sábado, 24 de março de 2012

A CONSTRUÇÃO DO SOCIALISMO NA URSS(I)


Iniciamos hoje, neste caderno especial, ao qual seguirá outro na próxima edição, a publicação dos capítulos da “História do Partido Comunista (bolchevique) da URSS” referentes à construção do socialismo naquele país. O texto corresponde à íntegra das duas seções finais do capítulo VII e dos capítulos VIII, IX, X, XI e XII da obra, publicada em 1938 na URSS.
Na segunda metade da década de 30 do século XX, o Partido Comunista da União Soviética, que tinha - nas palavras de seu fundador, Lenin - a honra de chamar-se “bolchevique”, já havia, em poucos anos, percorrido um longo e extraordinário caminho. Em pouco mais de 30 anos, desde sua formação a partir dos círculos de revolucionários que lutavam contra o absolutismo czarista, o partido havia vencido o oportunismo dentro do movimento operário no princípio do século - de onde veio a palavra “bolchevique”, membros da maioria revolucionária do antigo Partido Operário Social Democrata Russo -, havia liderado o levante do povo durante a Revolução de 1905 e estado à frente da classe operária e do campesinato na primeira revolução socialista da História, em outubro de 1917.
Foram anos de luta heróica e abnegada, em condições extremamente difíceis. Nenhum outro partido do mundo havia, na época, conseguido formular com tal clareza a teoria - a estratégia e a tática - da revolução democrática e da revolução socialista, assim como a justa resolução das questões nacionais, e resgatado o marxismo, escamoteado pela direção da II Internacional após a derrota da Comuna de Paris. Pouco após a morte de Lenin, em 1924, José Stalin, no prefácio de seu livro “Fundamentos do Leninismo”, sintetizaria: “a Rússia tinha de converter-se no ponto de convergência das contradições do imperialismo, não apenas no sentido de que, precisamente na Rússia, essas contradições colocavam-se explicitamente com maior facilidade por causa do seu caráter especialmente monstruoso e intolerável, e não só porque a Rússia era o apoio mais importante do imperialismo ocidental, o alicerce que unia o capital financeiro do Ocidente com as colônias do Oriente, mas também porque apenas na Rússia é que existia uma força real capaz de resolver as contradições imperialistas pela via revolucionária”. Esta força real era o proletariado russo, à frente do qual estava Lenin e o partido bolchevique.

No entanto, apesar da grandeza das batalhas anteriores, a próxima seria muito maior. Seria, aliás, a maior já travada na História da Humanidade. Lenin já havia apontado que a tomada do poder, apesar de todas as vicissitudes enfrentadas pelos bolcheviques, era relativamente fácil quando comparada ao que em seguida era necessário empreender: a construção, pela primeira vez na face da Terra, do socialismo, um novo modo de produção, uma nova sociedade - solidária, consciente, coletivista, sem exploração e radicalmente democrática.

É esse feito titânico, realizado pelo povo soviético, do qual emerge a gigantesca figura de José Stalin, que é relatado nos capítulos da “História do Partido Comunista (bolchevique) da URSS” que hoje oferecemos aos nossos leitores.

Como seria e é inevitável, a construção do socialismo na URSS foi reiteradamente vilipendiada pelos imperialistas, pelos exploradores, e por aqueles que se fizeram seus agentes e porta-vozes. Mais do que vilipendiada, tanto no plano externo, onde montou-se um cerco para asfixiar o país dos sovietes, quanto no plano interno, onde aqueles poucos que não conseguiram superar seu alucinado individualismo passaram à sabotagem e ao terrorismo contra o Estado socialista, contra o partido e contra a sua direção, a construção do socialismo fez frente a uma acirrada, aguda e criminosa resistência, mais criminosa ainda após o golpe de Hitler na Alemanha e a articulação dos sabotadores internos com o nazismo. Naturalmente, não se poderia - e não se pode - esperar que os inimigos da revolução a apóiem e a aplaudam...

Porém, era evidente para Stalin e para o partido que novas provas se aproximavam para o povo soviético, e que, por mais difíceis que fossem, seria necessário superá-las. Em 1938, quando o Comitê Central do partido aprovou a publicação da sua História, o mundo estava à beira da mais cruel e sangrenta guerra até então já travada. Era necessário vencer o imperialismo na sua forma mais degenerada - o nazismo. Para isso, a condição era que o partido e o povo estivessem, antes de tudo, conscientes de sua trajetória, de sua luta, de suas conquistas e de sua capacidade de vencer os mais inauditos desafios que a realidade lhes colocassem. Não se defende um país, ou o quer que seja, senão quando se acha que vale a pena defendê-lo. A debacle de vários países da Europa diante de Hitler provaria à exaustão esta verdade elementar. Porém, mais ainda ela seria demonstrada pelo heroísmo em massa e pela vitória do povo soviético contra o mesmo inimigo.

Essa foi a função que assumiu a “História do Partido Comunista (bolchevique) da URSS” e, não por acaso, o próprio Stalin coordenou a comissão do partido que a redigiu, contribuindo para ela com o seu capítulo mais conhecido, a profunda síntese das questões fundamentais do marxismo posteriormente editada em livro sob o nome “Materialismo Dialético e Materialismo Histórico”.

A força da “História do Partido Comunista (bolchevique) da URSS” está em seu rigoroso apego à verdade. Caso contrário, seria impossível que ela tivesse o efeito que teve no partido e no povo soviéticos. Estes haviam vivido os acontecimentos relatados pela obra. O mesmo impacto causado pela verdade foi percebido por outros povos do mundo - principalmente depois da II Guerra - e o leitor poderá comprová-lo,  quase 70 anos depois, ao ler o que agora publicamos.

CARLOS LOPES

A luta pela consolidação do poder soviético – A paz de Brest-Litovsk – O 7º Congresso do Partido Bolchevique 
Para consolidar o poder soviético era necessário demolir o antigo aparelho do Estado burguês e substituí-lo pelo novo aparelho do Estado Soviético. Era necessário, também, liquidar os restos do regime de castas e de opressão nacional, abolir os privilégios da Igreja, derrotar a imprensa contra-revolucionária e as organizações contra-revolucionárias de todo gênero, tanto legais como ilegais, e dissolver a Assembléia Constituinte burguesa. Por último, era necessário nacionalizar toda a grande indústria, e, sobretudo, sair da situação de guerra, acabar com a guerra, que era o maior obstáculo que se opunha à consolidação do poder soviético.

Todas estas medidas foram levadas à prática no transcurso de uns quantos meses, desde fins de 1917 a meados de 1918.
Rompeu-se e liquidou-se a sabotagem dos funcionários nos velhos ministérios, organizados pelos social-revolucionários e os mencheviques. Foram suprimidos os ministérios, criando-se, para substituí-los, órgãos soviéticos de administração e os correspondentes Comissariados do Povo. Criou-se o Conselho Supremo de Economia Nacional, encarregado de dirigir a indústria do país. Organizou-se a Comissão Extraordinária de Toda a Rússia (a “Tcheca”) para combater a contra-revolução e a sabotagem, pondo-se à frente dela F. Dzerzhinski. Baixou-se um decreto criando o Exército Vermelho e a Marinha Vermelha. Dissolveu-se a Assembléia Constituinte, que tinha sido eleita, fundamentalmente, antes da revolução de Outubro, e tinha se negado a confirmar os decretos do 2º Congresso dos Soviets sobre a paz, sobre a terra e sobre a instauração do poder soviético.

Com o objetivo de liquidar definitivamente os resíduos do feudalismo, do regime de castas e da desigualdade de direitos em todos os graus da vida social baixou-se uma série de decretos abolindo os privilégios de casta, suprimindo as restrições nacionais e religiosas, separando a Igreja do Estado e a Escola da Igreja, e concedendo igualdade de direitos às mulheres e às diversas nacionalidades da Rússia.

Em um decreto especial, que se conhece com o nome de “Declaração de Direitos dos Povos da Rússia”, se estatuiu como lei o livre desenvolvimento dos povos de toda a Rússia e sua plena igualdade de direitos.

Com o objetivo de minar a força predatória da burguesia e de organizar a nova economia nacional e, sobretudo, a nova indústria soviética, foram nacionalizados os bancos, as estradas de ferro, o comércio exterior, a marinha mercante e toda a grande indústria, em seus diversos ramos: indústria carbonífera, metalúrgica, petrolífera, química, de construção de maquinaria, têxtil, açucareira, etc.

Com o objetivo de emancipar o país da dependência financeira e da exploração pelos capitalistas estrangeiros, foram anulados os empréstimos exteriores contraídos em nome da Rússia pelo czar e o governo provisório. Os povos do país soviético não tinham porque pagar as dívidas contraídas para prolongar a guerra de rapina que havia entregado o país escravizado às garras do capital estrangeiro.

Todas estas medidas e outras semelhantes atacavam pela base as forças da grande burguesia, dos latifundiários, da burocracia reacionária e dos partidos contra-revolucionários, consolidando consideravelmente o poder soviético no interior do país. Mas a situação não estaria plenamente resolvida, enquanto a Rússia se achasse em estado de guerra com a Alemanha e a Áustria. Para consolidar definitivamente o poder soviético era necessário pôr fim à guerra. Por isso, o Partido começou a luta pela paz desde os primeiros dias do triunfo da Revolução de Outubro.

O governo propôs a “todos os países beligerantes o estabelecimento de negociações imediatas para uma paz justa e democrática”. Mas os “aliados”, a Inglaterra e a França, se negaram a aceitar a proposta. Em vista da negativa da França e da Inglaterra de entabular negociações de paz, o governo soviético decidiu entrar em negociações com a Alemanha e a Áustria. As negociações começaram no dia 3 de dezembro, em Brest-Litovsk. Em 5 de dezembro se assinou o convênio de armistício, isto é, de suspensão temporária das hostilidades.

As negociações de paz se desenrolaram numa situação em que a economia nacional entrava em descenso, em que todo o país estava cansado da guerra, as unidades militares abandonavam as trincheiras e as frentes desmoronavam. Durante as negociações se tornou claro que os imperialistas alemães pretendiam apoderar-se de enormes porções do território do antigo império czarista e converter a Polônia, a Ucrânia e os países do Báltico em estados vassalos da Alemanha.

