sábado, 21 de maio de 2011

Ana é mulher de fibra e coragem

SILVIO TENDLER*

Imagino a ministra Ana de Hollanda em uma caminhada solitária. A contemplo na memória da figuraça do pai, o historiador Sérgio Buarque de Hollanda, um dos estudiosos que mais conheceu o Brasil.

Ana era seu xodó e, nesse momento de extrema solidão no poder, deve lembrar-se muito dos seus ensinamentos.

Ana é mulher de fibra e coragem e vai seguir em frente em sua luta para cumprir a missão que lhe foi designada por outra mulher de fibra e coragem, a presidente Dilma Rousseff.

Ana não é de desistir no meio da caminhada, logo agora que começa a descobrir as primeiras traições e jogos de interesse pessoais.

Tão perto de si, do seu gabinete, dentro do ministério que comanda. Ana já deve ter percebido olhares e sorrisos matreiros que conspiram enquanto afagam.

Muita espuma se faz contra Ana de Hollanda, que está fazendo um trabalho realmente sério à frente de um dos ministérios mais complicados de administrar.

Já ocupei o cargo de Secretário de Cultura de Brasília durante a administração Cristovam Buarque de Hollanda e sei o quanto é difícil administrar artistas e seus egos.

E Ana está apagando incêndios, à frente de uma gestão herdeira de uma dívida de mais de 600 milhões de reais e em face a um contingenciamento de verbas que tolhe as ações do ministério.

A briga em torno do tal do Creative Commons é assunto de lobista. Os Creative Commons não oferecem nada mais que os copyrights e quem ganha com essa briga são advogados e seus contratos milionários. Quando se trata de copyright X copyleft aí a coisa muda de figura, pois discutimos direitos versus liberação total.

Os mecanismos de liberação parcial de direitos oferecidos pelo Creative Commons também existem nocCopyright na medida em que o autor faz o que bem quiser com sua obra. Tudo não passa de demagogia para vender balangandãs para índios colonizados.

Basta colocar na documentação do ministério “livre para reprodução desde que citada a fonte” e ponto, menos um problema para resolver.

Quanto ao cinema, a ministra tem acertado e nossa relação hoje com a Ancine melhorou muito com a chegada da Ana de Hollanda.

Falta nas outras áreas uma agenda positiva e propositiva que coloque a estrutura do ministério em marcha. Os secretários que se manifestem e apresentem seus programas de ação já!

Quem foi o gênio que aconselhou a ministra a receber diárias desnecessárias enquanto permanecia o final de semana no Rio de janeiro, em sua casa, aguardando o trabalho na segunda feira?

Isso não é assunto para ministro. Quem aconselhou ao erro deveria apresentar-se como o responsável pela bobagem que a fragilizou.

Continuo solidário a Ana de Hollanda e tenho certeza que ela superará essa crise.

*Silvio Tendler é documentarista, diretor de Anos JK, Jango e Utopia e Barbárie, entre outros clássicos do cinema brasileiro

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