domingo, 18 de setembro de 2011

GRÉCIA: SEMANA DE DECISÕES ‘HERÓICAS'

Até o final de setembro, as ruínas da Antiguidade  talvez despontem como a última dimensão  intacta da sociedade grega.

A esperança de que os ministros  das finanças do euro, reunidos  na Polônia neste fim de semana, pudessem redefinir a estratégia de socorro às economias falidas  da UE  esfumou-se.

Em rota de colisão com os apelos do próprio emissário de Obama ao encontro, Timothy  Geithner, que pediu a inversão da ênfase em cortes para um programa emergencial de incentivos,  a ortodoxia personificada em Angela Merkel reafirmou a doutrina da purgação: os que precisam de ajuda terão que extraí-la de seu próprio metabolismo exaurido.

Aportes de recursos prometidos pelo acordo de resgate de 160 bi de euros assinado com Atenas  em 21 de julho  somente desembarcarão nos cofres gregos mediante exudações adicionais de sangue, suor e lágrimas. E isso terá que acontecer nos próximos dias. Ou horas.  A pressão do calendário apertou o passo.  

O Estado grego já não tem mais dinheiro para pagar salários e aposentadorias. O PIB anualizado cravou uma queda superior a 7% n 2º trimestre; há 3 anos a economia grega  encontra-se em recessão e caminha para um novo mergulho em 2012. O desemprego  oficial tangencia  os 17%. O número de suicídios saltou  40% desde o início da crise. Cidadãos desesperados se imolam em praça pública ateando fogo ao próprio corpo. A Roche suspendeu a entrega de medicamentos para tratamento de câncer aos hospitais. Motivo: falta de pagamentos.

É sobre essa montanha desordenada de desespero e falência branca que a cegueira ortodoxa exige um novo degrau de cortes e renúncias. Não há qualquer remoto vestígio de racionalidade ou coerência macroeconômica nisso. Estamos no terreno das trevas, diria Maria da Conceição Tavares,ali onde a ganancia se sustenta exclusivamente pela coerção e o aniquilamento.  E Papandreu  sinaliza sua adesão ao butim.

Depois de atear fogo ao próprio corpo, o que mais resta à sociedade grega senão ir às ruas e reassumir o controle do seu próprio destino?
 
 

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