quarta-feira, 10 de agosto de 2011

"É impossível fazer política industrial sendo conduzido pelo atual juro e pelo câmbio"


Em entrevista ao site IHU On-Line, do Instituto Humanitas Unisinos, o economista Wilson Cano considerou que o Plano Brasil Maior, lançado na semana passada, “é uma tentativa de dar ‘Melhoral’ para o doente, porque as questões estruturais a serem enfrentadas são outras, muito maiores do que estas que estão tentando resolver: é a taxa de juros e a taxa de câmbio. As medidas de proteção à indústria nacional, pelo menos as que foram anunciadas nesta semana [semana passada], são muito tímidas”.

“É impossível fazer política industrial com a macroeconomia sendo conduzida pela atual taxa de juros, pelo câmbio, com desproteção e com o neoliberalismo que está vigendo. A política do BNDES, de querer fortalecer a empresa nacional para aumentar a competitividade dela, é uma ilusão.

O Brasil está dando dinheiro para ‘matar boi’ nos EUA. O que essa política tem a ver com desenvolvimento econômico nacional?”, questionou.

O professor da Unicamp defendeu mudança na política macroeconômica.

“O Brasil precisa alterar a macroeconomia. O professor Celso Furtado, que foi tão citado pela presidenta Dilma na exposição do Plano Brasil Maior, dizia que essa ideia de padrão único, de manter equilíbrio cambial não deve ser adotada por países subdesenvolvidos.

Isso pode ser feito pelos ingleses, que eram os donos da moeda internacional, ou pelos norte-americanos, que são hoje os donos da moeda internacional, o dólar. Para o Brasil, essa política é caríssima”, argumentou.

“A taxa de juros brasileira é a mais alta do mundo. Isso precisa mudar”, acrescentou Cano. Para ele, “o governo pode aplicar IOF, mas medidas como essas não resolvem problemas econômicos porque a avalanche de entrada de dólares no país continuará sendo grande.

A política brasileira tem dupla face de cortes: primeiro, o governo tenta aumentar a taxa de juros para conter a inflação – essa é uma visão monetarista ortodoxa –, e, depois, para alterar a taxa de juros, o governo é obrigado a aumentar colossalmente a dívida pública interna”.

Conforme Cano, qualquer plano que não mexa na taxa de juros e no câmbio será inoperante: “Enquanto a administração dos juros, do gasto público e da taxa de câmbio continuar do jeito que está, não haverá como proteger e salvar a indústria ou qualquer setor nacional. O governo está apenas colocando remendos em cima de uma colcha suja e velha”.

Sobre o peso do câmbio na produção industrial, Cano frisou que “o câmbio é central. Não sei o valor exato, mas o câmbio brasileiro está aproximadamente 30% apreciado. Compara esse aumento de 30% no valor das exportações com o subsídio que o governo está dando na desoneração da folha de pagamentos.

Alterar o câmbio seria muito mais eficaz do que conceder essa desoneração. Se isso fosse feito, não haveria implicações para o déficit da previdência social. As altas taxas de juro também oneram a estrutura da receita fiscal num peso muito maior do que a folha de pagamentos de todos os funcionários públicos”.

De acordo com o economista, uma política industrial é fundamental no processo de desenvolvimento econômico: “Todos os países se desenvolveram com a industrialização e não ‘vendendo galinha’ e vendendo minério de ferro, ou soja. Vender commodities é bom, traz divisas para o país poder importar equipamentos, mas não é com isso que se desenvolve uma economia nacional”.

Admirador de Celso Furtado, Wilson Cano publicou quase uma dúzia de livros tendo a economia brasileira como foco principal. Entre suas principais obras, destacam-se “Desconcentração Produtiva Regional do Brasil 1970-2005”, “Ensaios sobre a Formação Econômica Regional do Brasil”, “Região Metropolitana de Campinas, Vol. I e II”, “Introdução à Economia: uma Abordagem Crítica” e “Soberania Política e Econômica na América Latina”.

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