quinta-feira, 31 de julho de 2014

Os sindicatos e as eleições


Por Augusto César Petta, no site Vermelho:

Sua entidade sindical está preparada para as eleições de outubro? Como todos sabemos, aproximam-se as eleições quase gerais em nosso País. Daqui a um pouco mais de dois meses, iremos às urnas para eleger presidente e vice, governadores e vices, senadores, deputados federais e deputados estaduais. Nesse processo, o que está em jogo é a continuidade ou não de um projeto que procura se opor ao neoliberalismo e às influências nefastas do imperialismo. 

No dia 21 de julho de 2014, em entrevista à Folha de S.Paulo, o presidente do Equador, Rafael Correa afirma que “não nos enganemos: a integração da América Latina com visão independente, soberana e digna, é uma preocupação para os EUA. E já há uma restauração conservadora, de direita, das elites de sempre do continente para brecar estes processos integracionistas e progressistas no interior de nossos países”.

E mais à frente reafirma: “Os meios de comunicação, que são instrumentos da direita, se aproveitam para dizer que nada vale, que o passado era melhor. Claramente há uma restauração conservadora que pode pôr fim a esse ciclo de governos progressistas. Precisamos estar muito atentos”.

A restauração conservadora a que ele se refere se consubstancia, no Brasil, na candidatura de Aecio Neves do PSDB para presidente. O que prova essa afirmação são os oito anos de FHC, também do PSDB, na Presidência. Foi o período em que o neoliberalismo imperou e atingiu frontalmente os direitos dos trabalhadores, com retrocessos enormes nessa área.

Também é o período em que crescem as privatizações das estatais, em que o estado se enfraquece, em que as políticas sociais foram frágeis, não atendendo minimamente as necessidades dos mais pobres. Ao que tudo indica, com as críticas que faz ao governo Dilma, pretende, se eleito, alterar a política atual, não no sentido dos avanços tão necessários, mas sim jogando no retrocesso, sobretudo para atender os interesses das classes dominantes. Seria a volta da política de entreguismo do governo FHC.

Pois bem, diante desse quadro difícil que enfrentamos, gostaria de fazer algumas perguntas aos nossos companheiros e companheiras sindicalistas, que tanto lutam pelos interesses dos trabalhadores e trabalhadoras:

1) Nesse momento, sua entidade tem um plano de ação visando a participação ativa nas eleições de outubro? O calendário dessas atividades está pronto?

2) Sua entidade já tem desenvolvido ações concretas, relativamente às eleições, envolvendo a diretoria e a categoria?

3) A entidade (ou os membros que compõem a diretoria) já definiu um posicionamento claro de apoio a candidatos claramente comprometidos com a defesa dos interesses da classe trabalhadora ou , pelo menos de oposição aos candidatos que se identificam com as políticas neoliberais?

4) A entidade já tem uma plataforma com propostas objetivas – pelo menos referente à área específica em que atua ( educação, saúde, transportes, etc), para ser apresentada aos candidatos para que estes se comprometam com a referida plataforma?

5) A entidade está utilizando seus veículos de comunicação para que sejam feitos esclarecimentos sobre a importância das eleições e sobre a necessidade de que os trabalhadores e as trabalhadoras votem em candidatos comprometidos com a luta por melhores condições de vida por um projeto nacional de desenvolvimento com valorização do trabalho e distribuição de renda?

6) Considerando que o período eleitoral é muito adequado para o debate político, a entidade tem um plano para contribuir na formação sindical e política dos membros da categoria ou ramo de atividade?

7) Enfim, sua entidade está priorizando, nesse momento, as eleições?

Se predominarem, as respostas positivas, penso que sua entidade está sendo classista verdadeiramente, ou seja, está priorizando a luta política e ideológica mais importante da conjuntura atual e que contribuirá, dependendo do resultado das eleições, para a melhoria das condições de vida da sua própria categoria e da classe trabalhadora em geral.

Se ao contrário, predominarem as respostas negativas, está na hora de os diretores da sua entidade arregaçarem as mangas e rapidamente se organizarem visando uma participação ativa, decidida e forte nessa grande batalha política que está em curso.

A fraude eleitoral do capital financeiro


Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:

Passou do aceitável a manipulação escrachada, escancarada e possivelmente fraudulenta – portanto, criminosa – que tem sido feita por setores do mercadofinanceiro contra a economia do país através de “analistas” que, a partir de como se autoproclamam, confessam que seus prognósticos catastrofistas são puramente “empíricos”.


Segundo o dicionário Houaiss, usar o termo “empírico” – no singular ou no plural – para descrever a qualificação de qualquer profissional, é um insulto. Dizer que aquele profissional faz prognósticos “empíricos” (em português) ou “empiricus” (em latim), equivale a dizer que tal profissional não passa de um “charlatão”.

Muito pior é se um analista do mercado financeiro, por exemplo, assume-se como “empírico” (em português) ou “empiricus” (em latim). Aí, trata-se de uma confissão…

Quem diz isso não é o Blog, mas o dicionário


Não passam de charlatanismo em estado sólido, pois, essas análises de setores do mercado financeiro – incluindo as feitas pelas famigeradas “consultorias” – que admitem, por escrito e em áudio, que já ganharam “muito dinheiro especulando contra a Petrobrás” ou contra a situação econômica do país.

Há uma certa consultoria, por aí, que, segundo o Houaiss, alardeia ser charlatã ao batizar a si mesma com o termo pejorativo em latim – “empiricus”. Usando fórmulas enlatadas para faturar no mercado financeiro com catastrofismo, confessadamente contra empresas públicas ou privadas e contra a situação econômica do país, essa consultoria faz previsões sem qualquer base lógica ou factual.

Não existe um só analista econômico respeitado que seja capaz da enormidade de dizer que o salário de todos vai cair pela metade, que haverá desemprego em massa, que vidas estão prestes a ser arruinadas. Dizer isso é uma vigarice.

Há, sim, previsões catastrofistas feitas até por grandes conglomerados financeiros, mas nenhuma que preveja tal nível desgraça, até porque o Brasil detém excelenteavaliação de risco de eminentes agências internacionais, o tal “investment grade” ou “grau de investimento”.

São ridículos esses prognósticos “empíricos”. São charlatanice. O Brasil tem recebido um forte volume de investimentos, detém quase 400 bilhões de dólares de reservas, tem o mais baixo nível de desemprego da história.






















Para granjear credibilidade, esses prognósticos “empíricos” alardeiam que seus autores teriam “acertado” contra todas as previsões conhecidas em 2008, quando estourou a maior crise econômica internacional desde o limiar do século XX.

