sexta-feira, 9 de maio de 2014

O “sincericídio” de Aécio e Campos


Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:

PSDB, PSB, suas respectivas militâncias e a mídia tucana andam eufóricos com pesquisas eleitorais esquisitas, feitas para produzir números favoráveis àquele que este Blog sempre disse que seria o candidato dessa mídia (Aécio Neves). Os mais afoitos já dão até como certo que a eleição acabou e o tucano já se elegeu presidente.

Há, também, os que veem maior potencial em Eduardo Campos, que teria mais possibilidades de crescer por ser “desconhecido”, como se um candidato se fazer conhecer tivesse que ser necessariamente positivo para ele, quando, muitas vezes, quanto mais conhecido um candidato for menos aceito ele será.

Aliás, vale lembrar que Aécio também está no mesmo processo de se tornar conhecido em que está Eduardo. E é aí que a situação se complica para ambos.

Não vale tratar dos boatos sobre a vida íntima de Aécio, por exemplo. Não é por aí que se deve atuar. Boatos sobre a vida pessoal de um candidato são armas que podem ser usadas contra qualquer lado. É melhor se ater à natureza político-ideológica de cada um.

Nesse aspecto, começa a ganhar fôlego o que está sendo chamado de “sincericídio” de Aécio e Eduardo, que vêm dando palestras a empresários para lhes afiançar que, se eleitos, não hesitarão, “como Dilma”, em adotar “medidas impopulares” ou “amargas”.

Em pronunciamento recente, Dilma Rousseff não perdeu a chance de dizer que seu governo nunca cogitou – nem vai cogitar – adotar medidas “impopulares” ou “amargas”.

Há uma grita muito grande da elite brasileira contra um fenômeno que decorreu da eleição de Lula em 2002 e que vige até hoje: o Estado brasileiro deixou de empurrar para o povo o custo de crises econômicas internas ou externas.

Preço da gasolina, preço da eletricidade, retração econômica causada pela maior crise econômica mundial da história, que pôs os países ricos de joelhos ao custo de MUITO desemprego e queda da renda. O fato é que o cidadão brasileiro não sentiu nada disso.

Recentemente, o ex-diretor do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) Marcelo Neri, recém-empossado como ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência (SAE), deu uma declaração pública que merece ser lida:

“O Brasil está ficando mais próspero e mais igual, menos desigual, então estas são as duas tendências mais fortes, a tendência a prosperidade. Apesar de alguma desaceleração econômica, a renda do brasileiro continua crescendo, o mercado de trabalho, etc. E dois, os brasileiros de menor renda, sejam eles mulheres, afrodescendentes, pessoas que moram na periferia, que moram em cidades do nordeste, pessoas de baixa educação, etc., todos eles estão tendo um crescimento acima dos outros grupos tradicionalmente incluídos”.

O que Neri diz é um fato perceptível a olho nu: quanto mais pobre, maior tem sido o progresso do cidadão brasileiro ao longo dos últimos dez anos. Essa foi a escolha dos governos Lula e Dilma, uma escolha que jamais havia sido feita por qualquer governo brasileiro. Mas é uma escolha que provocou a ira daqueles que enriqueceram graças ao Estado jogar sobre o povo os custos das sucessivas crises (internas e externas) que os países experimentam.

Um dos exemplos do que está em jogo na eleição deste ano é a questão salarial. Empregar alguém no Brasil, hoje, é diferente do que sempre foi em países subdesenvolvidos, nos quais os salários sempre foram depreciados pela baixa oferta de postos de trabalho. Assim, preservar e, mais do que isso, ampliar a oferta de empregos significa simplesmente encarecer o custo da mão-de-obra.

Ora, tanto Aécio quanto Eduardo prometeram, em encontros com empresários, pôr fim a essa situação que os está obrigando a pagarem salários que há uma década seriam impensáveis.

Aliás, a melhora dos salários no Brasil foi tão intensa, na última década, que hoje até a categoria mais frágil, historicamente – qual seja, a dos empregados domésticos –, passou a ganhar até bem em comparação com o passado, ainda que não tão bem quanto nos países desenvolvidos, nos quais não se aceita que trabalhos braçais sejam pagos com esmolas.

