quarta-feira, 22 de junho de 2011

Otan bombardeia residências e mata 28 civis líbios em dois dias

Com os ataques de domingo e segunda-feira os civis mortos pela Otan na Líbia já chegaram a 883. O premiê do país, Al Mahmoudi, convocou o mundo “a se mobilizar e pôr fim a esse massacre”

Em 48 horas – no domingo (19) e segunda-feira (20) - a Otan
assassinou pelo menos 28 civis líbios e feriu mais de três dezenas, em bombardeios à capital, Trípoli, Surman, a oeste, e Sheba, ao sul. Jornalistas conduzidos aos locais dos bombardeios viram corpos recém retirados dos escombros, inclusive crianças e mulheres, e em Sheba equipes de resgate que socorriam as vítimas foram também bombardeadas. Só num hospital, eles puderam ver dez corpos, alguns calcinados além do reconhecimento.

A sessão de “proteção aos civis” da Otan de 48 horas teve início no domingo, em ataque por volta de 1 h da madrugada contra o bairro de Souk Al Juma, na capital, em que foram mortos 9 civis e outros 20 feridos, ao ser destruída uma casa de três andares. “Outra noite de assassinatos, terror e horror em Trípoli”, denunciou o porta-voz do governo líbio, Mussa Ibrahim. Entre as vítimas, duas crianças.

“Cinco famílias foram atacadas com foguetes e bombas” da Otan, reiterou Ibrahim aos jornalistas que foram levados até o local. “Estes bombardeios se dirigem a zonas civis de Trípoli, não há nenhuma instalação militar próxima”, afirmou. Dos nove mortos, “cinco são da mesma família”. Segundo as agências de notícias, os jornalistas relataram ter visto corpos recém retirados dos escombros, com equipes de resgate e vizinhos ainda fazendo buscas.

MÍSSEIS AR-TERRA

“Um massacre intencional e deliberado contra locais civis”, denunciou o vice-chanceler Khaled Kaim, que considerou o ataque da Otan “mais outro sinal da brutalidade do Ocidente”.

Ainda no domingo, a Otan voltou a massacrar civis, desta vez em Sebha, ao sul. E quando equipes de socorro chegaram ao local para ajudar as vítimas, foram também atacadas. “Um horrível crime duplo” - denunciou a agência Jana, registrando quatro civis mortos e pelo menos 10 feridos.

Na segunda-feira, a Otan reincidiu nos assassinatos. Bombardeio contra Surman, com oito mísseis ar-terra, matou mais 15 civis, entre esses, três crianças e uma mulher grávida.

A maior parte das vítimas é da família de Chuedi Al Hamidi, um líder histórico da revolução líbia de 1969, companheiro de Muamar Kadafi. Os demais mortos e feridos são vizinhos. Trata-se de “um ataque terrorista que não pode ser justificado de modo algum”, denunciou o governo líbio.

Jornalistas levados a Surman puderam ver duas casas reduzidas a cinzas, e duas grandes crateras. Equipes de resgate com cães farejadores continuavam procurando sobreviventes e corpos. No hospital da vizinha cidade de Sabratha, eles puderam ver os corpos de dez pessoas, inclusive os de duas crianças. Alguns dos corpos, segundo o jornal inglês “Guardian”, “estavam calcinados além do reconhecimento”. Hamidi escapou ileso.

INVESTIGAÇÃO

Na semana anterior, a Otan havia matado 12 civis ao atacar um ônibus de passageiros na cidade de Kikla. O governo líbio pediu uma “investigação internacional” e a “punição” dos pilotos que realizaram o bombardeio e dos que deram as ordens.

De todos esses assassinatos, os “serial killers” da Otan admitiram apenas uma pequena parte - os nove do bairro de Souk Jamal, “devido a um míssil saído de controle”. Dos 15 civis assassinados de Surman, a Otan asseverou que havia sido contra “um centro de controle e comando” e não contra residências. Sobre Sebha, disse que não ter havido ataque algum. Não obstante, reconheceu outros assassinatos, no caso, seis, em episódio de “fogo amigo” contra seus comparsas de Benghazi.

Com tantos assassinatos de civis pelos cruzados, o chanceler italiano se manifestou em Roma preocupado com “a credibilidade da Otan”. No sábado, o primeiro-ministro líbio, Baghdadi Al Mahmoudi denunciou que os incessantes bombardeios da Otan desde 19 de março já haviam causado mais de 855 mortos e quatro mil feridos e pediu um “cessar-fogo imediato”. Com os novos ataques, já chegou a 883 o total de civis assassinados pela operação que diz existir para “protegê-los”. Al Mahmoudi convocou o mundo “a se mobilizar e parar esse massacre da Otan contra o povo líbio”.
ANTONIO PIMENTA

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