quarta-feira, 11 de maio de 2011

Itália: trabalhadores ocupam ruas de 100 cidades contra desemprego

Deixamos claro que não vamos carregar a crise nas costas que paguem os que enriqueceram com ela, afirmou Susanna Camusso, líder da CGIL em Nápoles

Centenas de milhares de trabalhadores se manifestaram no dia 6 em mais de cem cidades da Itália, durante a greve geral convocada pela Confederação Geral Italiana do Trabalho (CGIL) para protestar contra o desemprego e o ataque aos direitos dos trabalhadores. “Os trabalhadores não carregarão a crise às costas”, “Menos impostos para os pobres, mais trabalho” e “Fora Berlusconi” eram as palavras de ordem entoadas pelas multidões que saíram às ruas de Roma, Milão, Nápoles, Genova, Florença, Turim e Parma entre outras. Nestas cidades o transporte ficou paralisado e houve o fechamento de escolas, fábricas, escritórios públicos e bancos.

“Rompamos o muro da crise econômica”, dizia a faixa que abria a manifestação em Roma. Em Nápoles, considerada pela CGIL a maior das marchas, a secretária-geral local da entidade, Susanna Camusso, foi intensamente aplaudida ao falar para a multidão: “É uma jornada de luta em que os trabalhadores italianos deixam claro que não aceitam a política que favorece os bancos e quem se enriqueceu com essas receitas do FMI”. "Basta com a mentira clamorosa de que a crise ficou para trás, e que tudo vai bem", assinalou a secretária geral da Central, na manifestação da cidade do sul da Itália.

"Pedimos ao governo que se decida por uma reforma com a qual emprego e pensões não sejam sacrificados e que paguem mais os que vivem da especulação financeira, os que se enriqueceram com a crise", acrescentou. A dirigente sindical denunciou que em 2010, 92% da contribuição fiscal italiana foi dos trabalhadores e destacou que é de indignar ver como os mais ricos burlam o fisco, com a total cumplicidade do governo.

Disse ainda que 10% das famílias concentram 47% da riqueza. Os cortes no orçamento anunciados pelo governo são de 25 bilhões de euros nos próximos 2 anos, atingindo programas sociais, o sistema público de ensino e as atividades culturais patrocinadas pelo governo.

O setor ferroviário teve uma parada geral entre as duas e as seis da tarde, horário nobre das manifestações. Em Roma, o metrô fechou e as passeatas no centro da capital impediram qualquer deslocamento de automóveis. Estudantes e trabalhadores com contratos temporários ocuparam as principais estações do transporte subterrâneo. As marchas se concentraram no Coliseu. A CGIL sublinhou que a economia está ainda em fase recessiva, e que os trabalhadores sofrem a chamada “flexibilização trabalhista” e o cancelamento de muitos de seus direitos. "O apoio social tem sido cortado indiscriminadamente, os pensionistas são penalizados, aos jovens lhes negam o futuro, o trabalho e a dignidade; a situação das mulheres beira a humilhação", frisou Camusso.

A Itália tem um índice de desemprego reconhecido pelo governo de 9,1%, a cifra mais alta desde 2005, e entre os jovens a desocupação está próxima dos 30%. Estas cifras, como ocorre em vários outros lugares, não incluem nem as pessoas que desistem de procurar emprego, como também excluem aqueles que sobrevivem com bicos e trabalhos temporários. Com elas consideradas, o desemprego chegaria a uma cifra mais de duas vezes a oficial.

As administrações locais (regionais, provicais e municipais) serão as grandes afetadas pelo ajuste anunciado pelo ministro de Economia, Giulio Tremonti. Segundo o plano do governo, elas suportarão a metade do corte previsto: 13 bilhões em dois anos. Seu representante, Vasco Errani, declarou que "as medidas são insustentáveis".

Em Nápoles 3.500 trabalhadores da fábrica da FIAT em Pomigliano D'Arco (Campania), participaram do ato. Eles vivem uma situação de grande tensão. A direção da FIAT ameaça fechar a fábrica se os empregados não aceitarem um novo convênio considerado leonino pela divisão metalúrgica da CGIL. Entre outras barbaridades, a FIAT pretende que os trabalhadores renunciem até ao direito de greve. Ameaçam encerrar a produção do modelo Panda e transferí-la para a Polônia.

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