quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Apelo dos Republicanos por ‘atirem neles’ levou à chacina de Tucson

Em março, o então líder republicano na Câmara, e agora seu presidente, John Boehner, ameaçou um congressista democrata de que “seria um homem morto” se voltasse para sua casa em Cincinnati
 
Após dois anos de raivosa conclamação a assassinatos de democratas, desencadeada por republicanos em comícios e através de programas de rádio e tevê, e anúncios na internet, finalmente ocorreu. Um rapaz de 22 anos feriu gravemente a tiros a deputada democrata Gabrielle Giffords, do Arizona, e matou seis pessoas, inclusive um juiz federal e uma menina de nove anos, quando a parlamentar se reunia com eleitores no estacionamento de um supermercado em Tucson na manhã do sábado, dia 8. Ao todo, o atirador fez 31 disparos e mais 11 pessoas ficaram feridas. A carnificina só não foi maior porque uma das vítimas impediu que a arma fosse recarregada e outros dois homens presentes ali o dominaram.
“TEA PARTY”
 Atingida na cabeça, a deputada foi operada e, em estado crítico, vem sendo mantida em coma induzido. Ela estava entre os 20 parlamentares que eram exibidos, sob uma mira telescópica, no site da ex-candidata a vice-presidente republicana, e matrona do “Tea Party”, Sarah Palin. A incitação ao “atire neles” foi retirada do site após os assassinatos. A “Fox News”, do magnata Rupert Murdoch, principal incitadora da cruzada contra as modestas reformas do presidente Barack Obama, tipo a da Saúde, e maior instrumento de repercussão das arruaças e ameaças contra ele e os democratas, apressou-se em atribuir o ocorrido ao “Tea Party”.
Mas sem a anuência da cúpula republicana e os holofotes da “Fox News”, os camisas-negras fantasiados de “Tea Party” não teriam ido a lugar algum; nem seu terrorismo. Em março, o então líder republicano na Câmara, e agora seu presidente, John Boehner, havia ameaçado um congressista democrata de que “seria um homem morto” se voltasse para casa “no lado oeste de Cincinnati”. Assim, não é de surpreender que um ex-marine, candidato republicano que disputava com Gabrielle, haja feito campanha convidando seus eleitores a ajudá-lo a disparar seu rifle M-16 “para tirá-la do Congresso”. Durante a campanha, o comitê da deputada foi vandalizado e cercado por extremistas aos gritos de “você já era, de um jeito ou de outro”. Nem Obama está livre dessas ameaças - em agosto, em New Hampshire, um homem armado foi impedido de se aproximar do presidente, quando este fazia ato a favor da reforma da Saúde.
Jared Lee Loughner, o atirador, estampava em seu site o “Mein Kampf”, de Adolf Hitler, ao lado de outros livros, como “O Estranho no Ninho” e “1984”. Supostamente teria ligações com uma organização racista branca, a “American Renaissance”, que negou. Afastado da escola até que obtivesse atestado de que não representava “perigo para ele mesmo ou para os outros”, Loughner manifestava sinais de perturbação mental e, em delirante mensagem dirigida ao site racista, acusava o governo de exercer “controle mental através da gramática”. Em outro vídeo, condenava a mudança da constituição que acabou com a escravidão. O que não foi empecilho para comprar uma pistola semiautomática Glock 9 mm em uma loja da cidade e três pentes de balas. Em investigação na casa de sua família, posteriormente, foi achado um envelope com frases como “Planejei de Antemão”, “Meu assassinato” e “Giffords” [sobrenome da deputada].
AMEAÇAS A JUIZ
No país inteiro, milhares de pessoas participaram do minuto de silêncio em homenagem aos mortos do Arizona, convocado pelo presidente Obama, que chamou o país a superar as divisões. A homenagem também foi realizada no Congresso e, em Tucson, a população com flores, cartazes, velas e preces se manifestou pela salvação de Gabrielle. O juiz John Roll, assassinado em Tucson havia recebido, em 2009, centenas de ameaças de morte por suas posições contra a legislação racista anti-imigrantes.

 
ANTONIO PIMENTA

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