quinta-feira, 28 de novembro de 2013

DITADOS POPULARES



O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/PMDB - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Inicio, Presidente, com um pedido inicial de tolerância com o tempo, porque, talvez, eu venha a excedê-lo um pouco. 


Hoje, Presidente, eu vou fazer um discurso diferente dos discursos que, normalmente, faço nesta tribuna. Eu vou falar sobre ditados populares, sobre o significado dos ditados populares. Por exemplo, eu quero falar sobre a origem de ditados como bicho de sete cabeças, com o rei na barriga, favas contadas, fazer ouvidos de mercador, farinha do mesmo saco, casa da mãe joana, elefante branco, pensando na morte da bezerra, andar à toa, tapar o sol com a peneira, maria vai com as outras, erro crasso, a toque de caixa, pomo da discórdia, ver passarinho verde e tantos outros ditados conhecidos pelos brasileiros que não atinam, na verdade, com a origem de cada um deles. 


Quer dizer, pretendo fazer, hoje, com os meus colegas Senadores e Senadoras, uma conversa amena, lúcida, lúdica, bem diversa dos temas que tenho discutido nesta tribuna. Nada de finanças, de leilões de petróleo, de privatizações, de desindustrialização, de primarização da economia, de globalização neoliberal, Senador Wellington, nada de jogos de mercado, nada, nada disso. 


Pretendo fazer uma agradável dissertação ao redor de um tema que tanto cativou o nosso Câmara Cascudo. Claro, vou procurar aplicar cada ditado à nossa realidade para que o significado dele fique bem claro e bem ilustrado. 
Vamos lá! 


As senhoras e os senhores sabem qual é a origem do ditado “fazer ouvidos de mercador”? Segundo o nosso ilustre potiguar, com o tempo, esse ditado sofreu uma adulteração, uma corruptela. Originalmente, dizia-se “fazer ouvidos de marcador”. Marcador, no caso, era o carrasco, que marcava os ladrões e outros condenados com ferro em brasa e permanecia indiferente, surdo à gritaria das vítimas. Logo, fazer ouvidos de mercador, ou de marcador, é permanecer impassível, por maiores que sejam os clamores ao redor. 


Para que o significado do ditado fique cristalino, vou – pretendo pelo menos – iluminá-lo com um exemplo. Nas semanas que se passaram, greves, manifestações, abaixo-assinados, campanhas nas redes sociais, artigos em jornais e revistas, entrevistas, estudos, discursos e protestos nos Parlamentos e ações na Justiça mobilizaram milhões de brasileiros contra o leilão do megacampo de petróleo em Libra. 
Mesmo com tão intenso e aflito vozerio, o Governo Federal fez ouvidos de mercador, continuando a ferrar os interesses do Brasil, atitude que me traz à lembrança outro ditado, que diz assim: “Que se me dá que o muar claudique se o meu desiderato é acicatá-lo”. 


“Maria vai com as outras” é outro ditado cuja origem Câmara Cascudo escarafunchou. Como aprendemos na escola, D. Maria I, a mãe de D. João VI, enlouqueceu – a famosa Maria, a Louca. Afastada do trono, ela passou a viver reclusa e apenas saía de seu retiro para, de vez em quando, caminhar por Lisboa ou pelo Rio de Janeiro. Nessas caminhadas, Senador Randolfe, a demente era acompanhada por numerosas damas de companhia. Quando o povo via aquele cortejo, dizia: “Lá vai Maria, com as outras”. E “maria vai com as outras” passou a significar pessoa que não tem opinião ou vontade própria e se deixa levar. 


Vou dar um exemplo elucidativo para que possamos entender esse ditado em toda a sua extensão. Para impedir o leilão de Libra, apresentei projeto de decreto legislativo, sustando o malfadado pregão. No entanto, embalada pelas vozes da mídia e do mercado, entusiastas da privatização do petróleo, a Mesa condenou a minha proposta a trilhar ínvios caminhos, arremessando-a a três comissões sucessivas. E a Comissão de Constituição e Justiça indicou, para relatar o meu projeto, ninguém menos que o ilustre Líder do Governo, Eduardo Braga. Pois é. 


Quer dizer, o Senado deixou-se levar como a Maria que vai com as outras, caminhando ao sabor da vontade e da decisão do Governo, da mídia, do mercado e do cartel multinacional. 