Balela. As previsões, após a quebra virtual do banco dos irmãos Lehman, foram tão catastrofistas que chegaram a dizer que a dívida insolvente que desencadeara a maior crise internacional em mais de 80 anos poderia chegar a insanos 300 TRILHÕES DE DÓLARES (!). Uma maluquice.

Já apostar “contra a Petrobrás”, como os prognósticos “empíricos” (em português) ou “empíricus” (em latim) confessam que fizeram, era meio óbvio e, por isso, muita gente se livrou da queda no preço das ações da companhia.

Afinal, o plano de investimentos anunciado pela maior empresa brasileira para explorar o pré-sal mostrava que haveria endividamento e, claro, quando uma empresa se endivida para investir, até que aqueles investimentos gerem lucro essa empresa perde valor devido à dívida acumulada, pois ninguém sabe se um endividamento, mesmo que planejado, irá gerar os resultados pretendidos.

O alarmismo promovido por setores do mercado financeiro que vêm atuando em consonância com fortes doações que estão fazendo e farão para comitês eleitorais de candidatos a presidente de oposição à candidata do governo beira a fraude eleitoral, além da financeira.

Tanto para fraudes eleitorais como no mercado financeiro, este país tem leis. Autoridades competentes, ao não aplicá-las, incorrerão nos mesmos crimes dos autores. Podem até não responder já, mas, cedo ou tarde, terão que responder. Criminosos da ditadura militar, por exemplo, supuseram que jamais seriam questionados.

Rosa de Hiroshima - Secos & Molhados





EM 06 DE AGOSTO  FARÁ 69 ANOS QUE O IMPERIALISMO DOS EUA DE FORMA COVARDE MATOU MAIS DE 200 MIL CIVIS NO JAPÃO

NUNCA PODEMOS DEIXAR ISSO PASSAR EM BRANCO. E DE LÁ PARA CÁ OS EUA JÁ PROVOCARAM, INVADIRAM VÁRIOS PAÍSES ONDE MORRERAM MILHÕES E MILHÕES DE PESSOAS, SEJA PELA GUERRA DIRETA OU COM GOLPES DE ESTADO APOIANDO GOVERNOS FASCISTA COMO A DITADURA NO BRASIL, ARGENTINA, CHILE, SEJA NA ASIA, AFRICA,  FORA OS QUE MORREM DIARIAMENTE DE FOME MISÉRIA. 

O CAPITALISMO NÃO É O MODELO DE SISTEMA QUE A HUMANIDADE PRECISA, FAVORECE APENAS UMA PEQUENA MINORIA.



AYLTON MATTOS

Com escândalo do aeroporto, aliados se afastam de Aécio nos estados



publicada quarta-feira, 30/07/2014 às 11:27 e atualizada quarta-feira, 30/07/2014 às 11:27

Setores ligados ao PP gaúcho estão preocupados com possíveis respingos do escândalo do aeroporto envolvendo Aécio Neves na campanha da senadora Ana Amélia Lemos para o governo do Estado.
A preocupação é que o alinhamento entre a campanha da senadora gaúcha e do senador mineiro possa virar um problema a partir do caso do aeroporto de Claudio. A denúncia do aeroporto construído na fazenda que pertencia ao tio de Aécio Neves com dinheiro público teria atingido negativamente a candidatura do tucano, segundo informes publicados na imprensa. A Folha de S.Paulo dedicou um editorial ao assunto neste domingo.

O senador deve vir a Porto Alegre no próximo dia 2 de agosto para um ato político da campanha de Ana Amélia que está sendo chamado de “Encontro da Esperança”. A senadora comemora a vinda do candidato tucano em sua página no Facebook:  “Aécio Neves confirmou que estará comigo no dia 2 de agosto no Gigantinho”.

O discurso do “modelo de gestão” apregoado pelos partidários do senador mineiro, e repetido no RS pela campanha da senadora, sofreu um baque com a divulgação das notícias envolvendo a construção do aeroporto de Claudio em uma fazenda que pertencia a um parente de Aécio, a apenas 50 quilômetros de um outro aeroporto já construído em Divinópolis.

http://www.revistaforum.com.br/

É 15 neles | Pezão 15

Os valores da família Pezão





Vemos a diferença entre nosso candidato Pezão e os adversários neste vídeo.