Continuar a guerra nestas condições equivalia a jogar numa única cartada a existência da República Soviética, que acabava de nascer. Apresentava-se à classe operária e aos camponeses a necessidade de aceitar as duras condições de paz e recuar ante o mais perigoso bandoleiro daquele momento, o imperialismo alemão, para obter uma trégua, robustecer o poder soviético e criar um novo exército, o Exército Vermelho, capaz de defender o país contra os ataques de seus inimigos. Todos os contra-revolucionários, começando pelos mencheviques e os social-revolucionários e acabando pelos guardas brancos mais caracterizados, desencadearam uma furiosa campanha de agitação contra a assinatura da paz. Sua linha era clara: aspiravam romper as negociações de paz, provocar a ofensiva dos alemães e expor a um golpe o nascente poder soviético, pondo em perigo as conquistas dos operários e camponeses.

Nesta empresa tenebrosa, tinham como aliados Trotsky e seu escudeiro Bukharin. Este, com Radek e Piatakov, encabeçava o grupo antibolchevique que se disfarçava com o nome de grupo dos “comunistas de esquerda”. Trotsky e o grupo dos “comunistas de esquerda” travaram no seio do Partido uma luta furiosa contra Lênin, exigindo a continuação da guerra. Estes indivíduos faziam claramente o jogo dos imperialistas alemães e dos contra-revolucionários dentro do país, uma vez que trabalhavam para expor a nascente República Soviética, desprovida ainda de exército, aos golpes do imperialismo alemão. Era, verdadeiramente, uma política de provocadores, habilmente disfarçada com frases esquerdistas.

Em 10 de fevereiro de 1918, se interromperam as negociações de paz de Brest-Litovsk. Embora Lênin e Stalin insistissem, em nome do CC do Partido Bolchevique, para que se assinasse a paz, Trotsky, que era presidente da delegação soviética de paz enviada a Brest, traiu abertamente as instruções do Partido. Declarou que a Republica Soviética se negava a assinar a paz nas condições propostas pela Alemanha, e, ao mesmo tempo, comunicou aos alemães que os Soviets não fariam a guerra e continuariam desmobilizando o seu exército.

A coisa era monstruosa. Nem os próprios imperialistas alemães podiam esperar mais.

O governo alemão deu por terminado o armistício e passou à ofensiva. Os restos de nosso antigo exército não fizeram frente à ofensiva das tropas alemãs e começaram a dispersar-se. Os alemães avançaram rapidamente, ocupando territórios imensos e ameaçando Petrogrado. O imperialismo alemão, irrompendo no país dos Soviets, tinha como objetivo derrubar o poder soviético e converter o país numa colônia. O antigo exército czarista, que desmoronava, não podia fazer frente às legiões armadas do imperialismo alemão e recuava ante os golpes do exército inimigo.

Mas a intervenção armada dos imperialistas alemães provocou uma potente onda de ardor revolucionário dentro do país. A classe operária respondeu ao grito “A Pátria Socialista está em perigo!” lançado pelo Partido e o Governo Soviético, pondo em pé de guerra numerosas unidades do Exército Vermelho. Os jovens destacamentos do novo exército do povo revolucionário rechaçaram heroicamente a arremetida do bandoleiro imperialista alemão, armado até os dentes. Em Narva e em Pskov, os invasores alemães se chocaram com uma resposta enérgica. O seu avanço sobre Petrogrado foi contido. No dia em que as tropas do imperialismo alemão foram rechaçadas – 23 de fevereiro – nasceu o Exército Vermelho.

Já em 18 de fevereiro de 1918, o CC(COMITÊ CENTRAL) do Partido Bolchevique aprovara a proposta de Lênin de enviar um telegrama ao governo alemão sobre a conclusão imediata da paz. Para arrancar condições mais favoráveis, os alemães prosseguiram a ofensiva e até 22 de fevereiro o governo alemão não se mostrou disposto a assinar a paz, exigindo, além disso, condições muito mais duras que as iniciais.

Lênin, Stalin e Sverdlov tiveram de manter uma luta encarniçada no seio do Comitê Central contra Trotsky, Bukharin e demais trotskistas, até conseguir que se tomasse a resolução de negociar a paz. Lênin assinalou que Bukharin e Trotsky “ajudavam de fato aos imperialistas alemães e entravavam os avanços e o desenvolvimento da revolução na Alemanha” (Lênin, t. XXII pág. 307, ed. russa).

Em 23 de fevereiro, o CC resolveu aceitar as condições impostas pelo comando alemão e assinar o tratado de paz. A traição de Trotsky e Bukharin custou caro à República dos Soviets. Foram anexadas pela Alemanha a Letônia e a Estônia, além da Polônia; e a Ucrânia foi separada da República Soviética e convertida num Estado vassalo da Alemanha. Impôs-se, além disso, ao País Soviético a obrigação de pagar uma contribuição de guerra aos alemães.

Entretanto, os chamados “comunistas de esquerda” prosseguiram na luta contra Lênin, afundando-se cada vez mais no pântano da traição.

A sessão regional do Partido de Moscou, da qual os “comunistas de esquerda” (Bukharin, Osinski, Iakovleva, Stukov, Mantzev) conseguiram se apossar temporariamente, aprovou uma resolução divisionista de desconfiança no CC e declarou que considerava “quase inevitável a cisão do Partido em breve prazo”. E  chegava até o extremo de incluir nesta resolução uma declaração anti-soviética! “No interesse da revolução internacional – diziam os “comunistas de esquerda” – consideramos conveniente aceitar a possibilidade da perda do poder soviético, que se está convertendo em um poder puramente formal”.

Lênin qualificou esta resolução de “excêntrica e monstruosa”.
Naquele momento, o Partido ainda não via claro a causa real da conduta antibolchevique de Trotsky e dos “comunistas de esquerda”. Mas o processo do bloco anti-soviético direitista–trotskista, levado a efeito recentemente (em começos de 1938), revelou que Bukharin e o grupo de “comunistas de esquerda”, dirigido por ele, se achavam já naquele tempo, juntamente com Trotsky e os social-revolucionários de “esquerda”, em relações secretas e conspirativas contra o Governo dos Soviets.

Comprovou-se que Bukharin, Trotsky e seus cúmplices na conjuração tinham como objetivo romper o tratado de paz de Brest-Litovsk, prender V. I. Lênin, I. V. Stalin e I. M. Sverdlov, assassiná-los e formar um novo governo, composto de bukharinistas, trotskistas e social-revolucionários de “esquerda”.

Ao mesmo tempo em que organizavam clandestinamente este “complot” contra-revolucionário, o grupo dos “comunistas de esquerda”, apoiado por Trotsky, atacava abertamente o Partido Bolchevique, esperando cindi-lo e decompor suas fileiras. Mas, naqueles momentos difíceis, o Partido formou um bloco em torno de Lênin, Stalin e Sverdlov e apoiou o Comitê Central, tanto no problema da paz como nos demais problemas apresentados.

O grupo dos “comunistas de esquerda” ficou isolado e derrotado.

Para tomar uma decisão definitiva sobre o problema da paz, convocou-se o 7º Congresso do Partido Bolchevique.
O 7º Congresso, o primeiro que se convocava depois da tomada do poder,   abriu suas sessões em 6 de março de 1918.

Assistiram a ele 46 delegados com direito a palavra e voto, e 58 sem direito a votar. Estiveram representados neste Congresso 145 mil membros. Na realidade o Partido tinha já mais de 270 mil membros. Esta diferença se explica pelo caráter urgente do Congresso, o que impediu a muitas organizações enviar delegados, não tendo podido fazê-lo ainda as do território ocupado pelos alemães.

Informando sobre a paz de Brest-Litovsk, Lênin disse neste Congresso: “a dura crise que o nosso Partido atravessa, em virtude da formação dentro dele de uma oposição de esquerda, é uma das maiores crises pelas quais passou a revolução russa” (Lênin, t. XXXII, pág. 321, ed. russa).

A resolução apresentada por Lênin sobre a paz de Brest-Litovsk foi aprovada por 30 votos contra 12 a 4 abstenções.
No dia seguinte à aprovação desta resolução, Lênin escrevia em seu artigo intitulado “Uma paz desgraçada”:

“Insuportavelmente duras são as condições de paz. Mas apesar de tudo, a história se imporá... Mãos à obra a trabalhar na organização, na organização e na organização! O futuro é nosso, sejam quais forem às provas por que passarmos” (Obra citada, pág. 288).

Na resolução aprovada pelo Congresso se advertia que seria inevitável que no futuro surgissem também ataques bélicos dos Estados imperialistas contra a República dos Soviets, razão pela qual o Congresso considerava dever fundamental tomar as medidas mais enérgicas e decisivas com o objeto de aumentar a disciplina no seio do Partido e a dos operários e camponeses em geral, pôr as massas em condições de defender abnegadamente a pátria socialista, organizar o Exército Vermelho e instruir militarmente toda a população.

O Congresso, depois de ratificar a justeza da linha leninista no problema da paz de Brest-Litovsk, condenou a posição de Trotsky e de Bukharin e estigmatizou a tentativa dos “comunistas de esquerda”, derrotados, de prosseguirem seu trabalho divisionista.

A assinatura da paz de Brest-Litovsk deu ao Partido a possibilidade de ganhar tempo para consolidar o poder soviético e pôr em ordem a economia do país.

A assinatura da paz deu ao Partido a possibilidade de se aproveitar dos choques existentes dentro do campo imperialista (continuação da guerra da Áustria e da Alemanha com a Entente), de decompor as forças do adversário, organizar a economia soviética e criar o Exército Vermelho.

A paz de Brest-Litovsk permitiu ao proletariado manter do seu lado os camponeses e acumular forças para esmagar os generais brancos no período da guerra civil.

