sábado, 11 de junho de 2011

Ludo Martens, um dos maiores revolucionários do nosso tempo

Foi com muito pesar que recebemos a notícia do falecimento no domingo, 5 de junho, de Ludo Martens.
Ludo foi um dos maiores revolucionários do nosso tempo. Ele fundou o PTB – Partido do Trabalho da Bélgica, o qual presidiu desde a fundação até 1999, quando pediu licença da presidência para realizar um trabalho solidário no Congo, país que admirava e ao qual havia já dedicado seus estudos, escrevendo livros sobre a luta pela independência contra o colonialismo belga, sobre Lumumba, Mulele e o assassinato de Kabila.

Ludo considerava cruel o colonialismo belga no Congo e via aí a razão para os graves problemas do país, onde passou seus 10 últimos anos de vida produtiva, apoiado em todos os aspectos pelo PTB.

Ludo Martens nasceu em Flandres no norte da Bélgica, na pequena comuna de Wingene. Era filho de um fabricante de móveis e desde muito cedo iniciou sua participação no movimento estudantil. Em 1965 foi estudar medicina em Louvain. Aluno brilhante, foi expulso da universidade por sua atuação política em favor das greves operárias e principalmente dos mineiros e por denunciar o racismo, a pedofilia na igreja católica, um assunto considerado tabu na época, e por defender o direito dos imigrantes obterem a cidadania belga após cinco anos de vida e trabalho no país.

Sua participação nos movimentos de maio de 1968 influenciou muito seu pensamento. Em Berlim, ele encontra estudantes marxistas e lê as obras de Marx, Lenin e outros, e compreende que a luta dos estudantes tem que seguir junto à luta dos trabalhadores, dos sindicatos, numa só frente. Ele dizia: “A verdadeira liberdade dos intelectuais consiste em compreender como a sociedade é constituída, de onde provém a injustiça, quais são as leis da história, da mudança e como agir diante disso”. Ele tomou consciência de que para os estudantes a escolha determinante de suas vidas se daria no fim de seus estudos. Como viver?

Como manter seu engajamento social? Ludo e um grupo de amigos se puseram a estudar, entre outras obras, “Que fazer?”, de Lenin. Fundar um partido ou um sindicato? Ir para uma empresa fazer o trabalho sindical? Mas com que direção? Com que alcance?
Ludo escolheu fundar um novo partido. Um partido da classe operária e não um sindicato. Com um jornal nacional – que viria a ser o atual “Solidaire” - que abordasse o conjunto das questões de interesse dos operários e do povo e não apenas um boletim sindical para generalizar experiências.

Em 1969 nascia o “Todo Poder aos Operários”, rebatizado dez anos depois em Partido do Trabalho da Bélgica. Um partido a serviço do povo, tal é a sua ambição. No livro (não editado no Brasil) “O Partido e a Revolução”, Ludo expõe a experiência de 30 anos de luta à frente da construção do PTB e defende: “o estudo assíduo e concreto tendo como base os fatos. Estudar e trabalhar com seriedade”.

Ludo sempre considerou o separatismo um erro. Defendido pelos nacionalistas xenófobos, “era antissocial, antissindical e perigoso”.

Quando quase todos os partidos da Bélgica se dividiram com base na língua (francófonos e neerlandeses), Ludo manteve o PTB unido como o único partido nacional no país cujos membros de todas as regiões compartilham a realização de um mesmo ideal.

Contra-revolução de veludo

Ludo, já na década de 1960, via com preocupação o afrouxamento progressivo dos princípios marxistas na União Soviética. Em meados dos anos 1980 ele se propôs fazer uma análise mais detalhada da situação do país e do PCURSS “sem simplismos, sem esquerdismos”, pois “se o capitalismo estava realmente conseguindo se introduzir na URSS isso não seria ruim apenas para os milhões de pessoas que viviam no leste europeu, mas para o movimento operário em todo o mundo”.

“A contra-revolução de veludo” faz uma análise minuciosa dessa contra-revolução “suave” que se opera a partir do XXº Congresso do PCURSS e do relatório secreto de Kruchev que minam o partido e abrem espaço ao revisionismo dentro do partido e à derrocada do Estado Soviético.

Um exemplar dessa brilhante obra, Ludo ofereceu em 1993 a Cláudio Campos com uma dedicatória onde afirma: “É numa análise marxista-leninista da ‘contra-revolução de veludo’ que, no mundo inteiro, os homens que se batem contra a opressão e a exploração poderão ter renovada sua confiança na revolução e no futuro comunista”. Assim era Ludo Martens. Um homem que uma vez disse: “escrever é se engajar”.

Após esse livro, Ludo escreveu vários artigos sobre a situação da URSS e sobre o papel de Stalin na construção socialista. “Stálin: um novo olhar” foi publicado em várias línguas e saiu há alguns anos no Brasil. Uma obra científica valiosíssima, uma contribuição efetiva para a luta dos povos de todo o mundo.

O Partido do Trabalho da Bélgica realizará no próximo dia 26 de junho , em Bruxelas, um grande ato em homenagem a Ludo Martens. Em Kinshasa, no Congo, várias homenagens estão sendo preparadas. Aqui do Brasil nos irmanamos ao PTB e aos congoleses. A Ludo Martens, a nossa homenagem.


                                                                                           
ROSANITA CAMPOS

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