Impossível pensar o futuro sem discutir a geopolítica mundial

Reprodução
“Há muitos anos eu já disse que nós caminhávamos imensuravelmente para a desaceleração da economia e, infelizmente, tudo que imaginei aconteceu. Hoje o Brasil está tendo dificuldades imensas de manter se movendo como estava se movendo”, assinala o economista Carlos Lessa
29/07/2014
Patricia Fachin,
Do IHU On-Line
“A verdade é que se houvesse uma redução significativa do valor da dívida das famílias, das empresas e dos Estados nacionais, haveria naturalmente, sem grande trauma, uma mudança no perfil de retração da riqueza do mundo.” A declaração é do economista Carlos Lessa à IHU On-Line, ao comentar as razões de ainda haver tantas desigualdades sociais no mundo. Segundo ele, “o que a história está mostrando é que os comandos desse sistema financeiro assumiram o comando da economia mundial, porque é muito difícil mexer no valor dessa dívida”.
Na entrevista a seguir, concedida por telefone, o ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) menciona a dívida da Argentina como um exemplo que diz “respeito à saúde do mundo como um todo; [...] ela é uma espécie de preliminar das dificuldades que estão à frente”. E alfineta: “Se 93% aceitaram a proposta argentina e estão recebendo segundo essa proposta, como 7% podem derrubar tudo?”.
Lessa também comenta a criação do banco do Brics como uma possibilidade de “restabelecer liquidações compensatórias de dinheiro entre as moedas dos países do Brics”. Entretanto, enfatiza, “se ele fizer isso, já está introduzindo uma dimensão importante no jogo financeiro mundial. E minha pergunta é: Vão fazer ou não vão fazer? É a sério ou não é a sério? Porque isso já é uma tentativa de reduzir o peso do dólar e eu não vejo como os americanos concordam com isso tranquilamente”. E cutuca: “A presidenta Dilma foi à última reunião de Davos dizer que o Brasil está inteiramente consciente e subordinado à ideia do Consenso de Washington, mas aí esse sistema de compensações monetárias entre as moedas do Brics não é o que Washington quer; por outro lado, o silêncio brasileiro com respeito à questão argentina — o nosso comportamento está sendo muito encabulado e retraído — é o que Washington quer. Então, eu não sei e a pessoa (Dilma) para mim também não sabe, apesar de estar perdendo o campeonato”.
Segundo ele, apesar de a população ter melhorado o padrão de vida nos governos Lula e Dilma, especialmente no que se refere à distribuição da renda, “o governo do PT não usou esse ‘oxigênio’ que o Brasil teve para dar sustentabilidade no longo prazo à melhoria”. Na avaliação dele, “para frente, o Brasil vai se confrontar com um problema muito sério: um pedaço enorme do patrimônio das empresas brasileiras, das empresas que estão no Brasil, dos bancos brasileiros e das famílias ricas está apoiado na dívida das famílias pobres que se endividaram para comprar automóvel, geladeira e mobiliário. Então, terá uma queda de braço para frente no país”.
Defensor de um projeto nacional, Carlos Lessa é categórico quanto ao assunto: “Nós estamos órfãos de um projeto nacional. Agora, é evidente que qualquer projeto nacional começa por projetar o Brasil do futuro. (...) Nós fomos achando que é possível tocar o futuro sem discutir o futuro, então é complicado”. E conclui: “Pelo menos três dos grandes países periféricos do mundo têm projetos nacionais claros, enquanto o Brasil não tem nenhum. Nós nem sequer discutimos a geopolítica mundial; nós não temos posicionamento nenhum”.
Confira a entrevista.
Como, na Economia, se define e se entende o conceito de “desigualdade”?
Carlos Lessa – Colocando-se a ideia de renda, a desigualdade se mede por diversos coeficientes, que medem a dispersão das extremidades em relação ao valor médio. Isso são estudos de distribuição de renda, desenvolvidos há muito tempo, em 30, 40 países do mundo.
Agora, o que não se faz — e essa é a dimensão que está sendo levantada para discussão — é a distribuição do patrimônio, ou seja, tudo aquilo que representa a chamada riqueza do indivíduo. Nesse sentido, a riqueza do indivíduo pode ir desde a sua casa própria e o que está nela até participações percentuais nas empresas — que são as participações societárias — e participações da dívida que outros têm; esses outros podem ser famílias, empresas e Estados nacionais. Então, essa dívida também faz parte da riqueza.
Estudos recentes demonstraram que, embora a distribuição de renda tenha melhorado em diversos países — principalmente nos chamados de primeiro mundo —, a distribuição do patrimônio não melhorou. Ou seja, apesar de uma quantidade crescente de famílias do primeiro mundo possuir casa própria, há um crescimento enorme da dívida das famílias, das empresas e dos Estados nacionais, e essa nova dívida, que faz parte do patrimônio, cresce em uma velocidade tal, que o patrimônio se mantém praticamente o mesmo.
E como o senhor vê essa má distribuição do patrimônio?
A verdade é que se houvesse uma redução significativa do valor da dívida das famílias, das empresas e dos Estados nacionais, haveria naturalmente, sem grande trauma, uma mudança no perfil de retração da riqueza do mundo. Agora, o que a história está mostrando é que os comandos desse sistema financeiro assumiram o comando da economia mundial, porque é muito difícil mexer no valor dessa dívida. Por exemplo, o que está acontecendo com a Argentina, hoje, é uma tentativa de forçá-la a pagar por uma dívida que foi contraída no passado. Porque, na verdade, no momento em que se diz que a dívida pode não ser paga, retira-se dela o valor patrimonial que ela tem. Essa questão da Argentina diz respeito à saúde do mundo como um todo; não acho que ela vá definir o futuro da humanidade, mas é uma espécie de preliminar das dificuldades que estão à frente.
Nesse sentido, o valor que está sendo cobrado da dívida da Argentina é equivocado?
É totalmente equivocado; estou do lado da posição argentina. A Argentina negociou uma redução da dívida numa situação em que está fracamente destruída como país e essa negociação foi aceita por 93% dos diretores; 7% não opinaram porque os fundos abutres compraram. A Justiça norte-americana diz que a Argentina deve pagar a dívida integralmente e com prioridade para esses 7%. Isso é algo absolutamente espantoso, porque se 93% aceitaram a proposta argentina e estão recebendo segundo essa proposta, como 7% podem derrubar tudo? Então, por isso, uma das coisas mais interessantes que aconteceram nas últimas semanas foi o fato de os países latino-americanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) terem votado a favor da Argentina e depois repetirem o gesto quando houve esse encontro do Brics em Fortaleza. Trata-se de um recado dizendo para ter cuidado, porque o tamanho dessa dívida colossal faz com que necessariamente um pedaço dela seja desvalorizado.
Como vê a criação do banco do Brics?
Estou cheio de dúvidas a respeito. Em uma primeira aproximação, a ideia do Brics é uma ideia geopolítica de criar uma terceira interlocução em nível mundial. Então, por esse lado, o Brics tem importância geopolítica para o Brasil. Agora, se vai ter importância econômica, tenho minhas dúvidas. O que o banco do Brics pode fazer é restabelecer liquidações compensatórias de dinheiro entre as moedas dos países do Brics. Se ele fizer isso, já está introduzindo uma dimensão importante no jogo financeiro mundial. E minha pergunta é: Vão fazer ou não vão fazer? É a sério ou não é a sério? Porque isso já é uma tentativa de reduzir o peso do dólar e eu não vejo como os americanos concordam com isso tranquilamente.
Mas fala-se também que o banco tem o objetivo de financiar projetos de infraestrutura entre os países.
Esse é o pretexto que está por trás da ideia de criar um sistema de compensações monetárias que não esteja baseado no dólar. Agora o pretexto para criar o banco é o pretexto que pode financiar projetos de infraestrutura a longo prazo sem lançar mão de reserva de dólar. Isso reduz o peso do dólar e é um efeito político ou geopolítico importante para um banco. Contudo, quero ver se ele é real mesmo; não é que eu queira ser São Tomé (ver para crer), eu só quero ver como isso vai se desdobrar.
Porque, por exemplo, a presidenta Dilma foi à última reunião de Davos dizer que o Brasil está inteiramente consciente e subordinado à ideia do Consenso de Washington, mas aí esse sistema de compensações monetárias entre as moedas do Brics não é o que Washington quer; por outro lado, o silêncio brasileiro com respeito à questão argentina — o nosso comportamento está sendo muito encabulado e retraído — é o que Washington quer. Então, eu não sei e a pessoa (Dilma) para mim também não sabe, apesar de estar perdendo o campeonato.
Qual é o papel do Brics na arquitetura financeira internacional?
Ainda não tem, mas se ele montar esse sistema de compensações bilaterais, passará a ter. Quer dizer, tem um lado aí que achei muito interessante nesse encontro do Brics, o de sair um financiamento para a Argentina. Outra ação interessante — e há tempo gosto muito do que a diplomacia brasileira faz — foi, na reunião da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e do Mercado Comum do Sul (Mercosul), colocar os países sul-americanos e seus presidentes junto aos presidentes do Brics. Isso foi um gesto político muito bonito e muito importante, porque marcou certa posição, mas por enquanto estamos na retórica.