Durante o período da Revolução de Outubro, Lênin tinha ensinado ao Partido Bolchevique como se deve avançar resolutamente e sem medo, quando se dão as condições necessárias para isso. Durante o período da paz de Brest-Litovsk, ensinou-lhe como se deve retroceder, ordenadamente, quando as forças do adversário superam com toda a certeza as próprias, com o fim de preparar com a maior energia a nova ofensiva contra o inimigo.

A história confirmou plenamente a justeza da linha leninista.
No 7º Congresso se tomou a resolução de mudar o nome do Partido e de redigir um novo programa. O Partido passou a se chamar Partido Comunista da Rússia (bolchevique) – PCR(b). Lênin propôs este nome, por se ajustar exatamente ao objetivo que o Partido se propõe, que é a realização do comunismo.
Para a redação do novo programa foi escolhida uma Comissão Especial da qual fazia parte Lênin, Stalin e outros, tomando-se como base o projeto apresentado por Lênin.

O 7º Congresso realizou uma obra histórica formidável: derrotou os inimigos emboscados dentro do Partido, os “comunistas de esquerda” e os trotskistas, conseguiu tirar o país da guerra imperialista, conseguiu a paz, e com ela uma trégua que permitiu ganhar o tempo necessário para organizar o Exército Vermelho, e avançar na implantação da ordem socialista na economia nacional. 

O plano de Lênin para a construção do socialismo - A sublevação dos social-revolucionários de “esquerda” – O 5º Congresso dos Soviets e a Constituição da República Federativa Soviética da Rússia 

Depois de concluir a paz e obter uma trégua, o poder soviético abordou o problema de desenvolver a edificação do socialismo. Lênin chamava o período que vai desde novembro de 1917 até fevereiro de 1918 de período de “ataque da Guarda Vermelha contra o capital”. Durante o primeiro semestre do ano de 1918, o poder soviético concentrou em suas mãos os postos de direção da economia nacional (as fábricas e empresas industriais, os bancos, as estradas de ferro, o comércio exterior, a marinha mercante, etc.), demoliu o aparelho de Estado burguês e liquidou vitoriosamente as primeiras investidas da contra-revolução.

Mas tudo isto estava ainda muito longe de ser suficiente. Para poder avançar, era necessário passar da derrubada do velho para a construção do novo. Por isso, na primavera de 1918, se iniciou a passagem para a nova etapa da construção socialista, se passou da “expropriação dos expropriadores” à consolidação organizada das vitórias conseguidas, à edificação da economia nacional soviética. Lênin considerava necessário aproveitar-se até o “máximo” da trégua para abordar o problema de lançar os alicerces da economia socialista. Os bolcheviques tinham que aprender a organizar de um modo novo a produção e administrá-la. Lênin escrevia que o Partido Bolchevique tinha conseguido convencer a Rússia e tinha conseguido arrancá-la das mãos dos ricos para entregá-la ao povo; agora, dizia Lênin, é necessário que o Partido bolchevique aprenda a governar e administrar a Rússia.

Nesta etapa, Lênin reputava como tarefas fundamentais às de fazer a contabilidade do que se produzia na economia nacional e controlar o consumo de todos os artigos produzidos. Na economia russa predominavam os elementos pequeno-burgueses. Milhões de pequenos industriais e camponeses formavam o terreno que servia de base para o desenvolvimento do capitalismo. Estes pequenos empresários não reconheciam nem a disciplina do trabalho nem a disciplina geral do Estado; não se submetiam a nenhum requisito de contabilidade nem de controle. Naqueles momentos difíceis, constituía um perigo especialmente grande o elemento pequeno-burguês de especulação e mercantilismo, e as tentativas destes pequenos industriais e comerciantes de enriquecerem a custa da miséria do povo.

O Partido Bolchevique desencadeou uma luta enérgica contra a desídia na produção, contra a falta de disciplina de trabalho na indústria. As massas iam assimilando lentamente novos hábitos de trabalho. Isto fazia que a luta por uma disciplina no trabalho fosse, durante este período, a tarefa central.

Lênin assinalou a necessidade de desenvolver a emulação socialista na indústria, de implantar o salário pelo valor do trabalho, de lutar contra o igualitarismo, aplicando, lado a lado com as medidas persuasivas de educação, medidas de coação contra quantos pretendessem fraudar o Estado, contra os vagabundos e os especuladores. Achava que a nova disciplina, uma disciplina de trabalho, uma disciplina de camaradagem, uma disciplina soviética, seria forjada por milhões de trabalhadores, na prática do trabalho diário. E fazia notar que “esta obra preencherá toda uma época histórica” (Lênin, t. XXIII pág. 44 ed. russa).

Todos estes problemas da construção do socialismo, os problemas da criação de novas relações de produção de tipo socialista, foram esclarecidos por Lênin em seu notável trabalho intitulado “As Tarefas Atuais do Poder Soviético”.

Os “comunistas de esquerda”, de braço com os social-revolucionários e mencheviques, lutaram também contra Lênin, no que diz respeito a estes problemas. Bukharin, Osinski e outros se manifestaram contra a implantação de uma disciplina, contra a direção unipessoal das empresas, contra o emprego de especialistas na indústria, contra a instauração de um regime de contabilidade e controle financeiro. E caluniavam Lênin, afirmando que semelhante política representava a volta ao regime burguês. Ao mesmo tempo, os “comunistas de esquerda” pregavam a tese trotskista sobre a impossibilidade de levarem adiante na Rússia a edificação socialista e o triunfo do socialismo.

Por trás das frases “esquerdistas” dos “comunistas de esquerda” se escondia a defesa dos kulaks, dos vagabundos, dos especuladores, que eram inimigos da disciplina do trabalho e viam com hostilidade a regulamentação, pelo Estado, da vida econômica, o regime de contabilidade e de controle.
Depois de delinear os problemas da organização da nova indústria soviética, o Partido atacou os problemas do campo. No campo, estava em ebulição, naquele momento, a luta dos camponeses pobres contra os kulaks. Estes apoderavam-se das terras que tinham sido arrebatadas aos latifundiários. Os camponeses pobres necessitavam de ajuda. Os kulaks lutavam contra o Estado proletário, negando-se a vender-lhe o trigo ao preço taxado. Propunham-se obrigar o Estado Soviético, por meio da fome, a renunciar à implantação de medidas socialistas.


O Partido Bolchevique traçou a si mesmo o propósito de esmagar os kulaks contra-revolucionários. Para organizar os camponeses pobres e lutar com êxito contra os kulaks, que dispunham das sobras de trigo, organizou-se uma campanha dos operários no campo.

“Camaradas operários! – escrevia Lênin – Lembrem que a revolução passa por uma situação crítica. Lembrem que são vocês, e ninguém mais que vocês, que poderão salvar a revolução. Dezenas de milhares de operários escolhidos, avançados, dedicados à causa do socialismo, incapazes de se render ao suborno ou à rapina, capazes de criar uma força férrea contra os kulaks, os especuladores, os aproveitadores, os indivíduos venais, os desorganizadores; eis aí o que nos faz falta”. (Lênin, t. XXIII pág. 25, ed. russa).

“A luta pelo pão é a luta pelo socialismo”, disse Lênin, e sob esta palavra de ordem se desenvolveu a organização dos operários para a campanha nas aldeias. Baixou-se uma série de decretos, pelos quais se instaurava uma ditadura do abastecimento e se concediam aos órgãos do Comissariado de Abastecimento poderes extraordinários para comprar trigo a preços tabelados.

Por um decreto de 11 de junho de 1918, foram criados os Comitês de Camponeses Pobres. Estes Comitês desempenharam um grande papel na luta contra os kulaks, na nova partilha das terras confiscadas e na distribuição dos instrumentos de lavoura e dos animais de tração, na aquisição aos kulaks da sobra dos produtos e no aprovisionamento dos centros operários e do Exército Vermelho. 50 milhões de hectares de terras de posse dos kulaks passaram para as mãos dos camponeses pobres e médios. E foi confiscada aos kulaks, em benefício dos camponeses pobres, uma parte considerável dos meios de produção.

A organização destes Comitês de Camponeses Pobres representou uma etapa para frente na marcha da revolução socialista no campo. Estes Comitês eram os baluartes da ditadura do proletariado na aldeia. E foram, além disso, uma considerável medida, o caminho pelo qual se recrutaram os quadros do Exército Vermelho entre a população camponesa.

A campanha dos proletários nas aldeias e a organização dos Comitês de Camponeses Pobres garantiram o poder soviético no campo e tiveram uma enorme importância política para atrair os camponeses médios. Em fins de 1918, depois de cumprir sua missão, os Comitês de Camponeses Pobres deixaram de existir, fundindo-se com os soviets rurais.

Em 4 de julho de 1918, se abriu o 5º Congresso dos Soviets. Os social-revolucionários de “esquerda” desencadearam neste Congresso uma luta furiosa contra Lênin, em defesa dos kulaks. Exigiram que se pusesse fim à campanha contra os kulaks e se renunciasse a enviar ao campo destacamentos operários encarregados do abastecimento. E quando se convenceram de que sua atitude encontrava uma resistência firme por parte da maioria do Congresso, organizaram uma sublevação em Moscou, apoderaram-se de uma rua e começaram dali a disparar contra o Kremlin. Mas ao cabo de poucas horas, esta aventura social-revolucionária de “esquerda” foi aniquilada. E se bem que suas organizações locais tenham também tentado sublevar-se em uma série de pontos do país, a aventura foi rapidamente liquidada em toda a parte.

Como o processo contra o bloco direitista-trotskista acabou de demonstrar ultimamente, a sublevação dos social-revolucionários de “esquerda” se produziu com conhecimento e de acordo com Bukharin e Trotsky, e fazia parte do plano geral de um “complot” contra-revolucionário dos bukharinistas, trotskistas e  social-revolucionários de “esquerda” contra o poder soviético.

Por aqueles mesmos dias, o social-revolucionário de “esquerda” Bliumkim, que mais tarde passaria a ser agente de Trotsky, introduziu-se na embaixada alemã e, com o propósito de provocar uma guerra com a Alemanha, assassinou o embaixador alemão em Moscou, Mirbach. Mas o governo soviético conseguiu evitar a guerra e fazer fracassar a provocação dos contra-revolucionários.

