terça-feira, 3 de novembro de 2009

COMPROMISSO DA VALE COM O BRASIL


Fez bem o presidente Lula em chamar às falas o Sr. Roger Agnelli, presidente da Cia Vale do Rio Doce, por não agregar valor ao minério de ferro através da construção de usinas siderúrgicas para produzir aço e derivados, por adquirir navios na China e na Coréia do Sul e pelo direcionamento de recursos para o exterior, como a compra da canadense Inco Ltda., em 2006, por US$ 18 bilhões, reduzindo expressivamente os ativos no Brasil.


Em 2007/2008, a Vale esteve na iminência de negociar a Xstrata, multinacional anglo-suíça por US 90 bilhões, contraindo dívida estratosférica. Se essa operação tivesse se consumado, a Vale estaria correndo sérios riscos de desestabilização, no bojo da crise financeira mundial pós setembro/2008.

Criada pelo estadista Getúlio Vargas em 1º de junho de 1942, após desapropriar a Itabira Iron, a Vale foi se desenvolvendo com o dinheiro e o sacrifício de nossa gente, e impulsionada durante 55 anos por todos os chefes da Nação que se sucederam: Dutra, Getúlio novamente, Café Filho, Juscelino, Jânio, João Goulart, Castelo Branco, Costa e Silva, Médice, Geisel, João Figueiredo, Sarney, Collor e Itamar Franco. Tornou-se lucrativa e a maior exportadora do país, privatizada por míseros US$ 3,388 bilhões, enquanto geólogos da CPRM avaliaram-na por US$ 1,7 trilhão levando em conta suas imensuráveis reservas minerais.


A Vale estatal explorava suas jazidas, inclusive a portentosa Serra de Carajás, com moderna tecnologia, e o minério era transportado por ferrovia ultramoderna até as instalações portuárias próprias de Vitória, ES, e Itaqui no Maranhão.

A Vale é firma privada sui generis e no leilão de privatização, de 06 de maio de 1997, a União deveria ter se reservado uma ação Golden Share, com direito a vetar operações danosas a nossa economia, tais como assumir empresas no exterior, porém ao invés disso Fernando Henrique Cardoso mandou vender na Bolsa de Nova Iorque em 2001 a preço vil 31,17% do capital votante da Vale, renunciando, assim, à possibilidade de nomear dois membros do Conselho de Administração, que exerceriam o papel de colaboradores e, ao mesmo tempo, de vigilantes fiscais do anseio nacional.


Faz tempo que o Sr. Roger Agnelli desmerecia o nosso país. No Jornal do Brasil de 13.11.2003, ele disse que “os controladores da Vale são na verdade investidores e não industriais, e ele investe onde for melhor”. Nos jornais de 22.10.2003, ele falou: “precisamos fazer aquisições ou nos associar no exterior na área de alumínio e de ferros-ligas.

Aqui, é elevado o custo de energia e, ainda, com maior internacionalização tentaremos reduzir nosso custo de capital adquirindo ativos em países onde o dinheiro é mais barato”.

Já em novembro/dezembro de 2007, a Vale gastou R$ 50 milhões em publicidade de quatro páginas inteiras em jornais e revistas, inserções custosas em rádios e TVs para divulgar o novo logotipo e a marca Vale.

Agnelli não brinca em serviço e, mais que qualquer concorrente, blindou a Vale com a classe política e o Congresso Nacional. Nas eleições de 2006, subsidiárias da Vale deram R$ 4,5 milhões para Lula, R$ 3,2 milhões para Alckmin, bastante para os candidatos a governador e ajudou a eleger 54 deputados federais, contribuição de R$ 5,3 milhões (jornais de 29.11.2006, com dados do TSE).

O Sr. Roger Agnelli é super vigilante na defesa da sua linha de atuação. Por ocasião de minhas críticas ao negócio da Inco, telefonou-me e travamos longo e amistoso diálogo. Eu enfatizei a ele que me considerava o “ombundsman” do povo brasileiro na Vale e ele tentou sem êxito me convencer do acerto de suas diretrizes básicas.


A Companhia Vale do Rio Doce veiculou nas derradeiras semanas dispendiosa campanha publicitária, que dominou televisões, rádios, jornais e revistas, suplantada apenas pela da Petrobrás. Somente o cachê do ator de novela José Mayer custou R$ 800 mil, todavia as peças foram recolhidas porque agudizaria a crise com o presidente da República.

Os fantásticos gastos publicitários feitos pela Vale (R$ 178,8 milhões em 12 meses) – e ela não vende nada à população - resultaram em editoriais e reportagens de várias páginas criticando o presidente Lula por interferir na gestão de sociedade particular e de tentar derrubar o presidente Roger Agnelli.

Lula ganhou a parada, e dia 19 de outubro último Agnelli lhe informou em encontro na cidade de São Paulo investimentos da Vale de R$ 25,5 bilhões em 2010. Confirmou a execução de projetos siderúrgicos no Pará, Espírito Santo e Ceará e o término da CSA (Companhia Siderúrgica do Atlântico) no Rio de Janeiro e pedido de orçamento aos estaleiros nacionais de quatro grandes navios de 400.000 toneladas.

É inquestionável a capacidade administrativa e o empreendedorismo do Sr. Roger Agnelli que catapultou a Vale a invejáveis índices de eficiência e de resultados admiráveis na produção de riquezas, na exportação e na lucratividade.

Se ele se imbuir de espírito nacionalista, assimilando que a Vale é mais dos brasileiros do que dos seus acionistas, poderá obter cargos eletivos pelo voto majoritário, se o desejar.

Persistindo na visão meramente capitalista de mirar no lucro acima de tudo e insistindo em transferir ativos do Brasil para o exterior poderá soçobrar arrastado pelos ventos do destino.
* é membro da Academia Paranaense de Letras, ex-deputado federal e ex-diretor do Banco do Brasil

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