domingo, 30 de março de 2014

Dilma: Realidade desmentirá conclusões precipitadas sobre a economia brasileira


Presidenta Dilma Rousseff durante sessão inaugural da LV Reunião Anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
Presidenta Dilma Rousseff durante sessão inaugural da LV Reunião Anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
A presidenta Dilma Rousseff afirmou neste sábado (29), durante sessão inaugural da LV Reunião Anual da Assembleia de Governadores do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que acontece na Costa do Sauípe, na Bahia, que a realidade desmentirá julgamentos apressados e conclusões precipitadas sobre a economia brasileira.
“Estamos convencidos da absoluta necessidade de preservar a solidez dos fundamentos macroeconômicos (…) Este compromisso não será alterado. Tampouco nos abalaremos com julgamentos apressados e por conclusões precipitadas, que a realidade desmentirá. Todos sabemos que, em economia, a realidade sempre se impõe. Em alguns momentos, expectativas, especulações, avaliações subjetivas e até mesmo interesses políticos podem obscurecer a visão objetiva dos fatos”.
Dilma afirmou que o governo continuará agindo para manter o país no rumo certo, sem abdicar, em nenhum momento, do compromisso fundamental com a solidez da economia e com a inclusão e o desenvolvimento social e ambiental do país. A presidenta lembrou que nos últimos 10 anos a taxa de inflação se manteve rigorosamente dentro dos limites estabelecidos pelo Conselho Monetário Nacional e garantiu que assim também será em 2014.
No discurso, a presidenta disse ainda que as reservas internacionais estão em mais de 370 bilhões de dólares, o que proporciona um lastro confortável e seguro para enfrentar qualquer volatilidade, e que nos últimos 12 meses o país recebeu mais de 65,8 bilhões de dólares em investimentos estrangeiros diretos.
“Em 2014, faremos novas concessões, ampliando ainda mais nossa parceria com o setor privado em investimentos em infraestrutura logística e energia e infraestrutura urbana. O Brasil tem ainda inúmeros desafios para enfrentar e superar e haverá sempre novos obstáculos a serem removidos. Podemos, contudo, nos orgulhar de ter construído um caminho para o desenvolvimento, o que nos permite dizer, que o Brasil vai muito bem, e irá ainda melhor”.
A presidenta afirmou que o Brasil se tornou um país menos desigual, mais inclusivo, gerador de empregos e de oportunidades para os cidadãos.
“O Brasil que recebe esta reunião é radicalmente distinto do existente há 11 anos. Retiramos 36 milhões de brasileiros da extrema pobreza, 22 milhões dos quais nos últimos três anos e meio. Propiciamos a ascensão de 42 milhões de pessoas à classe média, que, hoje, representa no Brasil, só a classe média, 55% da população. A renda per capita familiar subiu 78% em 10 anos. Geramos 4 milhões e 800 mil empregos formais e foram, nos ultimos 11 anos, na ultima década, 20 milhões de empregos, fazendo com que alcançássemos hoje o menor índice de desemprego de nossa história”.

Fonte: Blog do Planalto 

Os neossocialistas Heráclito Fortes, Bornhausen e Caiado apoiam Eduardo Campos/Marina



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Heraclito, Bornhausen e Caiado estão com o Dudu.
É o fim dos tempos. Heráclito Fortes e a família Bornhausen estão entrando de cabeça na campanha da Frente itaú-guarani-kaiowá-naturassocialista-pentecostal dos últimos diascapitaneada pela dupla Campos/Marina. Em contrapartida, Ronaldo Caiado, com outras palavras, chamou o governador de Pernambuco de frouxo, pois Campos entrou na onda da ex-pupila de Chico Mendes. Porém, na hora “h”, o socialista-ruralista se juntará a ele.

O governador Eduardo Campos vai lançando a sua rede em torno de apoios ao seu projeto presidencial, pescando adesões por todo o País. Agora é o ex-senador piauiense Heráclito Fortes que trocou o DEM pelo PSB.
‘‘Fortes se associou ao grupo do governador do Estado do Piauí, Wilson Martins, também socialista. Tem, porém, uma cor nacional. Outros antigos expoentes do DEM, como o ex-senador Jorge Bornhausen, mudaram-se para o PSB e apoiarão a candidatura presidencial do governador pernambucano Eduardo Campos.’’


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O deputado disse que tomou a decisão de migrar para o PSB quando o PSD deu sinais de que deverá apoiar a reeleição da presidente Dilma Rousseff.
Erich Decat, via Agência Estado
O projeto presidencial do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), ganhará o reforço da família Bornhausen em Santa Catarina. O deputado federal Paulo Bornhausen, atualmente secretário de Desenvolvimento Econômico no governo de Santa Catariana, se filiou ao PSB no dia 30 de agosto.

Paulo Bornhausen é filho de Jorge Bornhausen, ex-senador que comandou o antigo PFL – hoje DEM. Bornhausen foi um dos maiores inimigos políticos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2005, no auge do escândalo do mensalão, o então senador Bornhausen afirmou “vamos acabar com essa raça”, referindo-se à chance de a oposição tirar o PT do poder.
Jorge Bornhausen, hoje sem partido, não confirma se também vai se filiar ao PSB. Em 2011, ele auxiliou o ex-prefeito Gilberto Kassab a articular a criação do PSD.
“Tenho muitos anos de história, de liderança, e com a ajuda do meu pai, do grupo que a gente tem, vamos fazer um belo palanque para o Eduardo Campos aqui também”, afirmou Paulo Bornhausen.
[...]
Segundo ele, também pesou na decisão o fato de ter “certeza” que Eduardo Campos sairá candidato à Presidência em 2014. “Eu tenho certeza disso. Ele não tem nada a perder. Tem discurso, tem presença. Vai ter apoiadores no Brasil inteiro. Ele na minha opinião é o novo nessa eleição.”
Paulo Bornhausen disse que tentará ser reeleito deputado federal. “Estou ajudando a montar uma chapa boa para eleger pelo menos dois a três deputados, uma boa bancada na Assembleia e fazer o palanque do governador no Estado.
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“Estou desapontado com Eduardo Campos. Todos os predicados que eu imaginava que ele tivesse foram anulados pela absoluta falta de coragem”, escreveu Caiado.
Via EM.com.br

O deputado Ronaldo Caiado (DEM/GO) criticou na quinta-feira, dia 10, no Twitter o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), por uma suposta “falta de coragem”. “Estou desapontado com Eduardo Campos. Todos os predicados que eu imaginava que ele tivesse foram anulados pela absoluta falta de coragem”, escreveu Caiado.

Em seguida, o deputado democrata fez críticas ainda mais duras e chegou a chamar Campos de fraco. “Eduardo Campos revelou-se pessoa tíbia, fraca. ‘Novo’ se faz com ações, agrega o melhor de diferentes segmentos. Com menos discursos”.
As críticas acontecem um dia após o governador de Pernambuco ter declarado que não tem aliança com o deputado goiano. Caiado pretendia apoiar a candidatura à Presidência de Campos, mas a aliança do presidente do PSB com a ex-senadora Marina Silva esfriou as intenções do deputado ruralista.