No 5º Congresso dos Soviets foi aprovada a Constituição da República Socialista Federativa Soviética da Rússia, a primeira de todas as constituições soviéticas. 

O estado de espírito e a conduta dos camponeses médios, vacilantes entre a burguesia e o proletariado, tinham uma importância enorme para a sorte da guerra civil e da edificação socialista. O desenlace da guerra civil dependia, em boa parte, para o qual lado se inclinasse o camponês médio, da classe que soubesse conquistá-lo, de que esta classe fosse o proletariado ou a burguesia. Se os tchecoslovacos, os guardas brancos, os kulaks, os social-revolucionários e os mencheviques lograram derrubar o poder soviético na região do Volga, no verão de 1918, foi porque contaram com o apoio de uma parte considerável dos camponeses médios. E o mesmo ocorreu nas sublevações organizadas pelos kulaks na Rússia central. A partir, porém do outono de 1918, o estado de espírito das massas de camponeses médios começou a se orientar resolutamente para o poder soviético. Os camponeses viam que o triunfo dos brancos conduzia à restauração do poder dos latifundiários, com os conseqüentes despojos de terras, saques, torturas e espancamentos de camponeses. Para esta mudança operada quanto ao modo de pensar dos camponeses contribuiu também a atuação dos Comitês de Camponeses Pobres, que esmagou os kulaks. Em relação a isto, Lênin lançou, em novembro de 1918, esta palavra de ordem:

“Saber chegar a um acordo com os camponeses médios, sem cessar nem um minuto a luta contra os kulaks e tomando como sólido ponto de apoio somente os camponeses pobres”. (Lênin, t. XXIII, pág. 294, ed. russa).

É certo que as vacilações existentes entre os camponeses médios não cessaram totalmente, porém este setor da população camponesa se aproximou mais do poder soviético e começou a lhe prestar um apoio mais firme. Para isso contribuiu, em boa parte, a política traçada no 8º Congresso do Partido, em relação ao camponês médio.

O 8º Congresso marcou uma mudança na política do Partido a respeito dos camponeses médios. No informe de Lênin e nas resoluções do Congresso, destacou-se a nova linha do Partido em face deste problema. O Congresso exigiu que as organizações do Partido e todos os comunistas estabelecessem uma rigorosa diferença e separação entre os camponeses médios e os kulaks, fazendo por atrair os primeiros para o lado da classe operária mediante uma política de atenção solícita às suas necessidades. Era preciso lutar contra o atraso dos camponeses médios com o método da persuasão, porém de modo algum com medidas de coação e de violência. Por isso, o Congresso traçou a forma de que, ao implantar medidas socialistas no campo (ao criar as comunas e os artels agrícolas), não se permitisse à coação. Sempre que fossem feridos os interesses fatais dos camponeses médios, era necessário chegar a um acordo prático com eles e lhes fazer concessões quanto à utilização dos métodos de implantação das transformações socialistas. O Congresso resolveu aplicar uma política de sólida aliança com os camponeses médios, porém mantendo dentro dela o papel dirigente do proletariado.

A nova política de relações com os camponeses médios, preconizada por Lênin no 8º Congresso, exigia que o proletariado se apoiasse nos camponeses pobres, mantivesse uma sólida aliança com os camponeses médios e lutasse contra os kulaks. Até o 8º Congresso, o Partido havia seguido, em geral, a política de neutralizar os camponeses médios. Isto é, seu objetivo era conseguir que o camponês médio não se pusesse ao lado do kulaks, ao lado da burguesia, em geral. Porém, agora, isto já não bastava. O 8º Congresso passou da política de neutralização do camponês médio à política de uma sólida aliança com ele para lutar contra a intervenção dos guardas brancos e das tropas estrangeiras, assim como para a edificação vitoriosa do socialismo.

A linha traçada pelo 8º Congresso a respeito da atitude que se devia seguir com as grandes massas camponesas, com os camponeses médios, teve uma importância decisiva quanto ao desenlace vitorioso da guerra civil contra a intervenção estrangeira e os guardas brancos que lhe serviam de auxiliares.

No outono de 1919, quando tiveram que escolher entre o poder soviético e Denikin, os camponeses apoiaram os Soviets, e a ditadura proletária derrotou o seu mais perigoso inimigo.
No 8º Congresso se apresentou também, com caracteres especiais, o problema da organização do Exército Vermelho. Neste Congresso, se destacou a chamada “oposição militar”, na qual apareciam enquadrados não poucos dos antigos “comunistas de esquerda”. Porém justamente com estes representantes do “comunismo de esquerda”, já liquidado, a “oposição militar” englobava militantes do Partido que jamais haviam participado de nenhuma oposição, mas que estavam descontentes com a direção que Trotsky dava ao exército. A maioria dos delegados militares estava acentuadamente contra Trotsky, contra sua admiração pelos técnicos militares procedentes do velho exército czarista, uma parte dos quais traiu abertamente o poder soviético na guerra civil, contra a atitude arrogante e hostil de Trotsky para com os velhos quadros bolcheviques dentro do exército. No Congresso se aduziram exemplos da “forma prática” como Trotsky tentara fuzilar uma série de comunistas que ocupavam postos responsáveis na frente e que não lhe agradavam, fazendo com isso o jogo do inimigo, e como só graças à intervenção do Comitê Central e aos protestos dos militantes ativos da frente se conseguira evitar a morte desses camaradas.

Entretanto, ainda que lutando contra o desvirtuamento da política militar do Partido por Trotsky, a “oposição militar” defendia concepções falsas a respeito de uma série de problemas da organização do exército. Lênin e Stalin intervieram resolutamente contra a “oposição militar” que defendia as sobrevivências da guerrilha dentro do Exército e lutava contra a criação de um Exército Vermelho regular, contra o emprego dos técnicos militares, contra essa disciplina férrea sem a qual não pode existir um verdadeiro exército. Combatendo a “oposição militar”, o camarada Stalin exigia a criação de um exército regular, compenetrado do espírito da mais severa disciplina.

“Ou criamos – dizia o camarada Stalin – um verdadeiro exército operário-camponês, e predominantemente camponês, um exército rigorosamente disciplinado e defendemos a República, ou pereceremos”.
Ao mesmo tempo, porém, que rejeitava uma série de propostas da “oposição militar”, o Congresso assestou um golpe contra Trotsky, exigindo que se melhorasse a atuação dos organismos militares centrais e se reforçasse o papel dos comunistas dentro do Exército.

Como resultado do trabalho da comissão militar nomeada pelo Congresso, logrou-se que deste saísse uma resolução unânime sobre o problema militar.

As resoluções do 8º Congresso sobre o problema militar serviram para fortalecer o Exército Vermelho e estreitar ainda mais seus laços com o Partido.

O Congresso examinou, além disso, o problema da organização do Partido na atuação dos Soviets. Na discussão deste problema, o Congresso teve que rechaçar a posição do grupo oportunista Sapronov-Osinski, que negava o papel dirigente do Partido na atuação dos Soviets.

Finalmente, em relação à enorme afluência de novos filiados, o Congresso tomou a resolução de melhorar a composição social do Partido e rever os ingressos.

Era o passo para a primeira depuração das fileiras do Partido.  
Recrudesce a intervenção – Bloqueio do país soviético – Esmagamentp das campanhas de Kolchak e Denikin – Uma trégua de três meses – O 9º Congresso do Partido  
Depois de derrotar a Alemanha e a Áustria, os Estados da
-Entente decidiram lançar grandes efetivos militares contra o país soviético. Ao se retirarem as tropas alemãs, depois da derrota, da Ucrânia e da Transcaucásia, vieram ocupar seu posto os anglo-franceses, que enviaram a esquadra ao Mar Negro e desembarcaram suas tropas em Odessa e na Transcaucásia. A conduta seguida pelos intervencionistas da Entente nos territórios ocupados por eles era tão selvagem que chegavam a suprimir pelas armas grupos inteiros de operários e camponeses. Depois de ocupar o Turquestão, a selvageria dos invasores levou-os a aprisionar e conduzir ao Transcáspio 26 dirigentes bolcheviques de Baku, os camaradas Shaumian, Filetov, Dzhaparidse, Malyguin, Asisbekov, Korganov e outros, assassinando-os bestialmente, com a ajuda dos social-revolucionários.

Algum tempo depois, os intervencionistas declararam o bloqueio da Rússia. Ficaram cortadas todas as comunicações marítimas e de outro gênero com o mundo exterior.
Com isso o país soviético se via cercado quase por todas as partes.

A Entente depositava suas principais esperanças, naquele momento, no Almirante Kolchak, posto por ela na Sibéria, em Omsk. Kolchak foi proclamado “regente supremo da Rússia”. Toda a contra-revolução russa se achava sob seu comando.
A frente oriental passou a ser, portanto, a frente principal da guerra civil.

Na primavera de 1919, Kolchak, depois de reunir um formidável exército, se aproximou quase até o Volga. Foram lançadas contra ele as melhores forças bolcheviques: os jovens comunistas e os operários foram mobilizados. Em abril de 1919, o Exército Vermelho infligiu a Kolchak uma séria derrota. As tropas de Kolchak não tardaram em começar o recuo em toda à frente.

