sexta-feira, 9 de março de 2012

Entidades cobram em manifesto ação contra desmonte da indústria


Centrais e empresários pedem redução da taxa de juros e fim dos incentivos à importação como medidas emergenciais 

Entidades sindicais e empresariais do setor industrial divulgaram manifesto alertando para a situação “extremamente grave e preocupante” de estagnação da indústria de transformação em 2011.

O resultado da produção industrial, divulgado pelo IBGE nesta terça-feira, apontou queda de 2,1% em janeiro de 2012, em relação a dezembro de 2011. Ao mesmo tempo, o PIB brasileiro também registrou o crescimento de apenas 2,7% ante os 7,5% de crescimento em 2010 (ver matérias na página 2). “Juros altos, câmbio valorizado, guerra fiscal favorecendo as importações, entre outros fatores, incentivam artificialmente a entrada de produtos importados, fazendo com que a indústria pouco contribuísse para o crescimento do PIB em 2011”, afirma o documento.

Entre as medidas emergenciais exigidas pelas entidades para a retomada da indústria nacional, estão: Redução da taxa básica de juros; Conteúdo local mínimo efetivo em todas as compras governamentais e privadas quando beneficiadas por financiamento público e/ou incentivos fiscais, e em setores estratégicos; Fim dos incentivos fiscais às importações; Definição de metas anuais de aumento do nível de emprego na indústria de transformações e de crescimento da produção física e da taxa de investimento da indústria de transformação.

Como parte da campanha para salvar a indústria brasileira, as entidades preparam uma série de manifestações em diversos estados do país para denunciar os prejuízos causados pelas importações desenfreadas, que conforme as entidades já estão tirando empregos no setor. As primeiras manifestações ocorrem no dia 26 de março, em Porto Alegre (RS); 28 de março em Itajaí (SC); 3 de abril em Curitiba (PR); 4 de abril em São Paulo (SP) e 10 de maio em Brasília.

Leia a íntegra do manifesto abaixo: 

Alerta em defesa da produção e do emprego 


A estagnação da indústria de transformação em 2011 é algo extremamente grave e preocupante. Por este motivo, entidades patronais e de trabalhadores se unem para ressaltar que apesar do forte crescimento do consumo, o setor industrial reduziu drasticamente a geração de empregos, agudizando ainda mais o processo de desindustrialização no Brasil.

uros altos, câmbio valorizado, guerra fiscal favorecendo as importações, entre outros fatores, incentivam artificialmente a entrada de produtos importados, fazendo com que a indústria pouco contribuísse para o crescimento do PIB em 2011. Como consequência, o crescimento total da economia deverá ficar abaixo de 3%, após crescimento de 7,5% em 2010. Esses dados revelam o descompasso entre as ações promovidas pelo governo, e a realidade da indústria que demanda medidas emergenciais e efetivas.

A desindustrialização não se iniciou nos últimos anos, mas vem se intensificando desde 2008. Em 1985, a indústria de transformação representou 27% do PIB, em 2011 deve ter chegado a menos de 16% e mantida a atual situação, chegaremos ao fim de 2012 com menos de 15%. O declínio da indústria coloca o país numa situação perigosa e vulnerável, com dificuldade de gerar empregos de qualidade e salários decentes para as presentes gerações e para as vindouras. Não se pode ignorar o impacto futuro que a redução da atividade da indústria brasileira, e da capacidade de consumo dos trabalhadores afetados, poderá ter sobre a expansão sustentável do emprego no comércio e serviços.

Não há como negar a importância da indústria para a transformação social de uma nação e a melhoria nas condições de vida de seus habitantes.  Educação de qualidade, serviço de saúde eficiente, maior oferta de habitação e transporte, segurança e salários dignos são realidades dos habitantes de países ricos, que não descuidam de sua indústria, pelo contrário, defendem-na e incentivam-na com unhas e dentes, pois sabem que o setor industrial é vital para o desenvolvimento e bem estar da sociedade, senão, vejamos a atual posição do governo norte-americano conclamando para a defesa e recuperação da indústria de seu país.

Infelizmente o Brasil não tem dado a devida atenção àquilo que arduamente construiu.

Basta lembrar que em 1980 o parque industrial brasileiro era equivalente aos parques de Tailândia, Malásia, Coréia do Sul e China somados. Em 2010, a indústria brasileira representou menos de 8% em comparação com as indústrias desses mesmos países.

Estamos regredindo e voltando a ser uma economia produtora e exportadora de produtos primários, cujas cotações dependem dos humores da economia internacional. As mercadorias importadas invadem nosso mercado, enquanto as exportações de produtos industrializados se reduzem. Em 2011, o déficit na balança comercial de manufaturados foi de US$ 93 bilhões.

Em 2030 o Brasil contará com uma população economicamente ativa de 150 milhões de pessoas. Precisamos, desde já, fortalecer os setores que serão capazes de gerar emprego de qualidade para esse contingente de brasileiros. As atividades do setor financeiro, da moderna agricultura e da extração mineral expandiram-se e tornaram-se economicamente importantes, porém sem uma indústria pujante não teremos capacidade de gerar postos de trabalho decentes na quantidade que o Brasil demandará no futuro próximo.

O ano de 2012 se inicia com a atividade industrial estagnada, com perspectivas de crescimento anual próximo a zero. Neste cenário, mesmo que a demanda continue em expansão, novamente a economia brasileira como um todo não terá forças para crescer acima de 3%.

A sociedade brasileira não pode se comportar de forma passiva e resignada ante a tudo isso, como se décadas de desenvolvimento e a história nada significassem. Neste momento de crise internacional, crescimento de demanda é uma das coisas mais raras do mundo. Precisamos garantir que a demanda brasileira seja atendida pela produção brasileira, gerando empregos de qualidade e melhorando a distribuição de renda no Brasil.

Visando contribuir para a construção de um Brasil próspero e com boas oportunidades para todos, é que estamos reunidos – representantes dos trabalhadores e dos empresários – para este alerta em defesa da produção brasileira e de um ambiente econômico favorável ao crescimento. 

O manifesto foi assinado pelas entidades: 

Força Sindical; Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB); Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB); União Geral dos Trabalhadores (UGT); Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM/CUT); Sindicato dos Metalúrgicos do ABC; Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo; Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos (CNTM/FS); Associação Brasileira da Indústria de Autopeças (ABIPEÇAS); Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (ABIMAQ); Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (ABINEE); Associação Brasileira da Indústria Plásticos (ABIPLAST); Associação Brasileira da Indústria Química (ABIQUIM); Associação Brasileira da Indústria Têxtil (ABIT); Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG); Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (FIESC); Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP/CIESP); Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEPR); Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (FIERGS); Instituto Aço Brasil (IABR); SICETEL; SIMEFRE; SINAFER; SINDITEXTIL. 

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