se ouve a voz do soldado exigindo tal coisa, nem o rebelde negando-se a fazê-lo e, quanto ao tiro, apenas “ouve-se” o mesmo. O vídeo não mostra quem foi atingido.
 
Também, diz a TV, entre outras barbaridades, que “Kadafi sobreviveu a um bombardeio em 1980”, sem dizer que o autor do bombardeio foi os EUA, nem que a filha de Kadafi, de oito anos de idade, morreu naquela atrocidade.
 
Não se refere a reportagem ao fato do líder líbio haver colocado nas ruas, milhões de líbios em Trípoli e Zlitin, cidades sob bombardeio. Como é possível que um líder odiado consiga reunir uma massa de apoiadores entusiasmados, com o país sob fogo intenso? No entanto, as imagens, dessas manifestações, ao contrário das divulgadas pela Globo, são confirmadas por agências como a AFP e Reuters que, pelo menos, se deram ao trabalho de enviar repórteres ao país.
NATHANIEL BRAIA

Neoliberalismo chocou o ovo da serpente

Para Monstro de Oslo, o Brasil é disfuncional, corrupto e improdutivo

Eventuais semelhanças com ladainha midiática são mera coincidência

O Brasil parece uma obsessão para esse assassino: faz pelo menos 12 referências ao nosso país. As mesmas razões que fizeram o escritor antinazista Stephan Zweig chamar o Brasil de “país do futuro” - a fusão entre etnias, assim como outros aspectos culturais e sociais que dão à nossa nacionalidade um perfil original – são, certamente, odiadas por ele. A arenga de Breivik nada traz de novo – aliás, a questão é, precisamente, que isso é muito velho, a barbárie nazista com os bordões do “Mein Kampf”, de Hitler, sobre a promiscuidade cultural e sexual entre raças, sobre supostas superioridades nórdicas e outras aberrações, que já haviam sido despejados no esgoto na II Guerra, à custa, inclusive na Noruega, de esforços inauditos - e sangue - do que há de melhor na Humanidade. A Noruega resistiu à ocupação nazista, e, em 1945, a resistência julgou e fuzilou, sob aclamação do povo, Vidkun Quisling e os demais colaboracionistas que serviram a Hitler, por seus crimes contra os noruegueses e a Humanidade.

Racista assassino de Oslo critica o Brasil por adotar miscigenação

Por que agora surgiram Breiviks atirando em crianças – as nórdicas, inclusive? De onde vem esse culto à lei da selva, à lei do suposto mais forte, do mais bárbaro e do mais sem peias morais?

O autor dos dois atentados da sexta-feira, 22, na Noruega, Anders Behring Breivik, colocou na internet uma quilométrica arenga de extrema direita – racista, genocida, em suma, nazista - poucas horas antes de explodir um carro-bomba em Oslo e depois matar, a tiros de bala dum-dum, dezenas de jovens com 15 a 16 anos na ilha de Utoeya, a 40 quilômetros da capital, quando participavam de um acampamento da Juventude do Partido Trabalhista, ao qual é filiado o primeiro-ministro Jens Stoltenberg.

Em Oslo, morreram 8 pessoas, 26 ficaram feridas, 11 destas em estado crítico. Na ilha, 68 jovens foram mortos à bala durante 90 minutos, até a polícia chegar ao local.
Entre as 1.500 páginas postadas, Breivik prega o assassinato de muçulmanos e marxistas. Afirma que a elite europeia, “os multiculturalistas” e os “enaltecedores da islamização” seriam punidos por seus “atos de traição”. As vítimas escolhidas são todas de nacionalidade norueguesa e brancos. O Partido Trabalhista, inclusive sua juventude, cujo acampamento sofreu a chacina, recentemente declararam seu apoio ao reconhecimento do Estado palestino.

ARENGA ANTIGA

A arenga de Breivik nada traz de novo – aliás, a questão é, precisamente, que isso é muito velho, a barbárie nazista com os bordões do “Mein Kampf”, de Hitler, sobre a promiscuidade cultural e sexual entre raças, sobre supostas superioridades nórdicas e outras aberrações, que já haviam sido despejados no esgoto na II Guerra, à custa, inclusive na Noruega, de esforços inauditos - e sangue - do que há de melhor na Humanidade. A Noruega resistiu à ocupação nazista, e, em 1945, a resistência julgou e fuzilou, sob aclamação do povo, Vidkun Quisling e os demais colaboracionistas que serviram a Hitler, por seus crimes contra os noruegueses e a Humanidade.

