segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Economia da União Europeia patina a 0,2% no 2º trimestre


Os cortes de gastos e investimentos públicos estão na raiz da estagnação da economia. A produção industrial da UE teve desempenho bem pior ao encolher 1,2% em junho, comparado com maio

O Produto Interno Bruto (PIB) da União Europeia (que engloba 27 países) cresceu apenas 0,2% no segundo trimestre em relação ao trimestre anterior, que registrara uma variação de 0,8%. Já a produção industrial na UE teve desempenho bem pior ao encolher 1,2% em junho, comparado com maio.

Segundo os dados divulgados pelo Escritório Estatístico das Comunidades Europeias (Eurostat), na comparação entre o primeiro e o segundo semestres, a Alemanha, principal economia da área, reduziu crescimento de 1,3% para meros 0,1%; a França, segunda economia, caiu de 0,9% para zero; a Itália patinou de +0,1% para +0,3% e a Espanha – quarto PIB da zona do euro e com o maior desemprego – variou no período de +0,3% para +0,2%. Os cortes de gastos e investimentos públicos estão na raiz da estagnação da economia da região.

Depois que os países do bloco - principalmente os menos industrializados - foram pressionados para aplicar as medidas de arrocho neoliberal exigidas pelo Banco Central Europeu (BCE) e pelo FMI e se renderam, esses resultados negativos começaram a causar uns eventos estranhos, pelo menos na aparência. Um deles foi o artigo publicado na terça-feira no Financial Times pela diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, no qual ela afirma que os governos devem equilibrar “cortes de gastos com medidas de curto prazo para garantir o crescimento e evitar nova recessão” e que “pisar no freio muito rapidamente” pode prejudicar e piorar as perspectivas para geração de empregos.

Na verdade não se trata de que o FMI enlouqueceu e colocou uma madre Teresa de Calcutá para zelar pelo bem-estar das pessoas. Para o FMI, ou seja, para os bancos, se os países quebrarem de vez, os agiotas perderão a oportunidade de esfolá-los com juros escorchantes. O caso da Grécia é exemplar neste sentido. As medidas impostas pelo FMI/BCE/Merkel/Sarkozy levaram a Grécia a reduzir seu PIB em 8,1% no primeiro trimestre e encolher quase 7% de abril a junho, e a taxa de desemprego que já era de 12% há um ano, disparou para 16,6% atualmente e, entre os jovens, o desemprego atinge 40%. Madre Lagarde dos especuladores está apenas zelando para manter a Grécia respirando para que possa continuar fornecendo sangue.

O FMI e o BC da Europa acharam muito natural que os governos arrombassem os cofres de seus Tesouros para salvar os bancos europeus que se meteram em dificuldades ao especular alucinadamente com derivativos baseados em hipotecas sub prime, contaminando-se com a crise financeira norte-americana que explodiu em 2008. O próprio BCE saiu em socorro dos bancos que se deram mal no cassino.

A trágica ironia é que, os governos geraram déficits para salvar os bancos de sua própria incompetência e, além disso, para estimular a economia real, afetada principalmente em 2009 pelo estouro da bolha financeira do Tio Sam. Depois de salvos, agora os bancos esfolam os governos com juros altos sob o pretexto de que os países estão muito endividados.

O caso do Reino Unido é ilustrativo dessa realidade. A dívida pública inglesa aproxima-se de US$ 2 trilhões, equivale a quase 70% do PIB e foi contraída para salvar o setor financeiro - grandes bancos chegaram a ser temporariamente controlados pelo Estado -, e para estimular a atividade econômica e evitar que a crise atingisse em 2009 e 2010, as proporções da grande recessão de 1930. Isso foi feito pelos trabalhistas então no governo, ao custo de um déficit fiscal de 11%. Com a derrota dos trabalhistas, o governo ainda mais neoliberal de David Cameron - uma Thatcher de calças - está levando a velha Albion às raias de uma insurreição popular com a irresponsável política de cortes de 26 bilhões de dólares/ano pelo período de 5 anos.

Nesse quadro, a Inglaterra já teve sua previsão de crescimento neste ano reduzida de 1,8% para 1,5%, o que ainda pode-se considerar otimismo exagerado, considerando-se a política suicida de cortes de gastos e investimentos públicos.

A França também teve a previsão de crescimento do PIB rebaixada para 1,6% e a Alemanha, que cresceu 3,6% em 2010, já está com avaliações de que , no máximo, alcançaria 3,2% este ano. Mas, pelo andar da carruagem nos dois trimestres, quem apostaria numa previsão dessa ordem?

 

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