sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O renascimento do nacionalismo árabe

A rebelião árabe nacionalista tem como alvo os regimes bancados pelos EUA no Egito, Tunísia e Jordânia porque o imperialismo norte-americano é o principal impeditivo às aspirações nacionais dos povos árabes em seus respectivos países

GLENN FORD *

Nos EUA, há muito tempo se assume que o nacionalismo árabe está morto, sua mídia corporativa deixa de reconhecer uma rebelião nacionalista árabe mesmo quando ela explode diante de seus narizes.
 
Tanto os Estados Unidos quanto o regime de Hosni Mubarak buscam a ‘estabilidade’ para o Egito – através da qual segue a mesquinha continuidade das desigualdades sociais e econômicas, o roubo institucionalizado e a subserviência perpétua ao imperialismo dos EUA e ao terror de Israel.
Já a revolução em curso – o termo do próprio povo sobre o que está acontecendo – busca desestabilizar o status quo humilhante e opressivo e, portanto, tornar a dignidade humana e a esperança possíveis.
 
Para preservar a estabilidade de seu regime comprador, que se fez indispensável para a estratégia dos EUA na região, Mubarak ameaça mergulhar o Egito no caos – para fazer a sociedade recuar. Sua enorme força policial, uma parte da qual parece haver se desintegrado após o teste da última semana diante da vontade do povo, agora vandaliza o Cairo, espalhando o martírio para justificar o retorno ao estado policial, enquanto que o povo mobilizado busca garantir a ordem e a segurança nos bairros contra os bandos mobilizados por Mubarak.
 
Se o mundo está virado de cabeça para baixo, deve haver uma revolução em andamento. Mas de que tipo?
 
Os levantes na Tunísia, Egito, Jordânia e outros, são um renascimento do nacionalismo árabe, a força viral que ditaduras como a de Mubarak recebem bilhões a cada ano para suprimir. Como os nacionalismos em geral, a variedade árabe exige que haja uma resposta coletiva aos ferimentos e insultos cometidos contra a Nação Árabe, e a busca de uma justiça que seja válida para o povo. O nacionalismo árabe é anátema do imperialismo dos EUA e não tem como coexistir por muito tempo com um expansionismo racista e agressivo como o sionista, cuja simples presença na região representa uma ausência de justiça.
 
O nacionalismo árabe é mais perigoso à hegemonia imperial do que a política islâmica – e é por isso que americanos e israelenses encorajaram o crescimento do islamismo como contrapeso aos movimentos nacionalistas e seculares árabes. Ele não requer imãs [sacerdotes] ou outros intermediários, ou ainda especialistas para justificar uma ação coletiva a serviço do povo. O caminho para a mobilização de massas pode ser direto e democrático, como ficou evidente quando a conflagração Pan-Árabe se espraiou a partir da faísca na Tunísia há apenas algumas semanas.
 
A rebelião árabe nacionalista tem como alvo os regimes bancados pelos Estados Unidos no Egito, Tunísia e Jordânia porque o imperialismo norte-americano é o principal impeditivo às aspirações nacionais dos povos árabes em seus respectivos países. O “homem forte” trabalha para os americanos e não para os árabes e, portanto, indiretamente para os israelenses. Ainda que a esquerda tenha sido atingida ao longo de décadas no mundo árabe, o nacionalismo árabe está enraizado na identidade destes países e não tem como ser permanentemente suprimido.
 
É por isso, que Washington não pode tolerar um regime popular nacionalista no poder do Egito, o maior país árabe e um insubstituível aliado dos sionistas. Se o Egito escapa do controle de um regime antinacional, comprador, subserviente ao império, toda a posição dos EUA na região fica ao desamparo. Washington se desespera ao ver que alguma forma de ordem fora de seu controle pode prevalecer.
 
Enquanto escrevo isso, forças das sombras de Mubarak, não uniformizadas, foram jogadas contra os que protestavam na Praça Tahrir, no Cairo. É amplamente reconhecido que os militares egípcios tem um papel chave na situação imediata. Mas, quais militares? O exército de Mubarak de generais/ empresários / políticos que se tornaram engrenagens integrais na máquina imperial norte-americana, os principais receptores da “ajuda” dos EUA, que assumiram lucrativas posições nas empresas militares e criaram uma comunidade externa à sociedade egípcia em geral, muito parecida com as comunidades atrás de portões dos novos ricos? Ou a massa do exército de meio milhão de homens, que vieram do seio de uma população onde 40% das pessoas subsistem com menos de 2 dólares por dia, um exército cujos parentes e amigos estão reunidos na praça Tahrir e em outros centros da resistência em Alexandria, Suez e no Sul do Egito? Ou ainda o exército de oficiais jovens cujo nacionalismo árabe rechaça a aliança do regime com os inimigos do povo?
 
Se os generais de Mubarak não tivessem o receio de afrontar o patriotismo do nacionalismo árabe de seus próprios soldados e oficiais jovens, a rebelião popular teria sido esmagada por tanques.
 
Se a revolução do povo for capaz de atrair um exército popular o Egito estará pronto para balançar o mundo árabe e além dele, e fazer surgir uma rápida superação do imperialismo dos EUA, o inimigo de toda a Terra.
* Editor do portal Black Agenda Report.

Nenhum comentário: