quinta-feira, 28 de abril de 2011

Congresso dos EUA investiga ganhos dos bancos com dinheiro repassado pelo Fed

JPMorgan, Citi e Bank of America locupletaram-se com o juro pago pelo governo dos EUA por uma dinheirama que lhes concedeu de graça

Os seis maiores bancos dos EUA emprestaram ao Tesouro a juros de 3,5% (através da compra de títulos) dinheiro do bailout que receberam do Fed a taxas de 0,25%. Os ganhos dos bancos com base na gigantesca transferência de bilhões de dólares foi relatado pelo informe do Serviço de Investigação do Congresso (Congressional Research Service-CRS).

A pesquisa foi realizada por solicitação do senador Bernie Sanders, democrata do Estado de Vermont, que pediu uma investigação sobre a compra dos títulos governamentais pelos bancos no período de 2008 a 2009 (o bailout). Ao recebê-lo, Sanders declarou que “este informe confirma que os empréstimos do Fed no período tornaram-se uma Previdência Social Corporativa para os grandes bancos”.

Ele denunciou em declarações do dia 26, ao receber o informe, que os seis grandes bancos “ao invés de usar o dinheiro dos empréstimos do Fed para reinvestir na economia, emprestaram seu dinheiro de volta ao governo federal a uma taxa de juros maior através da compra de títulos do governo”.

Sanders denuncia que o Fed – além de dizer que ia “salvar” os bancos da crise que se meteram ameaçando levar de roldão a economia dos EUA – proclamara que os empréstimos de emergência eram necessários também para que os bancos pudessem prover créditos aos pequenos e médios negócios.

Porém, destaca o senador, “o JPMorgan Chase, Citigroup e o Bank of America usaram grande parte destes empréstimos próximos a zero para comprar títulos do governo a taxas maiores”, o que se estava fazendo, portanto, “era prover dinheiro livre para as maiores instituições financeiras do país”.

O Bank of América é um dos bancos onde a relação entre dinheiro repassado pelo Fed e o montante de títulos do Tesouro em seu poder se expressa de forma mais direta. Observe-se que no terceiro trimestre de 2008 (quando estoura a crise subprime) o BofA possuía em torno de 4,7 bilhões de dólares desses títulos. Foi quando recebeu do Fed aproximadamente US$ 1 bilhão.

Veja-se, passo a passo, como o dinheiro do Fed a juro baixísssimo foi virando títulos a juro bem mais alto: no quarto trimestre de 2008 chegou aos cofres do banco, provindos de três programas de ‘resgate” do Fed, o montante de 52 bilhões de dólares a juros que variavam de 1,4% a 1,8% ao ano.

A quantidade de títulos do governo na mão do banco seguiu a mesma. No trimestre seguinte, o primeiro de 2009, mais um caminhão de dinheiro: 52,4 bilhões de dólares a juros de 0,3% a 0,5%. O montante de títulos permanece quase invariável.

De repente, no segundo trimestre de 2009, com mais 48,4 bi do Fed entrando para seus cofres, a taxas de 0,25 a 0,5%, o Bank of América anuncia que já detém 25 bilhões de dólares em títulos garantidos pelo governo a um juro de 3,5%, já com Obama na presidência do país.

No terceiro trimestre do mesmo ano, mais uma injeção de 2,9 bi de dólares ao BofA, a um juro de 0,25%. A esta altura o banco anuncia que passa a deter 50,4 bilhões de títulos governamentais atrelados a um juro médio de 3,2%!

Quanto ao JPMorgan, o quadro apresentado pelo CRS também é de benefícios escancarados. Enquanto o banco detinha 4,3 bilhões dólares em ativos do Tesouro e do governo no 2º trimestre de 2008, à altura do segundo trimestre de 2009 já passara a ter, em seu poder, US$ 35 bilhões em tais títulos que pagavam ao banco uma taxa média de 3,7%.

Durante este mesmo período, entraram para os cofres do Morgan um total de US$ 52 bilhões a juros que variaram de 0,25% a 2,1% (sendo que a maior parte dessa dinheirama, 41 bilhões, a uma taxa que varia de 0,25% a 0,6%).

O Citibank apresentou dados significativos. Um exemplo é que no segundo trimestre de 2009 recebeu mais de US$ 23 bilhões em termos de empréstimos pelo Fed a uma taxa de 0,5%, num período em que anunciou deter US$ 24,3 bilhões em títulos bancados pelo próprio governo dos EUA.

Depois de todas as pormenorizadas informações sobre a escandalosa locupletação dos grandes bancos (enquanto milhões perdiam suas casas abocanhadas por estes mesmos bancos quando sobreveio a crise das hipotecas) o porta-voz do Bank of América, Jerry Dubrowsky, declarou que “o Bank of America deu suporte vital para a economia durante toda a crise financeira e continuamos a apoiar negócios e indivíduos através de nossas atividades de empréstimos”.

O site norte-americano Huffington Post contestou com dados a fala de Dubrowsky sobre a “utilidade” dos monopólios financeiros. O dinheiro entregue supostamente para evitar que a crise destruísse a economia norte-americana foi carreado para os cofres dos grandes bancos para lá ficar empossado.

O jornalista Shahien Nasiripour divulgou no site Huffington – citando relatório do Fed - que em 2009 o crédito a mutuários declinou em US$ 234,5 bilhões e a verba para os negócios “não corporativos” (ou seja as empresas de médio e pequeno porte) despencou em US$ 296,1 bilhões.

“No total”, informa o articulista do Huffington, “mais de US$ 3 trilhões foi emprestado pelo Fed a instituições financeiras a termos generosos.

O Fed não colocou nenhuma condição sobre a forma como o dinheiro deveria ser usado”. Nessas condições, a enxurrada de dinheiro para os bancos não fez com que a economia saísse do buraco. O presidente do Fed, Ben Bernamke, acaba de anunciar que os números previstos de crescimento do PIB para a “recuperação da economia” foram reajustados para baixo.

NATHANIEL BRAIA

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