quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Acordo desastroso debilita ainda mais economia norte-americana

Krugman: “Temos no momento uma economia deprimida. A pior coisa que você pode fazer nestas circunstâncias é cortar os gastos do governo, pois isso deprime a economia ainda mais” 
A Câmara de Representantes aprovou na segunda-feira (1) com 269 votos a favor e 161 contra, o acordo entre republicanos, Casa Branca e democratas de cortes nas despesas e de aumento do teto da dívida. Na terça-feira, o Senado, com maioria do partido do governo, aprovou o plano por 74 a 26 votos. No entanto, na Câmara, apenas 95 deputados democratas votaram a favor e outros 95 votaram contra, com o partido cindido ao meio. À líder da bancada minoritária, a veterana deputada Nancy Pelosi, coube apenas reconhecer de público que entendia perfeitamente a posição dos correligionários que resistiram a apoiar o embrulho.
Para Paul Krugman, Nobel de economia, que guarda distância de qualquer posição à esquerda, escreveu artigo no New York Times na véspera da votação em que afirma que o acordo é “uma catástrofe”, tanto em termos políticos como econômicos.
O “acordo” prevê cortes orçamentários de US$ 2,4 trilhões numa década e aumenta o limite da dívida norte-americana em US$ 2,1 trilhões, que sairá em duas etapas:US$ 900 bilhões de imediato e US$ 1,2 trilhão numa segunda fase.
Os cortes de gastos públicos também são em duas partes: US$ 917 bilhões já e US$ 1,5 trilhão para ser definido através de uma comissão bipartidária que escolherá o que será cortado e será votado no Congresso até dezembro, sem direito a emendas. A renúncia fiscal com que W. Bush presenteou bilionários e conglomerados, essa, ficou intocável porque a oposição não aceita e Obama submeteu-se à extorsão.
Krugman afirma em seu artigo que “os termos do acordo, se reduzem a uma rendição abjeta por parte do Presidente Obama”. E continua: “Primeiro, haverá cortes de gastos, sem nenhum aumento de receita. Depois, uma comissão bipartidária fará recomendações para mais redução de déficit – e se essas recomendações não forem aceitas, haverá mais cortes de gastos. Os Republicanos supostamente têm um incentivo para fazer concessões desta vez, porque os gastos com defesa estarão entre as áreas a serem cortadas. Mas o Partido Republicano já demonstrou sua disposição de arriscar o colapso financeiro a menos que ele receba tudo o que seus membros mais extremos querem. Por que esperar que eles sejam mais razoáveis da próxima vez?”
O economista argumenta que “o acordo vai causar danos a uma economia já deprimida; provavelmente tornará o velho problema do déficit estadunidense pior, não melhor; e, mais importante, ao demonstrar que a pura extorsão funciona e não traz custos políticos, ele leva os EUA mais perto ainda do estatuto de ‘república bananeira’”.
Avaliando as consequências para a economia norte-americana, Krugman continua: “Temos, no momento, uma economia profundamente deprimida. É quase certo que continuaremos a ter uma economia deprimida ao longo do ano que vem. E provavelmente teremos uma economia deprimida ao longo de 2013, se não mais além. A pior coisa que você pode fazer nestas circunstâncias é cortar os gastos do governo, pois isso deprime a economia ainda mais. Não preste atenção aos que invocam a fadinha da confiança, que argumenta que ações orçamentárias duras reasseguram os negócios e os consumidores, levando-os a gastar mais. Não funciona assim, isso é fato já confirmado por inúmeros estudos históricos”.
E mais: “Na verdade, cortar gastos quando a economia está deprimida não ajuda nem mesmo a situação orçamentária, e pode na verdade torná-la pior. Por um lado, as taxas de juros sobre os empréstimos federais são hoje bem baixas, portanto cortar gastos agora faz muito pouco para reduzir as futuras despesas com juros. Por outro lado, tornar a economia mais fraca agora também causa dano a suas chances a longo prazo, o que por sua vez reduz a receita futura. Portanto, aqueles que exigem cortes de gastos agora são como aqueles médicos medievais que tratavam os doentes sangrando-os, e assim enfraquecendo-os ainda mais”.
No terreno político, Krugman pondera: “Não se iludam, o que estamos presenciando aqui é uma catástrofe em múltiplos níveis. Trata-se, claro, de uma catástrofe política para os Democratas, que até poucas semanas atrás pareciam ter os Republicanos contra as cordas por tentarem desmantelar o Medicare: agora, Obama jogou tudo isso fora. E o dano ainda não acabou: ainda haverá mais pontos de estrangulamento com os quais os Republicanos podem ameaçar criar uma crise ao menos que o presidente se renda, e eles agora podem agir com a expectativa confiante de que ele se renderá”.
“O presidente tinha outra alternativa desta vez?”, indaga. “Sim. Em primeiro lugar, ele poderia e deveria ter exigido um aumento no teto do endividamento em dezembro. Ao ser perguntado por que não o fez, ele respondeu que tinha certeza de que os Republicanos agiriam com responsabilidade. Belo palpite! E mesmo agora, a administração Obama poderia ter recorrido a manobras legais na questão do teto da dívida, usando qualquer uma de várias opções. Em circunstâncias normais, poderia ter sido um passo extremo. Mas, ante a realidade do que está acontecendo, ou seja, a extorsão crua por parte de um partido que, afinal de contas, só controla uma casa do Congresso, a medida teria sido totalmente justificável”. http://www.horadopovo.com.br/

Nenhum comentário: