sexta-feira, 16 de outubro de 2009

MENSAGEM DO DIRETOR GERAL DA FAO - ONU

Os acontecimentos ocorridos nos últimos três anos tem sido particularmente trágicos, visto que demonstraram a fragilidade do nosso sistema alimentar global e o quão vulnerável todos nós estamos.


Pela primeira vez na história, mais de um bilhão de pessoas estão subnutridas no mundo inteiro. Isso representa cerca de 100 milhões a mais do que no ano passado e significa que uma a cada seis pessoas passa fome todos os dias. Este recente aumento da fome não tem sido consequência das fracas colheitas a nível global, mas sim resultado da crise econômica mundial, que tem reduzido rendas e oportunidades de emprego, assim como o acesso aos alimentos por parte da população mais pobre.



É por essa razão, que o tema escolhido para o Dia Mundial da Alimentação deste ano é, ALCANÇAR A SEGURANÇA ALIMENTAR EM ÉPOCA DE CRISE.


Num momentoem que os efeitos da crise econômica mundial continuam a dominar as manchetes dos jornais, é importante lembrar a comunidade internacional que a crise espreita os pequenos agricultores e as áreas rurais aonde trabalham e vivem 70% das pessoas que passam fome no mundo.



Sob vários aspectos,a crise atual não tem precedentes. Em primeiro lugar, porque ela segue a um rápido e acentuado aumento dos preços dos alimentos básicos produzidos entre 2006 e 2008. O recente ajuste de baixa não deveria ser interpretado como o fim da crise de alimentos.

 Na ÁfricaSubsaariana, 80 a 90 % de todos os preços dos cereais monitorados pela FAO em27 países, continuam sendo 25% mais altodo que antes do começo da crise dos alimentos, dois anos atrás. Na Ásia e na América Latina e o Caribe, os preços são monitorados num total de 31 países, e entre 40 e 80 % do preço dos cereais mantem mais de 25 % mais alto do que no período pré crise dos alimentos. E a nível local, em alguns países, os preços dos alimentos básicos não sofreram qualquer tipo de baixa. Além disso, a produção continua sendo obstruída pelo aumento do custo dos insumos – 176 % no caso dos fertilizantes, 70% sementes, 75% ração para os animais, tornando o investimento na agricultura extremamente difícil. Tais aumentos colocam os mencionados insumos, que são vitais, muito longe do alcance dos milhões de agricultores.



Em segundo lugar,do ponto de vista financeiro e comercial, os países em desenvolvimento estão muito mais integrados na economia mundial, o que implica que uma queda na demanda ou oferta global e na disponibilidade de crédito, tem repercussão imediata nos países em desenvolvimento.


Em terceiro lugar, devido ao caráter mundial da crise, os mecanismos normalmente usados pelas famílias para enfrentar crises econômicas ficam no limite. Se prevê que o investimento estrangeiro direto, incluso a agricultura, irá diminuir mais de 30% em 2009.



A redução do emprego nas áreas urbanas poderá forçar os que procuram emprego a retornar para as áreas rurais. As remessas dos emigrantes , que anteriormente cresciam as taxas anuais em até 20%, totalizaram 300 bilhões de dólares americanos, poderão experimentar uma diminuição de cerca de 5% a 8% em 2009. O Fundo Monetário Internacional prevê que a ajuda estrangeira aos 71 países mais pobres irá cair em torno de 25%. Nos mercados financeiros, o crédito poderá não estar disponível, devido a avaliação mais crítica de risco e irá exigir um prêmio de risco mais alto.



A dura realidade é que, a menos que sejam tomadas, imediatamente,medidas corretivas substantivas e sustentadas, a meta da Cúpula Mundial da Alimentação de reduzir pela metade, o número de pessoas que passam fome , a um número máximo de 420 milhões de pessoas até 2015, não será atingida.

Felizmente, há sinais encorajadores de uma vontade política mais forte para combater a fome no mundo. No Comunicado conjunto da L’Aquila sobre a segurança alimentar mundial, emitido pela reunião do G-8 realizada na Itália em julho passado, foi aprovada uma mudança radical de estratégia, dando prioridade ao aumento da produção de pequenos agricultores dos países em desenvolvimento com déficit alimentar.


Está previsto, neste sentido , mobilizar 20 bilhões de dólares americanos ao longo de três anos para o financiamento deste programa.


Agora é preciso traduzir este compromisso em medidas concretas. Além disso, a comunidade internacional de doadores deveria voltar a destinar, o quanto antes, os 17% da assistência oficial para o desenvolvimento da agricultura; vale lembrar que esse foi o nível de investimento que salvou a Asia e a América Latina de uma fome iminente nos anos 70.


Na atualidade é necessário um nível similar de recursos para alimentar aos mais de um bilhão de pessoas que sofrem de fome, e conseguir que a população mundial, que provavelmente aumentará até mais de 9 bilhões de pessoas até 2050, tenha então o suficiente para comer.


Não são somente necessários recursos finaceiros. Além dos fatores que agravam a crise atual, existe uma série completa de problemas fundamentais que devem ser resolvidos, em particular, o modo de canalizar a ajuda e a forma de conseguir com que a mesma chegue efetivamente aos pequenos agricultores, assim como a reforma do sistema de governança da segurança alimentar mundial de uma maior coerência nas ações dos governos e dos associados para o desenvolvimento, a parte dos orçamentos nacionais dedicados a agricultura e aos investimentos do setor privado.


É vital, especialmente em tempos de crise, que não se reduza o apoio a agricultura. Somente um setor agrícola saudável, combinado a um crescimento da economia não agrícola e com redes de segurança alimentar e programas de proteção social efetivos, permitirão fazer frente a recessão mundial e erradicar a insegurança alimentar e a pobreza.


A finalidade de Cúpula Mundial de Segurança Alimentar, que será realizada em Roma de 16 a 18 de novembro, é manter o problema da insegurança alimentar em primeiro lugar na agenda internacional, para que o direito humano mais fundamental, o direito à alimentação, seja respeitado.


Neste Dia Mundial da Alimentação, tomemos a resolução, de uma vez por todas, de que alcançar a segurança alimentar, em época de crise ou não, é realmente uma prioridade mundial.




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