segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Mercado interno agradece o forte estímulo de Mantega: -0,26%


Juros altos, arrocho nos salários e aperto nos gastos publicos é a velha receita dos adoradores da recessão


A divulgação do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), no dia 17, parece ter deixado zonzos até os que compõem a arraia-miúda das empresas de consultoria, financeiras e outras, em geral muito tagarelas, além dos notórios “comentaristas econômicos”, que fizeram o possível para minimizar o resultado ou nem falar dele. Todos são corifeus da recessão, mas entendem que quando o jogo da política que estavam apoiando fica tão aberto, tão escancarado, tão claro, é melhor fechar a boca: talvez a culpa seja atribuída a outros.

Não foram os únicos: até o término desta edição, nem o ministro da Fazenda nem o presidente do Banco Central haviam tecido observações sobre o resultado de sua política recessiva, irresponsável diante das necessidades do povo e de uma crise externa - e contra as orientações da presidente Dilma, que, dias antes, repudiara “soluções” recessivas para o país.

O fato é que pela primeira vez nos últimos trinta meses, a variação do IBC-Br foi negativa: em junho, comparado a maio, esse índice, uma espécie de simulação estimada do PIB, caiu -0,26%, e isto na série expurgada de efeitos sazonais. Sem esse expurgo, a queda foi de -2,48%.

O IBC-Br tem uma diferença importante em relação ao PIB: nele são consideradas também as importações. Portanto, um resultado ruim no IBC-Br tende a ser ainda pior no PIB.

Este foi o terceiro resultado negativo em poucos dias.

No dia 9, o IBGE divulgara a Pesquisa Industrial Mensal Produção Física, com uma queda de -1,6% em um único mês (junho/maio) para a indústria de todo o país. No Rio de Janeiro, terceiro Estado mais industrializado, a produção industrial caiu -4,5%; em Minas, que tem a segunda indústria, a queda foi de -1,3%; e a produção de São Paulo retraiu -1,5%.

Todos os setores industriais (extrativa, transformação e seus ramos: bens de consumo, bens de capital e bens intermediários) diminuíram sua produção. A agroindústria caiu -3,3% no semestre, com a produção de derivados da agricultura caindo -4,7% (e, entre estes, a produção de derivados da cana-de-açúcar foi atirada num abismo, com -25,4%: a produção de etanol diminuiu -27,7% e a de açúcar, -24,8%).

No dia 11 foi publicada a Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário, também do IBGE, com uma queda nacional no emprego de -0,2% (junho/maio), -1,5% em São Paulo, e, quanto aos setores, na comparação junho/2011-junho/2010, o emprego caiu -11,2% na indústria de móveis, -10,1% nas indústrias de papel e gráfica, -5,4% na indústria de calçados e artefatos de couro e -3,5% na indústria de vestuário.

Agora, foi o Índice de Atividade Econômica do próprio BC.

São resultados perfeitamente lógicos. Surpresa – aliás, mágica – seria se a economia estivesse de vento em popa depois de cinco aumentos de juros seguidos, de um aperto “macroprudencial” no crédito, de um aumento real zero para o salário mínimo, de uma redução do salário real dos servidores - que não tiveram nem mesmo um reajuste para repor a corrosão de seus proventos devido à inflação – e de cortes de gastos públicos, além de contingenciamentos cavalares da verba que não foi oficialmente cortada. Não há consumo – incluído aqui o consumo produtivo, isto é, o consumo das empresas produtivas, vale dizer, os investimentos - que suporte isso, ou seja, que consiga manter impávido o mercado interno, quando a política econômica é deliberada e premeditadamente recessiva, isto é, de destruição do mercado interno.

A Execução Orçamentária do governo federal espelha muito bem o que houve: até o dia 17 último, passou-se aos bancos, em juros, R$ 105.282.874.936,76 (105 bilhões, 282 milhões, 874 mil, 936 reais e 76 centavos) e em amortizações, R$ 61.639.010.338,21 (61 bilhões, 639 milhões, 10 mil, 338 reais e 21 centavos).

Portanto, o governo federal, até essa data, havia passado, desde janeiro, em dinheiro, R$ 166.921.885.274,97 (166 bilhões, 921 milhões, 885 mil, 274 reais e 97 centavos). É para isso que o sr. Mantega quer um “belo” superávit primário, cada vez maior, a cada mês.

Enquanto isso, todo o gasto do Ministério da Saúde, até o mesmo dia 17, havia sido R$ 39,9 bilhões, o da Educação, menos ainda, R$ 28,2 bilhões, e todos os investimentos orçamentários liberados pelo governo federal montavam a apenas R$ 4,6 bilhões.

Em suma, não é apenas errada e desastrosa a política do sr. Mantega de cortar os gastos do governo. Além disso, é mentirosa, pois o que ele está fazendo é aumentar os gastos com os bancos à custa de cortar os gastos com o povo – com a Educação, Saúde e todo e qualquer setor que atenda à população ou seja fundamental, ou importante, para o país.

Não é acabando com o mercado interno que ele vai nos livrar da crise. Mas o que está se fazendo é, precisamente, debilitando, cerceando, sufocando o mercado interno – daí as prédicas contra o aumento de gastos do governo, as pregações contra os aumentos de salários, a redução do crédito e, sobretudo, os aumentos de juros, com sua consequência, nesse regime cambial em que impera a lei do mais vigarista: a hipervalorização artificial do real, com o encarecimento das mercadorias produzidas dentro do país, vis-à-vis o barateamento também artificial das importações.

Os resultados econômicos desse início de agosto são apenas a consequência inevitável dessa política de sabotagem da economia, do país e do povo – e, a continuar, só pode conduzir à crise e ao desastre.

Até agora essa política recessiva foi mascarada com os incensamentos manteguistas ao “crescimento sustentável” do país, ao nosso “poderoso mercado interno” e até a “um crescimento aumentando os investimentos e fortalecendo o mercado interno, de modo a gerar milhões de novos empregos”, seguidas de profissões de fé do tipo: “essa é a prioridade máxima da política econômica” - ao mesmo tempo em que se fazia exatamente o contrário.

Isso não é mais, de agora por diante, possível, exceto como deboche e cinismo.

CARLOS LOPES


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