Como, então, isso apareceu agora – e não é a primeira vez que aparece, nem na Noruega nem em outros países. Quem levantou a tampa do esgoto?
Vejamos com que isso se parece.

O Brasil parece uma obsessão para esse assassino: faz pelo menos 12 referências ao nosso país. As mesmas razões que fizeram o escritor antinazista Stephan Zweig chamar o Brasil de “país do futuro” - a fusão entre etnias, assim como outros aspectos culturais e sociais que dão à nossa nacionalidade um perfil original – são, certamente, odiadas por ele.

Num texto, escrito em inglês, ele diz: “... a imigração massiva, a mistura racial e a adoção por não europeus são uma ameaça à unidade da nossa tribo (…) um país que tem culturas competitivas vai se dilacerar ou vai acabar como um país disfuncional, como o Brasil e outros países”. Breivik afirma ter descoberto que uma “revolução marxista” instituiu no Brasil um “modelo de sociedade que mistura descendentes de asiáticos, europeus e africanos”, levando a “altos níveis de corrupção, falta de produtividade e conflito eterno”. Depois de dizer que a miscigenação faz do Brasil o segundo (??) país no mundo com maior nível de desigualdade social, chama mulatos e mestiços de “sub-tribos” e que “em 1889 o Brasil se tornou uma república após um golpe de Estado” - isto é, a revolução republicana, que varreu o Estado escravagista, já então privado de sua base econômica, foi um “golpe”.

O leitor, certamente, já leu ou ouviu coisa semelhante sobre o nosso país – e não foi na época em que o ministro da Fazenda de Campos Sales, Joaquim Murtinho, fazia, em seus relatórios, odes à “superioridade da raça anglo-saxã”.

O ponto de vista de Breivik, nazista de fio a pavio, é, com diferenças de hipocrisia, até hoje o da mídia reacionária, tão golpista quanto racista, que existe aqui, assim como de certa pequena camada de ressentidos – e de entreguistas, vide o que surgiu na última campanha de Serra.

Sempre consideraram que este é um país inferior porque formado por “descendentes de botocudos, africanos e lusos degredados” que se amancebaram, junto com outros inferiores – italianos, espanhóis, japoneses e árabes, por exemplo. Vejam só, até nordestino veio parar em São Paulo - tem um que até foi eleito presidente! É o fim do mundo. Por isso é que esse país não vai pra frente...

Que eles sempre acharam isso, é fato, apesar do Brasil ser uma construção, exatamente, dos negros, dos índios e dos brancos que trabalharam – e fundiram suas etnias - para erguer uma nação onde antes havia um grande território.

Mas por que agora surgiram Breiviks atirando em crianças – as nórdicas, inclusive? De onde vem esse culto à lei da selva, à lei do suposto mais forte, do mais bárbaro e do mais sem peias morais?

Há mais de 20 anos que esse culto é propalado em todo o mundo por essa mesma mídia, pelo establishment norte-americano e inglês a partir de Reagan e Thatcher, pelos Chicago boys que afundaram o Chile, Argentina e outros países em sangue, em suma, por essa ralé que impropriamente se autodenominou neoliberal.

O neoliberalismo sempre foi isso, confessadamente, abertamente, sem escrúpulo algum: a dominação dos mais capazes de roubar, de bajular, de trair, de matar em massa – de fome ou em golpes sanguinários -, sem nenhuma, como dizia Hitler, “consideração de ordem moral”. O neoliberalismo é, portanto, a incubadora do nazismo atual. Aliás, em que se tornaram os neoliberais no Brasil, nos EUA, na Inglaterra, em todos os lugares, senão em nazistas que, depois de destruir o trabalho, recomendam a eliminação dos “incapazes” que nem conseguem arrumar um emprego? Em que se distingue a ideologia dos Breiviks daquela do Tea Party norte-americano, abertamente nazista e abertamente neoliberal? Em que se distingue de Breivik a srª Sarah Palin e seus fuzis apontados para personalidades progressistas – retirados de seu site após o atentado em que a deputada Gabrielle Giffords foi baleada na cabeça, seis pessoas morreram e 39 foram feridas em Tucson, Arizona?

Só pelo fato de não ter atirado pessoalmente.