sexta-feira, 12 de novembro de 2010

NÃO É CORRETO OS EUA AGIREM IGNORANDO O MUNDO, DIZ LULA

“Erros cometidos pelos Estados Unidos podem causar transtornos em vários países”, advertiu


O presidente Lula afirmou, na terça-feira (9), em Moçambique, que os países ricos, para saírem da crise, devem tomar medidas que aumentem o consumo, a produção interna e o comércio entre os países. “Cada país precisa fazer a política anticíclica que nós fizemos”. “Quando ocorriam crises econômicas na Nicarágua, no Brasil ou em outros países pobres, sempre apareciam os palpiteiros do mundo desenvolvido para “dar palpite”. “Agora, eu estou dando o palpite. Façam como se fez no Brasil que a coisa fica mais fácil”, defendeu o presidente, após participar de jantar oferecido pelo presidente de Moçambique, Armando Guebuza, em Maputo.

Lula também respondeu à declaração do presidente norte-americano, Barack Obama, de que “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o mundo”. A frase de Obama foi uma referência à reação mundial contra a inundação de 600 bilhões de dólares feita pelo BC americano na economia internacional. O presidente Lula não gostou da frase e disse que seria mais soberano se Obama justificasse as medidas de seu governo dizendo que são boas apenas para os americanos. “A verdade é que o que é bom para os EUA, é bom para os EUA e o que é bom para o Brasil, é bom para o Brasil. Se a gente entender assim, melhor, mais claro, e mais soberano será o comportamento de cada país”, declarou. Segundo o presidente, o fato é que “erros cometidos pelos EUA podem causar transtornos em vários países”.

Ele voltou a criticar a falta de regulação do sistema financeiro e da especulação financeira ocasionada por essa falta de controle. “Até agora não foi tomada nenhuma medida para a regulação do sistema financeiro”, cobrou. Ainda sobre a guerra cambial desencadeada pelo governo dos Estados Unidos, Lula disse: “Não é correto que países, para resolver seus problemas internos, tomem medidas sem levar em conta as consequências dessas medidas em outros países”. “Quando um país que produz a moeda resolve desvalorizar a sua moeda no intuito de aumentar a sua competitividade no mercado internacional, isso causa problemas para outros países”, denunciou Lula.

“É preciso que o câmbio seja flutuante, mas que haja um equilíbrio entre as políticas cambiais”, ponderou o presidente. Ele ressaltou que a crise econômica de 2008 “mostrou a fragilidade dos instrumentos multilaterais para tomar decisão e fazer com que os países cumpram”. “Eu acho que o G-20 deu uma contribuição importante para a crise econômica. Mas o G-20 ainda não constituiu os instrumentos multilaterais capazes de evitar que novas crises aconteçam no mundo”, avaliou. “Vamos defender nossas posições no G-20, mas sabemos das limitações. Lá não é lugar onde se tomam decisões. Será feita uma discussão sobre a crise econômica e as políticas que devem ser adotadas para superá-la”, destacou.

Entre as idéias defendidas pelo governo brasileiro está a do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de substituir a moeda norte-americana, o dólar, por uma cesta de moedas para servir de reserva internacional. O ministro avaliou, na terça-feira, que os Estados Unidos não estão mais em condições de se manter como país que emite a moeda de referência para uso nas transações comerciais entre os países. Mantega também aproveitou para anunciar que os juros no Brasil “vão cair em 2011”, porque, segundo ele, a nova presidente “quer trabalhar com juros menores”.

Na entrevista, Lula insistiu em que a demora dos EUA e da Europa em resolver seus problemas internos cria uma situação grave e prejudica a economia mundial. “Nós estamos percebendo uma demora nos Estados Unidos e uma demora na Europa de resolver o problema da sua crise, sobretudo na questão do mercado interno, do consumo. E isso é condição básica para que a economia volte à normalidade”, disse. “Quando a política americana aumenta o consumo, aumenta o emprego, aumenta a renda, aumenta o poder de compra das pessoas, isso é bom, é bom para a Europa, é bom para o Brasil, é bom para a América Latina”, avaliou.

“Nós vamos continuar brigando para que a gente tenha um comércio cada vez mais livre. Vamos continuar brigando para que, de uma vez por todas acabemos com essa guerra cambial, que não interessa ao mundo”, acrescentou o presidente, destacando que “é a primeira vez neste século, ou mesmo no século XX, que uma crise acontece nos países ricos, mas a solução é encontrada primeiro nos países pobres”. “Quem está sustentando a economia mundial são exatamente os países mais pobres. Os países em desenvolvimento, os BRICs, América Latina e África”, completou Lula.
 HP

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