Na terça-feira, dia 8, em entrevista ao Broadcast Político, Marina afirmou que “história e trajetória de vida diz que Ronaldo Caiado, se a aliança prospera, ele mesmo vai pedir para sair, porque é completamente contrário às minhas ideias”.

http://limpinhoecheiroso.com/

Aliado histórico de Marina abandona Rede e diz ter feito “papel de bobo”



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O ex-deputado Luciano Zica, próximo de Marina desde a época de Ministério do Meio Ambiente, que deixou o projeto da Rede. Foto de Moacyr Lopes Junior/Folhapress.
Paulo Gama, via Folha on-line
Próximo de Marina Silva desde a época do Ministério do Meio Ambiente, o ex-deputado federal Luciano Zica é a primeira baixa entre aliados históricos da ex-senadora por causa da filiação dela ao PSB. Zica decidiu abandonar o projeto de criação da Rede Sustentabilidade.
“Nossa proposta era a de fazer da política uma nova política. E o PSB não tem métodos menos velhos que os outros partidos”, afirmou à Folha.
Então filiado ao PT, Zica foi secretário nacional de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente na gestão Marina (2003-2008). Trocou o partido pelo PV junto com a ex-senadora, em 2009. Foi um dos coordenadores da campanha presidencial de Marina em 2010 e, com a saída dela do PV, passou a articular a Rede em São Paulo.
Apesar de não ter cargo na coordenação estadual, Zica era um dos responsáveis pela articulação da Rede com prefeitos, vereadores e deputados. Ele diz que sentiu ter feito “papel de bobo” ao tentar convencer possíveis aliados sobre a “nova política”.
“Passei meio de bobo na história. Não que eu não seja, mas não precisava ficar tão evidente”, queixa-se. “Gastei recursos, energia, tempo na perspectiva de que as discussões se dessem de maneira minimamente horizontal, mas na decisão mais importante vem uma pancada, uma decisão profundamente equivocada. Era uma coisa patética ver aquele ato de sábado. Acho que nenhum dos dois [Marina e Eduardo Campos] estava acreditando muito nisso”, afirma.
Ele diz que tentou falar com Marina “duas ou três vezes pelo telefone” depois da decisão da Justiça Eleitoral que rejeitou o registro da Rede, na quinta-feira, dia 3, à noite, mas diz não ter sido atendido. Depois disso, tomou a decisão de deixar a Rede sozinho. “Fiz igualzinho à Marina: não discuti com ninguém.”
Apesar disso, diz que continua amigo da ex-senadora e que ela, sendo candidata, terá seu voto, independentemente de partido.
Problemas
Para Zica, o PSB tem dois problemas principais: a identificação com a “política tradicional” e a posição “lastimável” em temas “fundantes” da Rede, como a sustentabilidade.
“É uma contradição muito grande. E, ressalvadas poucas pessoas, como a deputada Luiza Erundina, há muito poucos que se diferenciam da política tradicional.”
Ele diz que a defendia que Marina ficasse fora da disputa e tivesse o papel de “consciência crítica” no período eleitoral. Diz que agora pretende se dedicar a uma “militância de causas” e “fazer a campanha de algum candidato que ache interessante”.

