quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Kadafi conclama o povo a uma Marcha Sagrada em defesa da Nação:
 
“Querem tirar o nosso petróleo, nossa liberdade, destruir a Líbia”
 
Querem impor o colonialismo, quando 90% do petróleo ia para empresas americanas. Agora, 90% fica com o país e 10% para as empresas, alertou o líder líbio

Daquela fauna da Fox News até o Wall Street Journal, da CIA até o Pentágono, passando pela papagaiagem de Hillary Clinton – e da arraia miúda dos Ali Kamel & quejandos – os gorilas estão muito assanhados com os acontecimentos (sobretudo com os fabricados por eles mesmos) na Líbia.
 
“Dizem que eu ando na Venezuela... Deus! A primeira necessidade dessa gente é a mentira. Estou aqui, ao contrário do que afirmam as emissoras dos cachorros”, disse Muammar Kadafi na terça-feira, discursando nas edificações bombardeadas pelos EUA em 1986, quando assassinaram inclusive crianças – entre elas uma filha do líder líbio.
 
Realmente, a mídia já descambou para a galhofa: as vítimas vão de 50 pessoas até 10 mil. Viram Kadafi na Venezuela e um bombardeio em Trípoli que jamais aconteceu (ver as declarações do embaixador brasileiro nesta página). E até agora não apareceram as manifestações, exceto a favor da Revolução. O que conseguiram foi uma ou outra turba – uma das quais exibia um cartaz em inglês: “O petróleo para o Ocidente” (“Oil for The West”).
 
Kadafi tem muito mais credibilidade, por tudo que já fez (e por tudo o que esses falsários já fizeram): “Os que morreram eram policiais e soldados. Não usamos a força ainda, mas o poder do povo líbio a usará, se necessário. Se as coisas chegarem a esse ponto, a força será utilizada de acordo com o direito internacional, a Constituição e as leis”.
 
A questão é, exatamente, quem são os arruaceiros. Kadafi tem bastante experiência no assunto – e não somente a da Líbia:
 
“Querem que os EUA façam na Líbia o que fizeram no Afeganistão, na Somália, no Paquistão, no Iraque. Querem impor a nós o colonialismo, mas nosso país não será um novo Afeganistão. Sou um lutador das tendas, um revolucionário. Não é possível interromper a marcha da revolução com subornos a um punhado de ratos que saltam de rua em rua na escuridão. Quem são esses ratos? Quem lhes pagou o preço? A inteligência estrangeira”.
 
Evidentemente, a excitação dos reacionários dos EUA e seus epígonos não é uma surpresa. Primeiro, querem abafar as notícias sobre os regimes pró-americanos que estão indo pelos ares no Oriente Médio. Segundo, a Líbia possui uma das maiores reservas de petróleo do mundo. O problema é que “querem que os EUA venham em navios para nos atacar e tomar o nosso petróleo. Não queremos o retorno da época em que 90% do petróleo ia para empresas americanas e 10% ficava com o país. Agora, 90% fica com o país e apenas 10% vai para as empresas”.
 
A terceira e, do ponto de vista político, mais importante razão é o próprio Kadafi. Naturalmente, não é a primeira vez que tentam eliminá-lo, desde que o capitão Muammar Al-Kadafi, aos 27 anos, liderou a Revolução Líbia, acabando com o regime pró-EUA, um milk-shake de monarquia feudal, ditadura colonial e tirania corrupta.
 
As bandeiras desse regime pútrido que apareceram entre os desordeiros – mostradas orgulhosamente pela TV americana – deveriam fazer com que alguns tivessem mais cautela antes de apoiar uma tentativa de golpe das mais reacionárias. Como observou Kadafi, “querem fornecer uma imagem manchada da Líbia, dizendo: ‘Olhem para a Líbia. Ela quer a colonização, quer o retrocesso, ao invés da revolução’. Porque hoje a Líbia é conhecida por todos os povos da África, América Latina e Ásia como ‘a Líbia da Revolução’. A imagem distorcida é um insulto - e nós vamos reagir já, agora, sobre o nosso solo”.
 
