terça-feira, 6 de março de 2012

Putin repele ingerência dos EUA e vence as eleições na Rússia


 
Povo russo votou pela continuidade do governo que, além de vetar decisão contra soberania da Síria na ONU, elevou investimento em defesa para dissuadir as ameaças militares ao país

Fortalecido pela sua posição de rechaçar a ingerência dos EUA nos países árabes e pela sua defesa da soberania da Rússia, Vladimir Putin venceu as eleições presidenciais de domingo passado no primeiro turno, com 63,60% dos votos.
 
O candidato do Partido Rússia Unida recebeu, segundo a Comissão Eleitoral Central (CEC), 45 milhões 109 mil 640 votos, e o comparecimento às urnas foi de 65,3%, cinco pontos acima das eleições parlamentares de 4 de dezembro passado. No país o voto não é obrigatório.
 
Ainda segundo dados da CEC,  o líder do Partido Comunista da Federação Russa, Guennadi Ziugánov, ficou em segundo lugar com 17,18% dos votos; o magnata mafioso Mikhail Prokhorov teve 7,98%; o presidente do Partido Liberal Democrático, Vladímir Zhirinovski, 6,22%; e o líder do partido Rússia Justa, Serguéi Mirónov, 3,85%.
 
No ato de comemoração da vitória no centro de Moscou, o atual primeiro-ministro disse que a eleição foi uma “importante prova de autonomia. Ninguém poderá nos impor nada”.
 
O governo russo tem condenado ativamente a ingerência dos Estados Unidos nos assuntos internos dos países do Oriente Médio. “Não podemos permitir um ‘cenário líbio’ na Síria”, afirmou Putin. O premiê defendeu a decisão de Moscou de vetar, junto com a China, as duas resoluções do Conselho de Segurança da ONU, que buscaram impor sanções à Síria, usando o argumento de repressão aos opositores. “Há grupos na Síria que são sustentados de fora. Tem que respeitar a soberania do país. Nós não temos nenhuma relação preferencial com Damasco. É uma questão de princípios, de não ingerência. Quem deve resolver os problemas da Síria é o seu povo”, assinalou.
 
Sobre o Irã, Putin também foi claro. “Sob o disfarce de tentarem impedir a disseminação das armas de destruição em massa, eles (potências ocidentais, os EUA) buscam alcançar um objetivo totalmente diferente: a mudança de regime”, declarou, citado por agências russas de notícias.
 
O presidente eleito, que foi chefe de Estado de 2000 a 2008, colocou como uma de suas prioridades na política interna a necessidade de responder à implantação de um escudo antimísseis na Europa pelos Estados Unidos e Otan mediante o “reforço do sistema de defesa aérea e espacial da Rússia”.
 
A Rússia se dispõe hoje a reforçar sua defesa de contenção nuclear com 400 novos mísseis intercontinentais, 600 aviões, incluindo caças de 5ª geração e com uma modernização do seu Complexo Militar Industrial (CMI). Pútin convocou, na sexta-feira (2), todas as potências nucleares do mundo para que se envolvam no processo de desarmamento e negou a possibilidade de uma redução unilateral dos arsenais da Rússia. “Enquanto os Estados Unidos e outros países reforçam seu armamento nuclear nos não vamos nos desarmar. ‘Ocorrem’ conflitos ou zonas de instabilidade provocados perto de nossas fronteiras e o direito internacional nas crises mundiais é cada vez menos respeitado”, acrescentou.
 
Outra iniciativa que reforçou a liderança política do atual primeiro-ministro é a proclamação pelos presidentes da Rússia, Bielorrússia e Cazaquistão, durante o mês de janeiro, da transição para uma nova etapa de integração na região: o Espaço Econômico Comum. Acordaram criar um órgão supranacional de direção desse processo: a Comissão Econômica Eurasiática. Vários outros países estão discutindo a entrada à CEE, como Uzbequistão, Ucrânia, Azerbaijão, e Turcomenistão. “Essa integração não é formal. Fortalece nossos mercados internos e fortalece a produção e o intercambio para não precisarmos depender de fora”, sublinhou Putin.
 
Ziuganov denunciou que além das fraudes “a enorme máquina estatal trabalhou em favor de um só candidato”.
 
Após o anuncio oficial do resultado eleitoral Putin encontrou-se com três dos candidatos que concorreram com ele nas eleições, Prokhorov, Zhirinovski e Mironov. Debateram as denuncias de irregularidades. “Já solicitei ao chefe da CEC, Vladimir Churov, que investigue minuciosamente as infrações denunciadas”, declarou Putin. Guennadi Ziugánov não compareceu.

SUSANA SANTOS

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