O senhor leu o livro Capital in the Twenty-First Century [O capital no século XXI] de Thomas Piketty? Quais suas impressões?
Li alguns trechos. Não li todo, pois estou com descolamento da retina. Piketty fez diversos exercícios lançando mão das informações disponíveis para demonstrar isso que eu disse a você, ou seja, que a destruição da riqueza do patrimônio não se modificou, apesar de haver melhorias na distribuição de renda.
Quais são as principais dificuldades do Brasil em relação às desigualdades?
Os programas que o governo do PT implantou desde 2002, desde o primeiro mandato do Lula, do segundo mandato dele e do início do mandato da presidenta Dilma, tiveram um efeito importante do ponto de vista de distribuição de renda, somente isso. Como o Brasil teve uma melhoria espetacular na sua relação de trocas com o mundo, porque os produtos que o Brasil vendia para o mundo se valorizaram — tecnicamente nós dizemos que a relação de troca foi extremamente favorável para o Brasil até 2008, 2009 —, os governos do PT aproveitaram para tocar para frente uma política de distribuição.
Ou seja, melhoraram muito significativamente o salário mínimo real, que é a chave da disfunção de renda para a baixa renda do Brasil, que é o indexador geral de todos que têm ou não carteira assinada, e criou alguns programas de assistência social, como o Programa Bolsa Família, e isso melhorou a base da população brasileira.
É impressionante como as pessoas melhoraram o seu padrão de vida. Só que o problema é o seguinte: o governo do PT não usou esse “oxigênio” que o Brasil teve para dar sustentabilidade no longo prazo à melhoria. Agora, para a frente, o Brasil vai se confrontar com um problema muito sério: um pedaço enorme do patrimônio das empresas brasileiras, das empresas que estão no Brasil, dos bancos brasileiros e das famílias ricas está apoiado na dívida das famílias pobres que se endividaram para comprar automóvel, geladeira e mobiliário. Então, terá uma queda de braço para frente no país. Mas o que acho engraçado é que a disputa eleitoral brasileira nem tocou nesse assunto. Sou muito simpático que a universidade esteja preocupada em discutir isso, porque a universidade tem de criar uma geração que saiba pensar e saiba pensar o Brasil, um Brasil no mundo e um Brasil voltado aos brasileiros. Essa discussão é fundamental.
O senhor é um defensor do desenvolvimento de um projeto nacional. Em que medida esse projeto pode ter implicações na superação das desigualdades? E em relação a isso, existe no Brasil algum projeto nacional?
Não. Nós estamos órfãos de um projeto nacional. Agora, é evidente que qualquer projeto nacional começa por projetar o Brasil do futuro, o Brasil utópico, o Brasil que nós sonhamos. Eu sonho com um Brasil em que as desigualdades sociais sejam relativamente pequenas, com um Brasil em que todos os brasileiros tenham acesso à casa própria, tenham uma educação de qualidade, acesso à saúde, possibilidade de utilizar o seu tempo para absorver os bens culturais ou simplesmente ao lazer. Eu sonho com um Brasil que seja justo para os brasileiros e não acho que o Brasil é justo com os brasileiros. O país vai ter de discutir isso, só que essa discussão nem sequer começou.
Há muitos anos eu já disse que nós caminhávamos imensuravelmente para a desaceleração da economia e, infelizmente, tudo que imaginei aconteceu. Hoje o Brasil está tendo dificuldades imensas de manter se movendo como estava se movendo. Talvez isso tenha um lado muito ruim, porque gera uma perplexidade, uma angústia, uma interrogação forte para as pessoas, uma insegurança das pessoas em relação ao seu “estar no mundo”, mas, por outro lado, pode ser que force as pessoas a discutir que futuro se pensa para o Brasil, porque até agora essa discussão não existe.
Esse é um problema do Brasil ou há um limite de se ter um projeto nacional em tempo de globalização?
Isso não é verdade, porque existem muitos países que estão na globalização e estão perseguindo projetos nacionais. O exemplo principal é a China, mas diria que de certa maneira a Índia e a Rússia também têm projetos nacionais. Então, pelo menos três dos grandes países periféricos do mundo têm projetos nacionais claros, enquanto o Brasil não tem nenhum. Nós nem sequer discutimos a geopolítica mundial; nós não temos posicionamento nenhum. Por exemplo, qual é o posicionamento dos brasileiros com respeito ao que vem acontecendo na Argentina? A impressão que eu tenho é de que nenhum — apesar de vocês estarem aí no Rio Grande do Sul. Qual é o posicionamento dos brasileiros a respeito do que vem acontecendo na Ucrânia? Zero; nem se debate. Quem está discutindo no Brasil o projeto eurasiano que Vladimir Putin está desenvolvendo? Ninguém. Só que esse projeto vai levar a Rússia a se aliar ao Japão, por um lado, e à China, por outro, colocando a Europa na dependência total da Rússia. Nós estamos discutindo isso? Não. A rota dos navios que liga o Japão com a Europa vai agora passar a ser pelo Ártico, porque com o degelo e as frotas de quebra-gelo russas isso se torna possível. Só que essa rota, que é ótima para o Japão, que encolhe sete mil léguas submarinas a distância entre o Japão e a Europa é péssima para o Brasil, porque nos desloca mais para a periferia do mundo. Estão discutindo isso? Não. Nós fomos achando que é possível tocar o futuro sem discutir o futuro, então é complicado.
Pode dar outros exemplos dos projetos nacionais desses países?
Claro. O projeto da China é óbvio: quer voltar a ser o império asiático e mundial. Para isso, combina três dimensões: procurar ter supremacia no comércio mundial, exportando produtos industrializados e importando matérias-primas de alimentos; quer estar na vanguarda tecnológica do mundo, usando os poderes que dispõe para empurrar a tecnologia para frente e quer, de maneira muito clara, dominar totalmente a esfera asiática. E nós não temos nenhum projeto, nem com respeito às relações com a Argentina nós temos um projeto claro.
O senhor é bastante getulista...
Total. Mas nós não podemos fazer invocações de fantasmas, pois nenhum fantasma se materializa. Getúlio foi uma liderança inquestionável para esse país. Eu gosto de dizer que com Getúlio, contra Getúlio e sem Getúlio, o Brasil se moveu 50 anos para perseguir a industrialização. E, a partir do governo de Collor de Mello, o Brasil não persegue nada.
Depois dele, quais presidentes pensaram em um projeto de nação?
Ele foi o presidente brasileiro mais consistente e coerente nisso. Eu diria que o Rodrigues Alves [1], de certa maneira, e o mineiro Arthur Bernardes [2] tinham visões claras da necessidade de um projeto nacional. Mas, quem adotou integralmente e foi fiel ao projeto nacional, foi Getúlio.
Alguns tentam comparar ou fazer alguma aproximação entre Lula e Getúlio. Como vê essa tentativa?
Essa comparação não dá certo e é complicada por uma razão: o PT tentou se criar “anti-Getúlio”. Eu lembro do Lula dizendo a seguinte frase: “A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) é o AI-5 dos trabalhadores”. Ou seja, para ele, a CLT impediria qualquer ingerência dos trabalhadores em seu futuro. O PT era antigetulista e depois começou a diminuir um pouco isso, mas ao mesmo tempo pegou do pragmatismo de Getúlio a pior de todas as dimensões, porque Getúlio era pragmático nas alianças que fazia, mas apesar das alianças, ele nunca permitiu dissolver os objetivos nacionais. Enquanto isso, o PT vende o petróleo no leilão de Libra. Getúlio nunca permitiu que a privatização fosse um elemento pragmático a ser negociado; soberania nacional sempre foi fundamental para Getúlio. E esse conceito nem existe no governo Lula.
Eu não estou querendo polemizar com o PT; minha preocupação é outra. Minha preocupação é que os estudantes da universidade, os gaúchos, que são a vanguarda do pensamento nacional brasileiro, voltem a discutir o projeto Brasil; mesmo que vocês troquem desaforos entre vocês, são obrigados a explicitar os debates.
O Brasil quer ser uma Porto Rico enorme do Atlântico Sul? Ou o país quer ter uma grande importância na formação de um continente sul-americano unificado? Se for isso, nós temos de cuidar a visão da Argentina que o Brasil tem. Eu fico encabulado em ver o Chile assumindo mais defesa da Argentina hoje do que o Brasil. Nesse sentido, os gaúchos são a grande fronteira de nacionalismo do Brasil.
Como o senhor vê as campanhas à Presidência da República? Algum candidato apresenta ou tem em perspectiva um projeto de nação?
Não. Uma das minhas angústias é que o desdobramento da campanha presidencial não está absolutamente politizando o Brasil no bom sentido. O que está acontecendo agora é uma competição para saber quem é cúmplice do mensalão, para descobrir algo sobre o aeroporto do Aécio, algo contra o Eduardo, amanhã talvez apareça algo contra a Dilma e vai ficar nisso. Isso não é absolutamente uma discussão política; é uma discussão que não explicita as escolhas que o Brasil tem de fazer. E se a opinião pública mantiver a posição, como está hoje, de que os políticos são a mesma coisa e que os partidos políticos não servem para nada, eu não sei o que vai acontecer; vamos numa conjuntura internacional muito difícil.

