domingo, 18 de setembro de 2011



Hugo R C Souza   

 

A despeito do que (des)informam as emissoras e os jornais que compõem o monopólio internacional dos meios de comunicação, que são ao mesmo tempo parte integrante e porta-vozes das classes dominantes, a vertente econômico-financeira da crise mundial do imperialismo não está ficando para trás. Ao contrário, ela se agrava cada vez mais, com mais bancos indo à falência, os monopólios perdendo seu valor de mercado e a economia do USA prestes a passar da recessão à depressão. Convalescente, o capital acirra os arrochos ao mundo do trabalho, que não pode perder de vista o fato de que o momento, além de exigir resistência às demissões e à depreciação dos salários, é decisivo, sobretudo para a luta revolucionária.

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Considerado à prova de manipulações estatísticas, ao contrário dos cálculos referentes ao Produto Interno Bruto, que está sempre sujeito a maquilagens, o índice de consumo de energia elétrica costuma ser um indicador fiável quanto à expansão ou retração de economia de determinado país. Estando positivo, demonstra economia expandindo a geração de riquezas (ainda que para benefícios de poucos); estando negativo, denuncia encolhimento da produção. Pois pela primeira vez na história o consumo de energia elétrica em território ianque irá diminuir pelo segundo ano consecutivo. No ano passado, este índice ficou em -0,7%, mesmo número registrado na crise econômica de 2001. Em 2002, entretanto, o consumo de energia elétrica subiu para 2,1%. Já em 2009 o índice não apenas deve ficar no vermelho, como provavelmente irá cair ainda mais, com as previsões mais otimistas dando conta de que ficará em -1,6%, patamar sintomático de uma recessão de grande escala.

Mas, diante dos números oficiais (dados do Escritório de Análises Econômicas do Departamento de Comércio do USA) dando conta de que o PIB real do USA diminuiu a uma taxa anualizada de 5,7% no primeiro trimestre deste ano, talvez nem seja preciso tirar a prova dos nove do consumo de energia elétrica.

 

Incongruência e impotência dos 'Brics'


Em todo o mundo, uma parte dos ricos seguem perdendo suas fortunas. Segundo o banco de investimentos Merryll Lynch, um milhão e meio de pessoas saíram do grupo dos que possuíam, no mínimo, um milhão de dólares. As grandes empresas perderam 50% do seu valor, ou 30 trilhões de dólares. Os multimilionários, aqueles com mais de 40 milhões de dólares no banco ou e em ativos, são agora 78 mil, 25% a menos do que antes.

Tudo isto não significa, porém, que a burguesia esteja sendo mais penalizada pela crise do capitalismo do que o povo trabalhador. Ao contrário. Na Europa, onde o desemprego beira os dois dígitos (assim como no USA), já tem patrão de transnacional chantageando os funcionários para que trabalhem de graça, em nome da "sobrevivência da companhia".

Sintoma desta agonia foi o fato de o grupo de países ditos "emergentes" reunidos na sigla Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) ter realizado recentemente sua primeira reunião, na cidade russa de Ecaterimburgo, na região dos Montes Urais, sob a promessa de articular uma ação comum para as próximas reuniões do G20 e da Organização Mundial do Comércio. Na prática, entretanto, limitaram-se a discutir os melhores caminhos para negociações em conjunto com o imperialismo ianque e europeu. E mesmo a pressão do USA e da Europa para que os Brics sirvam de alavanca para suas economias tentarem sair do buraco não chegam a surtir qualquer resultado, tendo em vista a impossibilidade de consensos e a impotência de quaisquer ações coordenadas entre dois países dependentes e semicoloniais (Brasil e Índia) e dois países que nutrem pretensões imperialistas (China e Rússia).

Muitos "Gs" para uma crise só


O máximo que conseguem delinear são especulações em torno da substituição do dólar, em processo de desvalorização, por outra moeda de referência para o comércio e os investimentos entre os membros do sub-bloco, em mais uma panacéia que em nada atende aos anseios do povo brasileiro, nem sequer do chinês, russo ou indiano. Esta seria apenas mais uma falsa solução apresentada pelos burocratas empenhados na gestão da crise capitalista. Não obstante, a substituição do dólar foi logo identificada pelos oportunistas de plantão com uma idéia alinhada com as perspectivas da "esquerda", tal e qual se fez com a tendência de maior participação do Estado burguês na economia, como se esta participação não significasse apenas uma sobrevida para os monopólios e desemprego para as massas.

As reuniões e conformações de blocos e sub-blocos, a realização de inúmeras cúpulas e a discussão de um sem número de panacéias, aliás, são sintomas da desorientação que tomou conta dos chefes e gerentes tanto dos Estados imperialistas quando dos Estados semifeudais, bem como das suas instituições de manejo das finanças mundializadas. Conta-se o G8, o G7, o G20, o G5 (Brasil, Índia, China, México e África do Sul), os Brics, etc. Agora mesmo, em meados de julho, os chefes do G8 se reuniram na Itália para bater cabeça, além de emitir mais uma ordem para os países ditos "emergentes", a de que a rodada Doha da OMC deve ser concluída até 2010, em mais uma tentativa fadada ao fracasso de minimizar a crise geral de superprodução.

Outra lenga-lenga que tentam emplacar é a ilusão do "mercado financeiro seguro", idéia picareta que está por trás do demagógico plano de "controle financeiro" anunciado por Obama. O chefe do USA outorgou superpoderes ao Banco Central ianque, criou instrumentos inúteis de "supervisão preventiva", inventou uma "Agência de Proteção dos Consumidores Financeiros" e pediu a revisão do Acordo de Capital de Basiléia II, concertação do capital bancário transnacional chancelada pelas potências que reza sobre os riscos e a contabilidade da banca internacional. Que as massas de lá e de cá não se iludam! O embuste de "um capitalismo melhor" é o lado economicista da Doutrina Obama. O que se tenta é a restauração das engrenagens anti-povo, da saúde dos monopólios e da plena financeirização do mundo.

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