terça-feira, 9 de agosto de 2011


Há 'descompasso' entre influência e defesa do Brasil, diz Amorim

Novo ministro da Defesa, Celso Amorim, assume com discurso nacionalista, prometendo reforçar capacidade das forças armadas de proteger riquezas, fronteiras e influência brasileiras. “Há um descompasso entre a crescente influência internacional brasileira e nossa capacidade de respaldá-la no plano da defesa. Uma não será sustentável sem a outra”, afirmou. Ex-chanceler de Lula elogia virtudes militares, mas manda recados sutis sobre subordinação e direitos humanos.

BRASÍLIA – O novo ministro da Defesa, Celso Amorim, assumiu nesta segunda-feira (08/08) dizendo que vai trabalhar para fortalecer a capacidade brasileira de proteger riquezas e fronteiras, o que requer melhorar o orçamento militar. Para ele, o país não tem poder dissuasório suficiente para defender a Amazônia ou o pré-sal, por exemplo. “Há um descompasso entre a crescente influência internacional brasileira e nossa capacidade de respaldá-la no plano da defesa. Uma não será sustentável sem a outra”, afirmou.

Além do apelo ao nacionalismo, no discurso, Amorim destacou que considera importantes algumas características valorizadas pelas forças armadas agora subordinadas a ele. Falou em "patriotismo", "abnegação", "hierarquia" e "disciplina". Disse ver “aspirações legítimas” no desejo da caserna de melhorar as condições de vida nos quartéis. E que vai buscar, também, “autonomia tecnológica” para as forças.

Mas o ministro não deixou também de transmitir, de forma sutil, algumas mensagens. Afirmou que os militares estão “plenamente conscientes da subordinação ao poder democrático civil”. Que terá “espírito crítico” ao implementar a Estratégia Nacional de Defesa e o Plano de Articulação e Equipamento de Defesa. E que as forçar armadas precisam refletir “de forma crescente” a diversidade da sociedade. “Devemos valorizar a discussão de temas como direitos humanos, desenvolvimento sustentável e igualdade de raça, gênero e crença”, afirmou.

Foi, no entanto, a única menção a “direitos humanos” no discurso, tema que sempre causa alguma inquietação nos militares, por causa da ditadura de 1964.

Depois de Amorim, a presidenta Dilma Rousseff também falou na cerimônia de posse e justificou a escolha do novo ministro ressaltando aspectos que, para ela, produziriam identificação entre Amorim e os militares. Disse que, como eles, o ministro tem “elegância”, “moderação pública”, “cultura e peparo técnico” e "profissionalismo”.

A presidenta procurou destacar ainda o peso da “carreira de Estado” na biografia de Amorim, ao lembrar que ele esteve em governos diferentes. Foi chanceler de Itamar Franco e Luiz Inácio Lula da Silva. E representante nas Nações Unidas e em outros organismos internacionais com Fernando Henrique Cardoso.

“A experiência de Celso Amorim em política externa será valiosa para o ministério da Defesa”, disse a presidenta, explicando que o Brasil negocia hoje acordos bilaterais e compra de armamento e aquisição de tecnologia bélica e que o currículo do ex-chanceler será útil.

A presidenta disse ainda que o novo ministro terá de continuar com mais velocidade projetos que já estavam em curso na Defesa.

Dilma encerrou o discurso com uma tentativa de neutralizar eventual intranquilidade que possa ter havido entre militares com a Amorim, que é do PT. “A ideologia do Ministério da Defesa é o respeito à Constituição e a subordinação aos interesses nacionais. O partido do Ministério da Defesa é a pátria. Os senhores sabem disso, o novo ministro sabe disso”, declarou.

Dilma e Amorim reuniram-se no último sábado (08/08), e eles combinaram que o ministro sentaria com os comandantes das três forças (exército, marinha e aeronáutica) antes da posse, o que aconteceu naquele mesmo dia.

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