Outro ditado pesquisado pelo nosso folclorista magno fala sobre pessoas com o rei na barriga. Conhecemos tantas no Congresso, não é, Senador Aloysio? Pessoas com o rei na barriga. Quem levava o rei na barriga, na verdade, era a rainha, gestando o herdeiro do trono e por isso mesmo tratada com toda deferência. Diz-se que uma pessoa tem o rei na barriga quando tal pessoa se dá mais importância do que realmente tem. É a gravidez do vazio. 


Vamos a um exemplo que elucide o significado de com o rei na barriga. Ainda tomando como referência o leilão da maior reserva de petróleo conhecida em todo o Planeta Terra. 
Findo o leilão que não houve, pois apenas um consórcio dele participou, o Governo saiu a festejar como se carregasse o enviado dos céus em suas entranhas. Mais ainda: está prometendo uma festança de arromba em Brasília para comemorar o falso leilão, um rega-bofes semelhante àqueles com que as casas reais ofereciam ao populacho para celebrar a gravidez de suas princesas. 


No nosso caso, vamos festejar uma falsa promessa, uma promessa falsa de prenhez. 


Isso me faz lembrar de um outro rifão, que diz: da montanha pariu-se um rato. Conta-se que os habitantes de determinada aldeia ficaram aterrorizados quando a montanha das vizinhanças começou a rugir, fazendo a terra estremecer. Imaginavam que, do seio da montanha, explodiria um poderosíssimo vulcão, expelindo fogo e lava. De repente, a barulheira toda cessa e a montanha abre-se para que dela saísse correndo um ratinho, assustado com todo aquele barulho. 


Caso semelhante ao leilão de Libra: muito barulho e, por fim, temos apenas um solitário consórcio para a festa de arromba imaginada por nossa Presidenta, pela Magda e pela Maria das Graças. 
Farinha do mesmo saco é outro popularíssimo ditado cuja origem cuidou de deslindar o conterrâneo dos Senadores José Agripino, Garibaldi Alves e Paulo Davim. 


É um adágio latino a raiz: homines sunt ejusdem farinae. Quer dizer, os homens têm a mesma procedência, do pó vieram e ao pó retornarão. Mas o povo acabou dando à sentença outro significado. Quando se diz que fulano e beltrano, apesar das diferenças aparentes que os distinguem, são farinha do mesmo saco, pretende-se dizer que nada os discerne, são iguais. 


Vamos aplicar o ditado à prática, para que o seu significado fique didaticamente esclarecido. 


Na campanha eleitoral de 2010, a candidata Dilma apostrofou o candidato Serra por causa de suas alegadas tendências privatistas. Pois bem, no poder, os petistas radicalizaram os pendões privatistas dos tucanos. Estão aí os portos, os aeroportos e o petróleo privatizado como prova. 
Quer dizer, petistas e seus aliados, supostamente à esquerda, são farinha do mesmo saco, de onde provêm os tucanos e seus parceiros, supostamente à direita. 


Mais um aforismo cuja gênese Câmara Cascudo apurou: “ver o passarinho verde”. O passarinho verde era o periquito, que os jovens apaixonados treinavam para levar mensagens às suas amadas. Daí dizer que fulano ou fulana estão vendo o passarinho verde, para significar que estão apaixonados ou à espera de boas notícias. 


Vamos à aplicação pedagógica desse belo ditado. 


Como todos sabem, o mar não está para peixes em matéria de economia nacional. Desindustrialização, dependência extrema da exportação decommodities, câmbio sobrevalorizado, forte redução dos investimentos públicos e privados, Estados e Municípios endividados e falidos. E mais. 
Conquanto, diante disso, apesar disso, o Governo está vendo o passarinho verde. Apaixonado pelos fundamentos macroeconômicos neoliberais que sacrificam o País desde Fernando Henrique, o Governo vive na lua, afastado da dura realidade das coisas. 


Agora, uma referência educativa para compreender melhor o ditado. 
Semana passada, esteve neste plenário o Ministro da Fazenda, Guido Mantega. Enquanto governadores, prefeitos, Senadores, jornalistas, como seres viventes em uma realidade plena de contradições e dificuldades, esperassem que o Ministro, igualmente, se revelasse ser deste Planeta, Guido Mantega teimou, o tempo todo, em ver apenas o passarinho verde. 


Ah, as insondáveis paixões! 
Câmara Cascudo foi à mitologia grega para traduzir o dito “pomo da discórdia”. 


