sábado, 2 de julho de 2011

Ex-vice-presidente do Goldman Sachs chefiará BC da Europa

PASCUAL SERRANO*
Como é sabido, um dos protagonistas da crise financeira que se iniciou em 2008 nos Estados Unidos, junto com a entidade Morgan Stanley, foi o banco de investimento chamado Goldman Sachs. Jogado na falência, em setembro de 2008, o Federal Reserve dos Estados Unidos decidiu que deixasse de ser um banco de investimento para converter-se em um banco comercial e teve que ser resgatado com dez bilhões de dólares públicos.

Em abril de 2010, a Comissão do Mercado de Valores dos Estados Unidos acusou o Goldman Sachs de fraude pelas hipotecas subprime. Nos tribunais a entidade financeira foi acusada de emitir títulos da dívida a partir de valores respaldados por hipotecas que se previam que falhariam e comercializá-las para seus clientes apresentando-as como um bom investimento. Assim, as bolsas estadunidenses calculam que os ingênuos investidores do Goldman Sachs perderam em torno de 740 milhões de euros (El País, 17-04-2010).

Não somente isto, o Goldman teve um papel central na hora de ajudar a Grécia a ocultar o déficit orçamentário de seu governo à União Européia, aos mercados financeiros e à opinião pública em geral. O Goldman vendeu à Grécia complexos bônus pelos que pagava ao governo grego por futuras fontes de ingressos, tais como taxas de aeroportos.

 Se tratava na realidade de um empréstimo, mas a troca permitia ao governo grego evitar que o dinheiro emprestado passasse aos livros como empréstimo, o que haveria elevado seu déficit orçamentário acima do limite permitido na zona do euro (The Guardian, 20-4-2010). Goldman Sachs também fez mais negócios com a Grécia, administrou bônus gregos no montante de 15 bilhões de dólares (cerca de 11 bilhões de euros ao câmbio atual) para levar a cabo uma permuta de divisas que permitiu ao governo de Atenas ocultar a verdadeira quantia de seu déficit. O Goldman ganhou cerca 735 milhões de euros com a administração de bônus gregos desde 2002, segundo dados da agência de notícias financeiras Bloomberg News (El País, 18-2-2010).

E por que contamos isso agora? Porque entre janeiro de 2002 e janeiro de 2006, enquanto se coziam todos esses petardos financeiros, o vice-presidente do Goldman Sachs era um senhor que se chama Mario Draghi. O mesmo que os líderes da União Européia em uma cúpula em Bruxelas acabam de nomear presidente do Banco Central Europeu. Exercerá seu cargo a partir de 1º de novembro de 2011, a 31 de outubro de 2019. O presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, afirmou que Draghi “exercerá uma liderança forte e independente” da instituição, “continuando a tradição estabelecida por seus antecessores”. Até agora só havia sido dedicados fundos públicos para salvar as grandes financeiras que provocaram a crise, agora já contrata-se seus diretores para administrar a economia pública.

E uma última piada. Recordemos que os cidadãos da Islândia decidiram em referendo que não estavam dispostos a que seu Estado assumisse o pagamento de 3,7 bilhões de euros à banca privada do Reino Unido e Holanda. O governo islandês, que defendia o pagamento, ficou quieto, muito abrumado e disse que então o país não poderia aceder aos mercados financeiros.

Contudo não houve nenhum problema para colocar no mercado bônus de cinco anos. Seu preço se estabeleceu a 4,875% (Público, 11-6-2011). O curioso é que outros governos mais disciplinados pelo mercado deverão pagar juros mais alto para que os investidores se interessem por seus bônus e os comprem.

Os bônus irlandeses se pagam a 15% e os gregos a 25%. Até o Estado espanhol deverá pagar mais juros que o islandês para que os investidores os queiram, a 5,6%. De modo que nem os mercados te premiam quando és servil.
*Pascual Serrano é jornalista e escritor e coordena o site www.rebelion.org.
O título original deste seu artigo é “Coisas curiosas da economia europeia”

 

Nenhum comentário: