sábado, 3 de setembro de 2011

Rebeldes da Otan executam trabalhadores africanos em Trípoli, depois de algemados


Agora que Trípoli está nas mãos dos rebeldes os monopólios de mídia nos bombordeiam com imagens de supostas atrocidades do regime líbio. Ataques cometidos pelo CNT são divulgados como atrocidades das tropas de Kadafi. Os rebeldes são apresentados como libertadores, mas a realidade não é nada cor de rosa, relata o jornalista Tony Busselen, enviado especial do jornal Solidaire a Trípoli.
                        
TONY BUSSELEN*

  No início de Julho passei uma semana em Trípoli com amigos do WWW.Intal.be e de Investiing’action¹ onde visitei o campo de tendas destruído em 23 de agosto pelos rebeldes, fato que muito me chocou. Não menos de 30 cadáveres africanos foram encontrados com as mãos atadas atrás das costas. Esse campo que abrigava centenas de africanos ficava a algumas centenas de metros da entrada de Bab AL Aziziya, o quartel general de Kadafi.

Em nossas fotos se vê que essas pessoas poderiam ser qualquer coisa exceto mercenários armados. À entrada do campo elas estavam juntas, conversavam fraternalmente sob as várias bandeiras dos países africanos. Eram pessoas do Níger, de Mali, de Camarões, do Senegal, da Gâmbia, da Nigéria entre outros países e ali reinava um ambiente tranquilo e amigável. Eram pessoas simples, inclusive mulheres e crianças, que desde o início da guerra haviam perdido seus trabalhos na Líbia num dos inumeráveis canteiros de obras interrompidas. Estavam revoltados com os bombardeios da Otan.

Nós lhes perguntamos por que eles acampavam num lugar assim tão perigoso. Eles respondiam sempre com o mesmo sentido: “Nós viemos trabalhar aqui. Somos voluntários. Nós não compreendemos a Europa. Por que eles querem vir aqui à África? Aqui recebemos salários decentes. Todos têm eletricidade e serviços de saúde gratuitos. Os líbios podem dar uma educação a seus filhos sem pagar nada enquanto nos nossos países temos que pagar 600 dólares. Aqui nós somos alojados convenientemente e podemos usar excelentes estradas e vias. Em nosso país nada funciona, cada serviço é muito caro e os salários são ridiculamente baixos. Por que a Europa bombardeia exatamente esse país?

Isso aqui tornou-se um nojo

Durante os três dias anteriores ao massacre o campo próximo a Bab AL Aziziya foi bombardeado 62 vezes pela Otan. Mesmo assim alguns africanos ficaram ali até o último momento. Em 23 de agosto pelo menos 30 dentre eles foram massacrados pelos rebeldes². Um repórter da Associated Press disse ter visto um cadáver sem as pernas. Isso me fez pensar nas imagens da TV Líbia no início de julho: grupos de rebeldes histéricos linchando negros e mutilando atrozmente seus cadáveres. Esse gênero de terror aconteceu desde o início em Benghazi e ainda mais em Misrata e não foi registrado pela imprensa ocidental.

Peter Verlinden, jornalista da do canal de TV VRT insistiu em mostrar num jornal televisivo as imagens das vítimas do campo de tendas. “Sem Câmeras isso aqui é nojento!”, declarou Jens Franssen da rádio VRT e testemunhou: “Depois de uma reportagem no bairro de Abou Salin nós voltamos a um rond-point onde jazia uma dezena de corpos algemados”.

É doentio silenciar sobre a verdadeira natureza dos rebeldes pilotados pela Otan contra Trípoli. As embaixadas da Argélia, da Coreia do Sul, da Venezuela e da Bulgária foram pilhadas. A embaixada da Bélgica sofreu o mesmo mal: “A primeira coisa que os homens armados procuravam era o carro do embaixador. Todos os armários foram vasculhados e derrubados em busca de objetos de valor”, afirmou o De Standaard no sábado, 26 de agosto.

CNT faria um governo melhor que o de Kadafi?

Pode-se pensar o que se quiser de Kadafi, mas mesmo um artigo que o julga com severidade, no quotidiano belga De Tijd de 27 de agosto, atesta que graças à riqueza do petróleo Kadafi assegurou o pão barato, escola, eletricidade, imóveis de apartamentos e hospitais públicos e dessa forma fez da Líbia o país africano mais desenvolvido segundo a própria ONU.

Para essa mesma ONU a Líbia antes da era Kadafi era um dos países mais pobres do mundo”. O jornal prossegue: “Sob o governo de Kadafi era difícil fazer negócios. As companhias petroleiras ocidentais na Líbia sofriam insolentes aumentos de impostos ou tinham de enfrentar a ameaça de nacionalização”.

Pode-se perguntar se um novo governo poderá garantir à população líbia e aos imigrantes africanos realizações similares a aluguéis baratos, ensino de qualidade e saúde gratuitos sem passar pelos “insolentes aumentos de impostos” e sem nacionalizar plantas inteiras do setor petroleiro...

Notas

1 –www.intal.be e www.michelcollon.info
2 – International Herald Tribune, 26 de agosto.

*Tony Busselen é jornalista especializado em África e autor do livro “Uma história popular do Congo”.

http://www.horadopovo.com.br/

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