No momento em que as operações ofensivas do Exército Vermelho na frente oriental estavam em seu apogeu, Trotsky propôs um plano suspeito: deter-se diante dos Urais, cessar a perseguição dos kolchakistas e lançar as tropas da frente Oriental para a frente sul. O CC do Partido, compreendendo perfeitamente bem que não era possível deixar Urais e a Sibéria nas mãos de Kolchak, onde, com a ajuda dos japoneses e dos ingleses, poderia refazer-se e pôr-se de novo em pé, rechaçou aquele plano e deu instruções para prosseguir a ofensiva. Trotsky não concordando com estas instruções pediu demissão do seu posto; porém o CC se negou a isto, obrigando-o, ao mesmo tempo, a não intervir na direção das operações da frente oriental. A ofensiva do Exército Vermelho contra Kolchak continuou se desenvolvendo com renovado vigor. O Exército Vermelho infligiu-lhe uma série de novas derrotas e fez a limpeza dos brancos nos Urais e na Sibéria, onde o Exército Vermelho se encontrava apoiado por um potente movimento de guerrilheiros, organizados na retaguarda dos brancos.
No verão de 1919, os imperialistas confiaram ao general Yudenich, que se achava dirigindo a contra-revolução na frente noroeste (na região do Báltico, próxima de Petrogrado), a missão de distrair o Exército Vermelho da frente Oriental por meio dum ataque a Petrogrado. A guarnição de duas das fortalezas que defendiam essa capital, atingida esta agitação contra-revolucionaria dos oficiais brancos, se rebelou contra o poder soviético, e no Estado Maior da frente foi descoberto um “complot” contra-revolucionário. O inimigo ameaçava Petrogrado. Porém, graças às medidas tomadas pelo governo com a ajuda dos operários e dos marinheiros, as fortalezas foram limpas dos brancos, as tropas de Yudenich derrotadas, e o seu caudilho lançado para a Estônia.

A derrota de Yudenich perto de Petrogrado facilitou a luta contra Kolchak. Em fins de 1919, o seu exército foi definitivamente desbaratado. Kolchak foi detido e fuzilado em cumprimento da sentença baixada pelo Comitê Revolucionário.
Kolchak foi, pois, liquidado.
Na Sibéria, corria na boca do povo esta quadra depreciativa sobre Kolchak:  
“Uniforme inglês,
Ombreira francesa,
Tabaco japonês
De Omsk o amo é.
 
O uniforme se gastou
A ombreira encolheu
O tabaco se fumou
E o amo de Omsk se acabou”.
 
Em vista de Kolchak não ter correspondido às esperanças nele depositadas, os intervencionistas mudaram o plano de agressão contra a República dos Soviets. As tropas desembarcadas em Odessa tiveram de voltar de novo para bordo dos seus navios, pois o contato com as tropas da República Soviética lhes contagiava o espírito revolucionário e já começavam a se sublevar contra seus opressores imperialistas. Assim, por exemplo, em Odessa se sublevaram os marinheiros franceses sob a direção de André Marty. Tudo isto contribuiu para que, depois de esmagado Kolchak, a Entente concentrasse a atenção no general Denikin, companheiro de armas de Kornilov e organizador do “exército voluntário”. Denikin operava, naquele momento, no Sul, na região do Kuban. A Entente o municiou com grandes quantidades de armas e o fez marchar para o Norte contra o poder dos Soviets.

Portanto, à frente Sul passava a ser a frente principal da guerra civil.

Denikin começou a sua grande campanha no verão de 1919. Trotsky lançou por terra o trabalho realizado na frente sul, e as tropas soviéticas sofreram derrotas, uma atrás da outra. Em meados de outubro, os brancos eram donos de toda a Ucrânia, tomaram Orel e se aproximavam de Tula, que era o centro que abastecia o Exército Vermelho de cartuchos, fuzis e metralhadoras. Os brancos se aproximavam de Moscou. A situação da República Soviética era muito grave. O Partido deu o grito de alarme e chamou o povo para a resistência. Lênin lançou a palavra de ordem de “Todos à luta contra Denikin!”

Os operários e os camponeses, respondendo ao chamado dos bolcheviques, puseram em jogo todas as suas forças para esmagar o inimigo.

Com o objetivo de organizar o esmagamento de Denikin, o Comitê Central do Partido enviou à frente Sul os camaradas Stalin, Voroshilov, Ordzhonikidse e Budieny. Trotsky foi afastado da direção das operações do Exército Vermelho no Sul. Antes da chegada do camarada Stalin, o comando da frente Sul, de acordo com Trotsky, havia preparado um plano, segundo o qual o ataque principal contra Denikin se faria desde Tsaritsin sobre Novorossisk, através das estepes do Don, onde o Exército Vermelho teria que marchar por um terreno completamente impraticável e atravessar regiões povoadas por cossacos, uma parte considerável dos quais se achava então sob a influência dos guardas brancos. O camarada Stalin submeteu este plano a uma critica demolidora e propôs ao Comitê Central outro, concebido por ele, para esmagar Denikin, em que o ataque principal seguiria a linha Kharkov-Bacia do Donetz-Rostov. Este plano assegurava uma marcha rápida das tropas do Exército Vermelho contra Denikin, pois nele se previa a passagem do Exército Vermelho por regiões operárias e camponesas, isto é, por territórios em que a população simpatizava abertamente com as tropas soviéticas. Além disso, a rica rede ferroviária com que esta região contava permitia abastecer o Exército Vermelho com regularidade, de todos os elementos necessários. Finalmente, este plano oferecia a possibilidade de libertar a Bacia do Donetz, assegurando o aprovisionamento do país em combustível.

O Comitê Central aprovou o plano do camarada Stalin. Na segunda quinzena de outubro de 1919, depois de encarniçada resistência, Denikin foi derrotado pelo Exército Vermelho nos combates decisivos que se travaram perto de Orel e de Voronezh. Denikin começou a recuar com toda a pressa, dirigindo-se, precipitadamente, para o Sul, perseguidos pelas tropas soviéticas. No começo de 1920, a Ucrânia e o Cáucaso Norte tinham sido libertados do poder dos brancos.
Enquanto se travavam aqueles combates decisivos na frente Sul, os imperialistas voltaram a lançar o corpo de exército de Yudenich contra Petrogrado, com o fim de distrair da frente Sul forças do Exército Vermelho e de aliviar a situação das tropas de Denikin. Os brancos chegaram até as portas de Petrogrado. O heróico proletariado da capital formou com seus peitos uma muralha para defender a primeira cidade da revolução. Os comunistas lutaram, como sempre, na primeira linha. Depois de furiosos combates, os brancos foram derrotados e lançados de novo para outro lado das fronteiras da Rússia, para a Estônia.

Também Denikin foi, pois liquidado.

Depois de esmagados Kolchak e Denikin, a trégua que sobreveio foi de curta duração.

Quando os imperialistas viram que as tropas dos guardas brancos eram destroçadas, que a intervenção armada fracassava, que o Poder Soviético se fortalecia em todo o país e que na Europa Ocidental aumentava a indignação dos operários em face da guerra dos intervencionistas contra a República dos Soviets, começaram a mudar de atitude para com o Estado Soviético. Em janeiro de 1920, a Inglaterra, a França e a Itália decidiram levantar o bloqueio contra a Rússia Soviética.
Era esta uma brecha importantíssima, que se abria no muro da intervenção.

Isto não queria dizer, naturalmente, que o Estado Soviético pudesse dar já por terminadas a intervenção e a guerra civil. Havia ainda o perigo de que a Polônia imperialista se lançasse a um ataque. Os intervencionistas não haviam sido expulsos ainda definitivamente do Extremo Oriente, da Transcaucásia nem da Crimeia. Não obstante, o país dos Soviets obtinha uma trégua passageira, da qual se podia aproveitar para concentrar maiores forças na obra da edificação econômica. O Partido pôde ocupar-se dos problemas relacionados com a economia nacional.

Durante a guerra civil, abandonaram a produção muitos operários qualificados, pela paralisação de fábricas e oficinas. Agora, o Partido reintegrava na produção estes operários qualificados para que trabalhassem em suas especialidades. Foram mobilizados alguns milhares de comunistas para a restauração dos transportes, cuja situação era muito difícil. Sem restaurar os transportes, não se podia pensar seriamente em restaurar os ramos fundamentais da indústria. Reforçou-se e melhorou-se também o abastecimento. Começou-se a traçar um plano de eletrificação do país. Achavam-se de armas nas mãos 5 milhões de combatentes do Exército Vermelho, que não era possível licenciar, pois subsistia o perigo de guerra. Por isso, algumas unidades do Exército Vermelho foram convertidas num Exército de Trabalho, utilizando-as no terreno da edificação econômica. O conselho da Defesa operária e camponesa se transformou no Conselho do Trabalho e da Defesa (S.T.O). Para auxiliá-lo, criou-se a Comissão do Plano de Estado (Gosplan). 

Tal era a situação existente em fins de março de 1920 ao se reunir o 9º Congresso do Partido.

Tomaram parte neste Congresso 554 delegados com direito de palavra e voto, representando 611.978 filiados ao Partido. Assistiram a ele, além disso, 162 delegados com palavra, porém sem voto.

O Congresso determinou as tarefas econômicas mais urgentes do país em matéria de transportes e indústria, assinalando especialmente a necessidade de que os sindicatos tomassem parte na edificação econômica.

Este Congresso consagrou atenção especial ao problema da formação dum plano econômico de conjunto, destinado a pôr de novo em marcha, em primeiro lugar, o transporte, o combustível e a metalurgia. O eixo deste plano era o problema da eletrificação de toda a economia nacional, que Lênin destaca como “um grande programa para 10 ou 20 anos”. Sobre estas bases traçar-se-ia mais tarde o celebre plano GOELRO (plano de eletrificação do país), que hoje se acha ultrapassado.

O Congresso combateu o grupo do “centralismo democrático”, grupo contrário ao Partido, que se manifestava contra o princípio da direção e da responsabilidade individuais nas empresas industriais e defendia o sistema da direção “coletiva” ilimitada e da irresponsabilidade na indústria. Os porta-vozes deste grupo antibolchevique eram Sapronov, Osinski e V. Smirnov. No Congresso, eram secundados por Rykov e Tomski.  

