quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Este país não é mais aquele

 

Bristol (EUA) - É desanimador o panorama politico no momento nos Estados Unidos. O candidato que lidera a campanha pelas  primárias republicanas, Rick Perry, do Texas, é um estudo em medievalismo: entre outras coisas, o homem  quer acabar com a Previdência Social, nega a evolução das espécies, acredita que o mundo foi criado como está na Bíblia e orgulha-se de ser o governador recordista em execuções, sendo que uma delas, ao que tudo indica, de um inocente. É também famoso por ter querido proclamar o Texas um país independente.

 

No último debate entre republicanos, o mediador perguntou a Ron Paul, representante do Tea Party, se ele deixaria morrer uma pessoa doente que não teve dinheiro para comprar seguro médico. Enquanto Ron Paul, um médico, gaguejava para encontrar as palavras certas, a platéia (formada por republicanos, é claro), explodiu em gritos de YES, YES!

 

Michelle Bachmann, outra flor do Tea Party, culpa “os pecados dos homens” por manifestações da natureza como furacões e terremotos, e inventou que uma vacina para prevenir o câncer cervical “leva à loucura”, obrigando associacões médicas do país a surgirem com desmentidos públicos. Assim como Rick Perry, Michelle Bachmann declara que o governo deve fechar a Agência de Proteção Ambiental e chama de mentirosos os cientistas que alertam contra as mudanças climáticas pela queima de combustíveis fósseis.

 

O Census Bureau informou que a pobreza entre a população americana chegou ao maior patamar dos últimos 52 anos. Quarenta e seis milhões e duzentos mil americanos vivem oficialmente na pobreza. Como era de se esperar, o grupo racial que tem visto a pobreza aumentar em maior número é o de negros, com hispânicos em segundo lugar. Mais impressionante ainda é que a partir do ano 2000 a disparidade entre os mais ricos e o mais pobres aumentou. A renda média dos 10% mais pobres da população caiu em 12%, enquanto a renda média dos restantes 90% caiu em apenas 1,5%. A renda dos 10% mais ricos aumentou. A renda mais alta da população pobre foi atingida  em 1999, último ano do governo  Bill Clinton.

 

Nesta terça-feira, uma eleição especial para o Congresso no estado de Nova York, para preencher a vaga deixada pela renúncia do democrata Anthony Weiner, foi ganha por um republicano – que imediatamente declarou que vai se opor aos planos econômicos do presidente Barack Obama.

 

Obama por sua vez mostra cada vez menos capacidade de liderar o país. Anda de estado em estado pregando seu novo projeto para resgatar a economia, mas estou convencido de que  vai novamente fracassar. Obama perdeu sua oportunidade ao deixar de apresentar um plano realmente ousado para combater a recessão quando assumiu o cargo em 2009. Procurou contemporizar, adotar meias medidas, cortejar republicanos – e foi por eles sistematicamente repelido, desrespeitado e ignorado.

 

Os republicanos, que por filosofia não acreditam em agências governamentais, tiveram porém a desfaçatez de abraçar com entusiasmo as revelações do Census Bureau (um órgão do governo federal), para colocar toda a culpa da lamentável situação do país em Barack Obama – como se George W. Bush, que levou a nação à ruína com guerras desnecessárias e déficit público monstruoso, não tivesse sido presidente entre 2000 e 2008.

 

A verdade é que os Estados Unidos vão descambando para a direita. Os fascistas do Tea Party acham que os milhões de desempregados no país estão desempregados por serem  “vagabundos”, por quererem viver da caridade pública.  Como vimos acima, acham que um pobre sem recursos para pagar seguro médico particular deve morrer, não ser socorrido pelo governo.

 

Depois que me mudei para cá, em 1990, Gorbachev caiu, a União Soviética acabou e os Estados Unidos assumiram sem contestação a posição de única super-potência mundial. Talvez o sucesso tenha subido à cabeça dos americanos. Talvez eles não estivessem preparados para tal


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