quarta-feira, 22 de junho de 2011

Multinacionais francesas, África do Norte e petróleo
CATO BERGMAN*

Após fazer de tudo para salvar os regimes ditatoriais na Tunísia e no Egito a França resolveu escolher a via da intervenção militar na Líbia. Quais as razões para esse aprouche militarista?

Por que a França intervém no norte da África mas ignora os banhos de sangue no Bahrein e no Iêmen?

A resposta está no “Livro Branco” da defesa publicado pelo governo Sarkozy em 2008. Esse Livro Branco, que contém a estratégia de defesa nacional afirma que “a França não tem vocação para intervir em todos os conflitos regionais. Mas no momento em que seus interesses são colocados em jogo, ela deve se preparar para agir - ainda que não esteja explicitamente visada - nas zonas onde se observa uma conjunção de indubitáveis interesses estratégicos (...)” pág. 212.

GDF Suez, Danone & co

No Mediterrâneo a natureza desses interesses é dupla: econômica e geoestratégica. Economicamente o semanário industrial francês “L’Usine Nouvelle” observa que “países em outros tempos colonizados pela França como o Marrocos, a Argélia e a Tunísia acolhem, os três juntos, quase 90 mil franceses. As ligações estabelecidas no século passado perduram até hoje e o número de empresas francesas nesses países é expressão disso. “A Tunísia acolhe 1.200 empresas francesas. No Marrocos existem 1.250 e na Argélia 430. Graças à GDF Suez, Danone e outras multinacionais a França se mantém entre os primeiros investidores estrangeiros no Egito. Como no Marrocos os investimentos franceses no Egito passam dos 8 bilhões de euros.

Do ponto de vista estratégico, o Livro Branco sublinha a importância do Mediterrâneo que se encontra no meio de um “arco de crise” onde os recursos petrolíferos “permanecem centrais para o aprovisionamento energético do país e do continente europeu”. (pág. 43)

As reservas petrolíferas da Líbia são efetivamente as mais importantes na África e mundialmente ocupam o nono lugar. A Argélia é um dos mais importantes exportadores de gás natural. O Níger fornece Urânio para abastecer as centrais nucleares francesas responsáveis por quase 80% da produção energética do país. A estratégia francesa é clara: não é possível deixar o controle desses recursos aos povos da região.

A França desfrutava até recentemente de uma posição sólida. Mas a maioria das ditaduras não se manteve no poder nem mesmo com a sustentação parisiense, alterando uma realidade que favorecia o controle francês dos recursos naturais desses países. Apesar disso o grupo francês Areva continua controlando o essencial da produção de urânio no Níger e na Argélia segue em frente a construção de um novo gasoduto para levar gás à França e à Espanha.

*Artigo publicado em Bruxelas no Jornal “Solidaire” do Partido do Trabalho da Bélgica.

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