Agressão dos “panis” polacos –
Aparecimento do general Wrangel –

Fracasso do plano dos polacos –

Fim da intervenção armada            

Apesar do esmagamento de Kolchak e Denikin, apesar do país soviético aumentar cada vez mais seu território, libertando do poder dos brancos e dos intervencionistas a região do Norte, o Turquestão, Sibéria, o Don, Ucrânia etc., e apesar da Entente se ver obrigada a levantar o bloqueio da Rússia, os Estados da Entente não se queriam resignar à idéia de que o poder soviético fosse inexpugnável e saísse vencedor. Decidiram, então, empreender uma nova tentativa de intervenção. Desta vez, mobilizaram para a empresa, de uma parte, Pilsudski, nacionalista contra-revolucionário burguês, que era, de fato, o chefe do Estado polaco, e de outra parte o general Wrangel, que havia reunido na Crimeia os restos do exército de Denikin, ameaçando de lá a bacia do Donetz e a Ucrânia.
A Polônia dos “panis” (a nobreza latifundiária polaca) e Wrangel eram, segundo a expressão de Lênin, os dois braços do imperialismo internacional que tentavam estrangular o país soviético.

O plano dos polacos era: ocupar a parte da Ucrânia Soviética situada à direita do Dnieper, anexar o território Soviético da Bielorússia, instaurar nessas regiões o Poder dos “panis” polacos, estender as fronteiras do Estado polaco “de mar a mar”, isto é, de Dantzig a Odessa, e, em pagamento pela ajuda que lhes prestaria Wrangel, ajudar este a destruir o Exército Vermelho e restaurar na Rússia Soviética o poder dos latifundiários e capitalistas.

Este plano foi aprovado pelos Estados da Entente.

As tentativas do governo soviético de entrar em negociações com a Polônia para manter a paz e impedir a guerra não deram resultado nenhum. Pilsudski não queria falar em paz. Pilsudski queria a guerra. Especulava com a idéia de que os combatentes do Exército Vermelho, cansados das campanhas de Kolchak e Denikin, seriam esmagados pelas tropas polacas.

A breve trégua terminou.


Em abril de 1920, as tropas polacas lançaram-se sobre a fronteira da Ucrânia Soviética e ocuparam a cidade de Kiev. Ao mesmo tempo, Wrangel passou à ofensiva e começou a ameaçar a bacia de Donetz.

Como réplica ao ataque das tropas polacas, as tropas do Exército Vermelho lançaram uma contra-ofensiva em toda à frente. Depois de libertar a cidade de Kiev, e de expulsar os “panis” polacos da Ucrânia e da Bielorússia, os combatentes vermelhos da frente Sul chegaram, em impetuoso avanço, até as portas de Lemberg, na Galitzia, enquanto que as tropas da frente ocidental se aproximaram de Varsóvia. A derrota total do exército dos “panis” polacos era iminente.  

Mas os manejos de Trotsky e seus adeptos do Estado Maior Central do Exército Vermelho frustraram os êxitos. A ofensiva das tropas vermelhas da frente ocidental em direção a Varsóvia se desenvolveu – por culpa de Trotsky e de Tukachevski – sem organização alguma: não se fez com que as tropas fortificassem as posições conquistadas; as unidades que marchavam na frente se afastaram demasiado do resto das forças; as reservas e as munições ficaram atrasadas na retaguarda com o que as unidades da vanguarda se viam abandonadas, sem munições e sem reservas: a linha de frente era interminavelmente longa, podendo, portanto, romper-se a frente com grande facilidade.

Assim se explica que, quando um pequeno grupo de tropas polacas rompeu a frente ocidental do Exército Vermelho num de seus pontos, as tropas vermelhas, que estavam sem munições, se viram em má situação, obrigadas a se retirar. Quanto às tropas da frente Sul, que se achavam às portas de Lemberg, onde mantinham os polacos em má situação, o triste “presidente do Conselho Revolucionário de Guerra”, Trotsky, lhes proibiu que tomassem a cidade e ordenou que o exército de cavalaria, isto é, a principal força da frente Sul, se dirigisse a um ponto longe da frente Noroeste, sob pretexto de que se tratava de socorrer a frente ocidental, ainda que não fosse difícil compreender que a única e a melhor ajuda que se podia prestar a esta frente era a tomada da cidade de Lemberg. Ao contrário, retirar da frente Sul o exército de cavalaria, afastando-o de Lemberg, equivalia, de fato, a fazer extensiva à frente meridional a retirada das tropas do Exército Vermelho. Assim foi como a ordem sabotadora de Trotsky impôs às tropas do Exército Vermelho da frente Sul, com alegria dos “panis” polacos, uma retirada inconcebível e absolutamente injustificável.

Com esta manobra, se ia efetivamente, em socorro, não de nossa frente ocidental, mas dos “panis” polacos e da Entente.
Alguns dias depois, conteve-se a ofensiva das tropas polacas, e o Exército Vermelho começou a se preparar para um novo ataque. A Polônia, porém, que carecia de forças para prosseguir a guerra e que, alarmada, esperava o contra-ataque dos vermelhos, foi obrigada a renunciar às suas ambições a respeito da ocupação do território ucraniano situado à margem direita do Dnieper e da Bielorússia, propondo ao governo soviético a paz. Em 20 de Outubro de 1920, assinou-se em Riga o tratado de paz com a Polônia, em virtude do qual esta conservava o território da Galitzia e uma parte da Bielorússia.
Depois de estabelecer a paz com a Polônia, a República Soviética decidiu terminar com Wrangel. Este recebera dos ingleses e dos franceses novas remessas de armas moderníssimas: carros blindados, tanques, aviões e munições em abundância. Dispunha de unidades brancas de choque, formadas, principalmente, por oficiais.

A discussão acerca dos sindicatos tinha, na realidade, uma importância que transcendia em muito os limites do problema sindical. Como mais tarde assinalou a resolução do pleno do CC do Partido Comunista (b) da Rússia (17 de janeiro de 1925), de fato a polêmica girava em torno da atitude que se devia tomar com os camponeses que se rebelavam contra o comunismo de guerra, em torno da atitude que se devia tomar com a massa de operários sem partido, e em geral, em torno do método de como o Partido devia abordar as massas, num período em que a guerra civil já havia terminado (Resoluções do PC (b) da URSS, parte I, pág. 651).

Depois de Trotsky, intervieram também outros grupos contrários ao Partido: a “oposição operária” (Shliapnikov, Medvediev, Kolontai e outros), os “centralistas democráticos” (Sapronov, Drobin, Boguslavski, Osinski, V. Smirnov, etc.), e os “comunistas de esquerda” (Bukharin e Preobrazhenski).

A “oposição operária” formulava a palavra de ordem de entregar a direção de toda a economia nacional ao “Congresso de produtores de toda a Rússia”. Reduzia a zero o papel do Partido e tirava toda a significação à ditadura do proletariado no terreno da edificação econômica. Contrapunha os sindicatos ao Estado Soviético e ao Partido Comunista. Segundo ela, a forma mais alta de organização da classe operária não era o Partido, e sim os sindicatos. No fundo, a “oposição operária” era um grupo de tipo anarco-sindicalista, contrário ao Partido.
 
O grupo do “centralismo democrático” (os deístas) reivindicava a liberdade mais completa para a formação de frações e grupos dentro do Partido. Como os trotskistas, os “centralistas democráticos” se esforçavam em solapar o papel dirigente do Partido dentro dos Soviets e dos Sindicatos. Lênin dizia deles que eram a fração “dos que gritavam mais forte”, e que a sua plataforma era social-revolucionária-menchevique.
Na luta contra Lênin e o Partido, Trotsky foi ajudado por Bukharin. Foi este quem, em união com Preobrazhenski, Serebriakov, e Sokolnikov, criou um grupo “pára-choque”. Este grupo defendia e encobria os divisionistas mais perniciosos: os trotskistas. Lênin qualificou a conduta de Bukharin como “o cúmulo da decomposição ideológica”. Pouco depois os bukharinistas se uniram abertamente aos trotskistas contra Lênin.

Lênin e os leninistas dirigiam, principalmente, os seus tiros contra os trotskistas, nos quais viam a força principal dos grupos antibolcheviques. Acusavam os trotskistas de confundir os sindicatos com organizações de tipo militar, fazendo-lhes ver que não era possível transplantar aos sindicatos os métodos próprios daquelas organizações. Em face da plataforma dos grupos de oposição, Lênin e os leninistas formularam a sua própria. Nesta se sustentava que os sindicatos eram uma escola de governo, uma escola de administração econômica e uma escola de comunismo. Os sindicatos deviam organizar todo o trabalho na base do método da persuasão. Só assim poderiam levantar todos os operários para a luta contra o desastre econômico e conseguiriam interessa-los pela obra da edificação socialista da economia nacional.

Na luta contra os grupos da oposição, as organizações do Partido cerraram as suas fileiras em torno de Lênin. A luta adquiriu um caráter especialmente agudo em Moscou. Era aí onde a oposição concentrava suas principais forças, ambicionando apoderar-se da organização do Partido nessa capital. Porém os bolcheviques de Moscou combateram devidamente as manobras dos divisionistas. A luta nas organizações do Partido na Ucrânia também se revestiu de caracteres agudos. Sob a direção do camarada Molotov que era então secretário do CC do Partido Comunista (b) da Ucrânia, os bolcheviques ucranianos esmagaram os sequazes de Trotsky e Shliapnikov. O Partido Comunista da Ucrânia continuou sendo um baluarte fiel do Partido Leninista. Em Baku, o esmagamento da oposição se organizou sob a direção do camarada Ordzhonikidse. Na Ásia Central, foi o camarada Lázaro Kaganovich quem dirigiu a luta contra os grupos contrários ao Partido.

Todas as organizações fundamentais de base do Partido aderiram à plataforma leninista.

Em 8 de março de 1921, o 10º Congresso do Partido inaugurou suas tarefas. Assistiram a ele 694 delegados com direito de palavra e voto, representando 732.521 filiados, e 296 delegados com palavra, porém sem voto.

O Congresso fez o balanço da discussão sobre os sindicatos e aprovou por uma maioria esmagadora a plataforma leninista.
No seu discurso de abertura do Congresso, Lênin declarou que esta discussão representava um luxo intolerável. Assinalou que o inimigo fazia seu jogo com a luta intestina e a discórdia dentro do Partido Comunista.

