sábado, 7 de maio de 2011

Mantega ataca o crescimento usando inflação como pretexto

Ele admite que a inflação está ligada à especulação, que suas medidas não atingem, só o crescimento


O ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu, nesta terça-feira, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, que a pressão inflacionária que estaria agindo no início deste ano no Brasil concentrou-se em dois itens: alimentos e combustíveis. “Se nós olhássemos para o núcleo da inflação, o índice seria menor”, disse.

“Retirando esses itens [alimentos e combustíveis], a inflação seria de 4,76% em 12 meses (março de 2010 a março de 2011), afirmou.

Segundo o relato do próprio ministro, portanto, as tais “pressões inflacionárias”, como vários economistas já vem afirmando, teriam sido fruto da especulação internacional de commodities e da ação dos monopólios estrangeiros que passaram a dominar a produção de álcool combustível no Brasil.

No entanto, na hora de apresentar medidas que supostamente enfrentariam essa situação, o ministro não diz uma palavra sobre esses assuntos. Ele mesmo afirma que, “como se trata de um fato de âmbito internacional, a ação do governo tem se concentrado na utilização de armas monetárias e fiscais contra a inflação interna”.

Nenhuma medida de controle sobre os setores deformados e cartelizados, como alimentos e combustíveis, que contaminaram e prejudicaram o conjunto da economia foi abordada em sua apresentação aos senadores.

Ou seja, Mantega reconhece que as causas da pressão inflacionária são fundamentalmente externas ou localizadas em setores monopolizados da economia, mas as medidas que ele anuncia são o arrocho sobre os consumidores e os pequenos e médios empresários nacionais.

A “solução” que ele repete sem parar é a restrição generalizada do crédito, a alta dos juros e a penúria para os que produzem para o mercado interno. O que essas medidas acabarão provocando não é solução de problema nenhum. Pelo contrário, se forem implementadas vão acarretar a quebra de setores inteiros da cadeia produtiva brasileira.

Quem vai sofrer as conseqüências dessa política são exatamente os setores que já são penalizados pelos juros de escorcha do BC. São aqueles setores que já estão sendo pressionados pela valorização artificial da moeda e a conseqüente enxurrada de importados que entram no país a preço baixo.

Mantega não age contra a especulação e a manipulação dos preços do álcool praticados nos últimos meses por multinacionais como a Shell, a Louis Dreyfus ou a Bunge, por exemplo, que passaram a controlar quase toda a produção de álcool no Brasil, e que, como ele mesmo reconheceu, foram, junto com os alimentos (commodities), os “vilões” da inflação.

Ao contrário. O que ele decide é detonar os pequenos e médios produtores que dirigem seus produtos para o consumo popular. Decide inviabilizar exatamente os setores sadios da economia do país.

Aqueles que, apesar de toda a pressão exercida pela elevação absurda dos juros e a limitação de crédito, mantém-se na labuta e não praticam elevações artificiais de preços.

O ministro badalou novamente como parte de seu arsenal o corte das despesas públicas de R$ 50 bilhões e a elevação da taxa de juros básicos da economia, a Selic, para 12%. Esses juros, disparados os maiores do mundo, vêm atraindo especuladores externos de todos os tipos e provocando, com isso, a supervalorização do câmbio.

A inundação de dólares no país está causando um estrago no parque industrial brasileiro, mas o ministro desconversa sobre a gravidade da situação. Apresenta medidas paliativas, superficiais, como a elevação de IOF para operações com dólar, e repete que se não fossem essas perfumarias, “seria pior”. “O dólar estaria em R$1,40”, afirma.

Antes ele dizia que se não tivesse tomado as tais “medidas” o dólar estaria em R$1,50 e assim sucessivamente. Vamos ver até onde ele vai chegar com essa conversa.

Por fim, insistir em “combater” uma inexistente “demanda aquecida”, não passa, naturalmente, de senha para seguir implementando esta política de arrocho salarial iniciada no começo deste ano. Nessa linha, Mantega já começou até a repetir antigos bordões - muito usados pela ditadura para arrochar os trabalhadores - de combate à reindexação da economia.

“A inflação do passado não será colocada adiante”, recitou o ministro. E, apesar de velha e conhecida política de arrocho e de submissão ao mercado financeiro, Mantega chama tudo isso de “um ajuste não tradicional”.

Em seus gráficos ele aponta que a taxa de investimento vem se mantendo acima do crescimento do PIB. Mas, apesar disso revelar que não está havendo pressão inflacionária provocada por desequilíbrio entre oferta e procura, o ministro se mantém na catilinária de que é necessário combater a “demanda aquecida”.

Até a idiotice de considerar que há “pleno emprego” no Brasil, ele incluiu no rol dos problemas em sua palestra. Deve ser porque isso atrapalha sua intenção de promover mais arrocho salarial.
SÉRGIO CRUZ

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