É verdade que, nos últimos anos, Kadafi e a Revolução Líbia tiveram que fazer um recuo. A Líbia é um país pouco populoso (6,4 milhões de habitantes), com um território que é mais do que o dobro do maior país da Europa Ocidental – a França. Bloqueada e bombardeada brutalmente pelos norte-americanos, acusada várias vezes de ações que nunca foram provadas, ameaçada permanentemente de invasão – e numa situação em que a URSS deixou de existir, o Iraque estava bloqueado e depois ocupado, etc., etc. - a revolução teve de recuar. Mas isso não transformou o governo líbio em reacionário, da mesma forma que, ao entregar seu dinheiro em troca da sobrevivência, uma vítima de assalto não passa a ser cúmplice do assaltante.
 
Há países muito maiores, mais populosos, com muito mais recursos, que não sofreram nada disso, nem estavam ameaçados, e, no entanto, recuaram para “ajustes fiscais” e outras indignidades neoliberais - até quando podiam avançar, o que não era o caso da Líbia.
 
Porém, o mais cínico são os vagidos supostamente “democráticos” da mídia.
 
Desde quando os EUA podem dar lições de democracia a outro país? Desde que “democratizaram” o Iraque? Desde quando a democracia de fancaria dos EUA, onde até as eleições tornaram-se de difícil acesso ao povo, onde nem horário eleitoral gratuito existe, onde dois ou três bancos e monopólios mandam e desmandam, e onde se dá golpes de Estado via Corte Suprema, é modelo de democracia?
 
Todo país tem direito a ter a sua democracia. A da Líbia é mil vezes mais verdadeira do que a dos EUA. Aliás, é até algo exagerada, ao recorrer diretamente à população, sem a mediação de nenhum partido:
 
“Eu e os Oficiais Livres [que lideraram a Revolução] não temos qualquer cargo. Deixamos o poder ao povo líbio, aos Congressos do Povo e aos comitês populares, que são o povo líbio. Meus colegas e eu já não somos responsáveis por qualquer coisa, exceto pegar em armas para lutar pela Líbia. Nós deixamos ao povo o Estado e o dinheiro do petróleo. Eu apoio o poder do povo e exorto o povo líbio a formar, na base, cada vez mais órgãos de poder. Nós queremos que o povo líbio assuma todo o controle da Líbia. A revolução é a consciência popular, o trabalho de construção, o respeito ao Poder Popular, aos congressos e comitês populares. Por isso ela é uma Revolução Popular. Apenas insisto que o petróleo da Líbia deve ser do povo líbio”.
 
Kadafi descreveu os atos de vandalismo e desordem:
 
“Penso que devemos publicar todos os fatos sobre a Líbia, porque, no exterior, ao invés de transmitirem a verdade, recorre-se a canais sujos que querem recuperar o que perderam. Organizações da sociedade civil e conspiração com o exterior são coisas muito diferentes. Já se viu alguém decente envolvido nesse processo? Nunca.
 
“Aqui e ali um pequeno grupo, encharcado pela bebida que lhes deram, invadiu delegacias de polícia; como ratos, atacaram quartéis sem tropas – como não estamos em estado de guerra, elas estavam trabalhando em nossos armazéns e acampamentos. Estávamos em segurança e paz, e se aproveitaram dessa paz e segurança para atacar tribunais e queimar os processos de seus crimes, e os postos de polícia onde corriam os inquéritos. Esses bandos, essas gangues, não representam nada, nem a milionésima parte do povo líbio. Querem cortar a eletricidade, a água, e explodir os poços de petróleo. Querem destruir o que nós construímos – e como nos esforçamos para construí-lo!”.
 
Kadafi encerrou seu discurso conclamando o povo líbio a resistir à tentativa de golpe:
 
“Famílias, juntem seus filhos, deixem suas casas, saiam às ruas, capturem os ratos, não tenhais medo deles. Querem tirar nosso petróleo, destruir a liberdade, o poder do povo, a Líbia. Vamos, se preciso, fazer uma marcha sagrada de milhões para limpar a Líbia”.
 
CARLOS LOPES

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