50 anos de golpe: embaixador americano pediu dinheiro e armas


29 de março de 2014 | 13:07 Autor: Miguel do Rosário
vernonwalters
(Vernon Walters, à esquerda, com Ronald Reagan, presidente dos EUA de 1981 a 1989)
E já que tiramos o sábado para falar do golpe, achei que vale a pena reproduzir esse artigo do Flavio Tavares. Às vezes vemos alguns almofadinhas viajaram a Miami e falarem como as ruas de lá são limpas e arrumadas. Só que eles deveriam acrescentar que boa parte do desenvolvimento econômico dos EUA se deu através da opressão de outros povos, inclusive o nosso.
Eu tenho admiração pela democracia e pela cultura norte-americanas, assim como eu gosto dos clássicos grego-romanos. Mas não podemos permitir jamais que essa admiração se dê contra a nossa cultura. Temos que ter perspectiva histórica e entender que fomos golpeados. E que nosso crescimento não é tão fácil como foi o americano porque não exploramos outras nações.
*
Embaixador dos EUA pediu dinheiro, adido militar e armas para apoiar o golpe
Diálogo entre o embaixador em Brasília Lincoln Gordon e John Kennedy ocorreu no primeiro dia de gravação de conversas com o presidente na Casa Branca, e graças a isso ficou registrado
28 de março de 2014 | 15h 05
Por Flávio Tavares, no site do Estadão.
A década de 1960 foi um tempo de aberta conspiração político-militar na América Latina. Os Exércitos pareciam destinar-se a preparar golpes de Estado, não a defender a integridade territorial. O Brasil estava nesse cenário. Além disso, a inflação galopante gerada pela construção de Brasília agravara a miséria rural do Nordeste e, desde a posse de João Goulart, em 1961, a reforma agrária ocupava o debate político.
A reforma era uma bandeira da Aliança para o Progresso (o programa dos Estados Unidos para barrar a influência da Revolução Cubana), mas os conservadores brasileiros a repeliam, vendo nela “a alavanca do comunismo”. A Guerra Fria, com o mundo dividido em áreas de domínio dos EUA e da União Soviética, exacerbava as paixões políticas e assustava todos. Entre civis e militares, esquerda e direita se enfrentavam numa disputa cega.
Nesse contexto se desenvolve a conspiração que desemboca no golpe de Estado.
Fui o último jornalista a estar com João Goulart no Palácio do Planalto, na tarde de 1.º de abril de 1964. Testemunhei seus derradeiros momentos, já em fuga da Capital. Acompanhei seus acertos e desacertos como governante, tal qual (desde a posse em 1961) tinha convivido com civis e militares envolvidos nas tramas da conspiração. Presenciei a sessão do Congresso, de apenas 3 minutos, na madrugada de 2 de abril, em que o senador Auro Moura Andrade declarou “vaga a Presidência da República”, sem qualquer debate ou votação.
Depois, como colunista político em Brasília, tentei penetrar nos desvãos do movimento que levou ao golpe e me fiz perguntas. Seria a revanche de 1961, quando os ministros militares não permitiram a posse do vice-presidente Goulart (por considerá-lo “pró-comunista”) e foram derrotados pela mobilização iniciada pelo governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola? A conspiração se nutriu das provocações da extrema esquerda, em que o deputado Francisco Julião (com dinheiro de Cuba) armava guerrilhas contra o próprio Jango, assustando ainda mais a direita? Ou tudo ardeu pela propaganda subliminal que o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipes) do coronel Golbery do Couto e Silva incutiu na população e nos quartéis sobre o “perigo comunista”, através dos textos e filmes de Rubem Fonseca?
Afinal, por que um golpe, se a inflação debilitava o governo e já havia três candidatos à eleição presidencial de 1965?
Em 1976, a historiadora norte-americana Phyllis Parker descobriu nos arquivos dos EUA os primeiros documentos “secretos” sobre a Operação Brother Sam – o deslocamento da frota naval dos EUA a 31 de março de 1964, rumo a Santos, em apoio ao general Olímpio Mourão Filho. Surgem, aí, as entranhas da conspiração. A cada 10 anos, os EUA liberam novos documentos e, assim, pôde-se reconstruir a participação de Washington nos preparativos e na execução de tudo, como revelo, agora, no livro 1964 – O Golpe.
Na paranoia da Guerra Fria, ambos os lados se enfrentavam com fantasias, mentiras e (até) verdades. E tudo assustava. O embaixador dos EUA, Lincoln Gordon, assustou-se não só com a nacionalização das empresas americanas de eletricidade e telefones por Brizola no Sul ou com sua dura pregação “anti-imperialista” pelo rádio, mas também com a lei sobre a remessa de lucros das companhias estrangeiras. E, até, com o Plano Paulo Freire, que alfabetizava em 40 horas/aula. Na época, analfabeto não votava e o governo teria 20 milhões de novos eleitores na eleição de 1965.
A 30 de julho de 1962, Gordon leva pessoalmente ao presidente John Kennedy um terrorífico relato sobre “o avanço comunista” no Brasil. Nesse dia, a Casa Branca havia inaugurado a gravação das audiências e telefonemas presidenciais e tudo ficou registrado: o embaixador pede US$ 8 milhões para financiar candidatos nas eleições de governador ou parlamentares, e para o Ipes, “uma organização que temos lá”.
Após dizer que Jango pensa “num golpe branco” para manter-se no poder, pede um novo adido militar à embaixada, para “fortalecer os militares democratas simpáticos aos EUA” numa eventual ação militar contra Goulart. “O atual adido militar é muito burro”, exclama o embaixador, e sugere a nomeação do coronel Vernon Walters.
Em seguida, Walters chega ao Rio, recebido no aeroporto do Galeão por 13 generais brasileiros que serviram com ele na 2ª Guerra Mundial, na Itália. Seu mais íntimo amigo, porém, está ausente: o general Castelo Branco comanda o 4.º Exército no Recife e lhe manda um abraço através do general Ulhoa Cintra. O próprio Walters assim conta no livro de memórias Silent Missions. Daí em diante, Cintra será “o contato” dos conspiradores com a embaixada, como referem as mensagens de Gordon à Casa Branca e à CIA.
Conspiração. O assassinato de Kennedy (novembro de 1963) leva à Casa Branca a “linha dura” do vice Johnson e “tudo se facilita”, conta o próprio Walters. A 21 de março de 1964, o embaixador volta de Washington, após acertar detalhes do Contingency Plan, o plano militar a aplicar no Brasil, e informa que Castelo Branco “aceitou a chefia da conspiração”. “De todos os militares que nos procuram há dois anos e meio, ele é o mais idôneo”, enfatiza.
Dias 27 e 29, sob o impacto da crise na Marinha, provocada pela revoltosa assembleia dos marinheiros, Gordon informa que “comunistas ocupam postos vitais nas Forças Armadas”. Pede provisões urgentes de gasolina e armas para “grupos civis” em São Paulo e que os EUA “se comprometam diretamente” e enviem a frota naval, com porta-aviões, “em demonstração aberta de força, não secreta”.
“Sei o quão grave é a decisão de intervenção militar, mas devemos considerar que a derrota levará à comunização do Brasil”, escreveu. Sugere que as armas cheguem em submarino e sejam descarregadas à noite, ao sul de Santos, em Iguape ou Cananéia. Os conspiradores “castelistas” haviam planejado o golpe para fins de abril e o embaixador se surpreende com a rebelião de Minas. Mas logo após, em 31 de março, Washington confirma que a frota já ruma para Santos, com um porta-aviões, quatro destróieres com mísseis, duas escoltas e navios-tanque. Cerca de 110 toneladas de munição, mais gás lacrimogêneo, irão em dez aviões cargueiros diretamente a Campinas. Cinco petroleiros levarão gasolina e diesel de Aruba a Santos.
Nada disso foi preciso. Jango desistiu de qualquer resistência e, a 4 de abril, a frota naval voltou a Norfolk, de onde partira.

A Guerra Fria por outros meios


ROBERTO AMARAL*
"Na medida em que violar a soberania está em causa, a Rússia deveria salientar que os EUA invadiram o Panamá para prender Noriega, invadiram Granada para impedir os cidadãos americanos de serem tomados como reféns (mesmo que eles não tenham sido tomados como reféns), invadiram o Iraque por motivos espúrios alegando que Saddam Hussein tinha armas de destruição em massa, e agora matam pessoas em outros países com drones, etc, etc. Em outras palavras, para os EUA, pregar a um presidente russo sobre o respeito pela soberania e preservação da integridade territorial pode parecer uma reivindicação de direitos especiais não permitidos a outros."