Notando o enorme perigo que representava para o Partido bolchevique e para a ditadura do proletariado a existência de grupos divisionistas, o 10º Congresso consagrou atenção especial ao problema da unidade do Partido. Acerca deste ponto Lênin deu o informe. O Congresso condenou todos os grupos da oposição e destacou que estes grupos “de fato, ajudam os inimigos de classe da revolução proletária”.

O Congresso ordenou a imediata dissolução de todos os grupos divisionistas e encarregou todas as organizações para que velassem rigorosamente pela execução desta resolução; bem entendido que o não cumprimento das decisões do Congresso acarretaria a expulsão indiscutível e imediata do Partido. O Congresso deu plenos poderes ao Comitê Central para que este, em caso de infração da disciplina por parte de qualquer dos seus membros e em caso de que ressuscitasse ou se permitisse qualquer fração, aplicasse quantas sanções de Partido fossem necessárias, chegando inclusive a expulsar do Comitê Central e do Partido quem infringisse suas resoluções.

Todas estas decisões figuravam em uma resolução especial “Sobre a unidade do Partido”, redigida por Lênin e aprovada pelo Congresso.

Nesta resolução, o Congresso chamava a atenção de todos os filiados ao Partido para o fato de que a unidade e a coesão dentro das suas fileiras, a unidade de vontade da vanguarda do proletariado era especialmente necessária num momento como aquele em que se celebrava o 10º Congresso do Partido, em que uma série de circunstâncias contribuíram para acentuar as vacilações existentes entre a população pequeno-burguesa.
“Entretanto – dizia-se na resolução do Congresso, - no Partido se tinham revelado, já antes da discussão entabulada em todas as suas organizações acerca dos sindicatos, alguns sintomas de divisionismo, isto é, de formação de grupos com uma plataforma especial e com a tendência a constituir até certo ponto grupos à parte com sua disciplina própria. É necessário que todo operário consciente compreenda claramente o caráter pernicioso e inadmissível de todo divisionismo, o qual conduz inevitavelmente, na prática, ao esfacelamento do trabalho fraternal e às tentativas acentuadas e repetidas dos inimigos, que se infiltram sempre nas fileiras de um Partido governamental, com o objetivo de aprofundar as dissensões dentro deste e servir-se delas para os fins da contra-revolução”. Em outro lugar desta mesma resolução, dizia o Congresso:
“De que forma os inimigos do proletariado se aproveitam de todos os desvios da linha comunista, rigorosamente traçada, revelou-o de modo bem claro o exemplo da sublevação de Kronstadt, na qual a contra-revolução burguesa e os guardas brancos de todos os países do mundo se mostraram imediatamente dispostos a acatar inclusive a palavra de ordem do regime soviético, na medida em que pudessem derrubar a ditadura do proletariado na Rússia, no que os social-revolucionários e a contra-revolução burguesa, em geral, deram acolhidas, em Kronstadt, à palavra de ordem da insurreição simulando fazê-lo em nome do Poder Soviético contra o Governo Soviético da Rússia. Estes fatos demonstram plenamente que os guardas brancos aspiram a disfarçar-se e sabem disfarçar-se de comunistas e até de gente ainda “mais esquerdista” que eles, com o fim de enfraquecer e derrubar o baluarte da revolução proletária na Rússia.

Os folhetos mencheviques que circularam em Petrogrado nas vésperas da sublevação de Kronstadt revelam ao mesmo tempo como os mencheviques se aproveitavam das discrepâncias existentes dentro do Partido Comunista da Rússia, para estimular e apoiar de fato os sediciosos de Kronstadt, os social-revolucionários e guardas brancos, embora de palavra se fizessem passar por adversários dos sediciosos e partidários do poder soviético, do qual segundo eles, só os separavam algumas diferenças de pouca monta”.

A resolução indicava que a propaganda do Partido devia explicar minuciosamente quão pernicioso era o divisionismo do ponto de vista da unidade do Partido e da consecução da unidade de vontade da vanguarda do proletariado, como condição fundamental para o triunfo da ditadura proletária.
De outra parte, a propaganda do Partido – dizia a citada resolução do Congresso – devia explicar a peculiaridade dos novíssimos métodos táticos postos em prática pelos inimigos do poder soviético.

“Estes inimigos – destacava a resolução, – convencidos do fracasso irremediável da contra-revolução sob a bandeira descarada dos guardas brancos, encaminham agora todos os seus esforços, aproveitando-se das dissensões existentes dentro do Partido Comunista da Rússia, para passar de contrabando a contra-revolução por meio da entrega do poder aos grupos políticos mais dispostos, em aparência, ao reconhecimento do Poder Soviético”. (Resoluções do PC (b) da URSS”, parte I, págs. 373-374).

Esta resolução indicava, ao mesmo tempo, que a propaganda do Partido “devia explicar também a experiência das anteriores revoluções, em que a contra-revolução apoiava os grupos pequeno-burgueses mais próximos do partido revolucionário mais avançado, para fazer vacilar e derrubar a ditadura revolucionária, abrindo assim o caminho para dar, a seguir, o triunfo completo à contra-revolução, aos capitalistas e aos latifundiários”.

Intimamente unida à resolução “Sobre a unidade do Partido” se achava outra resolução “Sobre o desvio sindicalista e anarquista dentro do nosso Partido”, também igualmente aprovada pelo Congresso por proposta de Lênin. Nesta resolução, o 10º Congresso condenava a chamada “oposição operária”. O Congresso considerou que a propaganda das idéias do desvio anarco-sindicalista era incompatível com o fato de militar no Partido Comunista e exortava o Partido a lutar resolutamente contra este desvio.

O 10º Congresso tomou a importantíssima resolução de passar do sistema da quotização ao do imposto em espécie, de passar à nova política econômica (“NEP”).

Esta mudança do comunismo de guerra para a “nova política econômica” revela toda a sabedoria e a profundidade de visão da política leninista.

Na resolução do Congresso, tratava-se da substituição do regime das quotas pelo do imposto em espécie. Este imposto era menor que o da quotização. O valor de imposto se devia tornar público antes da semeadura da primavera, os prazos de entrega do imposto se assinalavam com toda a precisão. Tudo que excedesse do imposto se deixava à livre e plena disposição do camponês, a quem se concedia liberdade de vender esses produtos. A principio, a liberdade de venda se traduzia – dizia Lênin no seu informe – em uma certa reanimação do capitalismo dentro do país. Será necessário consentir o comércio privado e autorizar aos particulares dedicados à indústria a abertura de pequenas empresas. Não havia, porém motivo para ter medo disso. Lênin entendia que uma certa liberdade de circulação de mercadorias estimularia o interesse econômico do camponês, incrementaria a produtividade do seu trabalho e elevaria rapidamente o rendimento da agricultura; que sobre esta base se restauraria a indústria do Estado e se desalojaria o capital privado; que depois de acumular forças e recursos, se poderia criar uma potente indústria, base econômica para o socialismo, e logo depois passar decididamente à ofensiva, para destruir os restos do capitalismo dentro do país.

O comunismo de guerra foi a tentativa de tomar de assalto, atacando de frente a fortaleza dos elementos capitalistas da cidade e do campo. Neste ataque, o Partido avançou demasiado, expondo-se ao perigo de perder o contato com sua base. Agora, Lênin propunha efetuar um pequeno recuo, retroceder provisoriamente para se aproximar da retaguarda, passar da luta por assalto ao método mais lento de cercar a fortaleza, para acumular forças, e logo depois se lançar de novo ao ataque.

Os trotskistas e outros elementos da oposição entendiam que a NEP era, exclusivamente, uma retirada. Esta interpretação favorecia os seus interesses, já que a linha que eles seguiam era a de restaurar o capitalismo. Esta, porém era uma interpretação da NEP, profundamente perniciosa e antileninista. Com efeito, um ano depois de se implantar a NEP, no 11º Congresso do Partido, Lênin declarava que o recuo havia terminado e lançou a seguinte palavra de ordem: “Preparação da ofensiva contra o capital privado” (Lênin t. XXVII pág. 213, ed. russa).

Os elementos da oposição, que eram maus marxistas e supinamente ignorantes em matéria de política bolchevique, não compreendiam nem a essência da NEP, nem o caráter do recuo empreendido ao se iniciar esta. Da essência da NEP já falamos. Com relação ao caráter do recuo, diremos que há várias classes de recuo. Há momentos em que os partidos ou os exércitos se vêm obrigados a recuar por terem sofrido uma derrota, e nestes casos o exército ou o partido recua para se salvar e salvar seus quadros com vistas a novos combates. Não era esta a classe de recuo que Lênin propusera ao se implantar a NEP, já que o Partido, não só não havia sofrido uma derrota, nem estava vencido, senão que, pelo contrário, era ele quem havia derrotado os intervencionistas e os guardas brancos na guerra civil. Mas há também momentos, em que um partido ou um exército vitorioso, em seu ataque, avança demasiado, sem deixar assegurada uma base na retaguarda. E isto constitui um perigo grave. Em tais casos, um partido ou um exército experimentado sente em geral, para não perder o contato com sua base, a necessidade de retroceder um pouco, aproximando-se da retaguarda, para estabelecer um contato mais forte com sua base nela, assegurando-se de tudo aquilo que necessita, e poder logo depois lançar-se de novo ao ataque, com maior segurança e garantia de êxito. Esta classe de recuo temporário era precisamente a que Lênin aplicara com a NEP. Informando perante o 4º Congresso da Internacional Comunista acerca das causas que obedecera a implantação da NEP, Lênin declarou publicamente que “com a nossa ofensiva econômica tínhamos avançado demasiado e não tínhamos assegurado uma base suficiente”, razão por que foi necessário efetuar um recuo passageiro para a retaguarda consolidada.

A desgraça da oposição estava em que não compreendia, na sua ignorância, nem compreendeu até o fim dos seus dias, esta característica peculiar que o recuo da NEP representava.

A resolução do 10º Congresso acerca da NEP assegurava uma sólida aliança econômica entre a classe operária e os camponeses para a edificação do socialismo.
Outra das resoluções do Congresso, que perseguia também esta finalidade fundamental, era a referente ao problema nacional.

