sexta-feira, 1 de abril de 2011

40 LADRÕES SE REUNEM EM LONDRES

Conferência em Londres só trata de armar gangs e roubar petróleo




Convocada pela coalizão imperial que mata civis líbios com suas bombas e mísseis desde o dia 19, a reunião discutiu ainda como entregar dinheiro do BC da Líbia aos grupos armados pró-EUA




Após bombardear por dez dias ininterruptos a Líbia, a pretexto de “ajuda humanitária” e “proteção aos civis desarmados”, EUA, Reino Unido, França e agregados abandonaram a tese na “Conferência de Londres”, realizada na terça-feira 29, na qual defenderam abertamente armar os opositores de Kadafi e, claro, roubar o petróleo.

Participaram da reunião do braço político da Operação “Amanhecer da Odisseia”, de acordo com seus organizadores, 40 ministros das relações exteriores – entre membros da Otan e outros -, mais o secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon. Qatar – que se dispôs a receptar o petróleo líbio -, Emirados Árabes – que enviou tropas para Bahrein -, Iraque invadido e mais outros três países árabes também assinaram ponto. A União Africana, apesar de convidada, boicotou a conferência.

Na reunião, o clima não estava tão animado quanto o da Conferência de Berlim – aquela que no século XIX dividiu a África entre as potências coloniais europeias -, mas como o primeiro-ministro inglês David Cameron asseverou, “estamos todos aqui com um único propósito, que é ajudar o povo líbio na hora da necessidade”. Entre outras “ideias”, aventou-se passar às gangs o dinheiro confiscado do Banco Central líbio e da estatal líbia do petróleo – mais de US$ 30 bilhões. As gangs também poderiam exportar petróleo, com a ajuda do Qatar.

Mais desinteressado que Cameron, só mesmo o presidente francês, Nicolas Sarkozy, que “reconheceu” o governo das gangs antes que qualquer outro, e a secretária de Estado Hillary Clinton. “Kadafi perdeu a legitimidade e deve ir”, convocou Hillary, que garantiu que os EUA “estavam trabalhando com a comunidade internacional para tentar atingir essa meta”. Em suma, exigiu uma “mudança de regime”, o que não está na resolução 1973. Mas, teve de admitir que tais metas “não são facilmente atingíveis”. Até um jornal israelense, o “Haaretz”, ironizou o ímpeto beneficente dessas figuras: “desse jeito, a revolução do Facebook vai virar a revolução dos Tomahawks”.

A Resolução 1970 do Conselho de Segurança da ONU estabeleceu expressamente um embargo de armas à Líbia, mas EUA, França e Reino Unido já manifestaram sua intenção de violá-la através de uma reinterpretação da Resolução 1973, a da “zona de exclusão aérea”. “Nossa interpretação é que a resolução da ONU 1973 retificou ou anulou a proibição absoluta de armar qualquer pessoa na Líbia, de maneira que pode haver uma transferência legal de armas se um país decidir fazê-lo”, afirmou madame Clinton. Como era de se esperar, o governo inglês, que tem fascinação pelo papel de poodle na história, acha a mesma coisa. Um diplomata francês, entrevistado pelo “New York Times”, confessou que armar os opositores “não é parte da resolução da ONU”, para acrescentar a seguir que, ainda assim, “estamos dispostos a conversar com nossos parceiros”.

Curiosamente, quem se mostrou menos afoito foi o secretário-geral da Otan, o general dinamarquês Anders Fogh Rasmussen, para quem a resolução requer “um embargo de armas” e se aplica a “ambos lados”. “Estamos lá para proteger as pessoas e não para dar armas a elas”, filosofou. O ministro das relações exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, repeliu a proposta de armar a oposição líbia e disse que, na questão, tinha a mesma posição que Rasmussen.

O presidente francês Sarkozy, em visita oficial a Pequim, ouviu do presidente chinês Hu Jintao que “se uma ação militar traz o desastre a civis inocentes, resultando numa crise humanitária ainda maior, então está contrária à intenção original da resolução do Conselho de Segurança”. Jintao apontou, ainda, que “não faltam ideias construtivas”, que vários países e organizações regionais apresentaram “propostas e sugestões para resolver a crise na Líbia” – uma referência, por exemplo, à decisão que a União Africana havia tomado, de enviar uma comissão de cinco presidentes ao país árabe, para observar in loco e entabular conversações. E que ficou inviável porque, na madrugada do dia marcado para a chegada da comissão, a coalizão começou o bombardeio da Líbia com mísseis Tomahawk.

CIA NO TERRENO

A Rússia já havia denunciado que a coalizão estava indo “muito além” do que a resolução 1973 estabelecia, e no lugar de proteger civis, estava apoiando um dos lados ao bombardear tropas líbias. Mas tal apoio não vinha exclusivamente por meio dos bombardeios. No dia seguinte à conferência tornou-se público que, há duas ou três semanas, Obama assinou uma ordem executiva secreta autorizando a CIA a agir em território líbio e a prover armas e todo tipo de apoio às gangs contrárias a Kadafi. E sabemos o que significa esse “agir”: sabotar, assassinar, espionar. Com o Reino Unido, não é diferente. Segundo os jornais ingleses, dezenas de soldados das tropas especiais estão no país árabe há semanas.

Bombardeios, assassinatos, sabotagem, confisco, roubo: eis aonde vai a cobiça dos EUA, Reino Unido e França pelo petróleo líbio e seus 3,5% das reservas mundiais, o dobro das reservas ianques. Ou nas palavras de denúncia do vice-chanceler Khaled Kaim. “A tática da coalizão é levar a um impasse para cortar o país em dois, o que significa tornar a guerra civil numa guerra contínua, o começo de uma nova Somália, uma situação muito perigosa”, advertiu em entrevista ao canal de televisão italiano Rai Uno. É para impedir isso, e por seu país, que os líbios lutam com tanta determinação.
 
ANTONIO PIMENTA

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