http://www.brasildefato.com.br/

terça-feira, 29 de julho de 2014

Banco Santander. Bandidagem





SANTANDER COMPROU O BANESPA NO GOVERNO DOS 

E TEM ALGUNS MAUS BRASILEIROS QUE APOIAM 

ESTES CARAS DO PSDB.

POR ISSO ESSE ATAQUE A DILMA. ESTA EXPLICADO 

RELAÇÃO PROMISCUA DESTA "GENTE".  VEJA O 

QUE DIZ O CANDIDATO TUCANO AÉCIO NEVES EM 

DEFESA DO BANQUEIRO NO PORTAL G1:


"O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, criticou nesta segunda-feira (28) a reação da presidente Dilma Rousseff e do PT no episódio da carta enviada pelo Santander a clientes de alta renda, na qual o banco sugeria uma piora do cenário econômico com eventual reeleição de Dilma."

Para Aécio, não há interferência dos mercados no sistema político e eleitoral. Segundo ele, o que o extrato enviado pelo banco fez foi apenas explicitar um ceticismo geral do mercado com relação ao atual governo.


“Não adianta o dirigente partidário questionar, cobrar demissões dentro de uma instituição financeira porque teriam que demitir praticamente todos os analistas de todas as instituições porque todos eles são muitos céticos em relação ao cenário da economia brasileira se continuar o atual governo. O que o Santander fez foi explicitar isso”, disse o tucano, em entrevista a jornalistas, em São Paulo.





É MUITO MAIS GRAVE DO QUE PARECE: QUAL É A DO SANTANDER, O BANCO QUE FALA MAL DA DILMA???

O Escândalo da “PRIVATARIA” do BANESPA/SANTANDER/FHC/PSDB: Os tucanos gastaram, via PROES - Programa de Incentivo à Redução do 
Setor Público Estadual na Atividade Bancária (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/mpv/Antigas/1514.htm), US$ 45,5 bilhões de dólares do dinheiro público federal para “sanear” o BANESPA (http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/banespa_governo.shtml), e venderam para o SANTANDER por R$ 7,05 bilhões de reais. Em 9 meses o BANESPA lucrou R$ 6 bilhões de reais para o SANTANDER... (http://www.fetecpr.org.br/em-2000-banco-santander-pagou-7-bi-pelo-banespa-agora-em-9-meses-lucrou-6-bilhoes-de-reais/).

Leia aqui o livro “A PRIVATARIA TUCANA”, de Amaury Ribeiro:http://privatariatucanaolivro2.files.wordpress.com/2011/12/a_privataria_tucana_-_amaury_ribeiro_jr1.pdf

Veja aqui sobre as ligações do SANTANDER com a OPUS DEI (https://www.youtube.com/watch?v=2YxMHoyVF8Y), mesma ordem a qual pertence GERALDO ALCKMIN (http://pt.wikipedia.org/wiki/Categoria:Membros_do_Opus_Dei), um dos tucanos de alta plumagem do PSDB.

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os ou periódicos, com a menção do nome do autor, se assinados, e da publicação de onde foram transcritos; (...)"

segunda-feira, 28 de julho de 2014

“Dentro do sistema capitalista, não há salvação”

Leonardo Boff:

Wilson Dias/ABr
“Esse sistema não é bom para a humanidade, não é bom para a ecologia e pode levar eventualmente a uma crise ecológica social com consequências inimagináveis, em que milhões de pessoas poderão morrer", diz o teólogo
28/07/2014
Por Débora Fogliatto,
Do Sul 21
Um dos mais conhecidos teólogos do Brasil, Leonardo Boff é um nome atualmente aclamado em todo o mundo, mas que já foi muito marginalizado dentro da própria Igreja em que acredita. Nos anos 1980, o então frade foi condenado pela Igreja Católica pelas ideias da Teologia da Libertação, movimento que interpreta os ensinamentos de Jesus Cristo como manifesto contra as injustiças sociais e econômicas.
Aos 75 anos, Boff é um intelectual, escritor e professor premiado e respeitado no país, cuja opinião é ouvida por personalidades com o Papa Francisco e os presidentes Lula da Silva e Dilma Rousseff. Nesta entrevista aoSul21, concedida durante sua vinda a Porto Alegre, Boff fala do momento atual da Igreja Católica, critica os religiosos que usam o evangelho para justificar ideias retrógradas ou tirar dinheiro dos fiéis, tece comentários sobre a situação no Oriente Médio, aborto, violência e sobre a crise ecológica e econômica mundial.
As duas estão profundamente interligadas: como explica Boff, o capitalismo está fundado na exploração dos povos e da natureza. “Esse sistema não é bom para a humanidade, não é bom para a ecologia e pode levar eventualmente a uma crise ecológica social com consequências inimagináveis, em que milhões de pessoas poderão morrer por falta de acesso à água e alimentação”, afirma ele, que é um grande estudioso das questões ligadas ao meio ambiente.
Sul21 – Nos anos 1980, por causa dos ideais defendidos pela Teologia da Libertação, o senhor foi condenado a um ano de silêncio obsequioso e sofreu várias sanções, que acabaram sendo amenizadas diante da pressão social sobre a Igreja Católica, mas que o fizeram abandonar o hábito. O senhor acredita que atualmente a Igreja agiria da mesma forma?
Leonardo Boff – Não. O atual Papa diz coisas muito mais graves do que eu disse no meu livro “Igreja: carisma e poder”, que foi objeto de condenação. Se ele tivesse escrito isso, teria sido condenado. Eu disse coisas muito mais suaves, mas que afetavam a Igreja. Dizia que a Igreja não respeitava os direitos humanos, que é machista, tem um conceito de poder absolutista e absolutamente superado, sem limites.
Os tempos mudaram e a graças a Deus temos um Papa que pela primeira vez, depois de 500 anos, responde à reforma, responde a Lutero. Lutero lançou o que chamamos de Princípio Protestante, que é o princípio de liberdade. E esse Papa vive isso. E vive o cristianismo não como um feixe de verdade que você adere, mas como o encontro vivo com Jesus. Ele distingue entre a tradição de Jesus, aquele conjunto de ideais, tradições, e a religião cristã, que é igual a qualquer outra religião. Ele diz: “eu sou do movimento de Jesus”, e não da religião católica. Tais afirmações são escandalosas para cristãos tradicionais, mas são absolutamente corretas no sentido da Teologia, daquilo que nós sempre dizíamos e éramos perseguidos por isso.
E eu fico feliz que a Igreja não é mais uma instância que nos envergonhe, mas sim uma instância que pode ajudar a humanidade a fazer uma travessia difícil para outro tipo de sociedade que respeite os direitos da natureza, da Terra, preocupada com o futuro da vida. Eu mesmo tive contato com o Papa e o tema central dele é vida. Vida humana, da terra, da natureza. E nós temos que salvá-la, porque temos todos os instrumentos para destruí-la.
Sul21 – O senhor acredita que a Igreja Católica, sob orientação do papa Francisco, vai efetivamente renunciar a alguns temas tratados como tabu, como a união homossexual?
Leonardo Boff – Ainda não sabemos bem a opinião dele. Ele diz: “quem sou eu para julgar?”, no fundo diz para respeitar as pessoas. Ele vai deixar haver uma grande discussão na Igreja sobre a questão do divórcio e dos homossexuais, sobretudo a moral sexual cristã, que é extremamente rigorosa e restrita, em alguns casos é criminosa. Por exemplo, pregar na África que é pecado usar a camisinha, em lugares onde metade da população sofre de Aids, é cometer um crime contra a humanidade. Foi o que o papa Bento XVI disse várias vezes. Eu acho que o Francisco é mais que um Papa, é um projeto de mundo, projeto de Igreja, ele se dá conta de que a humanidade é uma, está sob risco e temos que nos unir nas diferenças para superar a crise.
Acho que a grandeza desse Papa não será ele definir as coisas, mas deixar que se discutam. E eu acho que ele vai respeitar as pessoas, porque a maioria não é homossexual, ou homoafetivo, por opção. As pessoas se descobrem homoafetivas. E ele vai dizer: “ande dentro de Deus, não se sinta excluído”. Vai dizer que (os homossexuais) são tão filhos de Deus quanto os outros. E daí respeitar. Talvez ele diga “não chame matrimônio, que é um conceito canônico”. Mas uma união responsável, que merece a benção de Deus, e que tenha uma proteção jurídica, que tenha seu lugar na Igreja, que possam frequentar os sacramentos. Esse seguramente vai ser o caminho dele.
Sul21 – E com essas posições do Papa Francisco, o senhor acha que Igreja Católica talvez consiga recuperar fiéis diante do avanço das igrejas evangélicas?
Leonardo Boff – Esse Papa não é proselitista e diz claramente que o evangelho deve atrair pela sua beleza, seu conteúdo humanitário. Ele não está interessado em aumentar o número de cristãos, em fazê-los voltar. Está interessado em que as pessoas, com a situação confessional que têm, se coloquem à disposição do serviço da humanidade, das coisas boas que a humanidade precisa.
É aquilo que nós chamamos de “ecumenismo de missão”. Estamos divididos, é um fato histórico, mas não é uma divisão dolorosa. Porque cada um tem seus antros, profetas e mestres. Mas como nós juntos nos reconhecemos nas diferenças e como juntos vamos apoiar os sem terras, os sem tetos, os marginalizados, as prostitutas. Esse serviço nós podemos fazer juntos.
Sul21 – Muitas pessoas usam a religião para justificar opiniões conservadoras, machistas e homofóbicas. Qual a sua opinião sobre essas posições?
Leonardo Boff – Há o exemplo concreto do aborto nas últimas eleições. Isso mobilizou as igrejas, foram até o Papa, fizeram pressão sobre os fiéis. Eu acho que é uma falsa utilização da religião. A religião não foi feita para isso. E todos devem reconhecer, e são obrigados a reconhecer pela Constituição, que há um Estado que é laico. Então essas pessoas pecam contra o princípio fundamental da democracia, não são democratas. Eles podem ter a opinião deles, mas não podem impô-la.
É muito fácil a posição deles, é salvar a criancinha. E depois que salvou ela está na rua, abandonada, passando fome e morrendo. E nem têm compaixão pelas mais de cem mil mulheres que morrem por ano por causa de abortos malfeitos. São pessoas que pecam contra a democracia e contra a humanidade, o senso humanitário. Ninguém é a favor do aborto em si, as mulheres que fazem aborto não pediram por isso. Mas muitas vezes passam por situações tão delicadas que precisam tomar essa decisão.
O que eu aconselho e o que muitos países fizeram, inclusive Espanha e Itália, que são cristianíssimas e permitiram o aborto, pediram que houvesse um grupo de acompanhamento, que converse com a mulher e explique o que significa. E deixar a decisão a ela, se ela decidir vamos respeitar a decisão. Mas ela faz com consciência. Isso eu acho que seria democrático e seria responsável diante da fé, você não renuncia à tua fé, mas respeita a consciência, que é a instância última a que responde diante de Deus.

