sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O terrorismo dos inflacionistas
 
Luis Nassif
   
 O economista Armando Castelar tem um papel manjado no mercado. Sua função é a mensageiro que passa pelas ruas das vilas medievais gritando "fogo", para manter a população permanentemente de sobreaviso.
   
 Não se trata de um exercício banal de terrorismo. Ao espalhar temores infundados sobre situação fiscal, inflação e outros bichos, visa criar um clima para aumento de juros e para cortes em investimento e programas sociais. Por maldade? Não. Mas quanto maior o corte fiscal, maior será o espaço para aumentar os juros. Ou seja, há uma lógica nessa histeria.
   
  Foi o que ocorreu ontem em entrevista ao Estado de S. Paulo, valendo-se da forma extremamente acrítica com que parte da imprensa recebe análises superficiais.
   
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 O primeiro terrorismo é em relação aos rumos da inflação.
   
Dos 5,94 do IPCA de 2010, 2,3 pontos se deveram ao grupo alimentos e bebidas, fortemente influenciado pela explosão das cotações internacionais.
    
Inflação é variação de preços – não meramente preços altos ou baixos. Se determinado preço está em 100 e passa para 120, por exemplo, a alta é de 20%. Se, num segundo momento, vai para 130, o preço estará mais alto, mas a inflação desse produto será de 8,3% sobre o período anterior.
    
 Para manter a mesma inflação, os preços teriam que saltar para 144, depois para 173, em um crescimento insustentável.
    
 Justamente por isso, em mercado não indexado (como é o de commodities) depois de um salto especulativo há acomodamento, pela simples razão de que a repetição do movimento despregaria completamente o preço financeiro do seu componente real – o mercado físico.
    
Essa aceleração dos preços de alimentos se deu no segundo semestre. Agora, há sinais de acomodamento de preços em vários setores, ou com preços andando de lado ou com variação menor do que no período anterior.
    
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Em relação ao aquecimento da economia, os próprios dados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do IBGE – divulgados ontem – mostram acomodação no setor que mais cresceu nos últimos anos: as vendas no varejo, comprovando que as medidas prudenciais e creditícias do ano passado estão surtindo efeito.
    
No acumulado de 2010, o crescimento foi de 10,9% - porque em cima da queda do ano anterior. Já em dezembro, descontada a sazonalidade, as vendas mantiveram-se estáveis – zero de crescimento.
    
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Mesmo com tais dados, Castelar se esmerou em traçar um quadro assustador, duvidando do corte de R$ 50 bi – sem apresentar um dado sequer para corroborar sua desconfiança. Cortes de R$ 50 bi não são um ato banal que se esconde debaixo do tapete. Nem é necessário anúncio do detalhamento, basta conferir ministros esperneando contra os cortes.
    
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Aonde se quer chegar com esse tipo de terrorismo? Corte nos programas sociais? O país chegou a um estágio de mudanças sociais em que não se aceita mais falta de oportunidade para as classes de menor renda. Corte nos investimentos? A economia demanda mais e mais investimentos em infra-estrutura.
    
Pretender ampliar cortes ou aumentar juros significa condenar o país a um crescimento pífio.
   
Extraído da Coluna Econômica, em 16/02/2011, do Blog: www.luisnassif.com.br

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