sexta-feira, 25 de março de 2011

Othon Pinheiro: se Japão tivesse nosso modelo usina não teria entrado em crise


Em audiência pública no Senado, o presidente da Eletronuclear comparou a infraestrutura das usinas japonesas e a considerou bem diferente da situação das usinas nucleares brasileiras. Othon explicou que reatores adotados no Brasil, de água a presão, tem maior nível de segurança


“O Brasil precisa de toda forma de energia. Quem diz que o
país pode explorar apenas energia eólica e solar não tem o menor conhecimento sobre planejamento energético. É muito amadorismo afirmar isso”, considerou o presidente da Eletronuclear, almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, durante audiência pública organizada de forma conjunta por diversas comissões do Senado no dia 23. Ele destacou que não há como o Brasil ser autossuficiente em termos energéticos, fazendo uso apenas de energia eólica e solar.
 
O presidente da Eletronuclear comparou a infraestrutura das usinas japonesas e a considerou bem diferente da situação das usinas nucleares brasileiras. Othon explicou que o tipo de reator adotado no Brasil é diferente e tem maior nível de segurança.
 
As usinas nucleares brasileiras - localizadas em Angra dos Reis (RJ) - utilizam o sistema “Pressure Water Reactor” (PWR), de reatores de água a pressão. Já as japonesas que entraram em colapso são do sistema “Boiling Water Reactor” (BWR), de reator com água fervente. No sistema BWR, a água pressurizada ferve e o vapor fica dentro do núcleo do reator, enquanto que no PWR, a água pressurizada não ferve e o vapor entra em um circuito independente. A separação de material atômico do restante da usina permite a continuidade de resfriamento mesmo com a interrupção de energia, o que não ocorre no sistema BWR.
 
Segundo ele, no entanto, “não existe nada no mundo 100% seguro, o que buscamos fazer é nunca ficar satisfeitos com a segurança”. “O que mais matou no Japão foi teto de casa caindo na cabeça das pessoas. Nem por isso se proibirá construir tetos no país”, ressaltou.
 
Othon reiterou que um terremoto como o do Japão não poderia ocorrer no Brasil. A probabilidade, segundo ele, “é praticamente zero” uma vez que o país está distante das bordas das placas tectônicas. Para o presidente da estatal, mesmo que ocorra um tsunami na região das usinas, elas estão protegidas pela sua localização e pelos diques, de cerca de 8 metros.
 
O almirante explicou ainda que o sistema de resfriamento das usinas brasileiras é totalmente diferente das japonesas que superaqueceram. “As usinas brasileiras não precisam de eventos externos para resfriar seus reatores”, acrescentou.
 
De acordo com a Eletronuclear, o reator a água pressurizada de Angra 2, por exemplo, “trabalha com 4 circuitos térmicos independentes. O sistema de refrigeração do reator está isolado do circuito água/vapor da turbina (sistema secundário) pela interposição dos geradores de vapor (GVs). Conseqüentemente, nenhuma radioatividade pode passar do sistema de refrigeração do reator para o circuito da turbina. As instalações de conversão da energia do vapor em energia elétrica não são, portanto, essencialmente diferentes daquelas das usinas termoelétricas convencionais”.
 
Othon reafirmou que o acidente na usina nuclear de Fukushima deve servir de lição para o mundo. “Uma lição óbvia”, segundo ele, “é que deve haver alternativa para a fonte auxiliar de energia logo que uma central nuclear é desligada. O que aconteceu em Fukushima, após terremotos e tsunami, é que ela precisa de energia externa, corrente alternada, para resfriar o reator”.
Para ele, sobre essa questão, o Brasil “está bem na foto”: ainda antes do acidente japonês, a Eletronuclear começou a estudar o plano de instalação de uma pequena central hidrelétrica exclusiva para fornecimento de energia à usina de Angra - exatamente o que faltou para resfriar os reatores em Fukushima e evitar o desastre.
 
Othon afirmou ainda que o país está se preparando caso haja a necessidade de uma evacuação, num eventual incidente. Com a construção de embarcadouros e de helipontos, em andamento, a região de Angra dos Reis (RJ) poderá ter uma megaoperação de evacuação da população, de cerca de 200 mil habitantes, em caso de acidente numa das usinas nucleares em funcionamento em Angra.
 
O presidente da Eletronuclear defendeu que não haja mudanças no programa nuclear brasileiro, que prevê novas usinas no país. Rechaçando a interferência de ONGs estrangeiras na política nuclear do país, o almirante considerou o incidente ocorrido na usina de Fukushima, como uma oportunidade para aprendizagem.
 
“Não podemos nos dar ao luxo de descartar essa grande fonte de energia. Nós temos uma das maiores tecnologias para enriquecimento de urânio do mundo. Cerca de 40% das reservas do pré-sal são de urânio, somos a segunda maior reserva do mundo. Temos que saber extrair a experiência dessa grande catástrofe japonesa. Mas, neste momento, não temos que ouvir organizações com nome estrangeiro dizendo como vamos proceder nesse país”, disse Othon.
 
“Agregar energia na nossa matriz de energia elétrica é fundamental para a transformação deste País. Não podemos nos dar ao luxo de descartar a energia nuclear e nem usá-la de forma irresponsável, colocando em risco a nossa população. É um momento de reflexão, de aprendizagem e de humildade”, complementou.
 
O presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), Odair Gonçalves, também descartou a necessidade de se realizar mudanças no Programa Nuclear Brasileiro em razão do ocorrido no Japão. O programa prevê a construção de mais quatro usinas nos próximos anos, além das duas já existentes, Angra 1 e 2 e Angra 3, atualmente em construção.
 
Gonçalves lembrou que essa é uma decisão de governo e que a Cnen presta assessoria governamental na área. “Não existe razão para mudança no Programa Nuclear Brasileiro. O que está acontecendo na Alemanha, de fecharem usinas, é uma questão política”, argumentou.
 
Ele também refutou a hipótese de ocorrer no Brasil uma catástrofe semelhante à japonesa. “Nosso território não possui falhas tectônicas; isso impossibilita a ocorrência de terremotos sequer de grau 4. Mesmo assim, as usinas, para conseguir licenciamento, têm de demonstrar que são resistentes a um terremoto de grau 7, o que jamais vai acontecer no Brasil. Além disso, também é exigida a existência de diques, a fim de resistir a ondas de até 8 metros de altura”, explicou.
 
As usinas de Angra 1 e Angra 2 são responsáveis pela produção de 3% da energia consumida no país. Uma terceira usina, a Angra 3, está em construção com conclusão prevista para 2015. O presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Odair Dias Gonçalves, afirmou que o programa nuclear brasileiro prevê a construção de quatro a oito novas usinas no país até 2030.
 
A audiência foi promovida pelas comissões de Serviços de Infraestrutura (CI), de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT) e de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA) do Senado. No mesmo dia, também ocorreu uma audiência, promovida pela Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara dos Deputados sobre o tema.
HP

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