Em uma festa dos deuses no Olimpo, a deusa da discórdia, Éris, não foi convidada. Para instalar a intriga entre os convivas, ela arremessou no recinto uma maçã de ouro, onde estava escrito “para a mais bela das deusas”. Hera, Afrodite e Atena, as três belas deusas que estavam na festa, engalfinharam-se para disputar o pomo de ouro, cada uma se dizendo “a mais bela”. 


Zeus, o deus dos deuses, passou o abacaxi de escolher quem seria a mais formosa das três ciumentas divindades a Páris, filho do rei de Troia. 
Páris mancomunou-se com Afrodite, a deusa do amor, prometendo indicá-la como a mais bela, desde que ela fizesse com que Helena, mulher do rei de Esparta, se apaixonasse por ele. E assim fez Afrodite. Páris foge para Troia com Helena, e aí começa a famosa guerra. 
Vamos, então, a um exemplo da vida prática, para que o sentido de pomo da discórdia fique bem claro. 


Entre 1995 e 2002, os tucanos desandaram a privatizar o que havia pela frente. As joias da coroa foram todas empenhadas por alguns caraminguás. 


A joia das joias, a Petrobras, quase transformada em Petrobax, foi marretada, quebrada, dividida e boa parte dela entregue a acionistas estrangeiros na Bolsa de Nova York. 
O Partido dos Trabalhadores e aliados, presumivelmente à esquerda, amotinaram-se contra tamanha desfaçatez. Mas, como não há nada tão verdadeiro como “um dia depois do outro”, ou ainda “nada mais parecido com um saquarema que um luzia no poder”, o PT e seus aliados ficticiamente à esquerda, instalados no Planalto, arrancam ciúmes e inveja dos tucanos com as privatizações em curso. 


O pomo da discórdia, hoje, é saber quem privatizou mais. 
“Espelho, espelho meu, surge do espaço profundo e vem dizer se há no mundo alguém mais privatista do que eu” – interrogam-se diante do País aturdido com tanto contorcionismo. 


Mais um ditado para ilustrar os nossos conhecimentos da cultura popular: “casa da mãe joana”. 


Esse dito veio lá da Itália. Joana, rainha de Nápoles e senhora de Provença, refugiada em Avinhão, França, liberou os bordéis na cidade que, anos depois, tornar-se-ia sede do papado. E fez até um estatuto dos bordéis, mandando escrever nele: "Que tenham – logicamente, os bordéis – uma porta por onde todos entrarão". 


Quer dizer, às casas de encontros liberadas por Joana, a ela todos tinham acesso. Era a democratização da esbórnia. 
Em Portugal, o lugar dessas casas passou a ser chamado de "paço de mãe joana"; no Brasil, a expressão virou "casa da mãe joana" e ganhou também a significação de baderna, desordem, algazarra, lugar onde todos gritam, e ninguém se entende. 


Para entendimento exato de "casa da mãe joana”, tomemos um fato de nossa vida real. 


Em junho passado, o Brasil conflagrou-se com esse fogo das ruas, malharam-se e queimaram-se principalmente os políticos. E lá foram o Governo e o Congresso em louca correria atrás dos manifestantes. Plebiscito, referendo, reforma política, constituinte específica para mudar o Brasil. Cada um, fazendo a própria e limitada leitura dos acontecimentos, apresentava seus unguentos, cataplasmas, placebos e benzeduras para secar a ferida. 


As senhoras e os senhores hão de se lembrar daqueles dias. De cada cabeça, uma sentença, uma ideia, uma interpretação, uma proposta. 
Uma verdadeira “casa da mãe joana", todo mundo falando e poucos se entendendo. Como diria a canção de Martinho da Vila, "... em minha casa todo mundo xinga, todo mundo briga". 


Nesta Casa, as primeiras manifestações receberam fortíssimas repreensões de alguns Senadores, fazendo coro à mídia, que, em furibundos editoriais, classificou os protestantes de baderneiros e adjetivos ao gosto e sabor da ditadura militar, não faltando sequer o famosíssimo "subversivo". 


Do outro lado da rua, vimos o Governo mudar de posição várias vezes por dia. 


Lá e cá, uma verdadeira rebordosa. Um alarido de "casa da mãe joana". 
E essa zoada toda deu no quê? 
Deu na ridícula minirreforma eleitoral que esta Casa e depois a Câmara aprovaram, garantindo, entre outras coisas, o sigilo do nome dos doadores eleitorais, uma excrescência na contramão do anseio popular de transparência. “A montanha pariu um camundongo”, ou, como diria Vinícius, "para tudo acabar na quarta-feira de cinzas", tristemente. 
Outro ditado perscrutado pelo genial potiguar é “não entender patavina”. 
Conta-se que o grande historiador romano Tito Lívio era natural da cidade de Patavinum e lá se falava um latim incompreensível, pavoroso, de doer os ouvidos. Daí o ditado "não entender patavina” para significar não entender o que o povo de Patavinum falava, não entender nada. 
Aplicando o ditado à nossa vida, o Congresso e o Planalto não entendem patavina do que querem os brasileiros, quando “fazem ouvidos de mercador” – ou, como antigamente, “ouvidos do marcador” – às insatisfações e à descrença das multidões. 


Mais um ditado colecionado e explicado por Câmara Cascudo: "ficar pensando na morte da bezerra". 
(Soa a campainha.) 


O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/PMDB - PR) – Vem da Bíblia, Senador Jorge Viana. Quando Absalão, filho do rei Davi, sem mais bezerros em seu rebanho para sacrificar a Deus, pois os judeus sacrificavam a Jeová apenas os animais machos, decidiu sacrificar uma bezerra. Seu filho, que tinha a bezerra como animal de estimação, opôs-se firmemente. Absalão não se comoveu com a dor do filho e sacrificou a bezerra. Desconsolado, o rapaz passou o resto da vida ao pé do altar do sacrifício, “chorando a morte da bezerra”. 


Chorar a morte da bezerra passou a ser traduzido por estar alheio a tudo, deixar a vida passar sem reagir ou apegar-se a ninharias. 


Vamos à pedagogia, à aplicação prática do dito. 
São meridianos os sinais de esgotamento da política do Governo Federal para enfrentar a crise financeira global: isenções, desonerações, estímulo ao consumo, exportação de commodities e importação de quinquilharias chinesas. Como diz outro ditado, “já deu para o gasto”. 


Mas o Governo não reage, não se esperta, fica pensando na morte da bezerra, enquanto o tempo passa e as ameaças contra o País avolumam-se. 


Outro ditado de origem curiosa, segundo pesquisou Câmara Cascudo, é o que diz "deixar de nhe-nhe-nhem”. Esse ditado, Senador Aloysio Nunes, é brasileiríssimo. “Nhe”, em tupi, quer dizer falar. Quando os portugueses aqui aportaram, os índios não compreendiam o que eles falavam, então diziam que os brancos ficavam a dizer nhe-nhe-nhem. 
Igualzinho ao nosso Governo e à nossa base. 


De nada adianta falar, advertir, questionar, discordar. De nada adianta. A cada crítica, reparo ou sugestão, lá vêm o Governo e sua base a repetir o nhe-nhe-nhem de sempre. 


Dezenas de milhões de brasileiros foram resgatados da pobreza? Sim, foram. Formou-se no País uma nova classe média? Sim, é verdade. A política do salário mínimo aumentou os ganhos e a capacidade de consumo dos trabalhadores? Também é verdade. O Brasil é um dos países com um dos menores índices de desemprego no mundo todo? Corretíssimo. É também verdade. As políticas compensatórias, como o Bolsa Família, são um caso notável de sucesso? Nada mais verdadeiro, Senador Aloysio. Agora, repetir isso a toda crítica que se faça é transformar as belíssimas conquistas, avanços admiráveis em “nhe-nhe-nhem” ou em “conversa mole para boi dormir”. 
(Soa a campainha.) 


O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/PMDB - PR) – A história não acabou. Viva o Bolsa Família, viva o aumento real do salário mínimo, viva a nova classe média, viva a minha casa e minha geladeira, viva o acesso dos mais pobres ao ensino superior, viva a política de cotas, viva o anel de doutor nos dedos dos filhos dos trabalhadores! Viva a revolução do Enem! 

Enfim, viva! Viva o que tem que ser louvado! 


Mas será que o Governo e sua Base não perceberam que todos esses avanços podem ser levados de roldão, de uma só vez, se não mudar radicalmente a política econômica? 
Digam-me lá: que país no mundo desenvolveu-se, criou uma sociedade de bem-estar social para a sua gente apoiando-se tão somente em exportação de carnes, grãos e minérios? 


