sexta-feira, 23 de março de 2012

Capital estrangeiro pressiona política econômica contra a indústria e o desenvolvimento, diz IPEA

A edição nº 18 do boletim Conjuntura em Foco, divulgado na segunda-feira (19) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), traz como tema central a desindustrialização. Durante a apresentação, o coordenador do Grupo de Análise e Previsões (GAP), Roberto Messenberg, fez a distinção entre esse processo nos países centrais e nos chamados países emergentes, como o Brasil - exceto a China, onde “não está em curso um processo de desindustrialização”.
Nos países centrais, a tendência geral de redução do peso relativo das atividades industriais ao logo do desenvolvimento da economia acabou por gerar o termo “desindustrialização”. Recentemente, os países emergentes (“países de renda média”) têm registrado desindustrialização “em termos das escalas setoriais do emprego e do valor adicionado, mas cujas causas e implicações para a continuidade de seu desenvolvimento diferem muito daquelas que caracterizaram o processo de desenvolvimento nas economias mais avançadas”.

De acordo com o estudo, nas economias avançadas a queda do pesos relativo da indústria, em termos de emprego e de produto, ocorreu quando os respectivos níveis de renda per capita situam-se em patamares muito mais elevados do que nos países emergentes.

“No caso particular da economia brasileira, há, recentemente, um crescente debate sobre o fenômeno da desindustrialização, em função dos sentidos efeitos do acirramento da concorrência internacional para a indústria doméstica, seja pela menor intensidade relativa do ritmo de criação de empregos no setor industrial seja pelo avanço sistemático do volume de importações para o atendimento da demanda interna, ou, ainda, pela perda de participação das exportações de produtos manufaturados nos mercados internacionais”, continua o documento.

Messenberg comparou a atual situação da economia brasileira com o filme Queimada, do diretor italiano Gillo Pontecorvo. No filme, os escravos da ilha de Queimada, localizada na América Central e sob domínio português, se veem incitados por um agente inglês com ideias supostamente libertárias para instauração de uma república, mas atrelada aos interesses econômicos da Inglaterra. “No filme, o capital estrangeiro, personificado por Marlon Brando, ateou chamas às possibilidades de desenvolvimento econômico e social de Queimada. No Brasil atual, o capital estrangeiro, na personificação dos analistas econômicos do mercado financeiro, deseja fazer a mesma coisa com a indústria doméstica, ao pressionar a política econômica contra os interesses do desenvolvimento, procurando influenciar os níveis da taxa de juros, da taxa de câmbio, dos gastos públicos e da alocação de recursos nos programas sociais”, disse o economista.

“Com a morte da indústria, nos tornaremos, de fato, a ilha Queimada; cuja moeda no filme, internacionalmente forte, aliás, feita de ouro, curiosamente chamava-se reale”, acrescentou Messenberg.
Os números apresentados no boletim registram a perda da força da indústria. Comparando o resultado de 2010 e de 2011, o PIB industrial caiu de 10,4% para 1,6%.


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