sexta-feira, 9 de março de 2012

Posições assumidas e não a fraude


Com a obtenção de 63,60% dos votos, ficou difícil contestar a legitimidade da vitória de Vladimir Putin no primeiro turno das eleições presidenciais na Rússia.
 
O segundo colocado no pleito, Gennadi Ziuganov, do Partido Comunista da Federação Russa (PCFR), que obteve 17,18% dos votos válidos.
 
Ziuganov denunciou a ocorrência de fraudes, como o “voto carrossel” (eleitores votando em mais de uma seção) e empre-nhamento de urnas.
 
Certamente, fraudes eleitorais existem em todos os regimes onde há combinação de poder econômico privado com poder de Estado – por exemplo, nos EUA, o sistema eleitoral mais corrupto do mundo, vide a eleição de Bush, uma fraude televisionada ao vivo e depois amplamente documentada, com o candidato derrotado obtendo (mesmo com a fraude) 500 mil votos a mais do que o “vitorioso”.
Porém, nada indica que, nas recentes eleições russas, as fraudes tenham influenciado no resultado – numa eleição ganha com 64% dos votos, isso seria muito improvável, além do que ninguém apontou uma fraude nessa escala.
 
O sistema eleitoral russo – e Ziuganov está coberto de razão quando o denuncia – é ainda uma criação do tempo de Yeltsin, com sua corte de mafiosos que se tornaram magnatas do dia para a noite, assaltando o patrimônio público construído pelo povo da URSS. Ziuganov conhece bem esse sistema, pois foi vítima dele.
Na eleição de 1996, já depois de um mandato de traição ao socialismo por Yeltsin, as pesquisas apontavam para a vitória de Ziuganov e do PCFR. No primeiro turno, ficaram a distância pequena: 35,8% para Yeltsin (com toda a grana, a fraude, a mídia pública e a máquina estatal) e 32,5% para Ziuganov. No segundo turno, aconteceu uma mudança mais pronunciada do que seria normal esperar: 54,4% a 40,7% para Yeltsin. Por exemplo, numa província afastada, a de Tatarstan, onde Ieltsin teve 2.064 votos no primeiro turno, enquanto que Ziuganov tinha 7.464 votos, no segundo turno, misteriosamente, Ieltsin saiu com 8.512 votos e Ziuganov caiu para 2.050. E isso foi a regra quase em toda a Rússia, sem que tenha acontecido nenhum fato que justificasse ou explicasse tais mudanças, exceto a fraude.
 
Na época, a mídia ocidental não fez escândalo. Pelo contrário, abafou o roubo. A mesma mídia que, quando Putin expressou uma posição independente e antiimperialista (sobretudo na questão das ameaças à Síria), resolveu armar o seu banzé – agora, uma eleição onde não há provas – pelo contrário – de que as fraudes porventura ocorridas tenham mudado o resultado da vontade do eleitorado, é tratada como fraudulenta, apesar do eleito ter conseguido 64% dos votos – logo, seria necessário uma fraude monumental e impossível de ser escondida, para que isso acontecesse. Mas ninguém, nem esses acusadores conseguiram relatar algo nem de longe semelhante.
 
Assim, a BBC, e um certo instituto Samarcand Analytics, alegaram que “sem fraudes”, Putin obteria 59,42% dos votos, ao invés de 64%... Naturalmente, não faria diferença – ele seria, também eleito no primeiro turno.
 
Há, igualmente, os doidos ou meio doidos: dois estatísticos do MIT (Massachussets Institute of Technology), Peter Ordeshook e Misha Myagkov, dizem que aplicaram a Curva de Gauss para comprovar a fraude – sem aparecer na Rússia durante as eleições. Bem, segundo eles a frequência dos eleitores variou com a região (o voto na Rússia não é obrigatório). Pelo jeito, entendem muito de Curva de Gauss, mas nada de eleições.
 
Já a “fraude car-rossel”, provavelmente existiu, considerando um sistema eleitoral tão esculhambado que não impede quem queira de votar fora da seção onde está registrado. Mas, aí, o sistema eleitoral é que não presta, pois tal fraude poderia ser consumada pelos eleitores de qualquer candidato (embora, é claro, quem tem mais dinheiro, leva vantagem).

   Putin declarou que realmente ocorreram irregularidades, e que elas serão investigadas. No que está de acordo com Ziuganov, que tem razão ao denunciar as fraudes cometidas sob a sombra de um sistema eleitoral forjado, no passado, por achacadores do povo, negocistas e desclassificados.

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