Jack Matlock, ex-embaixador dos EUA em Moscou
O fato objetivo é este: a Guerra Fria sobrevive ao fim do império soviético e o anti-comunismo sobrevive ao comunismo, ainda que ao preço da derrubada de governos democraticamente eleitos e do açulamento de turbas fascistas e neonazistas, e antissemitas – paramilitares e terroristas – como as que em Kiev depredaram e incendiaram prédios públicos e, por fim, espalharam o caos em toda a Ucrânia. Ação preparatória do golpe de Estado imediatamente chancelado por Washington e Bruxelas, que o apoiaram nas sombras, como apoiam os distúrbios na Venezuela, país que conta, também ele, com governo democraticamente eleito – independentemente dos erros e acertos de Maduro.
Há algo novo nas manifestações, que não é apenas a ânsia de liberdade e democracia.
Um dos mais proeminentes oráculos dos ‘valores do Ocidente’ na conturbada Ucrânia é Oleh Tyahnybok, líder fascista do Partido Svoboda, cujo discurso conclama os ucranianos a se levantar contra o que chama de ‘máfia moscovita-judaica’ (já há notícia de sinagoga atacada por coquetéis Molotov), com quem Victoria Nuland, a secretária de Estado adjunta (dos EUA) para Assuntos Europeus e da Eurásia se reuniu em meio à crise, em Kiev.
Os EUA parece nada haverem aprendido com o 11 de setembro, ação conduzida pelas forças que haviam alimentado para se contraporem no Afeganistão à União Soviética.
Obama não está preocupado com a integridade territorial da Ucrânia, o ‘Ocidente’ não está chocado com a corrupção escandalosa do governo Yanukovich, nem Putin está pensando na segurança das minorias russas na Ucrânia.
Os EUA que desmantelaram a Iugoslávia, fizeram a Guerra dos Bálcãs e se alimentaram do território mexicano não podem arriscar-se a uma Guerra contra uma potência atômica simplesmente para defender a soberania de um território distante habitado por um povo estranho. Nem Putin nem Obama podem falar em defesa dos princípios do direito internacional. Falta-lhes a necessária autoridade moral. A Carta da ONU (1945) proíbe a violência nas relações internacionais, admitindo apenas duas exceções: legítima defesa ou autorização prévia do Conselho de Segurança. Quem autorizou a invasão, pelos EUA, de Granada, do Panamá, do Iraque, do Afeganistão? Ou os ataques ao Sudão? De quem a França recebeu mandato para invadir o Mali? Com o mandato de quem a Rússia invadiu a Geórgia? Como condenar o separatismo, se o Ocidente promoveu Kosovo (1999) e se prepara para aplaudir a independência da Escócia e da Catalunha?
As disputas vêm de longe, na lenta aplicação da teoria do Departamento de Estado segundo a qual, para permanecer como a única superpotência, os EUA precisam deter o controle da Eurásia, a ponte entre a União Europeia e o leste da Ásia.
A questão é claramente geopolítica e diz respeito aos interesses militares dos EUA (e, por via de consequência, da OTAN) de abrir uma cabeça de ponte na Ásia – a região mais promissora e próspera do século, onde se acha uma China hiperbólica, potência econômica e militar. Para isso, é preciso empurrar os russos ainda mais para leste, de quebra garantindo acesso a corredores de oleodutos e gasoduto, acessando reservas de petróleo e gás natural.
O parágrafo precedente é simples releitura do que Zbigniew Brzezinski, assessor de Carter para segurança (1977/1981) escreveu na Foreign Affairs – uma das mais influentes revistas de política internacional dos EUA ou seja, do mundo:
"Dado o tamanho [da Rússia] e sua diversidade, um sistema político descentralizado e uma economia de livre mercado seriam a mais provável via para desencadear o potencial criativo do povo russo e [explorar] os vastos recursos naturais da Rússia. Uma Rússia vagamente confederada – composta pela República da Rússia Europeia, uma República da Sibéria, e uma República do Extremo-Oriente – também tornaria mais fácil cultivar relações econômicas mais estreitas com seus vizinhos.
Cada uma dessas regiões confederadas seria capaz de explorar o seu potencial criativo local, sufocado por séculos de controle da pesada mão burocrática de Moscou. Além disso, a Rússia descentralizada seria menos suscetível a uma mobilização de tipo imperial."
("A geoestratégia para a Eurásia", 1977).
A tese aí advogada é, portanto, o condicionamento da política externa do antigo império à geopolítica dos EUA e à estratégia militar da OTAN.
Aos que desejarem conhecer melhor o projeto imperialista estadunidense aconselho a leitura de O grande tabuleiro de xadrez: a primazia americana e seus imperativos geoestratégicos (The Grand Chessboard: American Primacy and it’s Geostrategic Imperatives, 1998) talvez a principal obra de Brzezinski. Trata-se de um roteiro de como estabelecer a hegemonia militar, política e econômica dos EUA – da Eurásia ao Oriente Médio.
Como se vê, de nada adiantou, para os russos, o desmantelamento da URSS e a adesão ao capitalismo...
A Rússia que, ao tempo da URSS, tinha os ‘escudos’ formados pela presença de tropas soviéticas na Polônia, Tchecoslováquia, Hungria, Bulgária, Romênia, Letônia e Lituânia, hoje vê esses países na OTAN e se encontra na iminência de ter ao seu lado uma Ucrânia hostil, Ucrânia que é seu berço cultural e histórico (uma das primeiras medidas tomadas pelo governo interino foi proibir o ensino da língua russa, majoritária no país), fechando seu acesso ao Mar Negro e pondo por terra o sonho da União Euroasiática (Rússia, Bielorrússia, Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão, Ucrânia e China). Não é pouco.
A alternativa de Putin é a federalização do leste e do sul da Ucrânia (pró-Rússia) e sua posterior integração à futura União Euroasiática.
Talvez seja bom reproduzir uma recomendação de Kissinger descurada pela Casa Branca e ignorada, por ignorância mesmo, pelos nossos cientistas mediáticos:
"O Ocidente precisa entender que, para a Rússia, a Ucrânia jamais será apenas um país estrangeiro. A história russa começou na chamada Kiev-Rus. A religião russa se propagou a partir dali. A Ucrânia fez parte da Rússia durante séculos e suas histórias já estavam entrelaçadas antes disso.
Algumas das mais importantes batalhas pela liberdade russa, a começar pela Batalha de Poltava, em 1709, foram travadas em solo ucraniano. A Frota do Mar Negro, o meio de a Rússia projetar o poder no Mar Mediterrâneo, está baseada mediante um arrendamento de longo prazo em Sebastopol, na Criméia. Até mesmo dissidentes famosos, como Alexander Soljenitsyn e Josep Brodsky, insistiam que a Ucrânia era parte integral da história russa, e, de fato, da Rússia."
(Henry Kissinger, "Como resolver a crise ucraniana". O Estado de S. Paulo, 7/3/14)
O que está em jogo e, explica a crise, é o intento de promover o ingresso da Ucrânia na OTAN, candidatura posta em 2008, na Cúpula da OTAN em Bucareste. Trata-se, portanto, de uma ameaça concreta. É que, alcançado esse objetivo geoestratégico, Moscou ficará a menos de 500km (uma Rio-São Paulo) dos mísseis da OTAN. Não podendo reagir e impedir a ameaça, restaria à Rússia renunciar ao seu papel político na Eurásia, renunciar à sua própria independência e, por fim, derrotada sem dar um tiro, ingressar na OTAN... e, assim, finalmente ficar livre de ameaças. A partir daí, descer do pódio atômico, e preparar-se para sua própria divisão. Entende-se, pois, a reação de Putin e o apoio que vem recebendo dentro do país. A História sabe como os EUA reagiram à presença de mísseis soviéticos em Cuba, e todos podemos antever qual seria sua reação se bases soviéticas fossem instaladas no Alaska ou em Porto Rico. Ou se no México ou no Canadá assumissem governos beligerantes.
A História, porém, não é um videogame: os fatos, muitas vezes, adquirem vida própria e podem se apartar do controle dos estrategistas. Todo cuidado é pouco com o urso ferido, mas ainda com dentes e garras atômicas.

* Vice-presidente e coordenador de relações internacionais do Partido Socialista Brasileiro-PSB. Artigo publicado originalmente na Carta Capital

sábado, 29 de março de 2014

Leonardo comemora aprovação de cotas para negros


A Câmara dos Deputados aprovou nessa quarta-feira (26/03) o Projeto de Lei 6738/13, que reserva 20% das vagas em concursos públicos da administração federal para negros e pardos. A matéria, que agora segue para o Senado, foi aprovada com 314 votos favoráveis, 36 contrários, e seis abstenções. Para Leonardo Picciani (PMDB/RJ), relator do projeto, a iniciativa é uma oportunidade de corrigir um erro do passado.
cotanegros“Essa é uma vitória histórica do país, daqueles que combatem a discriminação racial. É um reencontro do Brasil com sua história. Nós fomos o último país do ocidente a abolir a escravatura. Então, devemos pegar os maus exemplos do passado e corrigi-los no presente para garantir um futuro melhor e com uma sociedade mais igualitária”, destacou Leonardo, que deu parecer favorável ao projeto na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa. O parlamentar ainda explicou que, segundo dados do IBGE, apesar de os negros representarem mais de 50% da população,  eles hoje ocupam menos de 30% dos cargos na administração pública.
O projeto prevê que as vagas alcancem os cargos efetivos e empregos públicos, o que inclui as autarquias, fundações e empresas públicas, bem como órgãos de sociedades de economia mista controladas pela União. Poderão concorrer às vagas reservadas a candidatos negros aqueles que se autodeclararem pretos ou pardos no momento da inscrição no concurso público. A proposta é que a lei tenha validade de dez anos a fim de reparar a distorção numérica entre negros e brancos no serviço público.
Durante a votação do texto, os deputados rejeitaram todas as emendas apresentadas, entre elas uma que estendia a reserva de vagas aos cargos em comissão da esfera federal. A Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público da Câmara havia aprovado o mérito da emenda. Estima-se que, atualmente, o governo disponha de um quadro de aproximadamente 90 mil comissionados.
Do plano formal para o material 
Mais cedo, a CCJ havia aprovado o relatório de Leonardo Picciani pela juridicidade e constitucionalidade do projeto que tramitou nas comissões de Direitos Humanos e Trabalho. Durante a leitura do seu parecer, Leonardo lembrou que todas constituições federais elaboradas no Brasil tratavam da vedação da discriminação no plano formal. Mas que isso não era o suficiente para acabar com o preconceito.
“Dizer que não há discriminação, portanto, não resolve o problema. A Constituição de 88 ganhou popularmente nome de ‘Constituição Cidadã ‘não foi à toa. Ela traz para o plano material os direitos civis que só eram tratados pelas constituições anteriores no plano formal. Hoje, nossa Constituição  é clara quanto ao dever do Estado de corrigir essa distorção, fundamentada no que ela prevê”, justificou.
O parecer de Leonardo na CCJ recebeu os votos contrários de apenas três parlamentares: Marcos Rogério, Marcelo Almeida e Alexandre Leite.
http://leonardopicciani.com.br/

PMDB RJ





Nosso líder Marco Antonio,  presidente da Juventude Nacional do PMDB, fala das conquistas que o governo do PMDB/RJ e os projetos executados em favor da juventude de nosso estado.

sexta-feira, 28 de março de 2014

MP pede fim de pensão de R$ 11 mil que governo do estado do RN paga a José Agripino e Lavoisier Maia




Você sabia que o senador José Agripino Maia, presidente nacional do DEM, e o ex-governador Lavoisier Maia recebem, cada um, R$ 11 mil mensalmente a título de aposentadoria vitalícia como ex-governadores do estado? 



O Ministério Público estadual do Rio Grande do Norte entrou com Ação Civil Pública contra o benefício, previsto pelo artigo 175 da Constituição estadual de 1975 que, por sua vez, copia o disposto no artigo 184 na Constituição de 1967, imposta pelos militares e revogada pela Carta Magna de 1988. O MP quer que o governo do estado pare de pagar imediatamente as chamadas "pensões eletivas" aos dois ex-governadores. 



A ação é resultado de um inquérito civil instaurado pelo MP em 2011. Nas investigações, o MP constatou que Lavoisier Maia, que governou o RN entre 1979 e 1982, recebe o benefício, correspondente ao salário de um desembargador do Tribunal de Justiça, desde 1983. José Agripino, por sua vez, o recebe desde 1986, exceto pelo intervalo entre 1991 e 1994, durante seu segundo mandato. Agripino governou o RN também entre 1983 e 1986. 



A investigação comprovou que não existiram processos administrativos nem no âmbito do governo do estado nem do Tribunal de Contas a fim de autorizar a concessão do benefício. Segundo informado pelo então secretário-chefe da Casa Civil do governo do Estado, Paulo de Tarso Fernandes em 2011, a concessão deve ter sido automática, "a partir da autorização constitucional acima referida, haja vista a redação do art. 175, da Constituição Estadual de 1974, que determina a concessão cessada a investidura no cargo de Governador". Além disso, informou o secretário, no que se referem a "recolhimentos previdenciários [que justificassem o pagamento de tal aposentadoria], conforme pode ser observado nas fichas financeiras dos dois ex-governadores [...] não constam quaisquer descontos com essa finalidade, embora não localizadas as informações dos pagamentos efetivados no total do(s) período(s) em que cada um deles recebeu a citada pensão". 



O Ministério Público, com base em decisões do STF, compreende que não existe direito adquirido contra norma constitucional. Em uma das decisões citadas na Ação, o STF entendeu que já "se firmou a jurisprudência desta Corte no sentido de que os dispositivos constitucionais têm vigência imediata, alcançando os efeitos futuros de fatos passados (retroatividade mínima)". 



Em 2006, o STF já declarara inconstitucional as pensões vitalícias pagas a ex-governadores do Mato Grosso do Sul já que no "vigente ordenamento republicano e democrático brasileiro, os cargos políticos de chefia do Poder Executivo não são exercidos nem ocupados 'em caráter permanente', por serem os mandatos temporários e seus ocupantes, transitórios". 



Desse modo, uma vez que o texto da Constituição de 1988 teria revogado as disposições tanto da Constituição Federal de 1967 quanto da Constituição Estadual de 1975, a chamada aposentadoria desses ex-governadores seria ilegal. 



Não apenas isso. Diz o MP que "é ofensivo a qualquer trabalhador, em especial o brasileiro, um cidadão receber religiosamente valor correspondente ao subsídio de desembargador do Tribunal de Justiça, desvinculado de qualquer labor despendido". Além disso, subverte a própria "noção de República a perpetuação de um gasto público a uma determinada pessoa, simplesmente pelo fato de ter exercido uma determinada função pública", uma vez que "a noção de república é refratária à instituição de privilégios vitalícios. 


