sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O Brasil está preparado para não crescer?

LUIS NASSIF

Há um conjunto de interrogações no ar em relação à economia brasileira.

De um lado, pressões inflacionárias decorrentes da alta global de preços de commodities. É um jogo complexo, com um componente especulativo evidente, em função da elevação da liquidez (excesso de moeda empoçado) no mundo.

O problema é a maneira como a política econômica reage a esses movimentos. Falta uma visão estratégica ao país, como a que tem, por exemplo, a China.

Surgem sinais de inflação no horizonte e a decisão automática do Banco Central é de aumentar a taxa Selic. A função básica da elevação dos juros é a de conter a demanda interna.

Em economias estabilizadas, com estruturas eficientes de taxas de juros, meros movimentos de 0,25 na taxa básica se propagam por toda a estrutura de financiamento, afetando a demanda.

No caso brasileiro, movimentos de até um ou dois pontos tem impacto mínimo sobre os juros para o tomador final, tal a diferença de taxas.

Não apenas isso. Quando se analisam as causas da inflação brasileira recente, em poucos momentos a pressão veio de fatores de demanda. As cotações de commodities são definidas internacionalmente. Logo a Selic em nada interferirá no nível das cotações.

Os efeitos sobre a inflação se dão da maneira mais torta possível. Juros mais elevados atraem mais dólares provocando uma desvalorização do dólar e respectiva apreciação do real. Com isso, reduz o preço de produtos importados e de produtos exportáveis. Só que explode as contas externas e faz com que todo aumento de consumo seja apropriado gradativamente por importados.

Haveria uma maneira simples de impedir a apreciação: um depósito compulsório maiúsculo (40%, digamos) sobre entrada de dólares especulativos, da mesma maneira que o existente sobre depósitos em reais.

Mas aí entra a ideologia mercadista, capaz de atropelar medidas óbvias afim de perpetuar os ganhos rentistas do mercado.

A pergunta que resta é a seguinte: depois de provar, ainda que por pouco tempo, o gosto doce do crescimento, a opinião pública se conformará em voltar ao batidão de outrora?

Coluna Econômica publicada em 09/02/2011.

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