terça-feira, 30 de agosto de 2011

FACES DA CRISE: GOVERNO ATUA EM MODO DE ESPERA E O INSTITUTO FHC VIRA SUCURSAL DO TEA PARTY

Nem a elevação do superávit fiscal anunciada ontem pelo governo, nem a interrupção da escalada dos juros, aguardada para amanhã,no Copom, mudam a dinâmica do país nesse momento. O que o governo fez nesta 2ª feira, grosseiramente, foi trocar  seis por meia dúzia. Agregou mais R$ 10 bilhões do excesso de arrecadação de impostos até julho (crescimento recorde de 14% em termos reais) ao superávit primário , elevando-o de 3% para 3,30% do PIB.

Em troca, o BC deve interromper a trajetória de alta da Selic na reunião desta semana. O patamar de 12,5% do juro básico brasileiro é um despropósito planetário comparado à taxa média de 1,5% praticada  na zona do euro e ao patamar de 0,25% tabelado pelo Fed, para os próximos dois anos, nos EUA.

 Foi graças à ortodoxia do BC que o país ingressou na crise de 2008 com esse trofeu anômalo. Reduções significativas, que façam diferença macroeconômica, exigem agora cortes drásticos num dos principais preços da economia.

O ambiente de incerteza mundial  afasta essa opção da mesa dos governantes.

A Presidenta Dilma dança o minueto da espera, com a respiração fiscal em suspenso.

Não tomará qualquer medida graúda sem ter uma avaliação efetiva do estrago que a sarabanda da crise ainda fará no salão internacional.

Imobilizados no redil ideológico do neoliberalismo, que subtraiu legitimidade à taxação efetiva da riqueza, do patrimônio e das grandes transações financeiras  -vide o golpe do Tea Party contra Obama, nos EUA, e a extinção da CPMF no Brasil, subtraindo R$ 40 bi à saúde pública, em 2007- os governos de fato perderam espaço de ação fiscal nas últimas décadas.

Restou-lhes o abismo do endividamento público que no Brasil custa  6% do PIB em juros ao ano. A crise, os gastos extras que ela impôs e o comportamento arisco dos capitais em todo o mundo fechou agora esse ponto de fuga.

Mudanças efetivas no investimento público em educação, saúde, infraestrutura, pesquisa etc dependem de uma mobilizaçao política para romper essa camisa-de-força.

Não é uma agenda para o conservadorismo nativo. Esse parece disposto a dobrar a aposta na eutanásia do Estado.

Reunidos semana passada, em São Paulo, sábios de bico longo, por exemplo,  transformaram o Instituto Fernando Henrique Cardoso numa franchising do Tea Party. O ‘tucano party' deixaria Sarah Palin e o presidenciável Rick  Perry orgulhosos dos mascotes locais. Arida, Bacha & Cia advogaram a privatização de todos os fundos públicos (FGTS e PAT, por exemplo), ressuscitaram a bandeira do déficit fiscal zero e mandaram às favas responsabilidades republicanas com educação, saneamento etc.

Seria importante conhecer a avaliação do PT sobre a plataforma do ‘tucano party'. O partido, porém, dificilmente teria algo de significativo a contrapor sem incluir uma ruptura com a doutrina fiscal do neoliberalismo.

O Congresso do PT neste fim de semana pode ser uma boa oportunidade para essa demarcação de visões.


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