terça-feira, 26 de novembro de 2013

Escuta, classe média ressentida

Artigo: - Por Gilson Caroni Filho


Em poucos momentos da história, a justiça foi tão achincalhada como na tarde de sexta-feira.


Negação do contraditório, fatiamento do transitado em julgado e ordens de prisão para satisfazer a sanha de uma classe média reacionária e patrimonialista. Tudo, desde o início, não passou de um espetáculo jurídico-midiático visando ao entretenimento do que há de mais retrógrado no país. Mesmo os que, no campo da esquerda se opõem ao PT, não aprovaram o linchamento de lideranças que lutaram contra a ditadura.

Passado tudo isso, veremos que a farsa se voltará contra quem a perpetrou: o STF, cada vez mais partidarizado, se desmoralizou como instância responsável pelo cumprimento da constituição. A credibilidade da imprensa, como mostra pesquisa da FGV, está no subsolo.

Joaquim Barbosa, longe de ser um magistrado, tornou-se uma figura folclórica da mídia. Em sua toga há um colarinho em arco, uma rosa que esguicha água, faltando providenciar o nariz vermelho. Talvez, como os jogadores que marcam três gols em uma partida, tenha até direito a pedir música no Fantástico e, quem sabe, um convite para participar de um reality show. Mas numa Corte que já teve Nunes Leal, ele sabe que é um ponto fora da curva.

Lamento, mas se você é um dos que festejam, saiba que ontem teve uma vitória de Pirro. Um partido que tem história e militância comete erros, mas não é destruído por circos macabros. E outra coisa: você não tem qualquer preocupação com o aperfeiçoamento das instituições. Seu ódio é contra programas de transferência de renda que lhe retiraram a empregada barata, o caseiro faminto e ainda puseram no aeroporto, que você julgava seu espaço privativo, cidadãos que antes só pisavam lá para carregar sua bagagem de bijuterias baratas. Mas, daqui a pouco, você estará triste novamente. E é do seu ressentimento que você recolhe forças para reproduzir os mantras que publicações como a revista Veja lhe proporcionam semanalmente.

Só uma coisinha mais. Não deixe sua contrariedade aqui, na PT. Não peça ao partido que lhe dê o que você nunca tolerou que fosse concedido aos seus inimigos políticos: o direito ao contraditório. Teve um bom fim de semana. O sol estava lindo e a praia convidativa. Levou a sua revista predileta e aproveitou bastante? Neste domingo, o tempo mudou e choveu torrencialmente no Rio. Acredite, meu bom ” republicano” de ocasião, com sua alegria ressentida acontecerá o mesmo. Ou não tem sido assim nos últimos anos? A mesma direita que tenta alinhavar 1954, 1964 e 2014 na mesma roupa funesta não percebe o bolor do bordado. Lideranças políticas que muito fizeram pela democracia brasileira foram presas novamente. Mas, não celebre o eterno retorno do medo.

Desta vez, o PT sai fortalecido e com um maciço processo de filiação de novos quadros. Fênix renasceu das cinzas. O partido, que você tanto sonhou em ver no opróbrio, rejuvenesceu. Seus maiores medos se concretizaram. A juventude em disputa percebeu o embuste. José Dirceu e Genoíno, encarcerados, têm hoje vinte e poucos anos novamente. Ao sair de casa, procure um bom disfarce. A máscara caiu e os seus fantasmas revelam a linha do tempo de um estrutura arcaica prestes a cair. Procure fazê-lo com discrição. Processos moleculares de inclusão são lentos e sólidos. Você deve se acostumar com isso.

A dosimetria de sua pena política é proporcional a todo desapreço que você nutre por quadros históricos que ajudaram a consolidar o Estado Democrático de Direito. Organize uma passeata pedindo o retorno de um país fracionado. Ela será um fiasco, mas graças a nomes como José Dirceu e José Genoíno você poderá participar dela sem qualquer risco, salvo o de tornar mais pública a melancolia que lhe sorri.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil.
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