O informe acerca deste ponto ficou a cargo do camarada Stalin. Acabamos – disse o camarada Stalin – com a opressão nacional, porém isto não basta. O problema consiste em acabar com a onerosa herança do passado, com o atraso econômico, político e cultural dos antigos povos oprimidos. É necessário ajudá-los a se colocar, a este respeito, no nível da Rússia Central.

O camarada Stalin destacava, além disso, dois desvios contrários ao Partido no tocante ao problema nacional: o chauvinismo grão russo, e o do nacionalismo localista. O Congresso condenou ambos os desvios como perniciosos e perigosos para o comunismo e o internacionalismo proletário. Ao mesmo tempo, porém, dirigiu seus ataques, principalmente, já que representava o perigo fundamental, contra o chauvinismo grão-russo, isto é, contra os vestígios e as sobrevivências da atitude que os chauvinistas grão-russos adotavam ante as nacionalidades não russas, sob o czarismo. 
Primeiros resultados da “NEP” –O 11º Congresso do Partido –
Fundação da URSS – Enfermidade de Lênin – O Plano Cooperativo de Lênin – O 12º Congresso do Partido 

A implantação da NEP chocou-se com a resistência dos elementos instáveis do Partido. Esta resistência vinha de dois lados. De uma parte, atuavam os tagarelas de “esquerda”, abortos políticos no estilo de Lominadse, Shatskin e outros, os quais “demonstravam” que a NEP era a renúncia às conquistas da Revolução de Outubro, a volta ao capitalismo, o afastamento do Poder Soviético. Sua ignorância em matéria de política e seu desconhecimento das leis do desenvolvimento econômico incapacitavam estes indivíduos para compreender a política do Partido e faziam-nos cair no pânico e fomentar em torno de si um ambiente de desmoralização, de decadência. De outra parte, atuavam os capituladores declarados, da estirpe de Trotsky, Radek, Zinoviev, Sokolnikov, Kamenev, Shliapnikov, Bukharin, Rykov e outros que não tinham fé na possibilidade de desenvolvimento socialista do país soviético, prosternavam-se ante a “potência” do capitalismo e, aspirando a fortalecer as posições dele no país dos Soviets, exigiam que se fizessem grandes concessões ao capital privado, tanto dentro do país como fora dele, e que se lhe desse uma série de postos importantes na economia nacional, à base de concessões ou de sociedades por ações mistas com participação do capital privado.

Nem uns nem outros tinham nada a ver com o marxismo, com o leninismo. O Partido desmascarou e isolou uns e outros elementos, dando uma réplica contundente aos semeadores de pânico e aos capituladores.

Esta resistência que se opunha à política do Partido mostrava uma vez mais a necessidade de depurar este dos elementos pouco firmes. Com relação a isso, o CC desenvolveu um grande trabalho de fortalecimento do Partido, organizando em 1921 a depuração de suas fileiras. A depuração foi feita nas assembléias públicas, com intervenção dos sem partido. Lênin aconselhava que se depurasse conscienciosamente o Partido “dos malandros, dos elementos burocratizados, dos indivíduos pouco honrados, dos comunistas vacilantes e dos mencheviques que, embora tivessem rebocado sua ‘fachada’, em espírito continuavam sendo mencheviques” (Lênin, t. XXVII, pág. 13 ed. russa).

Como conseqüência desta depuração, foram expulsas do Partido, em conjunto, 170.000 pessoas, ou seja, cerca de 25% do total de filiados.

Esta depuração fortaleceu consideravelmente o Partido, melhorou a sua contextura social, reforçou a confiança das massas no Partido e fez com que aumentasse a sua autoridade. A coesão e o grau de disciplina do Partido cresceram.

O primeiro ano de aplicação da nova política econômica evidenciou a justeza desta política. A mudança para a NEP fortaleceu consideravelmente a aliança entre os operários e os camponeses, sobre uma nova base. Aumentaram a potência e a fortaleza da ditadura do proletariado. Liquidou-se quase totalmente o banditismo dos kulaks. Depois da abolição do sistema de quotas, os camponeses médios ajudaram o poder soviético a lutar contra aqueles bandos. O poder soviético conservava nas suas mãos todas as posições de direção da economia nacional: a grande indústria, os transportes, os bancos, a terra, o comércio interno e externo. O Partido conseguiu mudar decisivamente a frente econômica. Manifestaram-se os primeiros êxitos no campo da indústria e dos transportes. Iniciou-se um avanço, lento no começo, é verdade, porém indubitável, no terreno da economia. Os operários e os camponeses sentiam e viam que o Partido estava em bom caminho.

Em março de 1922, se reuniu o 11º Congresso do Partido. Assistiram a ele 522 delegados com direito de palavra e voto, representando 532.000 filiados; isto é, menos que no Congresso anterior. Os delegados com palavra, porém sem voto, eram 165.

A diminuição da cifra dos filiados se explica pela depuração das fileiras do Partido, que já tinha começado.     

Neste Congresso, foi feito o balanço do primeiro ano da nova política econômica. Os resultados obtidos permitiram a Lênin declarar perante o Congresso:

“Durante um ano, retrocedemos. Agora, devemos declarar em nome do Partido: Basta! O objetivo que perseguíamos com o nosso recuo foi alcançado. Este período chega ao seu fim ou já finalizou. Agora, passa ao primeiro plano outro objetivo: reagrupar as forças.” (Lênin, t. XXVIII, pág. 238, ed. russa).
Lênin destacou que a NEP era uma luta desesperada, uma luta de vida ou de morte, entre o capitalismo e o socialismo. “Quem vencerá a quem?”, assim estava proposto o problema. Para vencer, era necessário assegurar os laços entre a classe operária e os camponeses, entre a indústria socialista e a economia camponesa, desenvolvendo por todos os meios o intercâmbio de mercadorias entre a cidade e o campo. Para isto era preciso aprender a administrar, era preciso aprender a comercializar de um modo inteligente.

Neste período, o elo fundamental da cadeia de tarefas que se apresentavam ao Partido era o comércio. Sem resolver este problema, era impossível desenvolver o intercâmbio de mercadorias entre a cidade e o campo, era impossível fortalecer a aliança econômica entre os operários e os camponeses, era impossível levantar a economia rural e tirar do marasmo a indústria.

Naquele momento, o comércio soviético era ainda muito débil. O aparelho comercial era muito fraco, os comunistas não tinham hábitos comerciais, ainda não conheciam a fundo o inimigo – “nepman” - nem tinham aprendido a lutar contra ele.

Os comerciantes privados, os nepman, aproveitando-se da debilidade do comércio soviético, se apoderaram do comércio dos artigos manufaturados e de outras mercadorias de fácil colocação. O problema da organização de um comércio de Estado e de um comércio cooperativo adquiria uma imensa importância.

Depois do 11º Congresso, tomou novas forças o trabalho de tipo econômico. Foram liquidadas com êxito as conseqüências acarretadas pela má colheita. A economia camponesa ia-se refazendo rapidamente. O funcionamento das estradas de ferro se aperfeiçoava. Aumentava sem cessar o número de fábricas e empresas industriais que trabalhavam.

Em outubro de 1922, a República Soviética festejou um grande triunfo: O Exército Vermelho e os guerrilheiros do extremo-oriente limparam a cidade de Vladivostok dos intervencionistas japoneses, que era o único setor do território soviético ocupado ainda pelos invasores. Agora que todo o território soviético estava limpo de intervencionistas, que as tarefas da edificação do socialismo e da defesa do país exigiam que se fortalecesse ainda mais a união dos povos soviéticos, pôs-se na ordem do dia o problema de aglutinar mais estreitamente ainda as Repúblicas Soviéticas dentro de uma União de Estados. Era necessário unificar todas as forças populares para a construção do socialismo. Era necessário organizar energicamente a defesa do país. Era necessário assegurar o pleno desenvolvimento de todas as nacionalidades da Pátria socialista. Para conseguir isto, compunha-se a necessidade de agrupar mais estreitamente ainda todos os povos do país soviético.

Em dezembro de 1922, celebrou-se o primeiro Congresso dos Soviets de toda a União. Neste Congresso fundou-se por proposta de Lênin e Stalin a união voluntária e livre formada pelos Estados dos povos soviéticos: a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Faziam parte da URSS, no inicio, a República Socialista Federativa Soviética da Rússia (RSFSR), a República Socialista Federativa Soviética da Transcaucásia (RSFST), a República Socialista Soviética da Ucrânia, (USSU) e a República Socialista Soviética da Bielorússia (RSSB). Pouco tempo depois, se constituíram na Ásia Central três Repúblicas Soviéticas independentes dentro da União: as Repúblicas do Uzbequistão, Turcomenistão e Tadzikistão. Todas estas Repúblicas se agruparam na União dos Estados Soviéticos, a URSS, sobre a base de sua livre vontade, com direitos iguais, e conservando cada uma delas a faculdade de abandonar livremente a União Soviética. 

O Congresso ratificou a criação do Comissariado do povo para o Comércio Interior e propôs a todos os organismos comerciais a tarefa de dominar o mercado e desalojar da órbita comercial o capital privado.

O Congresso propôs a tarefa de desenvolver o crédito do Estado a favor dos camponeses com juros baixos, desalojando da aldeia o agiota.

Como tarefa fundamental para a atuação no campo, o Congresso destacou a palavra de ordem de desenvolver por todos os meios a cooperação entre as massas camponesas.
Finalmente, o Congresso assinalou a enorme importância da promoção leninista e chamou a atenção do Partido para a necessidade de reforçar o trabalho de educação dos novos filiados ao Partido, e, sobretudo da promoção leninista, instruindo-os nos fundamentos do leninismo.          

A URSS no final do período de restauração da economia nacional – O problema da edificação e do triunfo do socialismo no país soviético – A “nova oposição” de Zinoviev-Kamenev – O 14º Congresso do Partido          

O Partido Bolchevique e a classe operária estavam já com quatro anos de luta tenaz pela rota da nova política econômica. O heróico trabalho de restauração da economia nacional chegava a seu fim. A potência econômica e política da União Soviética crescia sem cessar.

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