quarta-feira, 28 de março de 2012

Contas externas: reflexo do câmbio, dos juros e da desnacionalização



O estoque total de propriedade e dinheiro estrangeiro dentro do país atingiu, em fevereiro, US$ 1 trilhão, 560 bilhões e 57 milhões de dólares.

Deste total, US$ 678 bilhões e 433 milhões correspondem ao "investimento direto estrangeiro" (IDE) - empresas sob controle ou com participação estrangeira, mais os "empréstimos intercompanhia", isto é, empréstimos da matriz à sua filial no Brasil.

Outros US$ 687 bilhões e 235 milhões são "investimento estrangeiro em carteira" (IEC): dinheiro especulativo posto a procriar com os juros dos títulos públicos e outros papéis.

Por fim, US$ 194 bilhões e 388 milhões são classificados como "outros investimentos estrangeiros" (OIE) - fundamentalmente, empréstimos tomados no exterior por empresas.

Essa ocupação crescente do país por dinheiro estrangeiro – o estoque total aumentou mais US$ 146,13 bilhões desde setembro de 2011, mais US$ 483,58 bilhões desde dezembro de 2009 e mais US$ 618,46 bilhões desde setembro de 2008 –, juntamente com uma taxa de câmbio pervertida, explica o resultado das contas externas de fevereiro.

Para além de um pesado déficit nas transações correntes (a grosso modo, saldo comercial menos remessas para o exterior) de US$ -52,4 bilhões nos últimos 12 meses, a diferença entre a entrada de dinheiro estrangeiro e a saída total (remessas totais para o exterior) ficou em apenas US$ 459 milhões.

A conta de transações correntes é uma conta de curto prazo – daí a atenção dada a ela, pois seu estouro implica em crise imediata nas contas externas. Nela, a situação do país não é boa, por mais que o sr. Tombini queira convencer alguns senadores de que é muito normal se o déficit chegar a US$ 65 bilhões ou US$ 70 bilhões.

Porém, mesmo se incluirmos a outra conta que compõe as contas externas, a conta capital e financeira (entradas menos saídas de IDE + IEC + OIE) a situação também é ruim.

É verdade que, desde janeiro de 2011, se subtrairmos do dinheiro estrangeiro líquido que entrou as remessas que saíram, temos um quadro que parece errático: o saldo mensal dessa subtração, US$ 3 bilhões em janeiro de 2011, subiu para US$ 10,6 bilhões em março de 2011, depois tornou-se negativo (US$ -2,5 bilhões) em junho de 2011, subiu no mês seguinte para US$ 11,9 bilhões, caiu outra vez para US$ -4,5 bilhões (dezembro de 2011), subiu para US$ 5,6 bilhões em janeiro deste ano e caiu para os US$ 459 milhões de fevereiro.

O que isso mostra é que estamos pendurados na crise dos países centrais e suas oscilações, com uma taxa de câmbio que favorece as remessas para fora, assim como as importações, e com juros que favorecem a inundação do país pelas superemissões de moeda dos EUA e outros - cevando, cada vez mais, o processo de pilhagem do patrimônio e dos recursos do Brasil.

C.L


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