A ação do MP conclui que a "pensão especial" que recebem os ex-governadores José Agripino Maia e Lavoisier "revela o ilegítimo, arbitrário e censurável propósito de fraudar, de frustrar e de inviabilizar o estabelecimento e a preservação da força normativa da constituição, que implica no não reconhecimento do princípio republicano que para além de um sistema de governo, transmuda-se em verdadeiro direito difuso, plasmado na concretização da cidadania, e do valor social do trabalho, verdadeiras garantias conferidas ao povo de fiscalizar o controle dos gastos públicos, sua legitimidade, sua juridicidade". Assim, a "perpetuação deste privilégio representa, em favor de apenas duas pessoas, a concordância de uma situação de exceção inconstitucional, em que subversivamente os princípios da isonomia, impessoalidade, da responsabilidade fiscal e da moralidade, jazem mortos por mais de duas décadas.

"RABOS- DE-PALHA DE UM FILHOTE DA DITADURA"


O "Dossiê Agripino" na Caros Amigos 

Leia e ouça a seguir, na íntegra, a matéria de capa da revista "Caros Amigos" deste mês, que conta as peripécias do senador José Agripino Maia (DEM), o "neocoronel" potiguar:



OS RABOS-DE-PALHA DE UM FILHOTE DA DITADURA


O SENADOR JOSÉ AGRIPINO MAIA (DEM-RN) É APRESENTADO PELA MÍDIA GRANDE COMO UM ÍCONE DA MORAL, SEMPRE ENTREVISTADO PARA DENUNCIAR AS MAZELAS DO GOVERNO LULA E PONTIFICAR SOBRE ÉTICA POLÍTICA. SEU PASSADO, PORÉM, NÃO O ABONA.

Do meio para o fim dos anos 1970, para fazer parte do grupinho oligárquico que havia duas décadas comandava a política do Rio Grande do Norte, uma condição era suficiente e necessária: aderir à estratégia de renovação do regime autoritário, preparando-se para a transição. Isto é, a bênção dos militares era mais que bem-vinda. O industrial Osmundo Faria, dono da salina Amarra Negra e de vasto latifúndio no agreste, estava para ser anunciado sucessor do governador Cortez Pereira (1971-1975). Não tinha experiência em cargo eletivo – era suplente do senador Dinarte Mariz. Mas contava com o apadrinhamento de ninguém menos que o ministro do Exército, general Dale Coutinho, ex-chefe da repressão no Nordeste. Era, no dizer do político gaúcho Leonel Brizola, o “filhote da ditadura” da vez.
O episódio que pesou contra Osmundo Faria, em maio de 1974, deu-se no Hotel Nacional, na Ribeira, centro de Natal, ponto de encontro de lideranças políticas. O ex-deputado Anderson Dutra, ao irromper no bar e cumprimentar o deputado Ivan Rosado, aliado de Dinarte, cometeu uma inconfidência que mudaria os rumos da história política do Estado:

- Aluízio é muito forte. Mesmo cassado, tá ali cochichando com o futuro governador.
Na noite desse mesmo dia, Dinarte já sabia. Foi o suficiente para o senador voltar-se contra o próprio suplente Osmundo Faria e opor-se à nomeação dele. Aluízio Alves, chefe de extenso clã, tinha ascendido ao governo em 1960, após intensa luta eleitoral contra o então governador Dinarte Mariz e seu candidato, o deputado federal Djalma Marinho, ruim de voto, mas importante quadro intelectual da direitista União Democrática Nacional, a UDN.

Apoiado pelo PCB e outras forças de esquerda, Aluízio representava interesses de modernização num Estado dominado pela agropecuária. Tinha, contudo, sólidas raízes udenistas - foi eleito deputado federal seguidas vezes, a partir de 1945, pela UDN, pilotando programas de rádio e organizando ações de assistência aos flagelados das secas. Um populista cujo mandato de deputado federal acabaria cassado em fevereiro de 1969 sob a acusação de corrupção.

Mais próximo dos generais da ditadura, Dinarte, assim que soube da conversa no bar do hotel, escreveu para o "general de plantão" Ernesto Geisel, reclamando que nem sequer havia sido ouvido sobre a escolha de Osmundo. Geisel chama Petrônio Portela, seu principal articulador:

- Petrônio, você já nomeou o governador do Rio Grande do Norte?
- Ainda não - responde Petrônio de cima do muro.
- Então, dê uma satisfação ao senador Dinarte Mariz. Não anuncie agora, não.
- Tudo bem.

No dia seguinte, morre Dale Coutinho, padrinho de Osmundo e general linha-dura, que havia proclamado:

- O Brasil melhorou muito quando começamos a matar!
É quando entra em cena o general Golbery do Couto e Silva, eminência parda do governo Geisel: convoca o amigo Tarcísio Maia para assumir o governo potiguar e começar a renovar a elite política estadual, como aconteceria país afora.

Um filhote gera outros: nasce a oligarquia Maia

Apesar de ruim de urna, Tarcísio tem fama de bom administrador - sob a batuta dos generais foi presidente do extinto Ipase, Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado. Mostrou-se desde cedo um filhote da ditadura implacável, ávido pelo poder. A partir de 1975, montou uma estrutura de trabalho social preconizada pelo II PND (Plano Nacional de Desenvolvimento) e se fez senhor da política estadual, indicando o primo e compadre, o médico Lavoisier Maia, seu secretário de Saúde, para sucedê-lo na chefia de governo em 1979.

Segundo José Antonio Spinelli, sociólogo e professor do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Sociais da UFRN, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, esse processo de sucessão deu início à montagem de uma máquina política poderosa, que ocuparia o poder por longos anos.

- Essa composição de poder vai ser extremamente receptiva aos interesses do setor econômico moderno que se consolida nos anos 60 e 70. Mas, assim como seus adversários históricos, os aluizistas, trazia a marca do velho na origem, a utilização do nepotismo como forma de se reproduzir.

Por sua vez, Lavoisier indica para a prefeitura da capital o filho de seu primo Tarcísio, José Agripino Maia, 33 anos, jovem engenheiro da EIT, uma empreiteira potiguar, de sólidas ligações com governos do Nordeste. Antes de nomeado, José Agripino prestava serviço para a EIT em São Luís, onde a empresa mantém escritório até hoje. Spinelli confirma: a indicação de quadros técnicos, jovens, ligados ao empresariado de ponta, para as capitais nordestinas, obedecia à estratégia de perpetuação do regime autoritário.

Embora dependente dos recursos e das diretrizes técnicas do governo federal, José Agripino, bom de palanque, desembarca no Rio Grande do Norte disposto a tocar, a qualquer custo, o projeto d e poder do velho Tarcísio, seu pai. Inicia em 1979 um programa habitacional que o torna popular.
Natural de Mossoró, filho de pai paraibano e mãe baiana, José Agripino faz parte do ginásio em Natal, no Colégio Marista, onde estudam os filhos da pequena burguesia. Aos 13 anos muda para o Rio, onde cursa o Colégio Andrews. Gradua-se em engenharia civil e faz pós-graduação em estabilização de taludes.

