segunda-feira, 28 de março de 2011

A luta por um Brasil solidário


A visão mercantilista que acompanhou a ascensão da hegemonia neoliberal invadiu o mundo. A sofisticação do consumo elevou o acesso a bens a requintes inimagináveis há pouco tempo, enquanto a grande maioria da humanidade continua sem acesso a bens elementares que garantam minimamente uma sobrevivência digna.

O acesso a bens que as politicas sociais do governo brasileiro promoveu ao longo dos últimos anos tem permitido uma democratização social que nunca havíamos assistido. Tem permitido que bens essenciais possam chegar a quem vivia marginalizado do mercado e de condições de vida minimamente aceitáveis.

No imenso universo dos que apoiaram o governo Lula, - permitindo que, como nunca um presidente tivesse unificado um país tão diverso social e geograficamente, - se congregaram contingentes diferentes. Antes de tudo a imensa massa pobre, desconhecida por outros governos, que os mantinha preventivamente à margem, temerosos, discriminadores. Esses pobres se tornaram o principal contingente de apoio a Lula e a Dilma, os principais beneficiários dos complexos e contraditórios processos de transformação porque passa o Brasil.

Se juntaram a eles os beneficiários da bonança econômica de uma politica que soube captar o potencial do novo cenário internacional com as possibilidades não aproveitadas do Brasil, para promover um circulo virtuoso que beneficia a todos. Contingentes que não tem simpatia pela esquerda e por Lula, mas que conviveram harmoniosamente com o progresso que o país vive e o prefere a incertezas de mudança.

Um novo Brasil, econômica e socialmente, foi surgindo – sobre isto não há dúvida. Temos agora, além de terminar com a miséria – objetivo prioritário do governo Dilma -, que trabalhar, com todos os meios possíveis, para a construção de um Brasil solidário, humanista, com valores que correspondam à sociedade mais justa que começamos a construir.

O elemento de maior força do mundo em que tudo tem preço, tudo se vende, tudo se compra, tudo é mercadoria, em que os direitos não contam, conta o poder do dinheiro – é sua concepção de mundo. Esta – conhecida como o modo de vida norteamericano – se fundamenta na luta de todos contra todos pelo acesso aos bens no mercado, na busca individual do sucesso, não importando a situação dos demais e, até, lutando para os que demais se deem mal, para que alguns poucos se deem bem. É isto que provoca os sentimentos ruins do “os aeroportos estão parecendo rodoviárias”, dos que, ao invés de se contentarem que setores populares estão tendo acesso ao que era até aqui reservado para uma minoria, deixam despertar em si os piores sentimentos de privilégio, de discriminação, até mesmo de racismo.

O acesso ao consumo é um direito fundamental para uma vida digna, negada à grande maioria dos brasileiros até recentemente. Mas esse acesso não garante, por si só, que seja acompanhado da consciência da justiça social que impulsiona as politicas que tornaram possível esse acesso e essa democratização social que torna o Brasil menos injusto.

Constituem ainda uma minoria os que estiveram com Lula e estão com Dilma porque o Brasil se torna menos injusto, menos desigual, com seus governos. A maioria, provavelmente, - inclusive seus maiores beneficiários, os pobres – os apoia pelos benefícios – reais, justos – a que tem tido acesso.

Essa nova maioria social e politica que foi se gerando no Brasil – e que permitiu três vitórias consecutivas contra as elites tradicionais, da direita – só poderá se consolidar ao nível da consciência social, se essa ascensão social for acompanhada por novos valores, não os da ascensão individual no mercado, mas os da solidariedade. Somente quanto se disseminar, da mesma forma que os benefícios das politicas do governo, os sentimentos de indignação contra as injustiças, contras as arbitrariedades, contra a fragilidade dos mais desprotegidos diante da violação dos seus direitos – somente aí estaremos realmente vivendo em um Brasil novo, solidário, humanista.

Para isso, as políticas de educação, de cultura, de direitos humanos, de luta contra as discriminações, dos direitos das mulheres, de comunicação – e tantas mais – têm que se articular para ajudar a promover novos valores. Valores que façam com que ninguém seja plenamente feliz, enquanto sobrevivem injustiças, violências, violações de direitos elementares da cidadania. Enquanto não formos todos cidadãos, conscientes do que vive o Brasil e dos objetivos que temos que alcançar, para sermos econômica, social e culturalmente uma sociedade justa e solidária.
 Emir Sader

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