A desculpa do grande empresariado para pedir mais desemprego é a de que salários altos, poder aquisitivo maior para a massa gera inflação. É mentira. Não gera. A inflação no Brasil está controlada. Há uma década que o país cumpre as metas de inflação todo ano, à diferença do que ocorria antes…

Basicamente, um país em que andar de avião, pôr filhos na faculdade, comprar bugigangas eletrônicas, enfim, um país com um mercado de consumo de massas demanda investimentos e profissionalização de um empresariado acostumado a lucrar apesar da própria ineficiência.

É mais fácil explorar um mercado pequeno com altos lucros. Essa é a mentalidade do grande empresariado brasileiro. Qualquer pessoa do mundo dos negócios sabe que essa é a mentalidade de nossos mega empresários.

Eis que surgem não um, mas dois candidatos a presidente dispostos a remeter o país ao passado, e que reconhecem isso por acreditarem que, para vencer a eleição, têm que se vender aos grandes empresários – venderem-se no sentido de serem aceitos; não se faz, aqui, uma acusação, por mais que não saia da cabeça.

Aécio e Eduardo, nesses encontros com empresários, tiveram que cometer o que está sendo chamado de “sincericídio”, ou seja, um excesso de sinceridade que pode mostrar ao povo o que está em jogo em 2014.

Esse fato político, aliás, está preocupando muito a direita midiática. No dia em que este texto foi escrito, uma das colunistas usadas pelo PSDB contra os adversários – Eliane Cantanhêde, da Folha de São Paulo – abordou e até citou o “sincericídio” de Aécio e Eduardo.

Veja, abaixo, a coluna de terça-feira 6 de maio de um exemplar dos jornalistas que se dizem “isentos”. Alguém que há uma década escreve quase todo dia na Folha de São Paulo e, sempre que escreve, é contra o PT e a favor do PSDB.


Como se vê, passou recibo. Isso porque essa é a grande discussão que o PT levará à campanha eleitoral. O brasileiro será alertado para um fato que não poderá negar, de que tem hoje um governo que o preserva das crises internas ou externas.

Do lado dos neoliberais, esses seres que acham que tudo deve se autorregular – menos eles ao terem problemas, quando jogam seus dogmas no lixo e batem à porta do Estado –, não se pode empurrar para cada grupo social o seu quinhão proporcional do custo de uma crise; o empresariado tem sempre que sair ganhando, do contrário não investe.

É uma chantagem que uma década de PT no poder revelou que é também um blefe, porque se um empresário não investe porque quer moleza basta buscar outro interessado em aproveitar oportunidades dentro das regras do jogo vigentes. Ou seja: esse cartel empresarial que ou é mimado ou se retrai não passa disso, de um cartel. Mas nunca é o todo.

Por uma década, o Brasil tem sido “avisado” de desastres que sobreviriam caso o interesse dos mais ricos em não pagarem sua parte da conta não fosse contemplado, mas a experiência pessoal de quase 200 milhões de brasileiros mostra que não é bem assim; o desastre nunca sobreveio e já são dez anos de vaticínios fatalistas.

Aos oposicionistas animadinhos com essas pesquisas fajutas, pois, sugere-se que não se animem tanto. Hoje, só eles falam através da mídia. Dilma, quando tenta responder aos adversários por meios oficiais – como no recente pronunciamento –, vê-se constrangida por ameaças judiciais dos adversários.

Funciona assim: a oposição tem todo espaço que quiser na mídia para expor suas teses antigovernistas e hordas de bonecos de ventríloquo – ditos “colunistas” e “editorialistas” – para lhe darem razão, mas o governo não pode responder pelo meio que lhe resta. Dessa forma, estamos vendo uma campanha eleitoral em que só um dos lados fala.

Mas logo chega agosto e começa o horário eleitoral, quando todos falam e a mídia tem que opinar menos, tem que fazer menos política. Além disso, o governo Dilma parece que já percebeu que se aceitar esse jogo vai se colocar em forte desvantagem. E partiu para a discussão que interessa ao país.

Aqui vai um vaticínio, pois: será impossível fugir desse debate.

Cantanhêde diz, em sua coluna supra reproduzida, que, seja quem for o presidente eleito neste ano, terá que adotar “ajustes impopulares”. Balela. Há dez anos que os governos petistas recusam esses “ajustes” que, na verdade, nada mais são do que empurrar a conta ao mais fraco. Dilma não fará, ano que vem, o que não fez nos anteriores.

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