Analisada friamente, a trajetória de ânsia pelo poder de José Agripino é exemplo de sucesso nas urnas: governador em 1982, na primeira eleição direta pós-1964, contra ninguém menos que Aluízio Alves; e novamente em 1990, em disputa com o primo Lavoisier Maia (o mesmo que o nomeou filhote-prefeito em 1979); e depois senador por dois mandatos.

Ajuda dos milicos: o voto camarão

Voto vinculado, invenção da ditadura, que o povo apelidou de voto camarão: o eleitor só podia votar em candidatos de um mesmo partido, sob pena de anular o voto. Era o que José Agripino precisava nas eleições de 1982 para governador. Nem mesmo a popularidade de Aluízio Alves conseguiu vencer a estrutura montada em torno do jovem prefeito. Coordenador da campanha de Aluízio, o jornalista Ticiano Duarte detalha o que pesou a favor do adversário:

- José Agripino foi beneficiado pelo voto camarão. O PDS tinha tudo, estrutura maior, poder, dinheiro. Eram quatro deputados do nosso lado contra vinte e tantos do outro; eram seis, oito prefeitos contra noventa. Cem vereadores contra quinhentos. Aluízio venceu em Natal por cem votos, mas perdeu feio no interior.
José Agripino Maia toma posse em 15 de março de 1983 e, dali a dois anos, será flagrado numa reunião com auxiliares e 120 prefeitos, acertando o que constituiria a maior fraude eleitoral da história do Rio Grande do Norte.

Dessa vez, José Agripino queria eleger prefeita de Natal sua secretaria de Promoção Social, Wilma Maia, em 1985. Tinham como adversário o deputado estadual Garibaldi Alves Filho (PMDB), sobrinho de Aluízio e hoje presidente do Senado. O plano foi todo armado em quatro reuniões, no Centro de Convenções, Zona Sul de Natal.

José Agripino simplesmente instruiu os prefeitos a comprar títulos eleitorais, distribuir presentes, incentivar tumultos nos processos de votação e apuração e, ainda, usa veículos oficiais com placas frias para transportar eleitores do interior para a capital. O caso ficou conhecido como Escândalo Rabo-de-Palha, rótulo fornecido pelo próprio José Agripino, que ao final de uma reunião pediu:

- Não podemos deixar rabo-de-palha.

Caros Amigos reproduz aqui parte da conversa. Laudo do Instituto Nacional de Criminalística, da Polícia Federal, diz que a voz é do governador.

José Agripino -Os pobres estão indecisos. É em cima desse povo que você tem que atuar. Com uma feirazinha, com um enxoval, com umas coisinhas.

Iberê Ferreira de Souza (secretário) - O povo mais pobre que não se compromete, troca o voto por qualquer coisa. Botar o milhp no bolso, porque sem milho não funciona.
Álvaro Alberto (financiador) - O meu jogo é aberto. Se é preciso comprar os títulos, vamos comprar. Tem 
que gastar dinheiro, tem que chegar com o dinheiro.

O conceito de democracia de Agripino é peculiar, não é adequado a verbete de dicionário, serve apenas a ele e seus apaniguados:

- Vamos indicar ma área para vocês trabalharem e inclusive nas áreas modestas, de eleitores indecisos que são sensíveis a uma conversa e a uma negociação, que será feita por nós ou por eles. Democracia é isto!

O conceito de terrorista também:

-E aí eu quero fazer um lembrete: importante não é a quantidade de pessoal, é a qualidade das pessoas, porque, se a gente traz uma mocinha, como eu vi na eleição de 82, mocinhas inexperientes, elas ocupam uma função, não dão conta do recado e perdem fácil para o comunista, o terrorista, que vai se impor, intimidar e ganhar no grito.

Incômoda redemocratização

Com a redemocratização e a nomeação do peemedebista Aluízio Alves ministro da Administração do governo Sarney, os adversários de José Agripino é que passam a dar as cartas em Brasília. O plano do então governador, de "implodir" o PMDB, não se concretiza. Pelo contrário. Aluízio a autoconcessão da TV Cabugi (afiliada da Globo) - sua família também é dona de rádios e do jornal Tribuna do Norte. Garibaldi Filho é eleito prefeito de Natal. No ano seguinte, a chapa João, Lavô e Jajá (João Faustino para governador e Lavoisier Maia e José Agripino, senadores) leva as duas vagas do Senado,mas perde na "cabeça" para Geraldo Melo,aliado dos Alves. O filhote não cai, mas balança.

Nos últimos trinta anos, alguns atos de José Agripino povoam o folclore político da região. Um deles, quem conta é o colega Ailton Medeiros, blogueiro e apresentador de programa de entrevistas de uma emissora de televisão de Natal.

- No primeiro governo de José Agripino, me mandaram cobrir a visita do governador aos flagelados do Seridó. Eu estava acompanhando o senador Dinarte Mariz, quando José Agripino começou a fumar numa piteira de ouro. Foi repreendido por Dinarte: "O que é isso? Isso é maneira de visitar os flagelados?" Daí, o governador, meio sem jeito, apagou o cigarro.

Outro detalhe é o gosto de José Agripino por carros e equipamentos de som e imagem. Em 2002 declarou que tem um luxuoso Mercedes SL-320 de 114.500 reais; a sala de cinema instalada em seu apartamento de Natal está avaliada em mais de 150.000 reais.



Lourismo: uma questão de bom gosto racial

Em 2006, o jornalista e escritor Orlando Rangel Rodrigues, o Caboré, lançou Rabo-de-Palha: o Jabá de Jajá. Caboré é um tipo atuante, opositor da ditadura militar e crítico feroz das oligarquias. Ganhou notoriedade no Seridó nos anos 60 e 70 ao denunciar, na Rádio Rural, crimes de pistolagem. Seu livro narra o Escândalo Rabo-de-Palha de maneira engraçadíssima e traz mais curiosidades sobre José Agripino. Uma delas é o "lourismo". Define o autor na página 89:

"... era uma fauna que definia os mortais de puro sangue do governo José Agripino. (...) criaram a República de Jacumã, praia do litoral norte potiguar. Belas mansões que abrigavam, em veraneios, somente pessoas estritamente do convívio palaciano: uma elite de políticos de grandes currais eleitorais e empresários bons de nota".

Segundo Caboré, o lourismo não aceita, por exemplo, Lula na presidência da República. Peço para ele comentar estas declarações do agropecuarista José Bezerra de Araújo Júnior, suplente de José Agripino, em entrevista para a Tribuna do Norte:

"Collor foi o governo menos corrupto que o país já teve" e "Eu acho que o Lula é um populista analfabeto. Discrimino mesmo: é analfabeto!"

- Taí um exemplo do que faz o lourismo. Nunca quiseram ver Lula presidente. São contra metalúrgico, contra negro, contra pobre, contra analfabeto. Acham que não têm direito a nada. Convivo com muita gente do lourismo. Já ouvi vários afirmarem ser contra Barack Obama. Tem algum motivo dessa casta, dessa elite ser contra Barack Obama a não ser pelo fato de ele ser negro. Hein?

Com a corda toda

De volta ao governo em março de 1991 - após derrotar o primo e ex-aliado Lavoisier -, José Agripino deixa o cargo em abril de 1994 para concorrer mais uma vez ao Senado. Volta a Brasília sem que um escândalo de arrecadação de seu governo seja esclarecido. O Ganhe Já consistia numa loteria em que o cidadão trocava notas fiscais por cupons que lhe davam o direito de concorrer a prêmios - geladeira, bicicleta, mochila. Transcrevo a manchete e o começo de uma reportagem do JN, Jornal de Natal, de 21 de novembro de 1994:

"A Falência do Ganhe Já e o Arrocho Fiscal. A campanha do Ganhe Já, denunciada sistematicamente por este jornal como uma farsa, que vendia uma falsa realidade do Rio Grande do Norte (tendo inclusive motivado a decisão do JN a não publicar qualquer anúncio da campanha), faliu sem jamais ter alcançado seu objetivo, aumentar a arrecadação do Estado. Foi apenas um sangradouro de dinheiro que financiou a Dumbo Publicidade e fornecedores e levou o Erário a esvaziar-se a ponto de o Estado não ter dinheiro em caixa sequer para o pagamento da folha do funcionalismo."

O semanário JN vendia 7.500 exemplares (nada mal para uma cidade do tamanho de Natal). A reportagem a seguir ilustra bem o que estava por atrás do Ganhe Já:
"O empobrecimento do Estado, que tem hoje uma legião de 1 milhão de flagelados (...), se deu na exata medida do enriquecimento de 'amigos do peito' do governador, com destaque para os proprietários da Dumbo Publicidade, responsável pela farsa do Ganhe Já, que manteve quase toda a imprensa amordaçada durante os quatro anos de governo pefelista."
A Dumbo Publicidade não tocava o dito programa de arrecadação com zelo, como mostra o JN de 28 de novembro de 1994:

"Como tudo que cercou o Ganhe Já antes de sua falência total, a participação da empresa Informe Prestação de Serviços Ltda., terceirizada pela Dumbo Publicidade para executar a campanha, também é um mistério. E dos mais nebulosos. Contratada sem licitação, depois que o então secretário de Fazenda Manoel Pereira anulou inexplicavelmente a concorrência que havia sido aberta justamente para se escolher a firma que iria trabalhar no Ganhe Já, a Informe viveu sempre nas sombras."
José Agripino nunca processou o JN pelas denúncias.

De bem com a vida

Rua Carlos Passos, bairro do Tirol, área prá lá de nobre. É aqui, no condomínio Aurino Vila, que mora na cobertura com piscina o senador José Agripino. É um edifício de dezesseis andares, de mau gosto arquitetônico - de fachada branca empastilhada. Não é para qualquer um. É para o raro cidadão que tem 1 milhão e meio de reais no bolso sobrando. Grana, para José Agripino, não é problema. Menos ainda depois que o INCRA comprou, já no governo Lula, três imóveis dentro da fazenda São João, antes pertencente ao pai dele, Tarcísio, em Mossoró. O governo comprou os imóveis, com 3.985 hectares, por quase 4 milhões de reais. Nada mal para quem já declarava à Justiça Eleitoral, em 2002, quase 3 milhões de patrimônio.

Apuração

Estive em Natal na segunda metade de fevereiro passado. Durante uma semana consegui entrevistar apenas três pessoas (e todas sem se identificar) sobre o Rabo-de-Palha e o Ganhe Já. Ninguém quer tocar no assunto. Fácil explicar: a família de José Agripino, líder do DEM (ex-PFL) no Senado, controla cinco rádios e uma emissora de televisão, a TV Tropical (afiliada da Record); Iberê Ferreira de Souza, seu ex-secretário, é vice-governador e secretário de Recursos Hídricos, auxiliar justamente da governadora Wilma de Faria, ex-mulher de Lavoisier Maia e secretária de Promoção Social de José Agripino que, caso vencesse Garibaldi Filho no pleito de 1985, se tornaria a maior beneficiária do Rabo-de-Palha.

Tem mais, muito mais: Álvaro Alberto, financiador de campanha envolvido no esquema, é um sujeito muito rico. Foi dono da falida Associação de Poupança e Empréstimo do Rio Grande do Norte (Apern), hoje preside a Companhia Hipotecária Brasileira (CHB), empresa de obtenção de crédito com atuação em todo o país. O próprio resultado da eleição de 1985 ajudou o caso a cair em esquecimento: Garibaldi Filho, hoje presidente do Senado, venceu o pleito, ajudado pela exposição do escândalo pouco antes da eleição. Ou seja: ganhou a eleição, para que contestar o resultado? Outra ironia: Garibaldi Filho e José Agripino hoje estão aliados, Costumam cumprir agenda, percorrendo juntos o Estado.
O Rabo-de-Palha é tabu em Natal, cidade onde nasci e cresci ouvindo em casa, na escola, na rua a história das "feirinhas do Centro de Convenção" de que falava Agripino. O mesmo acontece com o Ganhe Já. Como todo lugar em que as oligarquias dominam a política e controlam os veículos de informação, esse tipo de assunto fica restrito à casa dos envolvidos. O que faz sentido: não existe lugar mais apropriado para lavar a roupa suja.

TAL PAI

Cinqüenta e cinco deputados federais (10,7 por cento da casa) detêm concessões de radiodifusão. O Rio Grande do Norte encabeça o rol de maiores detentores: metade da sua bancada.
O deputado potiguar Felipe Maia (DEM), 34 anos, filho de José Agripino e neto do velho Tarcísio, possui cotas nas rádios A Voz do Seridó e Rádio Curimataú de Nova Cruz. Chama atenção o valor das cotas: 32 reais. A declaração de bens do parlamentar em 2006 mostra que sua participação na Rádio Curimataú é de apenas 10 reais; na outra, investiu mais alto: 22 reais.

A maior parte de seus quase 4 milhões de reais declarados está numa de suas oito contas do Fundo de Investimentos Sudameris. Felipe tem apartamentos em bairro chique, empresa de revenda de motos, contas em fundos de investimentos. E ainda a Comav, que, mediante concessão pública, transporta o combustível que abastece aeronaves no aeroporto de Parnamirim (Grande Natal).

Felipe Maia tem participação, também, na emissora de televisão do pai, a TV Tropical (afiliada da Record), com 2.000 reais de cotas. O artigo 54 da Constituição diz que deputados e senadores não podem ter participação no tipo de empresa em que Felipe Maia atua: concessionárias da administração pública. E na Câmara dos Deputados ele é suplente do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar...

http://www.dhnet.org.br/denunciar/escandalos/rabodepalha/index.htm