“Então eles têm um país que foi vítima do nazismo e utiliza os métodos do nazismo para criar vítimas. Essa é a grande contradição.”

Sul21 – Algumas igrejas aqui cobram dízimo dos fiéis, muitas vezes dizem que para agradecer a Deus as pessoas têm que pagar as igrejas. Qual a sua opinião e como a teologia da libertação vê essa prática?
Leonardo Boff – São igrejas do chamado “evangelho da prosperidade”, dizem que você dá e Deus te devolve. Eu acho que é um abuso, porque religião não foi feita para fazer dinheiro. Foi feita para atender as dimensões espirituais do ser humano e dar um horizonte de esperança. Agora quando a igreja transforma a religião num poder econômico, como a Igreja Universal do Reino de Deus, que em Belo Horizonte tem um shopping ao lado, chamado de “o outro templo”, que é o templo do consumo, e depois do culto as pessoas são instruídas a comprar. Para mim, é a perversão da religião. Inclusive acho que é contra a Constituição utilizar a religião para fins não naturais a ela. Eu combato isso, sou absolutamente contra. Porque isso é enganar o povo, é desnaturar e tirar o caráter espiritual da religião. A religião tem que trabalhar o capital espiritual, e não material.
Sul21 – E em relação a essa crise violenta entre Israel e a Faixa de Gaza, em que o Estado de Israel já matou centenas de pessoas, como o senhor acha que o resto do mundo deveria agir em relação a isso? O Papa poderia ser uma pessoa a mediar o conflito?
Leonardo Boff – Esse Papa é absolutamente contemporâneo e necessário. Acho que é o único líder mundial que tem audiência e eventualmente poderia mediar essa guerra de massacre criminosa que Israel está movendo contra Gaza.
E eu acho que grande parte da culpa é do Obama, que é um criminoso. Porque nenhum ataque com drones (avião não tripulados) pode ser feito sem licença pessoal dele. Estão usando todo tipo de armas de destruição, fecharam Gaza totalmente, ficou um campo de concentração, e vão destruindo. Então eles têm um país que foi vítima do nazismo e utiliza os métodos do nazismo para criar vítimas. Essa é a grande contradição.
E os Estados Unidos apoia, o Obama e todos os presidentes são vítimas do grande lobby judeu, que tem dois braços: o braço dos grandes bancos e o braço da mídia. Eles têm um poder enorme em cima dos presidentes, que não querem se indispor e seguem o que dizem esses judeus radicais, extremistas e que se uniram à direita religiosa cristã. Isso está aliado a um presidente como Obama que não tem senso humanitário mínimo, compaixão para dizer “acabem a matança”.
Sul21 – Qual a sua avaliação da atual disputa para a presidência da República?
Leonardo Boff – Notamos que é uma disputa de interesses de poder. Não se discute o projeto Brasil, se discute poder. O que eu acho lamentável porque não basta ter poder, o poder é um meio. Eu vejo que há duas visões de futuro. Uma é mais progressista, que é levada pelo atual governo. E eu torço que ele ganhe. Mas ganhar para avançar, não reproduzir agenda. Ele atingiu uma agenda que é o primeiro passo, de incluir milhões de pessoas que têm agora direito de consumir o mínimo, de comida, ter geladeira, casa, luz. Isso é direito de todo cidadão. Essa etapa eu acho que o governo cumpriu e bem. Mas agora vem uma nova etapa, porque o ser humano não tem só fome de pão. Tem fome de escola, beleza, lazer, participação na vida social, dos espaços públicos.
E há os que querem impor aquilo que está sendo imposto e não está dando certo na Grécia, em Portugal, na Itália, na Irlanda, que é o neoliberalismo mais radical. Que no fundo é uma austeridade, é o arrocho salarial, aumentar o superávit primário, que é aquele bolo com que se paga os rentistas. Há a visão de futuro que quer enquadrar o Brasil nesse tipo de globalização que é boa para o capital, porque nunca os capitalistas enriqueceram tanto. Tanto que nos Estados Unidos 1% tem o equivalente a 99% da população, enquanto no Brasil 5 mil famílias controlam o equivalente a 43% do PIB. São famílias da casa-grande, que vivem do capital especulativo.
Acho que nós temos que vencer esse projeto, porque não é bom para o povo. Mesmo com todos os defeitos e violações de ética que houve, erros que o PT cometeu, ainda assim o projeto deles é o mais adequado para levar adiante um avanço. Agora se for ganhar para avançar, porque se for para reproduzir dá no mesmo do que outro ganhar.
Sul21 – O senhor mencionou a crise econômica pela qual passam a Grécia, Espanha e países europeus que seguem o neoliberalismo. Há maneiras de reverter a crise?
Leonardo Boff – A Europa está tão enfraquecida e envergonhada que nem mais aprecia a vida. Aquilo que mais escuto em cada palestra que vou na Europa é pessoas me pedindo “por favor, me dê esperança”. Quando um povo perde esperança, perde o sentido de viver. Isso acontece porque alcançaram tudo que queriam, dominaram o mundo, exploraram a natureza como quiseram, ganharam um bem-estar que nunca houve na História e agora se dão conta que são infelizes. Porque o ser humano tem outras fomes. Fome de amar e ser amado, de entender o outro, conviver, respeitar a natureza.
E tudo isso foi colocado à margem. Só conta o PIB. Mas tudo que dá sentido humano não entra no PIB: o amor, a solidariedade, a poesia, a arte, a mística, os sábios. Isso é aquilo que nos faz humanos e felizes. E essa perspectiva em que só contam os bens materiais poderá levar a humanidade a uma imensa tragédia. Dentro do sistema capitalista, não há salvação. Por duas razões. Primeiro porque nós encostamos nos limites da Terra. É um planeta pequeno, com a maioria dos recursos não renováveis. O sistema tem dificuldade de se auto-reproduzir, porque não tem mais o que explorar. E segundo porque os pobres, que antes da crise que eram 860 milhões, pularam, segundo a FAO, para um bilhão e 200 milhões.
Então esse sistema não é bom para a humanidade, não é bom para a ecologia e pode levar eventualmente a uma crise ecológica social com consequências inimagináveis, em que milhões de pessoas poderão morrer por falta de acesso à água e alimentação. Esse sistema, para minha perversidade total, transformou tudo em mercadoria. De uma sociedade com mercado para uma sociedade de mercado, transformando alimentação em mercadoria. O pobre não tem dinheiro para pagar, então ele passa fome e morre.
Sul21 – O senhor se preocupa também com o avanço da extrema direita na Europa?
Leonardo Boff – É a reação normal de quando há uma crise maior que alguns postulem soluções radicais. No caso da Europa, é a xenofobia. Mas são todos países que têm problema de crescimento negativo de população. A Alemanha tem que exportar 300 mil pessoas por ano para manter o crescimento mínimo de população, e na França a situação é parecida. Então estão em uma dificuldade enorme, porque precisam deles, mas querem os expulsar. Mas há o risco de que haja um processo que gerou a Segunda Guerra Mundial, que era fruto da crise de 1929 que nunca se resolvia, até que a direita criou o nazifascismo. Mas hoje o mundo é diferente, é globalizado. Não dá para resolver a questão de um país sem estar vinculado aos outros.
Sul21 – Os governos da América Latina oferecem uma alternativa a esse modelo europeu que está em crise?
Leonardo Boff – Muitos veem, como o (sociólogo português) Boaventura de Sousa Santos, que na América Latina há um conjunto de valores vividos pelas culturas originárias que podem ajudar a humanidade a sair da crise. Especialmente com a característica central do bem-viver, que significa ter outra relação com a natureza, entender a Terra como mãe, que nos dá tudo que precisamos ou podemos completar com o trabalho. E inventaram a democracia comunitária, que não existe no mundo, é uma invenção latino-americana, em que os grupos se reúnem e decidem o que é melhor para eles, e o país é feito por redes de grupos de democracias comunitárias. Essa nova relação com a natureza e o mundo é o que precisamos desenvolver para ter uma relação que não seja destrutiva e possa fazer com que a humanidade sobreviva.
Há uma revisitação das culturas originárias, porque elas têm ainda respeito com a natureza, não conhecem a acumulação. São valores já vividos pelas culturas andinas, sempre desprezadas e hoje estudadas por grandes cientistas e sociólogos que percebem que aqui há princípios que podem nos salvar. Em vez de falar de sustentabilidade, respeitar os ritmos da natureza. Em vez de falar de PIB e crescimento, garantir a base físico-química que sustenta a vida. Porque sem isso a vida vai definhando. E em vez de crescimento, redistribuição. É tanta riqueza acumulada que se houvesse 0,1% de taxa sobre os capitais que estão rolando nas bolsas, estão na especulação, daria um fundo de tal ordem que daria para a humanidade matar a fome e garantir habitação. Porque o capital produtivo é de U$ 60 trilhões, enquanto o especulativo é U$ 600 trilhões. Então é uma economia completamente irracional e inimiga da vida e da natureza. E não tem futuro, caminha para a morte. Ou nos levará todos para a morte, ou eles mesmos se afundarão.
Sul21 – E onde entra o papel do Brasil no âmbito ecológico? Os governos têm conseguido lidar com as questões ambientais?
Leonardo Boff – O Brasil é a parte do planeta mais bem dotada ecologicamente. Tem as maiores florestas úmidas, maior quantidade de água, maior porcentagem de terrenos agriculturáveis no planeta.  Mas não têm consciência de sua riqueza. E as políticas públicas não têm nenhuma estratégia de como tratar a Amazônia, tratar os vários ecossistemas. Sempre é em função da produção. Então estão avançando sobre a floresta Amazônica e deflorestando para ter soja e gado.
E o Ministério do Meio Ambiente é um dos mais fracos, assim como o dos Direitos Humanos. Isso significa que não conta a vida, conta a economia. Eu acho lamentável isso. E essa crítica tem que ser feita pelos cidadãos. Dizer que apoiamos um projeto de governo, mas nisso discordamos. Porque é uma ignorância, uma irresponsabilidade, uma estupidez governamental. Muita coisa do futuro da humanidade passa por nós, especialmente água potável, que possivelmente será a crise mais grave, até mais do que aquecimento global. E o Brasil tem capacidade de ser a mesa posta para o mundo inteiro e fornecer água potável para o mundo inteiro. Acho que não temos consciência da nossa responsabilidade. Os governantes são vítimas ainda de uma visão economicista, obedecem as regras da macroeconomia. A nossa relação com a natureza não é de cooperação, é de exploração.
Sul21  – Como o Brasil pode lidar com o grave problema de violência urbana? 
Leonardo Boff – O problema que deve ser pensado de que já agora 63% da humanidade vive nas cidades, no Brasil 85%. Não dá mais para pensar apenas na reforma agrária, tem que pensar como vão viver as pessoas. Nós vivemos no Brasil a vergonha de que todas as cidades têm um núcleo moderno cercado por uma ilha de pobreza e miséria, que são as favelas. Esse é um problema não resolvido e para mim central na campanha: como trabalhar os 85% que vivem nas cidades, já perderam a tradição rural, de plantar e viver da natureza, e não assimilaram a cultura urbana. Então são perdidos. Daí o aumento da criminalidade. E muitos dizem que a sociedade têm um pacto social que rege o comportamento dos cidadãos. Ou seja, “vocês nos excluíram, então não somos obrigados a aceitar as leis de vocês, vamos criar as nossas”. As milícias do Rio criaram funções de Estado paralelas, criam sua organização e distribuição e o governo é impotente. E as UPPs não são a solução, porque cria ilhas e as drogas ficam nas margens. O problema não é de polícia, é do tipo de sociedade que nós criamos, montada em cima do colonialismo, escravagismo e etnocídio dos indígenas. Nós não “temos violência” no Brasil, nós estamos sentados em cima de estruturas de violência. É um estado de violência permanente.
Sul21 – E como o país pode fazer para fugir disso?
Leonardo Boff – Aquilo que já começou, parar de fazer políticas ricas para os ricos e pobres para os pobres para fazer políticas de integração, inclusão, começando pela educação. Porque onde há educação a pessoa se habilita a se autodefender, buscar novas formas de sobrevivência. Um país que não investe em educação e saúde conta com pessoas ignorantes e doentes. E com essas pessoas não têm como dar um salto de qualidade. Para mim esse é o grande desafio e isso deveria ser discutido nas campanhas, e não partidos. Desafiar todo mundo: “como vamos sair disso?”, porque tende a piorar cada vez mais. Essa seria uma política ética, digna, onde o bem comum estaria no centro e somaria forças, alianças de pessoas que se propõem a mudar as estruturas que sustentam um Estado injusto, que tem a segunda maior desigualdade do mundo. Desigualdade significa injustiça, que é um pecado social estrutural mortal. E isso não é discutido.
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