terça-feira, 24 de novembro de 2009

BRASIL E IRÃ


De olho no comércio, Brasil age de modo pragmático ao receber Ahmadinejad, argumenta especialista.


Thiago Scarelli
O chefe de governo do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, realiza nesta segunda-feira (23) a primeira visita de um presidente iraniano ao Brasil, em meio a críticas de que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva estaria oferecendo apoio a um líder isolado pelas principais potências ocidentais. Contudo, para o especialista em Relações Internacionais Pio Penna Filho, a decisão de receber Ahmadinejad tem um "caráter pragmático": o Brasil está de olho no potencial do comércio entre as duas nações.


A bandeira do Irã é formada por três faixas de mesma largura, uma verde, uma branca e uma vermelha. O emblema nacional - a palavra Allah (deus) com uma caligrafia em forma de tulipa - é estampado ao centro da bandeira, na faixa branca, em vermelho. A expressão Allah Akbar (deus é grande), escrita em branco, é repetida 11 vezes na parte superior da faixa vermelha e 11 vezes na parte inferior da faixa verde.
Forma de governo: República teocrática islâmica
Área: 1.648.195 km²
População: 66.429.284 Religião: muçulmanos (98%: 89% xiitas e 9% sunitas), e outros.
Idiomas: persa e dialetos persas (58%), turco e dialetos turcos (26%), curdo (9%), e outros.
Recursos naturais: Petróleo, gás, carvão, cobre, ferro.
Exportação: principalmente petróleo e derivados, frutas e tapetes, vendidos para China, Japão, Índia, Coreia do Sul, Turquia e Itália.
Importação: bens de consumo, bens de capital, alimentos e serviços, comprados dos Emirados Árabes Unidos, China, Alemanha, Coreia do Sul, Itália, França, Rússia.


"O Irã é um país com petróleo, um país em desenvolvimento. É do interesse do Brasil aumentar o comércio com o Irã, fornecer alimentos, máquinas, e o Irã tem interesse na América Latina", afirmou Penna, doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (UnB) e professor da Universidade de São Paulo (USP), em entrevista ao UOL Notícias."O Irã vê o Brasil como país despontando em termos econômicos e políticos, um país emergente - precisamos lembrar que nós somos emergentes e o Irã não é", analisa Penna, acrescentando que Teerã busca formar "laços duradouros" na região, "mas não com todos os países latino-americanos, porque o Irã não tem fôlego para isso". O foco do Irã, portanto, está em dois países: "Um é a Venezuela, uma parceria que se aprofundou no governo Hugo Chávez e agora já é uma relação tradicional; e o segundo país é o Brasil, que seria o seu novo parceiro na região", explica o professor."A diferença é que uma relação econômica com a gente é muito mais interessante, porque Brasil e Irã são economias complementares. No caso Irã-Venezuela, temos duas economias baseadas em petróleo, mas o Brasil tem capacidade para oferecer ao Irã bens dos quais ele precisa: alimentos, commodities, carros, máquinas", destaca Penna.Atualmente, o intercâmbio comercial entre Brasil e Irã, apesar de largamente favorável ao Brasil, tem pouco peso no quadro geral do comércio exterior do país.


De acordo com números oficiais, as vendas do Brasil para o Irã - com destaque para carne, óleo de soja, açúcar, milho, minério de ferro, papel, peças automotivas - alcançaram o montante de US$ 1,1 bilhão em 2008, o que representa aproximadamente 0,5% de todas as exportações brasileiras naquele ano. Já as importações brasileiras de produtos iranianos - principalmente enxofre, frutas (uvas secas, figos secos, pistache), tapetes e peles - ficaram em US$ 14,7 milhões, menos de 0,01% do total das importações do Brasil de 2008. Com esse montante, as vendas do Brasil para o Irã foram 76 vezes maiores do que as compras feitas do país asiático.Para o especialista em relações internacionais, a pauta de exportações do Brasil para o Irã mostra que é realista imaginar que esse intercâmbio pode superar os números atuais. "Existe potencial para o comércio ser muito mais do que isso. E por que a gente não vai explorar esse mercado?", aponta Penna.


As polêmicas de Mahmoud Ahmadinejad
Antes de sua surpreendente vitória nas eleições presidenciais de 2005, Mahmoud Ahmadinejad foi prefeito da capital Teerã. Filho de um ferreiro, mudou-se do norte do Irã para a capital com sua família durante a infância; mais tarde, doutorou-se em engenharia civil. Durante a corrida eleitoral de quatro anos atrás, Ahmadinejad prometeu dedicar aos pobres o dinheiro que o país consegue com o petróleo, mas durante seu governo o país encontrou graves problemas econômicos, em parte devido a sanções internacionais.Ahmadinejad, 52, casado, pai de três filhos, ficou conhecido por seus comentários polêmicos, entre os quais a negação do Holocausto, o desejo de "tirar Israel do mapa" e declarações homofóbicas. Ele reivindica o direito de enriquecer urânio no Irã para gerar energia elétrica, um programa que Israel e os Estados Unidos acusam de ter fins bélicos. Foi reeleito em 12 de junho deste ano para seu segundo mandato presidencial, com quase 63% dos votos.


O principal motivo - apontado por parte dos empresários, por representantes israelenses e judeus, e pelos grupos políticos de oposição no Brasil - é que o presidente do Irã é um personagem marcado por declarações antissemitas, chefe de um governo que estaria desenvolvendo um programa nuclear potencialmente voltado a fins militares, e responsável pela repressão às manifestações públicas que se seguiram a uma reeleição de caráter duvidoso."É claro que negar o Holocausto é um absurdo, mas em geral a polêmica com o presidente iraniano é uma bobeira. Se fosse para levar isso a sério, o Brasil não poderia receber representantes israelenses [acusados de crimes de guerra], não poderia receber [o ex-presidente dos Estados Unidos] George W. Bush, que era considerado um tirano", questiona o analista.Com relação às denúncias de autoritarismo, o pesquisador brasileiro responde: "De fato, o Irã não é um regime plenamente democrático. Mas quem é uma democracia plena? Quando George W. Bush foi eleito, não houve aquela aura de suspeição com os resultados? É preciso desmistificar essa história". "No Afeganistão, os Estados Unidos acabaram de reconhecer a reeleição de [Hamid] Karzai, que lidera um governo corrupto e foi eleito com fraude, e ninguém fala nada", acrescenta Penna."Os Estados Unidos e a Europa ainda têm uma visão de ordem mundial que é uma bobagem. O Irã descende do império persa, tem uma tradição milenar de comércio internacional, porque era um centro mundial antes mesmo de existir o Ocidente", recorda Penna."Acreditar em todas as acusações contra o Irã é comprar propaganda norte-americana", acrescenta. "As polêmicas com Ahmadinejad não são impedimento para que o Brasil tente diversificar seu comércio. Um dos principais parceiros comerciais do Irã é o Japão, e não se ouve críticas a esse respeito".Para o analista, a aproximação do Brasil com o Irã não deve ser motivo de preocupação. "A não ser que os iranianos percam o juízo e desenvolvam armas nucleares mesmo, mas esse não é o cenário agora", pondera Penna.

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