terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

EUA: exportações crescem com guerra cambial, mas PIB patina

No 4º trimestre de 2010, as importações despencaram em 13,6% [anualizado] nos EUA, enquanto as exportações subiram 8,5%. O PIB subiu 2,9% no ano, mas 26 milhões continuam desempregados e a construção em depressão

Inflado pela especulação sobre os US$ 600 bilhões e turbinado pela guerra cambial e a meta de “dobrar as exportações”, o PIB dos EUA afinal se moveu do fundo do poço, aumentando para 2,9% em 2010, comparado com 2009. O número está na estimativa preliminar do Bureau de Análise Econômica (BEA) do Departamento do Comércio sobre o 4º trimestre do ano, ainda sujeita a duas revisões. Quanto ao último trimestre de 2010, propriamente dito, foi um empurrãozinho de 0,75% comparado com agosto/setembro, ou, como o BEA prefere, ou lhe soa mais parrudo, “3,2% anualizados”. Com a suposta repetição nos outros três trimestres do ano por sua conta e risco.
O BEA atribuiu o resultado, em especial, à expansão das exportações, combinada com aguda contração das importações no período. Naturalmente, à custa dos “parceiros” no comércio exterior, mesmo que tendo, como efeito colateral, revoluções no mundo árabe e revoltas por todo lado. Assim, as exportações cresceram, nessas contas do BEA, para 8,5% [“anualizado”, o que equivale a pouco mais de 2% no trimestre] em comparação com os 6,8% de julho/setembro [também “anualizado”]. Já as importações desabaram 13,6% no quarto trimestre [“anualizado”], em relação aos 16,8% [“anualizados”] do terceiro trimestre, o que implica em 40% de variação só aí.
Como assinalou o economista Dean Baker, “o comércio foi a maior parte do resultado do PIB no quarto trimestre”. Ele também classificou de “incomum” a derrubada nas importações, que associou à queda abrupta na renovação de estoques, em boa parte de itens importados.
Mas o “incomum” é a decorrência da guerra cambial: desvaloriza o dólar e barateia exportações dos EUA, ao mesmo tempo que a superemissão de dólares serve de combustível a ataques especulativos e à sobreapreciação das demais moedas. Em 2008, as exportações dos EUA (mercadorias mais serviços) cobriam 72,5% das importações; em 2009, com o colapso, as exportações atingiram 80,8% das importações. Em novembro de 2010 (sobre novembro de 2009), ficaram no patamar de 78,4%.
Na relação dos “30 principais parceiros” comerciais dos EUA, em 18 os percentuais de aumento das exportações norte-americanas pós-crise superam os das importações, em decorrência da política de achatamento do dólar. É o caso da Coreia do Sul (37,2% a 24,7%); Inglaterra (5,6% a 4,1%); Brasil (37% a 18,5%); Singapura (31,5% a 11,9%); Hong Kong (28,1% a 19,8%); Austrália (12,6% a 8,4%); Taiwan (42,6% a 27,1%); Itália (15,3% a 7,8%); Emirados Árabes (- 6,1% a – 26,6%); Israel (17,7% a 11,6%); Turquia (46,4% a 17,8%); (Tailândia (29,8% a 20,5%), Filipinas (28,3% a 19%); Malásia (35,3% a 12,9%) e ainda o bloco Asean (32,4% a 18%). Os “Top 30”, segundo Washington, respondem por cerca de 85% do comércio com os EUA. O Brasil, antes amplamente superavitário, agora sofre déficit, quase US$ 11 bilhões nas contas dos EUA. China, Japão, Canadá, Alemanha e Holanda mantêm superávits no comércio com os EUA.
Para o resultado do PIB no quarto trimestre, há ainda fatores como o consumo pessoal (de 2,4% para 4,4% “anualizados”), derrubada na renovação de estoques – de US$ 121,4 bilhões para ínfimos US$ 7,2 bilhões – e, puxado pelos automóveis, aumento de 21,6% [“anualizado”] nos bens duráveis (7,6% no 3º trimestre). Os gastos e investimentos federais encolheram 0,2%, após alta de 8,8% no trimestre anterior. Pior ainda com governos estaduais e municipalidades, que cujos gastos foram reduzidos em 0,9% no trimestre passado, depois de alta de 0, 7%. Os serviços ficaram praticamente estacionados no patamar de 1,7%. Os investimentos fixos não-residenciais caíram a menos da metade dos 10% do terceiro trimestre. Equipamentos e software aumentaram 5,8% “anualizados” comparado com os 15,4% do trimestre anterior.
Ainda assim, houve articulista do “New York Time” que se encantou com os modestos 2,9% do PIB e conclamou que, agora sim, a economia do país “está maior do que nunca”. Ainda que com o setor imobiliário do país destruído, a indústria automobilística sem nem sonhar em voltar ao patamar pré-crise, ou os 26 milhões de desempregados. Enquanto isso, o time de encanadores de Wall Street prossegue despejando sua crise mundo afora.

ANTONIO PIMENTA

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