quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Otan trouxe seus rebeldes e a limpeza étnica para Trípoli

ROSANITA CAMPOS

  Desde de a entrada em Trípoli dos rebeldes do autoproclamado Conselho de Transição Nacional - CNT começaram as chacinas de negros africanos na capital líbia.
  As chacinas são atribuídas pelos monopólios de mídia ao exército líbio, mas o que se vê lá segundo alguns poucos órgãos de imprensa são atrocidades cometidas pelos rebeldes anti-Kadafi.
Trípoli é hoje uma cidade semidestruída que vive uma calamidade pública ocasionada por mais de seis meses de bombardeios diários da Otan. A população sofre a falta de luz, água e alimentos, corpos são vistos espalhados pelas ruas em meio ao lixo. A pilhagem das casas e o roubo aos que se arvoram a sair às ruas são coisas corriqueiras.
Os negros africanos, trabalhadores vindos de vários países do continente em busca de uma vida melhor, são presos torturados e mortos barbaramente sob a acusação de serem “kadafistas”. Eles fogem de Trípoli e no pequeno porto abandonado de Sayad, a 25 km a oeste da capital, já se conta mais de 800 refugiados desde o dia 31 de agosto. O lugar é uma antiga base militar italiana transformada em base líbia. Bombardeada em 1986 pelos EUA a base foi desativada, suas construções passaram a abrigar uns poucos pescadores e agora os negros africanos refugiados de Trípoli pelo horror promovido contra eles pelos rebeldes da “nova Líbia”.
“Com a chegada dos rebeldes a Trípoli ficamos em pânico. Africanos como nós são presos”, testemunha Modibo originário do Mali. Kizita Okosun da cidade de Benin na Nigéria foi preso em sua casa. “Eles roubaram meus bens. E se não fosse a proprietária da minha casa chegar eles teriam me matado”, afirmou o nigeriano a um jornalista do Le Monde no dia 2 de setembro, e prosseguiu: Fui conduzido a um centro de detenção provisório. Éramos 59 africanos de várias nacionalidades numa mesma cela sem água, sem banheiro e sem colchão. Nos davam comida uma vez por dia. Havia um negro Maliense ferido, mas não o levaram ao hospital. Um dia um líbio-americano que veio dos EUA combater Kadafi olhou para mim e disse: “Você, vem comigo”. E me trouxe até aqui em um carro. Deus me salvou, tive sorte mas os outros continuam lá. O que será deles?”
Em Trípoli as execuções, as prisões arbitrárias, as torturas e a barbarização de cadáveres espalham o terror e o medo sob o silêncio da ONU ou dos organismos de direitos humanos. Interpelado sobre a questão, Oussama Al Abed , vice-presidente do autoproclamado Conselho Municipal de Trípoli na quinta-feira (1) disse ao Le Monde que “não há com o que se inquietar, essa gente será julgada legalmente. Mas no futuro esses imigrantes deverão ter um documento de permissão de estadia no país. O antigo regime deixava os africanos entrarem o que não é aceitável. Kadafi dilapidou nosso dinheiro com esses negros em detrimento dos líbios”. Enquanto isso as execuções sumárias nos cárceres do CNT continuam.
Apesar do medo muitos negros africanos são protegidos nos bairros por seus vizinhos líbios, acostumados a vê-los sair para o trabalho diariamente antes dos massacres aéreos da Otan. Apesar da barbárie na capital líbia a solidariedade continua presente entre sua população.
Com os rebeldes, o CNT e a proteção da Otan chegou à Líbia o racismo e a xenofobia. A Líbia antes um país rico, com grande potencial de crescimento e aberto aos africanos fecha agora suas fronteiras. A riqueza do petróleo antes empregada para promover o bem estar da população líbia e de grande parte de africanos que viviam no país com as mesmas condições e os mesmos direitos dos cidadãos líbios será, de agora em diante, propriedade das empresas e dos bancos franceses, ingleses e americanos. O CNT dá as costas aos africanos e à África para fazer do país nova base de operações ocidentais cravada em solo africano com a matança da população líbia e o sangue dos africanos.
O ocidente verá em breve do que é capaz um povo oprimido privado - pela força das armas e da invasão estrangeira - de sua soberania e liberdade, de suas riquezas. Não por acaso o comando da Otan já declarou que quer ficar por muito tempo em território líbio.
http://www.horadopovo.com.br/

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