quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Multinacionais aceleram remessa de lucros em janeiro: US$ 6 bilhões

Ano passado, saíram do país US$ 70,6 bilhões

A forte presença de multinacionais na economia brasileira tem proporcionado uma quantidade impressionante de remessas para o exterior. Em janeiro, o envio de recursos para as matrizes alcançou US$ 6,021 bilhões, enquanto que no ano passado as remessas totalizaram US$ 70,630 bilhões, segundo o Relatório do Setor Externo do Banco Central (BC), divulgado na quarta-feira (23). A autoridade monetária projeta para 2011 o envio de US$ 78 bilhões. Em janeiro de 2010, as remessas foram de US$ 3.924 bilhões.

A principal consequência das crescentes remessas das filiais das multinacionais instaladas no país para suas matrizes é a deterioração nas transações correntes (conta corrente), que engloba todas as operações de comércio de bens, serviços e transferências de serviços e rendas do país com o exterior. Assim, no mês passado foi registrado um déficit nas transações correntes de US$ 5,409 bilhões. No ano passado, o saldo ficou negativo em US$ 47,518 bilhões (2,29% do PIB). Nos últimos 12 meses terminados em janeiro, o déficit foi US$ 49,106 bilhões (2,35% do PIB), números recordes desde 1947.

O próprio BC aponta que este ano vão piorar as contas externas, devendo fechar este ano com um rombo nas transações correntes de cerca de US$ 64 bilhões, o equivalente a 2,85% do PIB. O que não significa que não possa ser maior. Até economistas que chancelam a política da equipe econômica estimam um resultado mais desfavorável. A última pesquisa semanal do boletim Focus com representantes do sistema financeiro aponta para um déficit de US$ 67,5 bilhões.

O problema é que a política adotada pela equipe econômica é cobrir o déficit em transações correntes com investimento direto estrangeiro (IDE), dinheiro que entra para aquisição de patrimônio ou como empréstimos das matrizes às filiais de multinacionais, ou seja, cobrir o rombo com a venda do país. Com isso joga-se mais lenha na fogueira, uma vez que entrada crescente de IDE significa mais desnacionalização da economia e, portanto, mais remessas para o exterior e maior rombo nas contas externas. Não estamos na situação de 2001, durante a administração tucana, quando o déficit nas transações correntes alcançou 4,19% do PIB, mas o fato é que a partir de 2008, após cinco anos de saldo positivo, o déficit nas transações correntes passou de 1,71% do PIB para 2,35% em janeiro deste ano. Em volume de recursos, nos últimos doze meses encerrados no mês passado, o déficit em conta corrente somou US$ 49,106 bilhões e o IDE totalizou US$ 50,817 bilhões. Nessa marcha, isto é, mantendo a mesma política, o governo vai ter de recorrer aos voláteis investimentos estrangeiros em carteira, capitais meramente especulativos e que podem sair a qualquer momento, para fechar as contas. De acordo com o chefe adjunto do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel, os recursos do IDE não serão suficientes para cobrir todo o déficit em transações correntes previsto para 2011.

IMPORTAÇÕES

Outro fator que tem contribuído para o déficit crescente em conta corrente é o crescimento das importações em um ritmo bem maior do que das exportações, o que tem diminuído o saldo da balança comercial. Em 2008, o superávit foi de US$ 24,96 bilhões, recuando para US$ 24,61 bilhões em 2009 e para US$ 20,267 bilhões no ano passado. Este ano, segundo o BC, deverá cair para US$ 11 bilhões.

O crescimento das compras no exterior se dá principalmente em função de que as multinacionais são importadoras de insumos e componentes, inclusive de suas matrizes. Essa importação é facilitada pela própria ação do BC, que ao estabelecer as maiores taxas de juros do mundo abre as portas para a montanha de dólares espalhada pelos Estados Unidos na guerra cambial desencadeada a partir da crise que explodiu em meados de setembro de 2008. Com isso, o dólar fica “depreciado” e o real artificialmente sobrevalorizado. Resultado: as mercadorias estrangeiras ficam mais baratas e as produzidas no Brasil ficam mais caras.

Em reunião com empresários, no início do mês, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o principal desafio do governo seria melhorar as contas externas do país e aumentar a exportação de produtos manufaturados. Contudo, as ações da equipe jogam ao contrário desses objetivos. Logo na primeira reunião do Copom os juros foram elevados para 11,25% ao ano. Depois, Mantega anunciou o corte de R$ 50 bilhões.

Mas, o que de fato o Brasil precisa, é de uma política industrial de fortalecimento da indústria nacional, com os recursos do BNDES e as compras governamentais sendo dirigidos para as empresas genuinamente nacionais. Manter tudo como está só vai aumentar o rombo das contas externas e as remessas para o exterior.

VALDO ALBUQUERQUE

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