sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A desnacionalização das mentes e a CNI



BRIZOLA NETO

Ocorre um triste fenômeno com as elites brasileiras, uma espécie de ânsia em serem “cosmopolitas”, “modernas” e “antenadas” que, frequentemente, não conseguem senão fazer papel de tolas.


Adotaram o discurso do neoliberalismo como papagaios que pronunciam frases que lhes são repetidas. Esse fenômeno não ocorre só nas elites intelectuais, mas em todas elas.


O empresariado industrial deve estar imaginando o que deu na cabeça dos seus líderes na Confederação Nacional da Indústria.

Hoje, o jornal Valor Econômico publica uma reportagem anunciando que a CNI, depois de “desistir” de reverter a adoção do modelo de partilha (petróleo da União, concessionária leva um percentual) em lugar da concessão (petróleo da concessionária, União leva royalties) resolveu centrar sua pressão sobre o Congresso para impedir que a Petrobras seja a operadora única do pré-sal.


Vejam: a cúpula da indústria brasileira quer que a única indústria verdadeiramente brasileira de extração de petróleo ceda lugar às grandes indústrias mundiais de petróleo para explorar as jazidas brasileiras. Sob que argumento? Porque a Petrobras não tem capacidade técnica ou capital para operar todos os campos? Não. Porque, com a competição com outras, a Petrobras será “mais eficiente”.


Eu pergunto uma coisa: o que é ser eficiente socialmente para uma empresa? É gerar lucro máximo, rápido? Ou é gerar trabalho, renda, progresso sustentável? Aquela conversa toda de responsabilidade social só vale para marketing e promoção?


Nossas empresas, infelizmente, estão sendo dirigidas por “gerentes”. Gente que pouco se dá com o que acontece no médio e longo prazos. Isso não lhes dá comissões. Ainda assim, são tolos.

Acham que a Repsol, espanhola, ou a BG, inglesa, fazem questão de comprar aqui os seus insumos?

Vou publicar, para conhecimento de todos, a lista de encomendas pesadas da Petrobras nos próximos cinco anos. São apenas as “pesadas”, não incluem pequenos fornecimentos. São 157 bilhões de dólares. Dois terços disso serão comprados aqui. Isso dá 100 bilhões de dólares. Ou seja, 20 bilhões de dólares por ano.


Os líderes empresariais da indústria acham que empresas estrangeiras terão este compromisso de comprar aqui? Ou comprarão onde estiver mais barato - que eficiência! - não importa que isso seja na Tailândia? E as plataformas, os barcos de apoio, os rebocadores? Vocês lembram que falei aqui que um dos estaleiros sul-coreanos, sozinho, tem uma área maior que todos os estaleiros brasileiros somados?

Só para atender a estas encomendas, a Petrobras vai treinar, com bolsa de estudos, 243 mil pessoas. Isto é, 243 mil empregos, 243 mil famílias tendo renda, comprando no comércio brasileiro.

Encomende-se na Coréia - pode ser mais barato, até, e viva a eficiência - e você terá 243 mil pessoas sem perspectivas.

Estes senhores têm um problema sério. Eles não têm um país, não têm semelhantes, não tem iguais. São como os senhores de escravos. Não vêem que sua mesquinhez os torna odiosos.

São nada mais nada menos que provincianos. Nem mesmo entendem o que se passa com o mundo.


Não vêem que os EUA lançaram o programa “Buy America” para que as empresas de lá comprem lá, gerem emprego e ajudem a superar a crise. Os europeus subsidiam seus produtores rurais. O Sarkozy vem vender aviões militares franceses. Os governos dos países que eles acham “o máximo” apoiam suas indústrias.

A nossa, aqui, sabe reclamar dos impostos. Sabe se queixar da “voracidade do Estado”. Mas entrega a rapadura ao primeiro gringo que lhes fala: “Oh, but this is inneficient! Look, the competition is the God!”


Nem eu, nem você somos empresários. Mas olhe a lista de encomendas da Petrobras aí ao lado e diga se você, como empresário, ia querer um cliente destes.

A nossa Confederação Nacional da Indústria parece que não quer.

Brizola Neto é deputado federal pelo PDT/RJ. O artigo foi publicado no Tijolaço, blog do deputado, sob o título “A desnacionalização e as mentes”.

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