Isso faz com que me ocorra aqui outro ditado: “tapar o sol com a peneira”. 


O significado é óbvio, como é óbvio que o Governo e a sua Base estão tentando tapar o sol da realidade com aquele instrumento de madeira, com fundo em trama de metal, por onde passa a farinha e outras substâncias moídas e também o sol, popularmente conhecido como peneira. 


Para concluir essa amena conversa sobre ditados populares, origem e significados, vou falar de dois outros adágios pesquisados pelo folclorista potiguar. 


“Elefante branco”. Sabem por que dizem que determinada coisa é um elefante branco? No antigo reino de Sião, hoje Tailândia, o rei dava um elefante branco aos cortesãos que caíssem em desgraça. Como o elefante branco era sagrado, ele não podia servir como animal de carga, de transporte ou fazer qualquer outra tarefa. Pelo contrário, aos elefantes brancos deviam-se todas as mordomias e afagos. Logo, receber um elefante branco era uma punição, porque ele só implicava em gastos e era completamente inútil para o seu proprietário. 


Pois bem, senhoras e senhores, às vezes sinto que o mandato que o povo nos concedeu transformou-se em um elefante branco, em uma verdadeira inutilidade. Por quê? De que vale o nosso voto, de que vale o mandato que recebemos se prevalecem sobre o voto e o mandato as medidas provisórias e o rolo compressor do Governo? Não teriam se transformados o Senado e a Câmara em elefantes brancos? 
Por fim, um último ditado... 
(Interrupção do som.) 


O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/PMDB - PR) – ... sua origem e aplicação à prática da nossa vida.(Fora do microfone.) O ditado é “andar à toa”. 


Toa, explica-nos Câmara Cascudo, é a corda com que uma embarcação reboca outra embarcação. Quer dizer, um navio à toa é um navio amarrado a outro, sem rumo, sem leme, que vai para onde o rebocador quiser levá-lo. 


É como anda o nosso Governo, à toa, rebocado pelos acontecimentos, pelo vai da valsa, sem leme, sem rumo, ao sabor dos ventos. Ou, como diz outro dito, “não há bons ventos para navios sem rumo”; ou, como ensinam os monges tibetanos, “nenhum vento sopra a favor de quem não sabe para onde ir”. 


Eu já havia concluído a redação deste discurso quando veio ao baile a proposta de autonomia do Banco Central. Aqui se ajusta à fiveleta um antigo dito: colocar a raposa para cuidar do galinheiro. 
Ora, proponho, então, que a gente eleja o Presidente do Banco Central e não mais o Presidente da República, que, com a autonomia do Banco, torna-se uma mera figura decorativa. A autonomia do Banco Central é a senha para que o mercado se aposse de vez da República e dite políticas segundo seu interesse, do mercado, de Mamon, do dinheiro, e não do povo brasileiro e da Nação. 


Srªs e Srs. Senadores, o que me traz à tribuna é uma descontraída conversa sobre os ditados populares e seu genial explicador Câmara Cascudo, mesmo que no plenário, no momento, haja “gatos pingados”. Aliás, este é outro ditado perquirido pela curiosidade do potiguar. 


O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Minoria/PSDB - SP) – Mas não há “santos do pau oco”. “Santos do pau oco” não existem aqui no plenário. 


O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/PMDB - PR) – Conversamos sobre isso. 


Conforme ele, a expressão gatos pingados refere-se a uma tortura japonesa que consistia em pingar óleo fervente em pessoas e animais, especialmente em gatos. Como a prática era uma crueldade extrema, o dito “gatos pingados” passou a significar a pequena assistência, o baixo quórum que frequentava essas sessões de tortura. 


Só espero que o meu discurso não tenha sido uma tortura para ninguém. 


Por fim, um agradecimento ao blog Tok de História, de Rostand Medeiros, que pesquisou esses ditos populares colecionados por Câmara Cascudo, e a Luís Nassif, que os divulgou. 


O “santo do pau oco” tem outra origem. Aqueles que tentavam escapar dos impostos sobre o ouro esculpiam santos em madeira que eram ocos e recheados com o minério, que assim era contrabandeado. 
Obrigado pela atenção, essa atenção vigorosa dos “gatos pingados” que frequentam o plenário neste momento. 

Nenhum comentário: